As fotos que mostram como negros combateram o racismoglobalbetplena ditadura:globalbet

Crédito, Jesus Carlos
Esse movimento retomava a tradiçãoglobalbetorganizações como a Frente Negra Brasileira, primeira associaçãoglobalbetativismo negro do país, na décadaglobalbet1930, e o Teatro Experimental do Negro, criado por Abdias do Nascimento nos anos 1940.
Em 7globalbetjulhoglobalbet1978, o Movimento Negro Unificado (MNU) reuniria milharesglobalbetpessoas nas escadarias do Teatro MunicipalglobalbetSão Paulo, num ato público contra o racismo.
Essa manifestação histórica, e outras realizadas nos meses e anos seguintes, foram registradas pelas lentes do fotógrafo Jesus Carlos Lucena Costa. No mês da Consciência Negra, a BBC News Brasil resgata essas fotografias — algumas delas, nunca antes publicadas.

Crédito, Jesus Carlos
"Toda luta é um processo. Conhecer a luta do MNU, conhecer a história, é permitir a continuidade do processo. Quem começa a luta hoje, começaglobalbetum outro patamar", diz Regina Lucia dos Santos, militante do MNU há 27 anos.
Fotografia e a possibilidade da memória
Hoje com 71 anos, Jesus Carlos tinha 29 naquele 1978globalbetfundação do MNU. Durante a ditadura militar, o fotógrafo trabalhava com veículos da imprensa alternativa, como os jornais Em Tempo, Repórter, Opinião e Movimento.
Desde 1974, sob o governo Ernesto Geisel, o Brasil vivia o início do seu processoglobalbetredemocratização, uma abertura "lenta, gradual e segura", segundo o próprio general.
A sociedade civil passava por um momento efervescente, com as primeiras passeatas estudantis desde 1968 (anoglobalbetendurecimento da ditadura militar, quando foi decretado o Ato Institucional Nº 5), a rearticulação do movimento sindical, dos movimentos contra a carestia,globalbettrabalhadores rurais, mulheres, homossexuais e o início da recuperação partidária.
"Como fotógrafo, havia consciência da importância daquele trabalho. Você estava registrando a realidade, mas também colaborando para aquele processo fotografado", diz Jesus Carlos.
"Uma questão que para mim já existia naquela época, é aglobalbetque, ao fotografar, você estava não só registrando aquele momento, mas levandoglobalbetconta a possibilidade da memória."

Crédito, Jesus Carlos
Naquele julhoglobalbet1978, Jesus Carlos foi pautado para cobrir a primeira manifestaçãoglobalbetrua do MNU pelo jornal Em Tempo, ao lado do também fotógrafo Ennio Brauns.
"Naquela época, já existia algoglobalbetmovimento negro. Por exemplo, os bailes black. O pessoal se encontrava na sexta-feira à noite no Vale do Anhangabaú, embaixo do Viaduto do Chá. Aquele monteglobalbetpessoas com cabelo black power, homens e mulheres com aquelas roupas e colares. Aquilo foi um embrião do movimento negro", lembra Jesus Carlos, que lamenta não ter fotografado esses encontros.
"Só depois me dei conta do que estava realmente acontecendo."
Em julhoglobalbet1978, nas escadarias do Municipal, já não havia mais dúvidas.
"Estava acostumado desde 1976 a fotografar movimento sociais, mas aliglobalbet1978 me deparei com algo que nunca tinha visto. Foi ali que me deparei com aquele mundo negro que não conhecia. Aquilo me chamou muita atenção e me entusiasmou muito", conta.

Crédito, Jesus Carlos
"A importância daquele momento, vemos até hoje no dia a dia", avalia Jesus Carlos.
"Uma coisa precisamos ter clara: a situação do negro continua muito grave. Houve mudanças, houve conquistas, mas o racismo estrutural continua muito forte", observa.
"Precisou a luta pelas cotas para fazer a pessoaglobalbetcor negra ter acesso à universidade. Mas continua a diferença salarial entre homens e mulheres, negros e brancos. Você vai nos bairrosglobalbetclasse média alta, a população é branca. O negro que você encontra lá é o vigia da rua."
Movimento Negro Unificado, resistência nas ruas
Aos 74 anos e 44globalbetmilitância no MNU, Milton Barbosa se recupera bem da retiradaglobalbetum câncerglobalbetpróstata no primeiro semestre deste ano. Passada essa batalha, estáglobalbetvolta à luta com a qual está mais acostumado: contra a desigualdade racial no Brasil.

Crédito, Jesus Carlos
Barbosa lembra que o grupo formado por ele, José Adão, Rafael Pinto e outros ativistas negros já conversava sobre a necessidadeglobalbetalgo que desse conta do enfrentamento da questão racial, mesmo antes dos dois episódios que resultaram na criação do MNU.
"Nas nossas discussões, fomos descobrindo que umas das questões fundamentais era o enfrentamento ao racismo. Mas era um processo muito difícil, porque era um país racista, mas mesmo os setores progressistas não viam a questão racial como uma das prioridades. Então, percebemos a necessidadeglobalbetorganizar a população negra para estar à frente desta luta."
Robson Silveira da Luz, o jovem morto após tortura policial, era primoglobalbetRafael Pinto. E o caso dos rapazes barrados no Clube Tietê chegou ao grupo através do jornalista Hamilton Cardoso (1953-1999), então colaborador na seção Afro-Latino-América do jornal Versus.

Crédito, Jesus Carlos
"Todo mundo acha que o MNU foi fundado no 7globalbetjulho, que é o ato das escadarias no Municipal, mas não foi. Foi fundadoglobalbet18globalbetjunho na sede do Cecan [CentroglobalbetCultura e Arte Negra] e ali eles decidiram fazer um lançamento público, apesar da ditadura militar", lembra Regina Lucia dos Santos, companheiraglobalbetMilton Barbosa há 26 anos.
Enquanto o ato estava sendo preparado,globalbet1ºglobalbetjulho, o operário negro Nilton Lourenço foi morto por um policial na Lapa, lembra Barbosa.
Nesse contexto, o documentoglobalbetlançamento do MNU traz como pontos centrais o caráter racista da violência policial no Brasil, o racismo na educação e nos meiosglobalbetcomunicação, a questão das empregadas domésticas e o apoio aos negros da África do Sul, então ainda sob o regimeglobalbetsegregação do racial do apartheid.

Crédito, Jesus Carlos
Legados e desafios
Para Barbosa, um dos legados do MNU foi a percepção do movimentoglobalbetnegroglobalbetque era preciso estabelecer prioridades no enfrentamento à desigualdade racial. Já Regina avalia que um dos principais resultados do movimento foi tirar o racismo da invisibilidade.
Ela também enumera conquistas como Lei 10.639/2003, que estabeleceu o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas; o avanço da produção intelectual negra; e a conquistaglobalbetespaço nos meiosglobalbetcomunicação, um espelho para a juventude negra.
"Há coisaglobalbet15, 20 anos atrás, nossa juventude morria assassinada pelo Estado nas periferias do Brasil todos os dias. Mas o próprio negro da periferia não enxergava que o motivo daquelas mortes eraglobalbetnegritude. Hoje os movimentosglobalbetmãesglobalbetvítimas colocam isso claramente."
Regina avalia que o combate ao genocídio da juventude continua sendo uma missão do movimento negro. Mas ela defende que um desafio que se impõe atualmente é a necessidadeglobalbetse combater o que ela chamaglobalbet"epistemicídio" negro — o apagamento das contribuições intelectuais dessa parcela da população — eglobalbetpromover o chamado letramento racial.

Crédito, Jesus Carlos
"Existem dois tiposglobalbetracistas no país. O racista que é racista mesmo, por escolha ideológica, para defender os seus privilégios e manter a desigualdade. E o racista por ignorância, porque não se coloca a contribuição, a importância e a resistência negra na história desse país", defende a militante do movimento negro.
"Por desconhecer essa história, as pessoas introjetam o racismo. Então letramento racial é oferecer essa história, oferecer essa discussão, ela alcançar toda a sociedade, para que os racistas por ignorância deixemglobalbetsê-lo."
A geração seguinte
Tanto Jesus Carlos, como Regina e Miltão (como Milton Barbosa é mais conhecido), veem nas diversas organizações do movimento negro atual uma continuidade da luta do MNU.
"Há uma continuidade e uma diversificação. Com o MNU, surge um movimento social que vai fazer o enfrentamento mais direto. Mas muitas organizações surgem daí, e também outras formasglobalbetatuação, como o advocacy [atuação para influenciar a formulaçãoglobalbetpolíticas e alocaçãoglobalbetrecursos públicos] e as ONGs, que fazem um outro papel. É importante essa diversidade e a capilaridade no combate ao racismo na sociedade", diz Regina.
Eliane Leite Alcantara Malteze, sócia-fundadora da consultoria Uzoma Diversidade, Educação e Cultura, é parte dessa geração que pegou o bastão do MNU no combate à discriminação.
Ela é filhaglobalbetAntonio Leite, queglobalbet1972 foi um dos fundadores do GTPLUN (GrupoglobalbetTrabalhoglobalbetProfissionais Liberais e Universitários Negros) eglobalbet1978 participou da fundação do MNU.
"Meu pai era mineiro, nasceuglobalbetMuzambinho. Ele veio para São Paulo com a mãe e os cinco irmãos, todos analfabetos, com o sonhoglobalbettodo jovem negroglobalbetser jogadorglobalbetfutebol. Com pouca formação, ele foi trabalhar no DepartamentoglobalbetÁguas e EsgotoglobalbetSão Paulo, que depois vira a Sabesp, cavando buraco na rua", lembra Eliane.
Antonio Leite casou, teve três filhas e foi estudar já adulto. Fez Mobral (programaglobalbetalfabetizaçãoglobalbetjovens e adultos extintoglobalbet1985), Ensino Fundamental, Médio e se formouglobalbetCiências Sociais. Estudando, ascendeu na carreira pública e depois teve empresas próprias.
Em 1972, ajudou a fundar o GTPLUN junto com a médica IracemaglobalbetAlmeida (1925-2005), grupo que atuava na colocaçãoglobalbetprofissionais negros no mercadoglobalbettrabalho. Em 1978, com a comoção pela morteglobalbetRobson Silveira da Luz, Leite se soma à manifestação nas escadarias do Teatro Municipal, pedindo o fim do racismo e da morte dos jovens negros.

Crédito, Jesus Carlos
Seguindo a orientação do pai sobre a importânciaglobalbetestudar, Eliane formou-se matemática e tornou-se professora e depois diretoraglobalbetescola. Suas irmãs se formaramglobalbetDireito e Ciências Contábeis.
Há cercaglobalbet15 anos, a filhaglobalbetAntonio Leite começou a resgatar naglobalbetprópria atuação a trajetória do paiglobalbetcombate ao racismo.
"Sentimos a necessidade voltar às nossas origens e a essa história do meu pai, que sempre me empoderou. Então retomo isso na Uzoma, para tratar da questão da faltaglobalbetmulheres negrasglobalbetespaçosglobalbetliderança no mundo corporativo."
A Uzoma presta consultoria a empresas para promoção da diversidade, dá treinamento a lideranças para a inclusão e atua no processoglobalbetação afirmativa para contrataçãoglobalbetpessoas negras, alémglobalbetoferecer programasglobalbetdesenvolvimento a jovens negros para que eles possam ocupar cargosglobalbetliderança.
"Uzoma significa 'siga o bom caminho'. Então estamos seguindo o bom caminho da diversidade e resgatando essa históriaglobalbetquem veio antes da gente, como meu pai. Essa luta não églobalbethoje. Desde Zumbi, há muitos outros que lutaram no combate ao racismo e estamos continuando essa luta, pois somos fortalecidos pela nossa história."
- Este texto foi publicadoglobalbethttp://roberthost1.accountsupport.com/brasil-63746502








