Eleições nos EUA: o que o Brasil ganhou e perdeu com a proximidade entre Bolsonaro e Trump:poker linux

poker linux Em 16poker linuxmaiopoker linux2019, quando visitava a cidadepoker linuxDallas, nos Estados Unidos, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, adaptou seu tradicional bordão para o seguinte: "Brasil e Estados Unidos acimapoker linuxtodos", disse. Além disso, no mesmo evento comercial, o mandatário brasileiro bateu continência para a bandeira americana.

Meses depois,poker linuxsetembro do mesmo ano, Bolsonaro demonstrou seu apreço por Donald Trump,poker linuxum eventopoker linuxNova York. "Eu te amo", disse o brasileiro,poker linuxum momento registrado pelas câmeras. O presidente americano, no entanto, não foi tão carinhoso e respondeu apenas: "Bom te verpoker linuxnovo". Por outro lado, Trump já afirmou que Bolsonaro e ele são "grandes amigos".

Bolsonaro e Trump, candidato à reeleição no pleito disputado nesta terça-feira (3/11), partilham o posicionamento ideológicopoker linuxdireita, o conservadorismo nos costumes e o estilo populista e onlinepoker linuxfazer política.

Mas a gestão Bolsonaro defende que a aproximaçãopoker linuxagendas dos países não é resultado apenas da simpatia mútua entre a duplapoker linuxpolíticos, mas o reconhecimentopoker linuxque a relação até então morna com os americanos representava uma oportunidade desperdiçadapoker linuxaumentar o fluxopoker linuxnegócios bilaterais e a influência política brasileira na América Latina.

Mas até que ponto a dita amizade entre Trump e Bolsonaropoker linuxfato se reverteupoker linuxbenefícios para o país latino-americano? Em quais pontos houve avanços e quais outros o Brasil saiu perdendo?

A BBC News Brasil ouviu especialistaspoker linuxrelações internacionais e comércio exterior para entender essas questões.

1 - Assimetria e políticapoker linuximigração

Para Felipe Loureiro, professor e coordenador do cursopoker linuxRelações Internacionais da USP, a relação entre Brasil e Estados Unidos nos dois últimos anos, com Trump e Bolsonaro no poder, pode ser classificada como "assimétrica".

"É assimétrica porque Brasil cedeupoker linuxmaneira concretapoker linuxvários setores, mas recebeupoker linuxtroca apenas promessas", afirma. "O governo Trump fez pouquíssimas concessões,poker linuxmodo que o Brasil ganhou muito pouco nesse período."

Um desses pontos citados pelo acadêmico foram as políticaspoker linuxvisto e imigração. Enquanto Bolsonaro extinguiu a necessidadepoker linuxvisto para turistas americanos entrarem no Brasil, Trump não fez o mesmo nem anunciou qualquer mudança sobre as ações contra imigrantes brasileiros que estejampoker linuxmaneira clandestina nos Estados Unidos. Pelo contrário: aviões fretados pelo governo brasileiro trouxeram centenaspoker linuximigrantespoker linuxvolta ao país.

Em 2019, ao anunciar a medida sobre o visto, Bolsonaro justificoupoker linuxdecisão afirmando que "americanos não vêm ao Brasilpoker linuxbuscapoker linuxemprego". "Agora, alguém tem que estender os braçospoker linuxprimeiro lugar, estender as mãospoker linuxprimeiro lugar, e fomos nós. Creio que podemos ganhar muito na questão do turismo", disse o presidente.

Para Loureiro, não houve reciprocidade dos Estados Unidos depois da decisãopoker linuxBolsonaro. "O governo brasileiro alegou que o fim da necessidadepoker linuxvisto aumentaria os investimentos e fluxopoker linuxturistas americanos ao Brasil. Isso não aconteceu na escala que foi anunciada, levando-sepoker linuxconta o contexto da pandemia", afirma.

"O Brasil cedeu nesse ponto, e recebeu apenas uma promessapoker linuxrevisão da políticapoker linuximigração para os brasileiros, mas isso não se verificou. Muito pelo contrário: a políticapoker linuximigração do governo Trump para latino-americanos é muito dura, e desrespeita a acordos internacionais que regem questões básicaspoker linuxdireitos humanos", completa Loureiro.

2 - Basepoker linuxAlcântara, acordos comerciais e militares

Durante a visitapoker linuxBolsonaro aos Estados Unidos,poker linuxmarçopoker linux2019, os dois governos anunciaram um acordo que prevê o uso pelos EUA do Centropoker linuxLançamentopoker linuxAlcântara, no Maranhão.

O governo Bolsonaro afirmou que o acordo estimulará o desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro e poderá gerar investimentospoker linuxaté R$ 1,5 bilhão na economia nacional.

Críticos do pacto apontaram, porém, possíveis entraves à transferênciapoker linuxtecnologias para o Brasil, riscos à soberania nacional e efeitos nocivos para moradorespoker linuxAlcântara, entre os quais remoçõespoker linuxcomunidades quilombolas.

"Na minha visão, esse é um acordo assimétricopoker linuxque o Brasil cedeu muito, sem ter muita certeza do que ganharápoker linuxtroca. Além da remoção forçadapoker linuxcomunidade tradicionais, o Brasil pode perder o direito ao acesso a uma parte do próprio território. Porém, apesar da assinatura, o acordo pouco evoluiu nos últimos meses", explica a analista Maiara Folly, diretorapoker linuxprogramas e cofundadora da Plataforma Cipó, dedicada a análises sobre clima, paz e cooperação internacional.

Outro ponto celebrado por Bolsonaro foi um acordopoker linuxcooperação na áreapoker linuxequipamentos militares, assinadopoker linuxmarço deste ano, pouco antes da pandemiapoker linuxcovid-19.

Segundo pronunciamento do Ministério da Defesa na época, o objetivo do projeto é "abrir caminho para que os dois governos desenvolvam futuros projetos conjuntos alinhados com o mútuo interesse das partes, abrangendo a possibilidadepoker linuxaperfeiçoar ou prover novas capacidades militares".

Para Felipe Loureiro, da USP, o projeto pode ser bom para o Brasil. "Apesarpoker linuxter pouca coisa concreta até agora, não há dúvidapoker linuxque ele pode ser benéfico se viabilizar a ofertapoker linuxnovos equipamentos, alémpoker linuxum modernização do setor no Brasil", diz.

Neste mês, Brasil e EUA também assinaram três acordos comerciais depoispoker linuxmesespoker linuxnegociações.

Os termos preveem aboliçãopoker linuxalgumas barreiras não-tarifárias no comércio bilateral: a simplificação ou extinçãopoker linuxprocedimentos burocráticos, conhecida no jargão empresarial como facilitaçãopoker linuxcomércio, a adoçãopoker linuxboas práticas regulatórias, que proíbem, por exemplo, que agências reguladoraspoker linuxcada país mudem regras sobre produtos sem que exportadores do outro país possam se manifestar previamente, e a adoçãopoker linuxmedidas anticorrupção.

3 - Entrada do Brasil na OCDE

Em 2019, o governo Bolsonaro fez uma sériepoker linuxconcessõespoker linuxtroca do apoio dos Estados Unidos à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A entidade, com sedepoker linuxParis, foi criadapoker linux1961 e reúne 36 países-membros, a maioria economias desenvolvidas, como Estados Unidos, Japão e países da União Europeia. A organização é vista como um "clube dos ricos", apesar do ingressopoker linuxvários emergentes. Chile e México são os únicos representantes da América Latina.

Esse "fórum internacional" realiza estudos e auxilia no desenvolvimentopoker linuxseus países-membros, fomentando ações voltadas para a estabilidade financeira e a melhoriapoker linuxindicadores sociais.

Entre as concessões feitas por Bolsonaro, houve uma com maior potencialpoker linuximpacto econômico: a renúncia do Brasil ao tratamento diferenciado, como paíspoker linuxdesenvolvimento, nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).

O tratamento diferenciado prevê benefícios para países emergentespoker linuxnegociações com nações ricas. O Brasil tinha, por exemplo, mais prazo para cumprir determinações e margem maior para proteger produtos nacionais.

Para Maiara Folly, a retirada desse status foi prejudicial ao Brasil. "Há também um aspecto simbólico nessa medida, que tem a ver com a identidade da política externa brasileira. O Brasil tendia a se posicionar como um líder do mundopoker linuxdesenvolvimento, o que garantia a liderançapoker linuxdiscussões importantes, como combate à pobreza, questões ambientais, quebrapoker linuxpatentes epoker linuxdireito intelectual. O Brasil era sempre uma voz ser ouvida, o que não ocorre mais", diz.

Inicialmente, os Estados Unidos afirmaram que iriam apoiar a entrada da Argentina na OCDE, posição reformulada no início deste ano, a favor do Brasil. Porém, ainda não se sabe quando o país vai entrar definitivamente na entidade, pois existe a dependência do apoiopoker linuxoutros membros do grupo.

4 - Exportaçãopoker linuxaço e alumínio

No setorpoker linuxsiderurgia, Donald Trump também não favoreceu o Brasil. Essa área é bastante sensível para o governo do Partido Republicano, que foi pressionado por siderúrgicas locais a barrar as importações do produtopoker linuxoutros países, principalmente do Brasil.

Nos últimos dois anos, Trump ameaçou sobretaxar o aço e alumínio do Brasil, prejudicando os exportadores brasileiros e favorecendo a produção local. Nas redes sociais, o presidente ainda acusou o governo Bolsonaropoker linuxdesvalorizar o realpoker linuxpropósito para colher mais lucros com as exportações da matéria-prima.

Em agosto deste ano, jápoker linuxcampanha pela reeleição, Trump reduziu a cotapoker linuxexportações do aço semi-acabado do Brasil. Segundo Trump, a medida foi tomada porque houve mudanças significativas no mercadopoker linuxaço americano, que se se contraiupoker linux2020.

O governo brasileiro não criticou a medida, o que foi visto por analistas como mais um indício do apoiopoker linuxBolsonaro à reeleição do republicano.

No geral, as exportaçõespoker linuxprodutos brasileiros caíram 25% no acumuladopoker linuxjaneiro a setembro deste anopoker linuxrelação ao mesmo períodopoker linux2019, o menor patamarpoker linux11 anos.

"Há uma influência da pandemia nessa queda, mas essa desaceleração das exportações para os EUA já vinha acontecendo nos últimos anos. Não dá para culpar apenas a pandemia", diz José Augustopoker linuxCastro, presidente executivo da Associaçãopoker linuxComércio Exterior do Brasil (AEB).

5 - A China e o 5G

O 5G é outro pontopoker linuxinfluênciapoker linuxTrump sobre o governo brasileiro, que terápoker linuxdecidir como implementar a nova tecnologiapoker linuxmeio a uma das disputas mais acirradas da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Um dos principais concorrentes do 5G no Brasil é a empresa chinesa Huawei.

À primeira vista, o 5G é apenas uma atualização dos sistemaspoker linux4G já existentes no Brasil — o usopoker linuxfrequênciaspoker linuxrádio outorgadas pelo governo a operadoraspoker linuxtelefonia móvel para transmissãopoker linuxdados digitais. Mas na prática ele será muito mais do que isso. A velocidade esperada nas conexões é da ordempoker linux10 a 20 vezes maior do que a tecnologia anterior.

Em qualquer cenário, as decisões sobre um leilão dessa magnitude — que será o maior já realizado no Brasil e um dos maiores do mundo — já seriam polêmicas e difíceis.

Mas o governo Bolsonaro vem sendo pressionado pelas duas superpotências mundiais. Donald Trump chegou a falar abertamente,poker linuxjulho, que estápoker linuxcampanha contra os chineses na questão.

Nos últimos anos os EUA iniciaram uma ofensiva contra a Huawei, que, segundo os americanos, representa um perigopoker linuxsegurança nacional aos países que comprarem seus equipamentos.

A acusação é baseada na seguinte lógica: se toda a sociedade estiver interconectada usando equipamentopoker linuxuma empresa chinesa — o que incluiria sistemaspoker linuxtrânsito,poker linuxcomunicação ou até mesmopoker linuxeletrodomésticos "inteligentes" dentro dos nossos lares — todos nós estaríamos vulneráveis a espionagem pelo governo da China.

A Huawei é uma empresa privada, mas uma leipoker linuxsegurança aprovada pela Chinapoker linux2017 permite,poker linuxtese, que o governopoker linuxPequim exija dadospoker linuxcompanhias privadas, caso a necessidade seja classificada como importante para soberania chinesa.

A China nega todas as acusações e diz que o único interesse dos EUA é minar o crescimento tecnológico chinês, que vem fazendo face aos americanos.

Os Estados Unidos querem que o Brasil adote uma licitação que exclua o usopoker linuxequipamentos da Huawei por parte das operadoras — algo que já foi adotadopoker linuxoutros países do mundo, como Reino Unido, Japão e Austrália.

"A relação entre Brasil e Estados Unidos, muitas vezes com um caráterpoker linuxsubserviência e automático por parte do governo brasileiro, tem causado muitos desgastes com a China, que é nosso principal parceiro comercial desde 2009. Seria muito bom se o Brasil conseguisse encontrar um equilíbrio para manter uma boa relação com os dois países, mantendo uma posturapoker linuxindependência", diz Maiara Folly.

6 - Covid-19 e meio ambiente

Durante a pandemiapoker linuxcovid-19, Bolsonaro teve posturas semelhantes aopoker linuxseu colega americano. Ambos apostaram na cloroquina como tratamento para a doença, mesmo sem provas científicaspoker linuxque o medicamento era eficaz e mesmo ante indíciospoker linuxque seus efeitos colaterais poderiam ser graves.

Trump e Bolsonaro também desdenharam repetidas vezes o poder destrutivo da doença, embora ambos tenham adoecido. Estados Unidos e Brasil são hoje os países do mundo com maior númeropoker linuxmortos pelo coronavírus, com 231,6 mil e 160 mil vítimas fatais, respectivamente (até esta terça, 3/11).

Na área do meio ambiente, os dois políticos também são vistos como negacionistas e negligentes — ou seja, eles negam informações científicas e evidências comprovadas do alcance das mudanças climáticas e da destruiçãopoker linuxflorestas, como a Amazônia.

Sepoker linuxum lado Trump saiu do Acordopoker linuxParis, tratado que cria regras e medidas para reduçãopoker linuxgasespoker linuxefeito estufa, do outro Bolsonaro culpou, sem provas, ONGspoker linuxdefesa do meio ambiente e até indígenas pelo crescimento exponencial das queimadas na Amazôniapoker linuxseu governo.

Para Felipe Loureiro, a imagem internacional do Brasil hoje,poker linuxfunção do descaso com o meio ambiente, tem mais relevância por questões negativas do que positivas.

"A questão do meio ambiente é muito importante e vai ser o tema principal da agenda internacional nos próximos anos. Se o Brasil não fizer a liçãopoker linuxcasa, a tendência é que exista ainda mais pressão por boicotepoker linuxempresas brasileiras no exterior e até sanções econômicas", explica o professor da USP.

Para José Augustopoker linuxCastro, da Associaçãopoker linuxComércio Exterior do Brasil, uma eventual vitóriapoker linuxJoe Biden nas eleições desta terça-feira criaria ainda mais pressão sobre o governo brasileiro na pauta ambiental. "Biden já se posicionou sobre isso. Quando falamospoker linuxmeio ambiente, falamospoker linuxagronegócio. O Brasil vai precisar rever suas posições para não ficar cada vez mais isolado", diz.

Já Maiara Folly, da Plataforma Cipó, cita que as posiçõespoker linuxBolsonaropoker linuxrelação à destruição do meio ambiente, alémpoker linuxpostura reativa a questõespoker linuxdireitos humanos, "transformaram o Brasilpoker linuxum Estado pária, arranhando a imagem do país" na comunidade internacional.

"Bolsonaro cultivou uma relação personalista com Trump, e não fez isso com o Partido Democrata. Não acredito que o Biden, caso vença como indicam as pesquisas, vá tomar uma atitude drásticapoker linuxrelação ao Brasil logo no começo. Mas, se o Brasil for um empecilho na questão ambiental, que é um das principais plataformas dos democratas, é possível que haja muitas tensões entre os dois países", diz.

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