'Saga'convocacao copa do mundodesempregadaconvocacao copa do mundo62 anos por carne acaba com 3 quilosconvocacao copa do mundocarcaça e pele por R$ 12:convocacao copa do mundo

"Antes da pandemia, a gente comprava alcatra à vácuo. Para quem estava acostumado a trabalhar, entraconvocacao copa do mundopânico numa situação dessas. Eu tinha a geladeira lotadaconvocacao copa do mundocarne. Hoje, tem uns frascosconvocacao copa do mundoóleo feito com ossoconvocacao copa do mundoboi e peleconvocacao copa do mundofrango e um coentro congelado que meu vizinho doou", diz chorando à reportagem, ao lado da geladeira aberta.

Uma das pessoas que também a ajudam é a Maria Amélia, presidente da associação Canto Nascimento, que distribui cestas para famílias pobres do bairro. "Sempre me dá um mantimento quando estou desesperada", diz Lindinalva à reportagem.

Peregrinação por sobras

A perda generalizadaconvocacao copa do mundorenda e emprego, a alta da inflação, além dos constantes aumentos dos combustíveis e do gás, arrastou multidões para a pobreza. Com tanta concorrênciaconvocacao copa do mundobuscaconvocacao copa do mundosobras para colocar o mínimoconvocacao copa do mundocomida no prato da família, Lindinalva passa o diaconvocacao copa do mundouma peregrinaçãoconvocacao copa do mundobuscaconvocacao copa do mundoaçougues e avícolas que vendem ossos e carcaçasconvocacao copa do mundoaves.

"Muitos dizem que não vão mais vender os ossos e que estãoconvocacao copa do mundofalta. Mandaram eu passar aquiconvocacao copa do mundonovo umas 17h ou 18h para eles arrumarem uns ossos para eu comprar", disse depoisconvocacao copa do mundosairconvocacao copa do mundoum açougue perto da casa dela.

Lindinalva explica que, tanto os ossos quanto as pelesconvocacao copa do mundofrango que ela compra, custam cercaconvocacao copa do mundoR$ 4 cada quilo.

"Os ossos eu cozinho e depois tiro os pedacinhosconvocacao copa do mundocarne que sobram para a gente se alimentar. Aproveito para colocar no feijão para ficar um gostinhoconvocacao copa do mundocarne. Ontem foi assim. Com R$ 12 já dá para comer dois dias. Verdura não dá mais para comprar, está muito caro", afirmou.

Já a pele do frango, ela conta que frita numa panela sem óleo. A gordura que acumula no recipiente, Lindinalva guardaconvocacao copa do mundopotes vaziosconvocacao copa do mundomaionese econvocacao copa do mundorequeijão para depois fritar outros alimentos e usar no preparoconvocacao copa do mundooutras refeições.

O aumento no númeroconvocacao copa do mundobrasileiros passando fome passouconvocacao copa do mundo10,3 milhõesconvocacao copa do mundo2018, para 19,1 milhõesconvocacao copa do mundo2020 (quase 10% da população), o que representa um crescimentoconvocacao copa do mundo85%convocacao copa do mundodois anos. Essa alta ainda não reflete a piora da crise, agravada pela pandemia no Brasil.

Essas pessoas fazem parteconvocacao copa do mundoum contingenteconvocacao copa do mundo116,8 milhõesconvocacao copa do mundobrasileiros que convivem com algum grauconvocacao copa do mundoinsegurança alimentar — quando uma família diz ter preocupação com a faltaconvocacao copa do mundoalimentosconvocacao copa do mundocasa ou já enfrenta dificuldades para conseguir fazer todas as refeições. Esse número corresponde a 55,2% dos domicílios do país, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, realizado pela Rede Penssan.

A renda da famíliaconvocacao copa do mundoLindinalva é composta pela aposentadoria que ela recebe, no valorconvocacao copa do mundoR$ 1.200, dos bicos do marido como pintor (R$ 800) e do Bolsa Família,convocacao copa do mundoR$ 200, recebido pelo neto.

Por outro lado, a família gasta R$ 600 todos os meses com aluguel e R$ 200 para comprar os remédios. Com pouco dinheiro, a rotina da família tem sidoconvocacao copa do mundoescolhas diárias. No mêsconvocacao copa do mundooutubro, ela deixouconvocacao copa do mundopagar as contasconvocacao copa do mundoluz econvocacao copa do mundoágua para poder comprar um botijãoconvocacao copa do mundogás.

"Foi muito triste passar três dias sem gás. Deixeiconvocacao copa do mundopagar a água e a luz para comprar um botijão que custa R$ 110. Comprar uma fruta, verdura ou doce, nem pensar. Antes, eu tinha o congelador cheioconvocacao copa do mundocarnes e legumes. A geladeira tinha couve, tomate, cebola, era fartura. Hoje, ela está vazia e só tenho uma cebola na fruteira", diz chorando à reportagem.

Em 2021, o consumoconvocacao copa do mundocarne bovina no Brasil deverá serconvocacao copa do mundo26,4 quilos por pessoa, uma quedaconvocacao copa do mundoquase 14%convocacao copa do mundorelação a 2019, ano anterior à pandemia, econvocacao copa do mundo4% ante 2020.

Esse é o menor nível registrado para consumoconvocacao copa do mundocarne bovina no paísconvocacao copa do mundo26 anos, segundo a série histórica da Conab (Companhia Nacionalconvocacao copa do mundoAbastecimento), com inícioconvocacao copa do mundo1996.

Até agosto, as carnes acumulavam aumentoconvocacao copa do mundopreçoconvocacao copa do mundo30,8%convocacao copa do mundo12 meses, bem acima da altaconvocacao copa do mundo9,68% da inflação geral, segundo o IBGE (Instituto Brasileiroconvocacao copa do mundoGeografia e Estatística).

Lindinalva disse que já tentouconvocacao copa do mundotudo para voltar ao mercadoconvocacao copa do mundotrabalho, mas não consegue um emprego desde que foi demitida no início da pandemia. Só na última semana, ela disse ter distribuído 20 currículos.

"Eu estou desesperada. Não sei mais o que fazer. Eles dizem que não tenho mais idade para trabalhar e que precisamconvocacao copa do mundopessoas mais novas. Eu sou uma ótima funcionária, vou trabalhar até doente e não reclamoconvocacao copa do mundonada. Eu só queria uma oportunidade", afirmou.

Dados da consultoria Kantar mostram que,convocacao copa do mundo17% dos lares brasileiros, ao menos uma pessoa perdeu o empregoconvocacao copa do mundo2021. Destes, 80% eram das classes C, D e E.

A taxa teve uma melhoraconvocacao copa do mundorelação ao finalconvocacao copa do mundo2020, quando 28% disseram que ao menos uma pessoa foi demitida.

Sopaconvocacao copa do mundosobras

Os relatosconvocacao copa do mundofome e desesperoconvocacao copa do mundobuscaconvocacao copa do mundouma alimentação se multiplicamconvocacao copa do mundotodo o país.

Todas as tardes, dezenasconvocacao copa do mundopessoas formam uma fila na portaconvocacao copa do mundouma associação no centroconvocacao copa do mundoRecife, capitalconvocacao copa do mundoPernambuco. Minutos depois, cada uma delas deixa o local carregando um copo plástico com um caldo quente. A sopa é feita com as sobrasconvocacao copa do mundorefeições doadas por um restaurante da região.

A empregada doméstica Maria do Carmo Santana,convocacao copa do mundo57 anos, disse que recorre à doação todos os dias porque não teria condiçõesconvocacao copa do mundofazer três refeiçõesconvocacao copa do mundocasa.

"Meu marido é pintor e o trabalho dele mal paga as contas. Recebo R$ 150convocacao copa do mundoBolsa Família que mal dá para comprar o gás, então a gente depende da ajuda dos outros, principalmenteconvocacao copa do mundoquem mora na nossa comunidade", diz.

Ela, que vive com o maridoconvocacao copa do mundoum barraco no Beco do Esparadrapo, diz que a refeição é a salvação para a família não passar fome.

"Com essa sopa, eu faço uma refeição a menosconvocacao copa do mundocasa. Hoje tem arroz, macarrão e salsicha. Agora, vou só comprar um pão para comer à noite. Meu marido é pintor e o salário dele mal paga as contas da casa, então quanto menos a gente cozinhar e gastar gás, melhor", disse à BBC News Brasil.

O Instituto Casa Amarela Social é um dos que ajudam famílias pobresconvocacao copa do mundoRecife, distribuindo cestas básicas e refeições. O grupo faz diversas campanhas para arrecadar doações.

O G10 Favelas, grupo que reúne as 10 maiores comunidades do país, criou uma centralconvocacao copa do mundoarrecadação para ajudar famíliasconvocacao copa do mundobaixa rendaconvocacao copa do mundotodo o país.

A altaconvocacao copa do mundopreços da carne começou antes da pandemia, puxada pela demanda da China, cujo rebanho suíno foi fortemente afetado pela peste suína africana.

A tendência foi acentuada no ano passado pela alta do dólar, que estimula as exportações, reduzindo a oferta do produto no mercado interno.

Pesaram ainda a seca, que piora a qualidade do pasto e aumenta a necessidadeconvocacao copa do mundousoconvocacao copa do mundoração, elevando o custoconvocacao copa do mundoprodução; e o menor abateconvocacao copa do mundofêmeas, que são retidas pelos pecuaristas para produzir novos animais, aproveitando a altaconvocacao copa do mundopreços.

Com a somatória desses fatores, o resultado tem sido o sumiço da carne vermelha no prato dos brasileiros mais pobres. Isso forçou pessoas no Brasil inteiro, como a Lindinalva e a Maria do Carmo, a terem apenas as sobras como opção.

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