Ministro da Educação está enganando famíliasroleta webcrianças com deficiência, diz mãeroleta webautista e ativista pela inclusão escolar:roleta web

As recorrentes declarações do ministro sobre esse assunto não são por acaso. Ele está saindoroleta webdefesaroleta webum decreto do governo federal que incentiva a criação destes espaços. A medida foi muito criticada por especialistasroleta webeducação, que a enxergam como um retrocesso nas políticas públicas na área.

O decreto foi suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que realizou nesta semana duas audiências públicas para debater o assunto antesroleta webjulgá-loroleta webplenário.

A jornalista Andréa Werner,roleta web45 anos, fundadora do Instituto Lagarta Vira Pupa, que dá apoio a famíliasroleta webcrianças e adolescentes com deficiência, é uma das que se posicionou contra o decreto.

Segundo ela, o ministro da Educação "está enganando essas famílias" ao propor um maior incentivo às escolas e turmas especiais.

"Há famílias que apoiam essa medida porque só receberam migalhas do poder público até hoje, já sofreram muito e estão desesperadas, e fica parecendo que elas vão ter uma opção melhor, mas a gente sabe que não vai ser assim. A verdade é que não vão brotar escolas especiais com profissionais supercapacitadosroleta webtodos os lugares", diz Werner, que é mãeroleta webum menino autista.

"O que vai acontecer é que a rede pública não vai conseguir atender essas crianças, e o governo vai dar voucher para que elas sejam atendidas por entidades."

'Inclusivismo não existe'

Ela critica o discursoroleta webRibeiro, que fala recorrentemente contra o que chamaroleta web"inclusivismo".

"Essa palavra não existe, foi ele que inventou. É uma tentativaroleta webpegar o sufixo 'ismo', usado para doenças, para dar uma conotação negativa à defesa da inclusão, como se fosse uma ideologia, quando na verdade defender a inclusão é defender o que determina a lei brasileira e os tratados internacionais que o país assinou", diz Werner.

A política defendida por Ribeiro está no decreto editado pelo governo federalroleta weboutubro do ano passado e que instituiu a Política Nacionalroleta webEducação Especial.

Ela determina que a União, os Estados e os municípios ofereçam "instituiçõesroleta webensino planejadas para o atendimento educacional aos educandos da educação especial que não se beneficiam,roleta webseu desenvolvimento, quando incluídosroleta webescolas regulares inclusivas e que apresentam demanda por apoios múltiplos e contínuos".

Na prática, segundo especialistas, isso é reverte o rumo das políticas públicasroleta webeducação, que vinham até então favorecendo a inclusãoroleta webalunos com deficiênciaroleta webturmas regulares — 86,5% dos 1,3 milhõesroleta webalunos da rede pública hoje estudamroleta webturmas regulares, segundo o censo escolar — para incentivar espaçosroleta webensino especiais para essas crianças e adolescentes.

O PSB entrou com uma ação no STF alegando a inconstitucionalidade do decreto, o que culminou naroleta websuspensão. A ação ainda será julgada pelo plenárioroleta webdata ainda a ser definida.

Andréa Werner acredita que o decreto tem como objetivo retomar uma política pública superada ao apresentá-laroleta webum "pacote bonito" que destaca o direitoroleta webescolha dos paisroleta webeleger a instituiçãoroleta webensino que considerem mais adequada para seus filhos.

Mas, segundo a ativista, essa escolha quase nuncaroleta webfato cabe às famílias. Ela conta ter ouvido relatosroleta webpais que receberam o decretoroleta webdiretoresroleta webescola, enviado, por WhatsApp no dia seguinte à promulgação.

"O decreto dá a desculpa perfeita para as escolas regulares recusarem alunos com deficiência sob a alegaçãoroleta webque há escolas especiais para eles", diz ela.

"O ministro diz que os professores não estão preparados para lidar com estes alunos, mas aí eu pergunto: a função do ministério é tirar os alunos das escolas ou capacitar os professores para ensinar esses alunos? Pra mim, a resposta é óbvia."

'Sou provaroleta webque educação especial não é solução'

Werner diz queroleta webhistóriaroleta webvida é a provaroleta webque a educação especializada não é a solução para crianças com deficiência como o governoroleta webJair Bolsonaro vem defendendo.

Seu filho Theo tem autismo com um comprometimentoroleta webgrau dois (em uma escala que vai até três). "Ele não fala, se comunica atravésroleta webum aplicativo, mas entende tudo que a gente fala, é muito esperto e inteligente, mas tem muita dificuldaderoleta webconcentração e está sempre buscando sensações", diz Andréa.

O menino foi diagnosticado quando tinha quase 2 anos, e Andréa tentou então matriculá-loroleta webuma escola normal. Mas ela conta que bastou mencionar o autismo para que a vaga "sumisse". "Fiquei chocada, mas aquela foi só a primeiraroleta webmuitas portas que bateram na minha cara", diz.

Resignada, Andréa decidiu que Theo estudariaroleta webuma escola especializada — e foi assim até o ano passado, quando ela e o marido perceberam que seu filho, hoje com 13 anos, não estava evoluindo. Theo ainda não era alfabetizado nem havia aprendido o básicoroleta webmatemática.

"A grande defesa que fazem hoje da educação especializada é que os alunos com deficiência grave não estão aprendendo na escola regular. Ora, meu filho também não estava e ele estudavaroleta webuma escola especializada — e uma que era bem cara, ainda por cima", diz Andréa.

No ano passado, os paisroleta webTheo decidiram tirá-lo daquela escola e se mudaram para Vinhedo, no interiorroleta webSão Paulo, onde ele foi matriculado na rede municipal.

Agora, ele está passando um períodoroleta webadaptação na nova escola e tem aulasroleta webuma salaroleta webatendimento educacional especializado, mas já começa a interagir com os outros alunos no recreio. Depois, terá aulasroleta webuma turma regular.

"Se eu soubesse o que sei hoje, não teria colocado ele no ensino especializado. Teria optado pelo regular e batalhado pelos nossos direitos. A gente não pode ficar refém das escolas especializadas. Temos que preparar as escolas regulares para receber todos os tiposroleta webalunos."

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