Mulheres sobrecarregadas e homens desempregados: famílias brasileiras chegam a 2019 aindatips de apostas desportivascrise:tips de apostas desportivas

Alessandra e Alexandre

Crédito, Fernando Quixote/BBC

Legenda da foto, Depois que Alexandre perdeu o emprego, Alessandra passou a sustentar a casa

Apesar dos efeitos colaterais, são os remédios que ajudam Alessandra, 45, a dormir, acordar e respirar durante crisestips de apostas desportivasasma, bronquite e síndrome do pânico. Essas doenças apareceram há alguns anos, quandotips de apostas desportivasvida começou a mudar.

Em 2014, o maridotips de apostas desportivasAlessandra deixou um emprego como gerentetips de apostas desportivaslogística e não conseguiu arrumar outro. Desde então, é o salário dela como agentetips de apostas desportivasviagens que sustenta a casa, onde também mora umatips de apostas desportivassuas filhas,tips de apostas desportivas18 anos e desempregada. Responsável pelas contas, sem carteira assinada, dinheiro no banco ou gastos que ainda possa cortar, Alessandra está cansada e doente. E é assim que ela etips de apostas desportivasfamília chegam a 2019.

Legenda do vídeo, O amor na crise: com mulher responsável pelas contas, marido assume tarefas domésticas

A recente recessão vivida pelo Brasil foi a maior desde os anos 1980, quando o Comitêtips de apostas desportivasDataçãotips de apostas desportivasCiclos Econômicos, da Fundação Getulio Vargas (FGV), começou a medir as crises brasileiras. Em 11 trimestres, entre 2014 e 2016, o PIB do país acumulou uma quedatips de apostas desportivas8,6%. Nesse período, o desemprego chegou a atingir 14,2 milhõestips de apostas desportivaspessoas e a renda per capita caiu 9,4%, o segundo pior resultado do século. Durante uma das crises mais longastips de apostas desportivasnossa história, muitas famílias passaram por transformações semelhantes às experimentadas por Alessandra.

Uma delas merece destaque, por influenciar com força as dinâmicas familiares: o protagonismo das esposas, grupo que não tinha salário ou cujo salário era secundário no sustento da casa. Na maioria dos casos, elas são as esposas ou companheiras, enquanto os maridos se identificam como "chefestips de apostas desportivasfamília".

Alessandra

Crédito, Fernando Quixote/BBC

Legenda da foto, 'Tem semanatips de apostas desportivasque a gente não tem grana', diz Alessandra sobre mudanças na vida da família após a crise

Um levantamento feito para a BBC News Brasil pelo professor Marcelo Neri, diretor do centrotips de apostas desportivaspolíticas sociais da FGV, com basetips de apostas desportivasdados da Pesquisa Nacional por Amostratips de apostas desportivasDomicílios (Pnad), indica que as cônjuges se saíram melhor do que os chefestips de apostas desportivasfamília durante a recessão. Elas tiveram aumentos expressivostips de apostas desportivasrenda, horas trabalhadas e participação no mercadotips de apostas desportivastrabalho. Nesta reportagem, o termo será usado no feminino já que 72,5% dos que ocupam esse papel são mulheres,tips de apostas desportivasacordo com a Pnadtips de apostas desportivas2017. É importante ressaltar que muitas brasileiras também são chefes - 29,28% das brasileiras exercem essa funçãotips de apostas desportivascasa.

Os dados da Pnad mostram que, entre o segundo trimestretips de apostas desportivas2015 e o segundo trimestre 2018, a renda das mulheres do casal cresceu 17,9% enquanto que a dos principais responsáveis pelo domicílio (cuja maioria étips de apostas desportivashomens) caiu 10,3%. O crescimento da renda do grupo das mulheres cônjuges também ultrapassou o dos jovens, os que mais sofreram com o desemprego - nesse período, a renda dos que se identificavam como filhos encolheu 9,6%.

O bom desempenho, no entanto, não é motivotips de apostas desportivascomemoração: emtips de apostas desportivasmaioria, os rendimentos das mulheres não melhoraram a situação da família, mas apenas impediram que seus membros ficassem ainda mais pobres.

"A trabalhadora adicional entra no mercado para amortecer a quedatips de apostas desportivasrenda da família, como um colchão", diz Neri.

"Ou seja: há um ganho individual, mas uma perda familiar."

Na cozinha, enquanto se prepara para sair, Alessandra coloca potestips de apostas desportivasplástico com seu almoço e lanche da tarde dentrotips de apostas desportivasuma bolsatips de apostas desportivastecido. Depoistips de apostas desportivasempilhá-los, equilibra uma banana sobre eles.

"Está na hora. Vamos?"

O relógio marca 6h15.

O retrocesso

Alexandre e Alessandra

Crédito, Fernando Quixote/BBC

Legenda da foto, Todos os dias, Alexandre leva Alessandra até o trabalho, no centrotips de apostas desportivasSão Paulo

As paredes brancas da casa estão descascadas, sem pintura há algum tempo. O varal no quintal está quebrado. Ao tirar o carro da garagem, Alexandre diz que vai tentar consertá-lo mais tarde.

Alessandra senta no banco do passageiro para o trajetotips de apostas desportivasuma hora até o trabalho, no centrotips de apostas desportivasSão Paulo. Ela fala sobre o que mudou nos últimos anos.

"Tem semanatips de apostas desportivasque a gente não tem grana. Não tem. Se eu te falar que tem dez reais na carteira é mentira", ela diz, olhando pela janela.

"A gente nunca foi extremamente consumista...Mas começamos a ir ao shopping já almoçados, para não gastar, e a pesquisar muito só para comprar um partips de apostas desportivastênis. Vendemos carro, cortamos telefone fixo, TV...É apertado."

O desemprego e a perda do podertips de apostas desportivascompra que ele traz geram sofrimento, diz a professora da Unicamp e presidente da Associação Brasileiratips de apostas desportivasEstudos do Trabalho Angela Araújo. Isso porque, ao longo do tempo, tais condições obrigam as famílias a repensarem até as pequenas escolhas: optar por roupas mais baratas e às vezes diminuir a quantidadetips de apostas desportivascomida.

"A classe média e média baixa sofreram muito com a crise. As famílias não conseguiram manter o padrãotips de apostas desportivasvida, que se tornou descendente. E a tendência ainda é essa:tips de apostas desportivasqueda."

Alexandre, 49, trabalhavatips de apostas desportivasdistribuidorastips de apostas desportivasalimento há 20 anos quando,tips de apostas desportivas2014, depoistips de apostas desportivasdesentendimentos com colegas, pediu demissão. Ele tinha experiência, dinheiro guardado e, antestips de apostas desportivasprocurar uma vaga, decidiu tirar alguns mesestips de apostas desportivasdescanso. Ao começar a enviar currículos, notou algo diferente. Os amigos também estavam desempregados,tips de apostas desportivasantiga empresa havia fechado e nas entrevistas,tips de apostas desportivasvez dos dez candidatos habituais, 40 disputavam os cargos mais altos.

"Foi quando eu percebi que o mercado estava sumindo", ele diz, dandotips de apostas desportivasombros.

"É muito estressante você não ter grana para fazer o que fazia", Alessandra interrompe.

"A gente saia todo finaltips de apostas desportivassemana, né, Alê?", ela vira para o marido enquanto o trânsito para na avenida. "A gente dava uma volta no sábado ou no domingo, ia comer fora. Agora deixamostips de apostas desportivaster lazer…"

Na agênciatips de apostas desportivasviagens, onde ganha pouco maistips de apostas desportivasR$ 4 mil por mês, Alessandra mantevetips de apostas desportivasfunção. Seu salário, que então ajudava a pagar as contas, tornou-se o único da casa.

Contratam-se mulheres

Em períodostips de apostas desportivascrise, os empregadores preferem contratar ou manter mulherestips de apostas desportivassuas empresas, dizem professores entrevistados pela BBC News Brasil. Apesartips de apostas desportivasa taxatips de apostas desportivasdesemprego ser tradicionalmente maior entre elas, durante recessões os empresários são guiados pela necessidade: mulheres têm salários menores do que homens e,tips de apostas desportivasgeral, aceitam condiçõestips de apostas desportivastrabalho menos garantidas.

Em 2017,tips de apostas desportivasacordo com a Pnad, os homens ganhavam,tips de apostas desportivasmédia, 29,7% a mais do que as mulheres.

"Elas têm uma formação melhor, mais escolaridade, mas salários menores. Ganhar menos ou aceitar empregotips de apostas desportivascondições piores, sem carteira, é uma característica do emprego feminino que atrai as empresas. As empresas querem reduzir custos, se livrar das leis trabalhistas. É uma questãotips de apostas desportivassobrevivência", diz a professora do Departamentotips de apostas desportivasEconomia da PUC Anita Kon.

As mudanças estruturais no mercado brasileiro foram fundamentais para permitir que mulheres como Alessandra se tornassem provedoras durante a crise, acrescenta a professora Angela Araújo.

Uma dessas transformações foi o crescimento, na última década, do setortips de apostas desportivasserviçostips de apostas desportivaseducação e saúde, onde elas são maioria. Desde o começo dos anos 2010, esse tipotips de apostas desportivasocupação ultrapassou os serviços domésticos como a função que mais emprega brasileiras.

Por trás da expansão dos serviços, explicam os entrevistados, está a multiplicaçãotips de apostas desportivassistemas privadostips de apostas desportivaseducação e saúde - faculdades e clínicas particulares -, muitos deles contratantestips de apostas desportivasempresas terceirizadas. Por causa disso, os professores alertam que boa parte dessas vagas oferece condições precáriastips de apostas desportivastrabalho.

Para a economista e professora da UFRJ Lena Lavinas, a flexibilização, impulsionada pela reforma trabalhista, também pode ter ajudado a entrada ou permanência das mulherestips de apostas desportivasseus cargos. Com a possibilidadetips de apostas desportivasnegociação direta entre patrão e funcionário etips de apostas desportivascontratostips de apostas desportivastrabalho intermitente com salários mais baixos, por exemplo, a resistência à contrataçãotips de apostas desportivasmulheres - por receiotips de apostas desportivasque engravidem ou faltem para se dedicar aos filhos - é menor.

Alessandra recebe como Pessoa Jurídica desde 2016. Ela pediu para ser mandada embora porque não conseguia mais pagar o colégio da filha caçula e queria ganhartips de apostas desportivasrescisão para quitar as mensalidades. Sua chefe sugeriu que ficasse, mas deixassetips de apostas desportivaster a carteira assinada. Hoje Alessandra recebe o salário sem descontos e passou a trabalhar mais - ligações e mensagens fora do horário comercial são comuns.

Se setores marcados pela presença feminina cresceram na última década, o mesmo não se pode dizer dos "masculinos". A construção civil foi a campeãtips de apostas desportivasdemissõestips de apostas desportivas2017. Foram 104 mil vagas fechadas, como mostram dados do Caged (Cadastro Geraltips de apostas desportivasEmpregados e Desempregados). A indústriatips de apostas desportivastransformação demitiu 20 mil pessoas.

Alexandre diz que játips de apostas desportivas2014 percebia que seu setor não ia bem.

"Às vezes estouravatips de apostas desportivasvendas e daqui a pouco não vendia nada. Antestips de apostas desportivassair, vi que as empresas diziam que não dava para pagar a distribuição."

Enquanto Alexandre dirige, Alessandra conta sobre quando deixou o emprego para acompanhar o maridotips de apostas desportivasuma transferência. Então, seu salário era apenas um complemento.

"Uma vez fiquei fora do mercado por três meses e só depois comecei a procurar emprego. Quando a gente foi para o interior, fiquei parada maistips de apostas desportivasum ano", ela diz.

"Falei pra ela 'se quiser, trabalha, se não quiser, ficatips de apostas desportivascasa'. Quando ela ficou desempregada, era diferente. Não era tão ruim...", Alexandre continua a explicação, olhando pelo retrovisor.

As trajetórias profissionais das mulheres costumam ter um movimentotips de apostas desportivasentrada e saída do mercado para se adaptar ao itinerário da família, explica a professora do Institutotips de apostas desportivasCiências Humanas da Universidade Federaltips de apostas desportivasJuiztips de apostas desportivasFora Ana Claudia Moreira Cardoso. E seria por isso que muitas não conseguem subir na hierarquia profissional e permanecem auxiliares no sustento da casa.

"Essas entradas e saídas também são uma maneiratips de apostas desportivasmanter a desigualdade, porque você não está dando as mesmas chances para os dois sexos. Elas perdem a oportunidadetips de apostas desportivasconstruir uma carreira", diz Cardoso, que estudou a vivência dos trabalhadores e os processostips de apostas desportivasnegociação coletivatips de apostas desportivasseu doutorado.

Além dela, outros professores entrevistados pela BBC News Brasil defendem que, apesartips de apostas desportivasconsistente e representativatips de apostas desportivasuma luta por autonomia, a entrada das mulheres na forçatips de apostas desportivastrabalho aconteceu pela porta lateral.

Alessandra

Crédito, Fernando Quixote/BBC

Legenda da foto, Nos últimos anos, sobrecarregadatips de apostas desportivastrabalho, Alessandra desenvolveu várias doenças

Seus salários sempre foram inferiores aos dos homens e encarados como uma "ajuda"; elas eram e são maioria nos empregostips de apostas desportivastempo parcial, para dar conta das tarefas domésticas; e as funções que ocupavam ainda se parecem muito com as ditas "atividades femininas": o cuidado,tips de apostas desportivasdiferentes acepções.

"O maior espaço que encontram são as funções parecidas com as que já faziam no domicílio, que é o cuidado do outro: saúde, educação, serviços domésticos. Entende-se que mulheres são boas para cuidar", diz Cardoso.

No entanto, mesmo com todas essas dificuldades, trabalhar tornou-se parte da identidade feminina, pondera a socióloga e professora da Universidade Federal do Riotips de apostas desportivasJaneiro Bila Sorj. Segundo ela, é improvável que mulheres que agora veem seus rendimentos tornarem-se tão importantes para a sobrevivência da família voltem a ficartips de apostas desportivascasa.

"Isso não regride porque elas realmente se percebem como trabalhadoras, como tendo uma participação no mundo público. A mulher considera que participar do mercado é um valor."

Todas essas transformações mexem com as definições tradicionaistips de apostas desportivas"chefestips de apostas desportivasfamília" e "cônjuges".

"Ela é a única que põe um dinheirotips de apostas desportivascasa. Eu só ponho uns trocados", Alexandre comenta, enquanto o carro se aproxima do centrotips de apostas desportivasSão Paulo.

"Ela virou a chefe da família", ele diz, ao estacionartips de apostas desportivasfrente a um dos prédios cinzas da rua da Consolação. Alessandra abre a porta, bolsa e sacolatips de apostas desportivasmãos, seguida pelo marido. Na calçada, fumam um último cigarro.

Ela vai passar as próximas oito horas no escritório; ele será motorista para um aplicativotips de apostas desportivastáxi. É assim que tira seus "trocados".

O motorista

Alexandre demorou a aceitar que ser motorista eratips de apostas desportivasúnica opção. Foram dois anostips de apostas desportivascurrículos recusados até ser convencido a tentar.

"No começo eu não queria", ele diz ao voltar para o carro. "Eu tinha um cargotips de apostas desportivaschefia e você ainda estátips de apostas desportivascima do pedestal: não tem mais dinheiro, mas se acha conde, duque…"

O telefone toca. Ele tem um novo passageiro.

De acordo com os professores entrevistados, a crise econômica e os altos níveistips de apostas desportivasdesemprego que os brasileiros experimentam há anos são, claro, determinantes para o desânimo observado hoje. Mas eles ressaltam que há algo a mais nesse cenário: uma mudança profunda das vagas oferecidas, cada vez mais flexíveis e frágeis.

À recessão, dizem, soma-se o contexto da reforma trabalhista, texto aprovadotips de apostas desportivas2017 que regulamentou contrários temporários e intermitentes e permitiu a negociação direta entre empregadores e empregados. Para esses especialistas, o Brasil seguiu uma tendência mundialtips de apostas desportivasfragilizar as contratações, tornando-as mais esporádicas e sem garantias.

O professortips de apostas desportivassociologia do trabalho da Unicamp Ricardo Antunes afirma que essas transformações fazem parte do que é chamadotips de apostas desportivasquarta revolução industrial ou indústria 4.0. Nela, estaria incluída a substituição, como motor da economia, da indústria - um setortips de apostas desportivasrelações trabalhistas bem estruturadas - pelos serviços, onde essas trocas são mais flexíveis.

"A precarização é ainda mais intensa aqui porque a sociedade brasileira já nasceu sob a égide do trabalho escravo - só que hoje ele étips de apostas desportivasoutro tipo. O empresário acha que só por dar trabalho é um benfeitor."

Enquanto seguetips de apostas desportivasbuscatips de apostas desportivasoutros passageiros, Alexandre conta que hoje,tips de apostas desportivasentrevistastips de apostas desportivasemprego, as condições oferecidas são diferentes das que estava acostumado: são muitas exigências para um salário menor.

"O que eles querem? Que você seja PJ (pessoa jurídica) e receba R$ 3 mil para montar toda uma operaçãotips de apostas desportivaslogística", ele diz, enquanto o aplicativo apita.

"Chega num pontotips de apostas desportivasque você fala 'beleza, eu vou'. Mas sei que esse tipotips de apostas desportivascoisa não dá certo..."

Alexandre

Crédito, Fernando Quixote/BBC

Legenda da foto, Como Alessandra passou a trabalhar muito, Alexandre assumiu as tarefas domésticas

Empregos digitais

Diretamente implicadas nessa nova fase estão as plataformas digitais, acrescenta a professora Ana Claudia Moreira Cardoso. Os aplicativostips de apostas desportivastáxi usados por Alexandre, por exemplo, seriam um símbolo do tipotips de apostas desportivasrelação trabalhista para o qual o Brasil estaria caminhando: virtuais e efêmeras.

"Muitas dessas empresastips de apostas desportivasplataforma digital tentam se vender como sinônimotips de apostas desportivasautonomia e liberdade, dizendo que o trabalhador vai ser independente. As pessoas compram isso mas, quando entram, percebem que é uma falácia porque, se querem ter rendimento, precisam trabalhar pra caramba. A liberdade cai por terra."

"Hoje diminuiu até o ganho do motoristatips de apostas desportivasaplicativo porque todo dia aumenta cem carros na rua", Alexandre diz, dandotips de apostas desportivasombros.

Tudo o que ele ganha vai para compras básicas no supermercado.

"Para o cara fazer um bom dinheiro precisa trabalhar doze, catorze horas por dia", diz.

Uma crise longa combinada a novas formastips de apostas desportivasencarar o trabalho seria a receita ideal para despertar um sentimento nos brasileiros: o medo.

Em junho do ano passado, o Índicetips de apostas desportivasMedotips de apostas desportivasDesemprego da Confederação Nacional da Indústria (CNI) atingiu um dos piores resultados da série histórica, com 67,9 pontos. Calculado desde 1996, o indicador melhorou um poucotips de apostas desportivassetembro (65,7), mas ainda assim está muito acima da média histórica,tips de apostas desportivas49,7 pontos.

Dirigindo seu carrotips de apostas desportivasdireção à zona leste, onde prefere continuar o dia como motorista, Alexandre fala que aprendeu com a experiência do aplicativo. Ouvir os desabafos das pessoas lhe deu perspectiva sobretips de apostas desportivasprópria vida.

"Você vira meio que um psicólogo", ele pondera, avançando sob os viadutos da Radial Leste.

"É uma terapia e tanto. Você percebe que não é o único que está ruim. Numa semana peguei uma gerentetips de apostas desportivasRH que iria mandar dois mil funcionários embora."

Ele entratips de apostas desportivasuma rua lateral e aponta para a direita.

"Olha isso, há uns meses não tinha moradortips de apostas desportivasrua aqui. É como eu disse, sempre pode ser pior..."

Numa praça, folhastips de apostas desportivaspapelão e barracas cobrem os canteiros. Um grupotips de apostas desportivashomens está sentadotips de apostas desportivasroda, passando uma garrafatips de apostas desportivasvidrotips de apostas desportivasmãotips de apostas desportivasmão.

A sobrecarga

Quando Alexandre e Alessandra se reencontram, às 18h, dão um beijo rápido e fumam mais um cigarrotips de apostas desportivasfrente ao escritório, na República. Ainda é dia por efeito do horáriotips de apostas desportivasverão e uma luz amarela cai sobre os prédios do centrotips de apostas desportivasSão Paulo.

"Não gosto desse horário", Alessandra diz, já dentro do carro. "Parece que estou fazendo algo errado, que não trabalhei."

"Que besteira", Alexandre ri. "Como foi lá?"

"Tudo bem. Hoje estou bem", Alessandra responde, olhando pela janela enquanto eles avançam pelas ruas da Sé, cheiastips de apostas desportivashomens e mulheres apressados.

"Aproveitamos esse momento para fazer piada", Alexandre diz à reportagem, batucando com as mãos no volante.

"Senão, ninguém aguenta."

Ele pede que Alessandra abra um vídeo no WhatsApp. Ela segura o celular e estende o braçotips de apostas desportivasdireção ao para-brisa, para que o marido consiga assistir. Com sotaque caipira, um YouTuber anuncia as "cinco dicas para você que é pobre".

Com os olhos na tela, Alessandra ri, o rosto relaxado. Mas não é sempre assim.

Alexandre busca a mulher toda semana porque ela já teve crisestips de apostas desportivaspânico e desmaiou no ônibus ao voltar do trabalho. Ela também chegou a passar mal dentro do carro.

Alessandra tira uma bombinhatips de apostas desportivasasma da bolsa e aperta o tubotips de apostas desportivasplástico duas vezes, com o bocal entre os lábios.

"Ela tem uma farmácia aqui. Já virei sócio das farmácias do bairro", Alexandre brinca.

"Não é só a pressão do trabalho, é toda a situação. Ela estava trampando que nem doida para colocar comida na mesa, fazia isso e aquilo, limpava e ainda tentava agradar", diz, sacodindo a cabeça.

Alexandre

Crédito, Fernando Quixote/BBC

Legenda da foto, 'Todo homem é machista', diz Alexandre, sobre dificuldadetips de apostas desportivasassumir tarefas domésticas

Além do trabalho foratips de apostas desportivascasa, mulheres sempre dedicaram mais tempo às tarefas domésticas do que os homens. Com muitas delas tornando-se as principais responsáveis pela renda no Brasil, a tendência à sobrecarga é inegável, dizem os entrevistados pela BBC.

Dados da Pnad Contínuatips de apostas desportivas2017 mostram que as mulheres dedicam,tips de apostas desportivasmédia, 20,9 horas semanais a afazeres domésticos e no cuidadotips de apostas desportivasparentes ou moradores, enquanto os homens gastam metade desse tempo: 10,8 horas.

"O que acontece e acontecerá ainda é uma sobrecarga, enquanto os homens não se convenceremtips de apostas desportivasque é preciso dividir", diz a professora Hildete Melo, da Universidade Federal Fluminense, que há décadas estuda mercadotips de apostas desportivastrabalho e relaçõestips de apostas desportivasgênero. "E agora, nesse cenário, a mulher trabalha ainda mais."

Todas essas cobranças levam a um adoecimento que não é só físico, mas mental. A professora Ana Cardoso explica que transtornos como depressão, ansiedade e síndrome do pânico são mais comuns nos serviços, setor bastante feminino, enquanto quetips de apostas desportivaspostos identificados como masculinos,tips de apostas desportivasfábricas ou construtoras, os danos físicos são mais frequentes.

"Se a gente pensar que estamostips de apostas desportivasuma sociedade na qual ainda não se reconhece o adoecimento mental como verdadeiro, nem pelo público, nem pelo Estado, até a doença delas têm menos valor."

Há, no entanto, quem veja a crise como oportunidadetips de apostas desportivasreverter padrõestips de apostas desportivascomportamento.

"É mais frequente hoje você ter maridos que realizem tarefas ditas femininas porque estão desempregados: lavar roupa, cozinhar. Isso vemtips de apostas desportivasum movimento duplo, que inclui a luta feminina e feminista, mas também o papel secundário que os homens começaram a tertips de apostas desportivasrazão do desemprego", diz o professor Ricardo Antunes, da Unicamp.

Foi isso que aconteceu com Alessandra e Alexandre. Às quartas, ele faz faxina.

"O Alê deu um salto nesse negóciotips de apostas desportivasmachismo,tips de apostas desportivasorgulho", Alessandra conta no meio do trajetotips de apostas desportivasvolta, quando a noite já caiu.

"Ele aspira, passa pano, tira pó. Antes ele trabalhava que nem um louco e não tinha tempo, né. E a gente sempre teve quem ajudasse na casa. Essa mudança foi um pulo para nós dois", ela sorri.

Quando o carro volta à garagem, na Vila Industrial, a rua está vazia, como no começo da manhã. Antestips de apostas desportivasentrartips de apostas desportivascasa, eles se apoiam no portãotips de apostas desportivasferro e fumam mais um cigarro.

Ali ao lado está o Subaru 1991 que Alexandre comprou há quatro anos, quando ainda estava empregado.

"Era meu sonhotips de apostas desportivasconsumo", ele diz, o cigarro queimando entre os dedos.

Seu plano era reformar o carro, o que ele começou por conta própria, mas precisou interromper. Até o licenciamento deixoutips de apostas desportivaspagar.

"Eu não tirava da garagem mesmo", ele dátips de apostas desportivasombros.

Apoiada no Subaru, Alessandra chama o marido.

"Lembra, Alê? Antes a gente costumava ir para o Guarujá no fimtips de apostas desportivassemana só para sujar a bundatips de apostas desportivasareia e voltar."

Alexandre sorri.

"Agora não dá mais", ela diz.

Alessandra pega o sacotips de apostas desportivaspão que vai servirtips de apostas desportivasjantar e entratips de apostas desportivascasa. São 20h30.

A faxina

A manhãtips de apostas desportivasquarta-feira está clara e silenciosa na Vila Industrial. É o silêncio das casas vazias: adultos no trabalho, crianças na escola, e uma ou outra senhora a cruzar a rua.

Alexandre aparece no portãotips de apostas desportivaschinelos verde e amarelo, camiseta do Corinthians e bermuda surrada.

É diatips de apostas desportivasfaxina.

Em 2016, quando o dinheiro que tinha guardado acabou e não havia emprego à vista, ele ficou preocupado.

Em meio a entrevistas frustradas, a preocupação virou agitação, que se transformoutips de apostas desportivasraiva, desânimo e inércia, até desembocar numa depressão

"Eu apagava tudo quanto era luz, ligava o videogame e ficava lá sentado. Para mim, eu só dava despesa. Quando você perde tudo,tips de apostas desportivasautoestima vai embora", ele diz, tomando um café pretotips de apostas desportivaspé na cozinha.

"Em 2017, virei aquela norte-coreano: queria explodir o mundo."

Alexandre faloutips de apostas desportivassairtips de apostas desportivascasa, porque se sentia um estorvo para a família. Nesse meio tempo, Alessandra começou a apresentar sinaistips de apostas desportivassíndrome do pânico. Sentia faltatips de apostas desportivasar, não conseguia ficartips de apostas desportivaslugares fechados, estava cansada o tempo todo. A cada fimtips de apostas desportivassemana, mostrava-se mais lenta para limpar.

"Fiquei cego", Alexandre diz, enquanto coloca o copotips de apostas desportivascafé na pia, sobre o resto da louça suja.

"Me via como vítima, só que não percebia que Alessandra estava doente. Até que um dia nós sentamos e conversamos. Aí vi que estava tudo errado", diz, apertando as mãos.

Ele segue para o quarto para fazer a cama. Agita o lençoltips de apostas desportivaselástico, ajusta-o ao redor do colchão e passa a mão sobre o tecido para que fique liso. Sacode os travesseiros e então estende a colcha sobre tudo.

Estudiosos do tema apontam que a divisãotips de apostas desportivastarefas é um dos principais empecilhos para que homens e mulheres sejam mais iguais no mercadotips de apostas desportivastrabalho. Em The Gender Revolution: Gender & Society (A Revoluçãotips de apostas desportivasGênero: Gênero e Sociedade,tips de apostas desportivastradução livre), a socióloga americana Paula England observa que as mulheres têm mais incentivos para arranjar empregos e adotar comportamentos antes tidos como masculinos, enquanto os homens são desestimulados - por questões financeiras e culturais - a assumir atividades femininas. Dessa forma, as transformações ocorreriam sótips de apostas desportivasum lado: as mulheres saem para o mercado, mas os homens não dedicam mais tempo à casa.

Como os incentivos não mudam, as diferenças também não diminuem. De acordo com uma análise do Institutotips de apostas desportivasPesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 1995 e 2009, a porcentagemtips de apostas desportivaspessoas que fazem atividades domésticas ficou estável: mulheres sempretips de apostas desportivastornotips de apostas desportivas90% e homens oscilando entre 46% e 50%.

Enquanto encera o chão da sala, Alexandre conta que encarar a faxina foi difícil. E não apenas por que não sabia que panostips de apostas desportivaschão e toalhas não podem ser lavados juntos. Ele diz que foi complicado, como homem, assumir essas tarefas.

"Todo homem é machista", ele explica, pingando o lustra móveis no pisotips de apostas desportivastaco. "Me abalava que ela pagava tudo, até o cigarro. Mas o cara precisa entender que não estamos mais na décadatips de apostas desportivas1940."

Mas o casotips de apostas desportivasAlessandra e Alexandre é uma exceção?

A maioria dos entrevistados acredita que há, sim, uma melhora na divisão das tarefas, mas eles divergem sobre seu alcance e profundidade. Alguns dizem que as mudanças são pequenas e estão concentradas nas classes altas e nos centros urbanos, onde há mais diálogo sobre esses assuntos.

A expectativatips de apostas desportivastodos está nos jovens.

"Os homens mais jovens são uma esperança. Começamos a ter exemplos minoritáriostips de apostas desportivasmaridos que cozinham, lavam louça, tomam contatips de apostas desportivascriança, isso já é evidente nas classes sociais mais altas. Nas mais baixas, ainda é difícil", diz a professora emérita da UFRJ Alice Rangeltips de apostas desportivasPaiva Abreu, que tem um longo históricotips de apostas desportivaspesquisa sobre gênero e trabalho.

Para Abreu, essas alterações tímidas estão ligadas ao debate sobre os direitos da mulher, mais presentes nas conversas do brasileiro.

O mesmo tom é adotado pela professora Ana Cardoso:tips de apostas desportivassuas pesquisas, percebeu que jovens parecem querer construir uma relação mais igualitária com suas companheiras. Ela atribui essa percepção à maior presença das mulheres no mercado. Segundo Cardoso, quando a regra era a mulher ficartips de apostas desportivascasa e o homem sair para ganhar dinheiro era mais difícil que o marido a encarasse como igual. Mas, à medida que começa a tornar-se independente, ela desperta uma nova visão sobre si mesma e faz com que o homem a vejatips de apostas desportivasforma diferente.

A filha mais velhatips de apostas desportivasAlessandra e Alexandre vive com o namorado no centrotips de apostas desportivasSão Paulo. No apartamento que dividem com três gatos, Talita,tips de apostas desportivas24 anos, conta que seu companheiro não só faztips de apostas desportivasparte na limpeza, como gasta mais tempo do que ele nessas atividades.

"No geral, tenho certeza que ele faz mais coisas do que eu. Já perdi as contas das vezestips de apostas desportivasque cheguei no trabalho e ele tinha limpado tudo sozinho."

Alessandra e Alexandre

Crédito, Fernando Quixote/BBC

Legenda da foto, Depois que Alessandra desmaiou no ônibus ao voltar do trabalho, Alexandre passou a buscar a mulher no trabalho

Futuro

Talita é professoratips de apostas desportivasinglês e teve vários ofertastips de apostas desportivasemprego nos últimos anos. O mesmo não vale para a caçula da família, Ana,tips de apostas desportivas18 anos. Depoistips de apostas desportivasterminar o colégio particular, cujas últimas mensalidades foram pagas com atraso, Ana não conseguiu passar na faculdade que desejava nem arranjar um emprego. Juntou-se, então, aos "nem-nem", grupotips de apostas desportivasjovens que não trabalha nem estuda e já representam 23% do total dos brasileiros entre 15 e 24 anos, segundo pesquisa do Ipea.

Mas agora Ana prepara-se para estudar Economia numa faculdade onde será bolsista.

Cercado pelas cadeiras da mesatips de apostas desportivasjantar, que espalhou pela sala durante a faxina, Alexandre diz que a filha sempre quis ser economista. "Nunca mudou, você vê só."

Ele suspira. "Mas já falei que elas precisam sair do país, não tem mais o que fazer aqui."

As palavras que melhor definem a visãotips de apostas desportivasfuturo dos brasileiros, para a professora Ana Cardoso, são "faltatips de apostas desportivasperspectiva".

Há alguns anos, diz, acreditava-se que um curso superior seria suficiente para conseguir uma boa vaga. Tal crença não apenas caiu por terra,tips de apostas desportivasrazão dos altos níveistips de apostas desportivasdesemprego, como a diminuição da renda tirou a possibilidadetips de apostas desportivasestudo das classes mais baixas.

No caso dos chefestips de apostas desportivasfamília, Cardoso explica, a perspectiva é negativa porque quando a economia melhorar,tips de apostas desportivasinserção pode não acontecer via carteira assinada, mas por contrato temporário, e seu salário não deverá ser maior do que o recebido antes.

Duas noites antes, ao chegar do trabalho, Alessandra falava sobre o futuro quando Alexandre decidiu contar uma piada.

"Você sabe por que a esperança é a última que morre?", ele disse.

"Porque ela é a primeira que vai embora!"

Alessandra deu um tapa no ombro do marido.

"Tiramos coisas boas desse momento, acredito que vai melhorar", ela sorriu, antestips de apostas desportivasjuntar-se a Alexandre na risada.

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