'Epopeiawww bet7kGilgamesh': a obra que contou sobre o Dilúvio Universal antes da Bíblia:www bet7k

Glória enterrada

Em 612 a.C., a Babilônia, decida a terminar com o domínio assírio na Mesopotâmia, liderou uma aliançawww bet7kum ataque contra a última capital assíria,www bet7kNinive.

A cidade foi saqueada por completo depoiswww bet7kum ataquewww bet7ktrês meses e o rei assírio Sin-shar-ishkun foi assassinado.

Foi o princípio do fimwww bet7kum império que havia começado a se forjar por voltawww bet7k2025 a.C. Em seu apogeu, o império governou "os quatro cantos do mundo", que eram os limites conhecidos até aquela época, do litoral do Golfo Pérsico até as montanhaswww bet7kAnatólia e às planícies aluviais do Egito.

Durante um períodowww bet7k300 anos (entre 900 e 600 a.C.) esta foi a civilização mais avançadawww bet7kque se tinha conhecimento.

Os assírios foram os primeiros a desenvolver armas e elementoswww bet7kproteção a basewww bet7kferro, um avanço tecnológico que lhes deu uma grande vantagem assim como a criaçãowww bet7kuma unidadewww bet7kengenharia separada, que instalava escadas e rampas, enchia fossas e cavava túneis para ajudar os soldados a entrar nas cidades cercadas por muros.

Também estiveram entre os primeiros a construir carruagens, que proporcionaram maior proteção aos camposwww bet7kbatalha.

Mesmo depois dawww bet7kqueda, o legado do império seguiu nas táticas e tecnologiaswww bet7kguerra adotadas por civilizações posteriores.

Mas muito foi perdido durante a conquista,www bet7kespecial o tesourowww bet7kideias assírias contidas na bibliotecawww bet7kNínive, que havia sido concebida no século 7 a.C. para abrigar todo o conhecimento humano.

A rebelião liderada pelos babilônios deixou a cidade mais rica do mundowww bet7kruínas, com palácios queimados e moradores mortos ou escravizados.

A biblioteca destruída foi tragada pela terra.

2.465 anos depois...

Em uma noitewww bet7kdezembrowww bet7k1853 no que hoje é o Iraque, uma equipewww bet7kescavadores comandada por Hormuzd Rassam, o primeiro arqueólogo nascido e criado no Oriente Médio, encontrou o palácio do rei assírio Asurbanipal (que reinou entre 668 e 627 a.C.).

Além das magníficas obraswww bet7karte talhadaswww bet7kpedra há maiswww bet7kdois milênios e meio, os escavadores coletaram do solo milhareswww bet7kfragmentoswww bet7ktabletes e argila cobertos pela intricada escrita cuneiforme.

Eles não sabiam, mas se tratava dos restos da biblioteca real.

Tudo foi empacotadowww bet7kcaixas enviadas ao Museu Britânico, onde as armazenaram, mas não as classificaram até 1861, quando contrataram George Smith para lidar com elas.

Cativado pelas antiguidades que chegavamwww bet7kNimrud e Nínive, ele havia passado anos apenas aprendendo a entender a escrita cuneiforme e a língua acadiana.

Uma década depois, naquele diawww bet7kque explodiuwww bet7kfelicidade no museu, ele leu sobre um mundo afogado por uma enchente, um homem que construiu um barco e uma pomba soltawww bet7kbuscawww bet7kterra.

Era a história da Arcawww bet7kNoé, mas não se tratava do Gênesis.

Fazia parte da cuidadosamente transcrita "Epopeiawww bet7kGilgamesh", o poema épico primeiro escrito por voltawww bet7k1.800 aC, cercawww bet7kmil anos antes da composição da Bíblia judaica (o Antigo Testamento cristão).

O resto da história

Um mês depois, Smith leuwww bet7ktradução para a Society for Biblical Archaeologywww bet7kLondres.

Foi a primeira vez que um público ouviu parte do poemawww bet7kmaiswww bet7k2.000 anos. Isso foi uma sensação e gerou um debatewww bet7ktodo o mundo.

Para alguns, o texto corroborou a verdade essencial da Bíblia. Na opiniãowww bet7koutros, depoiswww bet7kA Origem das Espécies,www bet7kCharles Darwin (1859), representou outra grande rachadura no Cristianismo.

O que veio a ser conhecida como a "Tabuleta do Dilúvio", ou Tabuleta XI, foi a primeirawww bet7kmuitas outras que, desde então, surgiram, algumas ainda mais antigas.

Com elas, os estudantes da cultura assíria vêm resolvendo um dos maiores quebra-cabeças da história, aquele que falawww bet7kum rei que viu, experimentou e considerou tudo, até o oculto; que desvelou o velado, que soube do Dilúvio, viajou até os confins do mundo e voltou, exausto, mas inteiro, como prometem as primeiras linhas do texto.

Embora ainda existam lacunas, acredita-se que já temos 2/3 da história. E que história!

É uma daquelas obras da literatura antiga que nos chateia porque o seu herói, apesarwww bet7kser "dois terços deus", é muito humano: está sempre errando, nunca atinge o seu objetivo e, como todos, tem que aceitar a morte, esse fato inevitável com o qual convivemos.

Uma aventura extraordinária

Quando a história começa, os súditoswww bet7kGilgamesh, o reiwww bet7kUruque, levam suas queixas aos deuses, porque o rei abusawww bet7kseu poder.

As divindades criam um ser igual a Gilgamesh, Enquidu, para competir e lutar com ele "para que Uruque conheça a paz".

Mas antes que Enquidu possa desafiar Gilgamesh, ele precisa ser "humanizado" por Shamhat, uma prostituta sagrada, que o seduz e passa seis dias e sete noites com ele. Depois disso, ele deixawww bet7kser o selvagem que era e "tem sabedoria e compreensão mais amplas".

Do confronto entre Enquidu e Gilgamesh nasce uma profunda amizade e eles partem juntoswww bet7kbusca da glória,www bet7kdireção ao Bosquewww bet7kCedros, um lugar longínquowww bet7konde, segundo a tradição babilônica, os reis traziam madeira para as grandes construções.

Mas,www bet7kacordo com uma tabuleta encontrada no final do século 20, a florestawww bet7kcedro neste poema é diferente do conceito que se tinha dela nos tempos antigos.

Neste caso é uma selva animada com o canto dos pássaros, a cacofonia dos insetos e os gritos dos macacos nas árvores, tudo entretendo Humbaba — um gigante, guardião e senhor daquela selva, na qual vivia como um rei cercado por seus músicos.

Enquidu e Gilgamesh têm a intençãowww bet7kmatar o rei e cortar suas árvores, e eles conseguem isso.

Humbaba é imobilizado pelos 13 ventos enviados pelo deus-sol Shamash e implora,www bet7kvão, porwww bet7kvida; Enquidu e Gilgamesh cortam seu pescoço, removem seu coração e pulmões e também seus dentes.

Mas eles percebem que foram contra a vontade dos deuses.

Depoiswww bet7kfazer o que haviam se proposto, Enquidu olha o resultado das ações e diz a Gilgamesh: "devastamos esta terra... o que diremos aos deuses quando voltarmos?"

'Qual amante você sempre amou?'

Após a batalha, quando Gilgamesh está limpando os vestígios da luta, a deusa Ishtar o deseja e pede que ele se case com ela, prometendo-lhe riqueza e poder.

Mas Ishtar é a deusa da guerra e do amor, do sexo e da violência, e um pedidowww bet7kcasamento dela é um negócio arriscado — seus amantes anteriores tiveram finais terríveis — então Gilgamesh a rejeita impiedosamente.

"Você nada mais é do que um braseiro que sai no frio; uma porta dos fundos que não impede a explosão nem o furacão; (...) Calçado que aperta o péwww bet7kseu dono! Qual amante você sempre amou?"

Enfurecida, Ishtar pede a seu pai, o deus do céu e rei dos deuses Anu, que envie um grande monstro à Terra para matar Gilgamesh e destruir Enquidu.

O monstro é o Touro do Céu, um animal feroz que destrói tudowww bet7kseu caminho. Porém, os amigos conseguem matá-lo e Ishtar, furiosa, os amaldiçoa; Enquidu, ao ouvir isso, arranca a perna do touro e atira contra ela.

Mais uma vez, com a vitória, os heróis ofendem os deuses. Aos olhos divinos, isso foi um atowww bet7ksuprema arrogância.

"Porque o Touro do Céu eles mataram, e Humbaba eles mataram; portanto um deles, aquele que derrubou as montanhaswww bet7kcedro, deve morrer", disse Anu.

E assim foi.

Devastado pela mortewww bet7kEnquidu, Gilgamesh mergulhawww bet7kuma dor sem limites: ele não permite que Enquidu seja enterrado "até que um verme caiawww bet7kseu nariz".

Finalmente, ele percebe que deve seguirwww bet7kfrente, dá a Enquidu um grande funeral e começa a pensar sobre si mesmo e sobrewww bet7kmortalidade.

"O pavor entrouwww bet7kminha barriga. Com medo da morte, fico vagando pela planície."

É por isso que ele embarca numa grande jornada, seguindo o caminho do Sol e sobre as Águas da Morte,www bet7kbusca do homem que sobreviveu ao dilúvio e descobriu o segredo da imortalidade: Utnapishtim.

Quando parouwww bet7kchover

A históriawww bet7kUtnapishtim aparecewww bet7koutras obras da literatura babilônica, mas o autorwww bet7kGilgamesh a usa como uma história dentrowww bet7ksua história quando Gilgamesh lhe pergunta como ele se tornou imortal.

É então que ele lhe diz que há muito tempo os deuses haviam lhe dito que iriam inundar o mundo e que ele deveria construir um navio e transportar todas as sementes da vida nele.

Quando a chuva parou, diz Utnapishtim, ele abriu uma escotilha e viu apenas água.

Todos os humanos haviam morrido.

"Eu me ajoelhei e chorei; as lágrimas escorreram pelo meu rosto."

Depoiswww bet7kenviar uma pomba e uma andorinha, que voltaram quando não conseguiram encontrar um lugar para pousar, ele soltou um corvo e quando viu que este não voltava, deixou todos saírem do barco e fez uma oferenda aos deuses.

Quando Enlil, o senhor do céu e da terra, chegou, os outros deuses disseram ter causado o dilúvio e, anteswww bet7kpartir, após refletir, ele voltou para Utnapishtim ewww bet7kesposa imortal.

O objetivowww bet7kUtnapishtim era fazê-lo entender que ele foi tornado imortal por um evento único que ocorrera há muito tempo e que nada parecido iria acontecer com Gilgamesh.

"Quem por você convocará os deuses a uma assembleia, para que possa encontrar a vida que busca?"

Não havia segredo ou qualquer outra coisa que Utnapishtim pudesse revelar a Gilgamesh.

Gilgamesh faz uma última tentativa: arranca do fundo do mar uma planta que Utnapishtim havia lhe revelado e que restaurariawww bet7kjuventude, mas antes que pudesse aproveitar-se dela, uma cobra a comeu e partiu, mas não sem antes se livrarwww bet7ksua velha pele.

Desiludido e finalmente ciente dos limiteswww bet7ksuas próprias habilidades, ele retorna a Uruque reconciliado comwww bet7ksorte e mais sábio.

Sua luta heroica contra a morte, primeirowww bet7kbusca do reconhecimento imortal por meiowww bet7kobras gloriosas e depoiswww bet7kbusca da vida eterna, o leva a enfrentar o fracasso inevitável e a compreender que a única imortalidade à qual ele pode aspirar é aquela que gera alguma conquista duradoura.

Sua jornada termina onde começou.

Nas palavras do prólogo: ele veiowww bet7kuma estrada distante, estava cansado e encontrou a paz.

Finalmente sereno, ele aceita que embora os indivíduos sejam mortais, a humanidade é eterna e vê a cidade como uma expressão da humanidade e das gerações futuras: suas notáveis obras seriam as que garantiriam quewww bet7kfama sobreviveria àwww bet7kmorte.