Coronavírus: Faltacasinos online ptempatiacasinos online ptBolsonaro com mortes por covid-19 parece psicopatia, diz psicanalista Maria Rita Kehl:casinos online pt

Crédito, Editora Boitempo/Divulgação
"É muito difícil fazer diagnósticocasinos online ptalguém que não conhecemos", diz ela. "Mas a minha impressão desde a campanha é que ele está mais próximo daquilo que a gente chamacasinos online ptpsicopata."
Para ela, a impossibilidade da despedidacasinos online ptparentes ou amigos mortos na pandemia é traumática e pode levar a processoscasinos online ptluto mais longos e melancólicos. Kehl compôs a Comissão Nacional da Verdade, que investigou os crimes da ditadura militar no Brasil. Ela compara o luto pela mortecasinos online ptpessoas na pandemia ao luto pelos desaparecidos na ditadura.
Por telefonecasinos online ptcasa,casinos online ptSão Paulo, à BBC News Brasil, Kehl falou sobre a pandemia, Bolsonaro e a "tristeza e indignação coletivas" que os brasileiros sentem. Seu livro "Ressentimento" será relançadocasinos online ptagosto pela editora Boitempo, com edição revista e atualizada.
Leia abaixo trechos da entrevista.
casinos online pt BBC News Brasil - Pessoas estão perdendo familiares e amigos sem poder se despedir. Qual é o peso disso para o luto?
casinos online pt Maria Rita Kehl - Comparo com a impossibilidade do luto dos desaparecidos na ditadura. O desaparecimento depoiscasinos online ptum tempo indica que foram mortos, mas os corpos nunca foram localizados. Sabemos do desespero desses familiares. Até hoje desaparecem pessoas no Brasil, mascasinos online ptgeral nas periferias, pessoas negras, mortas pela polícia.
A morte é um fenômeno difícilcasinos online ptsimbolizar... De repente o corpo está, mas a pessoa não está. Por isso que não tem uma cultura tão primitiva que não tenha um ritualcasinos online ptsepultamentocasinos online pthomenagem a seus mortos.
De modo que só posso imaginar que [no caso dos mortos por coronavírus] deve ser um luto quase impossível. Só não é tão impossível quanto a dos familiares dos desaparecidos porque a morte foi real, aconteceu.
Já é ruim o suficientecasinos online ptqualquer morte. Agora, as pessoas não podem ver, não podem sepultar. Seu parente entra no hospital, depois você fica sabendo da morte e não pode nem ver o corpo. Isso é muito traumático. Tenho impressão que essas pessoas vão ter processoscasinos online ptluto mais complicados, mais longos, melancólicos do que os processoscasinos online ptluto que já são tristescasinos online ptpessoas que a gente sepulta.

Crédito, Reuters
casinos online pt BBC News Brasil - E como as pessoas estão lidando com a pandemia? Há um sentimento generalizadocasinos online ptmedo?
casinos online pt Kehl - Não há um só padrão. Por exemplo, se nós temos um presidente da República que diz que é uma "gripezinha", e que diz "lamento, todo mundo morre", embora esteja havendo uma pandemia e muitas pessoas estejam morrendo porque estão acreditando que podem ir pra rua, meu temor é que não seja só uma insensibilidade que machuca - porque machuca, evidentemente. Mas que seja uma insensibilidade que produz essa insensibilidade numa parte da população.
Porque esse mecanismocasinos online ptdefesa - quer dizer, no caso do presidente acho que é pura canalhice, mesmo - pode se tornar um mecanismocasinos online ptindiferença,casinos online ptdesidentificação, "não é comigo", "não vou lamentar pelos outros porque acontece com os outros, mas não está acontecendo comigo nem com meus familiares".
Nesse momento, a solidariedade é tão necessária, nem que seja apenas simbólica, mandando cartas para os jornais, mandando dinheiro para lugares que fecharam, para alguém na rua com fome. Isso também é jeito bomcasinos online ptdiminuir nossa angústia. "Diante desse horror que está acontecendo, posso fazer alguma coisa para os vivos?"
Essa é uma das reações que, embora seja generosa, também é egoísta porque nos tranquiliza um pouco. Você pode sentir que está presocasinos online ptcasa, mas está ajudando alguém. Tem esses dois lados. Sem solidariedade, sobra a barbárie.
Porque daí é um salva-se quem puder e dane-se quem não puder se salvar ou quem está correndo mais risco. É muito horroroso. Eu não sei nem qualificar direito o quanto isso é horroroso.
casinos online pt BBC News Brasil - Nesta semana, com maiscasinos online pt30 mil mortos no Brasil, o presidente Bolsonaro disse: "Lamento todos os mortos, mas é o destinocasinos online pttodo mundo". O que isso revela sobre ele?
casinos online pt Kehl - Faltacasinos online ptempatia é o mínimo. É muito difícil fazer diagnósticocasinos online ptalguém que não conhecemos, a gente já erra o diagnósticocasinos online ptquem está no nosso consultório, no nosso divã. Imaginacasinos online ptalguém sobre a qual só temos notícias pelos jornais. Mas a minha impressão desde a campanha é que ele está mais próximo daquilo que a gente chamacasinos online ptum psicopata.
Um psicopata não é necessariamente um serial killer (um assassinocasinos online ptsérie). Digo porque geralmente quando aparecem essas figuras a imprensa começa a noticiar que são psicopatas. São pessoas que não têm divisão subjetiva. Divisão subjetiva significa "bom, eu corri demais, atropelei aquela criança", justifico dizendo que minha mãe estava doente, mas ao mesmo tempo eu me sinto angustiada. Mesmo quando fazemos algo muito ruim, como esse exemplo horrorosocasinos online ptatropelar uma criança, algocasinos online ptnós não nos deixacasinos online ptpaz. E mesmo quando é uma coisa que a gente faz movida pela raiva. Você envenena o cachorro do vizinho que não te deixa dormir. Alguma coisacasinos online ptnós sofre, mesmo pessoas más, sem consciência, egoístas, alguma coisacasinos online ptnós sofre. O fatocasinos online ptter que justificar já mostra que não é tão tranquilo quanto parece.
Vou dar só a definição do que é um psicopata para as pessoas pensarem se isso tem a ver com essa figura que ocupa a Presidência: o psicopata não tem essa divisão que diz: "Eu fiz, mas não deveria ter feito". "Eu fiz porque eu fui obrigada, mas eu sinto alguma culpa". Ele não tem. Ele não tem nenhuma empatia com o outro.
Essa resposta [sobre os mortes por coronavírus] écasinos online ptum tal graucasinos online ptimpiedade… Não é só que ele não tem estatura para ser presidente do Brasil, isso a gente já sabe desde o começo, quando ele não comparecia a debates e xingava as pessoas. Ele não tem estatura humana naquilo que a gente considera que são alguns traços mínimos para você ser considerado um homem. Um homem humano.

Crédito, Reuters
casinos online pt BBC News Brasil - E qual é a importância, para uma sociedade, que seu líder lamente os mortos do país?
casinos online pt Kehl - Os gestos simbólicos são muito importantes. Vou fazer uma porcentagem meramente imaginária: é como se 30% para nós fossem questões materiais, como comer, morar, por exemplo, e 70% fosse esse outro campo que é o simbólico, que é o das trocascasinos online ptlinguagem, expressões, dos laços que se formam. O que distingue o humanocasinos online ptqualquer outra espécie é a capacidade da linguagem. E a linguagem é tudo o que dispomos quando não dispomoscasinos online ptmais nada.
As pessoas que ficaramcasinos online ptcamposcasinos online ptconcentração conseguiram escrever diários e livros. Algo como: "Eu estou aquicasinos online ptcondições subumanas, desumanas, mas eu ainda sou um ser humano". O que distingue o humano é isso, é a capacidadecasinos online ptregistrar simbolicamente alguma coisa sobrecasinos online ptvida e comunicar simbolicamente alguma coisa sobrecasinos online ptvida ou a vida coletiva, o entorno.
Bolsonaro usa outros gestos simbólicos que não é o lamento. Diz algo como: "não é problema meu". E não é só não lamentar, é não fazer atos com consequências para diminuir a pandemia.
Meu temor é que a sociedade brasileira se torne menos solidária. Não que antes ela tenha sido muito solidária: o Brasil foi o último país livre a abolir a escravidão, por exemplo. Tivemos 300 anoscasinos online ptescravidão. E quando acabou escravidão também não houve teve nenhuma reparação. Temos uma população afrodescendente muito mais pobre porque seus bisavós, quando acabou a escravidão, foram jogados na rua. Coisas horríveis que estão no nosso DNA histórico, que já é uma sociedade menos generosa com o outro…
No entanto, a presença simbólica, o discurso, os atoscasinos online ptquem governa a sociedade produzem diferença. Quando o governo Lula criou o Luz Para Todos ou as cotas nas universidades, por exemplo. Foi uma coisa importantíssima, como forma tardia mas bem-vindacasinos online ptreparação da desigualdade causada pela escravidão. Foi um ato que produz solidariedade.
Os gestos simbólicos daquele governo foramcasinos online ptinclusão,casinos online ptpromover igualdade,casinos online ptpromover a solidariedade, muito diferente dos gestos simbólicos desse governocasinos online ptagora.
casinos online pt BBC News Brasil - A sra. escreveu um livro sobre ressentimento. Existe ressentimento na ascensão da extrema direita?
casinos online pt Kehl - O ressentimento tem esse "re" porque é um sentimento requentado, digamos assim. É uma disposição psíquicacasinos online ptalguns sujeitos quando eles não querem aceitar consequências dos seus gestos errados. Não aceita que é responsável por algo que o prejudicou. Então fica procurando um culpado. Depois passa o resto da vida remoendo isso: esse é o ressentimento.
Me parece que alguns votos bolsonaristas são votos ressentidos. É muito difícil saber do que se ressentem. De terem sido coniventes com a ditadura e vem Comissão da Verdade e mostra os horrores todos que aconteceram?
Ou o ressentimentocasinos online ptclassecasinos online ptquem no Brasil durante tanto tempo teve todas as prerrogativas… E veja, ninguém perdeu. Os ricos enriqueceram mais, só que os pobres tiraram o pé da lama. As prerrogativas dos ricos no Brasil são tãocasinos online ptexclusividade que geraram esse ressentimento.
Claro que tem ressentidos que votaram no Bolsonaro, mas tem gente que já era antipetista desde sempre e tem gente que apostou nesse plano econômico do Paulo Guedes, que é um plano para favorecer quem já é favorecido.

Crédito, REUTERS/Adriano Machado
casinos online pt BBC News Brasil - Nesta semana, o ex-presidente Lula criticou os manifestos suprapartidárioscasinos online ptdefesa da democracia e se recusou a assiná-los. Existe também ressentimento por parte dele?
casinos online pt Kehl - O Lula é político até o último fiocasinos online ptcabelo. E não político no sentidocasinos online ptque queira ser candidatocasinos online ptnovo. Eu não sei que ele está certo ou errado. Sinceramente, acho que ele tinha que aderir a esse movimento. Mas eu acho que o cálculo dele é político, não é porque ele é ressentido contra o Marcelo Freixo ou o Guilherme Boulos, por exemplo. Mas não sei julgar se esse cálculo político é certo ou errado.
Ressentimento é quando você se encolhe, não faz o que tinha que fazer e depois culpa o outro. Eu também não perdoo pessoas que apoiaram o impeachment da Dilma - que foi um golpe. Isso não é ressentimento. Eu acho que o Lula deveria fazer essa denúncia, mas assinar, porque o nome dele tem muito peso, mas eu entendo. O impeachment da Dilma foi um golpe que abriu a porteira para isso que tá aí agora. E não considero que toda essa revolta seja um ressentimento. Ao contrário, a revolta é o contrário do ressentimento. Ressentimento é remoer, revolta é dizer: "Com vocês não falo mais".
casinos online pt BBC News Brasil - Estamos vivendo um luto coletivo durante casinos online pt a casinos online pt pandemia?
casinos online pt Kehl - Há um luto por parte das pessoascasinos online ptbem. Porque sabem que há uma pandemia, que ela está sendo minimizada, que atitudes cientificamente comprovadas para diminuir o contágio não estão sendo tomadas, sabem que essa pandemia combinada com escalada da pobreza no Brasil está misturando quem morrecasinos online ptcovid-19 com quem morrecasinos online ptfome,casinos online ptgripe,casinos online ptdesnutrição.
É um sentimentocasinos online ptenorme tristeza. Não é questãocasinos online ptdireita e esquerda, é solidariedade humana básica.
É um luto coletivo e uma indignação coletiva, vamos lembrar isso. Tem uma tristeza coletiva porque está morrendo muita gente. Cada dia a gente vê nos jornais, estamos agora com maiscasinos online ptmil mortos diários. Claro que tem tristeza enorme com isso, mas tem também uma indignação. A pandemia talvez não fosse evitável, mas com algumas políticas públicas simples ecasinos online ptcontenção, ela podia não ser tão catastrófica. E aí um presidente que diz "Ah, todo mundo morre, e daí?"... Como se as mortes fossem naturais. Não, são mortes por descaso.


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