Eleições 2018: Os jovens sem oportunidadessport 360 apostastrabalho e estudo que serão desafio para próximo presidente:sport 360 apostas

Salasport 360 apostasaula vazia

Crédito, ABR

Legenda da foto, Banco Mundial identificou combinaçãosport 360 apostasbarreiras enfrentadas por jovens:sport 360 apostaspobreza, educação deficiente à faltasport 360 apostasestrutura familiar

Os dois amigos estão na mesma situação que outros 11 milhõessport 360 apostasbrasileirossport 360 apostasidades entre 15 e 29 anos que nem estudam e nem trabalham no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileirosport 360 apostasGeografia e Estatística (IBGE), os chamados "nem-nem".

O número equivale a quase um entre cada quatro jovens e aumentou 6%sport 360 apostas2016 para 2017, o que representa outros 619 mil jovens.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que desenvolver políticas para alavancar as trajetórias desses jovens é uma questão chave para a próxima Presidência, sobretudo diante do envelhecimento da população no país.

Mateus Lopes (esq.) e Paulo Edson

Crédito, Paulo Edson Teixeira/Arquivo pessoal

Legenda da foto, Mateus Lopes (esq.) e Paulo Edson concluíram o ensino médio e, desde o ano passado, distribuem currículossport 360 apostasempresas

Paulo e Mateus sabem bem o que gostariam que o próximo presidente priorizasse: emprego, saúde, educação - e que tivesse um olhar especial para a geração que será o futuro do país.

"Muitas vezes os candidatos vêm nas nossas comunidades e prometem coisas que sabemos que não vão fazer. Eu não vejo uma preocupação deles com a nossa juventude. Se houvesse políticas pensando na gente, a gente teria mais oportunidade", diz Paulo.

"Acho importante, porque é por meio da juventude,sport 360 apostasnós, que vão se formar os profissionais futuros, os médicos, advogados, publicitários."

As barreiras enfrentadas pelos jovens 'nem-nem'

A faltasport 360 apostasoportunidadessport 360 apostasemprego é um dos grandes obstáculos enfrentados pelos jovens "nem-nem", mas está longesport 360 apostasser o único.

Em 2016, o Banco Mundial entrevistou 77 jovenssport 360 apostas18 a 25 anossport 360 apostasáreas urbanas e ruraissport 360 apostasPernambuco para entender o que está por trás do fenômeno.

O resultado é o estudo "Se já é difícil, imagina para mim", lançadosport 360 apostasmarço deste ano pelas pesquisadoras Miriam Müller e Ana Luiza Machado, e que elenca uma sériesport 360 apostasbarreiras estruturais enfrentadas por esses jovens.

São obstáculos relacionados a pobreza, educação deficiente, faltasport 360 apostasestrutura familiar,sport 360 apostasredessport 360 apostasapoio esport 360 apostasexemplos positivos e desigualdadesport 360 apostasgênero. Ou todos eles juntos.

Müller afirma que a expressão "nem-nem" é "infeliz", porque gera um estigmasport 360 apostasque jovens estariam nessa situação porque querem ou porque não correm atrás.

"O termo põe a culpa no jovem, que não está nesta situação porque deseja", ressalta Müller.

"Mesmo que aparentem não estudar nem trabalhar, são jovens que na grande maioria das vezes estão fazendo alguma coisa, buscando trabalhos ou bicos ou fazendo tarefas domésticas, ou fazendo um trabalho informal ou não remunerado. Essa definição estigmatiza um grupo que não merece isso, que é ativo e busca oportunidades."

Sem qualificação, sem emprego

Com um gruposport 360 apostasmais alguns amigos, Mateus e Paulo fazem rondas diárias por sitessport 360 apostasemprego, se avisam quando abrem inscrições para vagassport 360 apostastrabalho, enfrentam filassport 360 apostasfeirassport 360 apostasemprego e saem juntos para deixar seus currículossport 360 apostasempresas como grandes redessport 360 apostasvarejo, lojassport 360 apostasrua, multinacionais.

"Espero que a pessoa que assuma a Presidência venha com propostas voltadas ao emprego, porque está difícil", diz Mateus.

Filhosport 360 apostasmãe costureira e pai auxiliarsport 360 apostaslimpeza, ele torce para que o próximo governo seja mais focadosport 360 apostaseducação, que "é o princípiosport 360 apostastudo."

Ele se formousport 360 apostasuma escola da rede estadual na Vila Kennedy. "Até que não foi ruim", avalia. "Mas, no círculosport 360 apostasamigos que se formou comigo, todos estão na mesma condição que eu."

Sombrasport 360 apostasum alunosport 360 apostascorredorsport 360 apostasescola

Crédito, ABR

Legenda da foto, Cenáriosport 360 apostasdesalento para a juventude é especialmente preocupante diante das tendências demográficas atuais

Como muitos jovens, a dupla ainda não decidiu que carreira seguir. Mateus fez a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), mas não foi bem. Pensasport 360 apostasfazer concurso para ser gari da Comlurb (Companhia Municipalsport 360 apostasLimpeza Urbana).

Já Paulo está cogitando duas áreas bem diferentes: logística ou radiologia. Massport 360 apostasmeta atual é conseguir uma vagasport 360 apostasemprego que permita pagar uma faculdade.

"Teria que ser numa universidade pública, porque venhosport 360 apostasfamíliasport 360 apostasbaixa renda, e o dinheiro seria para poder pagar transporte, livros, arcar com as minhas despesas", diz.

O governo estadual construiu próximo da casa dos dois uma unidade da Fundaçãosport 360 apostasApoio à Escola Técnica (Faetec), que deveria oferecer cursos técnicos e profissionalizantes à comunidade da Vila Kennedy. O prédio custou R$ 2 milhões e ficou prontosport 360 apostas2014, mas nunca abriu as portas e está se deteriorando, para revolta dos moradores. O motivo é a crise financeira do Riosport 360 apostasJaneiro.

"Isso muito ruim, né?", diz Paulo. "Quando deixamos o currículo, muitas vezes perguntam se temos alguma qualificação. Como pessoassport 360 apostasbaixa renda vão conseguir uma qualificação, se não temos oportunidadesport 360 apostascursos gratuitos?", questiona.

'O jovem não está sendo preparado para a vida adulta'

O cenáriosport 360 apostasdesalento para a juventude é especialmente preocupante diante da expectativa que recai sobre as novas gerações frente às tendências demográficas atuais.

O Brasil está envelhecendo, e a taxasport 360 apostasnatalidade está diminuindo. Assim, a carga previdenciária sobre a parcela produtiva da população só tende a aumentar.

Regina Madalozzo, coordenadora do mestrado profissionalsport 360 apostasEconomia do Insper, afirma que o país terá que pagar uma conta cara no futuro se não conseguir oferecer caminhos para seus jovens no presente. "O jovem que não está aprimorandosport 360 apostasformação nem trabalhando não está sendo preparado para a vida adulta", diz.

"O país conta com essa população produzindo para que a economia rode. Senão, quem é que vai pagar essa conta depois? Mas a grande pergunta é o que aconteceu para termos uma parcela tão grandesport 360 apostasjovens sofrendo com essa faltasport 360 apostasperspectivas."

O cenário se agrava quando se considera o alto índicesport 360 apostashomicídiossport 360 apostasque jovens são vítimas.

Segundo o último Atlas da Violência, produzido pelo Institutosport 360 apostasPesquisa Pura e Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileirosport 360 apostasSegurança Pública, o Brasil registrou 33.590 mortes violentassport 360 apostaspessoas entre 15 e 29 anossport 360 apostas2016. O número representa mais da metade do totalsport 360 apostasassassinatos no Brasil no ano - 94,6% dos mortos são homens.

Ilustração mostra diversos braçossport 360 apostassombreados com cores diferentes depositando votosport 360 apostasurna

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Jovens se mostraram desiludidos com a política e indecisos quanto aos candidatos a escolher

Políticas para o 'futuro do país'

Para Ana Amélia Camarano, coordenadorasport 360 apostasEstudos e Pesquisassport 360 apostasIgualdadesport 360 apostasGênero, Raça e Gerações do Ipea, esta é a face mais drástica da faltasport 360 apostasperspectiva imposta a jovenssport 360 apostassituaçãosport 360 apostaspobreza, levando alguns a se envolverem com facções criminosas para obter dinheiro e reconhecimento.

"O futuro do país está nessa geração", frisa Camarano. "O Brasil perde muito perdendo seus jovens,sport 360 apostasum momentosport 360 apostasque a população já está dando sinais muito clarossport 360 apostasque vai diminuir."

Para Regina Madalozzo, do Insper, embora políticas para jovens figuremsport 360 apostasalguns dos programassport 360 apostasgoverno apresentados pelos candidatos, o problema não tem tido espaço proporcional à gravidade da situação.

"O debate ficou centradosport 360 apostasquestões que não tangem esse assunto, com a questão da segurança ou da possesport 360 apostasarmas, e ainda não alcançou profundidade para debater questões tão importantes e ao mesmo tempo sutis como essas", afirma.

Para ela, falarsport 360 apostas"nem-nem" não admite interpretações simplistas que culpabilizem os jovens pela situação que enfrentam - como se fosse desejo deles ficarsport 360 apostascasa.

"É preciso uma preocupação não só com o mercadosport 360 apostastrabalho e educação, mas com inclusão social. E essa preocupação não parece ser tão grande por partesport 360 apostastodos (os candidatos)", considera a economista do Insper.

A partir das entrevistas com jovenssport 360 apostasPernambuco, o estudo do Banco Mundial observou diversas barreiras que afastam os jovens do sistemasport 360 apostaseducação ou do mercadosport 360 apostastrabalho, e fez uma sériesport 360 apostasrecomendaçõessport 360 apostaspolíticas públicas para fortalecê-los e ajudá-los a desenvolver suas aspirações e objetivos.

Os jovens foram separadossport 360 apostastrês grupos,sport 360 apostasacordo com suas aspirações - ou a falta delas.

No primeiro entraram jovens que mostraram ter vontadesport 360 apostasparticipar do mercadosport 360 apostastrabalho ou aprimorarsport 360 apostasformação, mas não conseguiram por obstáculos externos.

No segundo, jovens que mencionavam essas aspirações, mas que não tinham as ferramentas para realizá-las por razões variadas.

Vultossport 360 apostaspessoas caminhandosport 360 apostasfrente a corredor branco

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Segundo o IBGE, há 11 milhõessport 360 apostasjovens que não estudam nem trabalham no Brasil

Já o terceiro grupo foi composto por jovens que não mencionaram quaisquer aspirações relacionadas ao mercadosport 360 apostastrabalho ou à educação. Neste grupo, entraram apenas mulheres. Esse recorte evidenciou como mulheres jovens ainda se veem presas por papeissport 360 apostasgênero.

"Nesse grupo, os sonhos e desejos das mulheres estavam muito mais ligados à formaçãosport 360 apostasuma família boa e saudável, a ser feliz, a ter casa própria", diz a autora Miriam Müller. "Mesmo quando indagamos um pouco mais a fundo, elas não falaram quase nada sobre trabalho ou educação."

De acordo com Müller, não basta aumentar a ofertasport 360 apostascursos técnicos para ajudar jovens a entrarem no mercado para remediar a situação "nem-nem".

Há que se desenvolver políticas que levemsport 360 apostasconta as diversas limitações estruturais que se apresentam como obstáculos - como pobreza, faltasport 360 apostasredessport 360 apostasapoio e normassport 360 apostasgênero - e sem desprezar aspectos sutis que podem ser decisivos.

A faltasport 360 apostastransporte público gratuito e seguro, por exemplo, pode ser uma barreira incontornável para jovenssport 360 apostassituaçãosport 360 apostaspobreza irem para a escola. Para famílias pobres, um filho na escola pode ser um parsport 360 apostasbraços a menos para trabalhar, e contrapartidas financeiras podem ser necessárias para viabilizar o estudo do jovem.

Müller diz ainda que não se pode desprezar a importânciasport 360 apostastrabalhar essa motivação com as pessoas no entorno dos jovens - a família, os professores, a comunidade. "Trabalhar com essas redessport 360 apostasapoio é essencial para construir essa motivação nesses jovens, e esse sentimentosport 360 apostasque sim, é possível para mim também", diz a pesquisadora do Banco Mundial.

Sem fé na política

Paulo mora com a mãe, que era auxiliarsport 360 apostascreche, mas está desempregada e não tem tido sucesso na busca por uma recolocação; e a avó, que foi manicure a vida inteira, não recebe aposentadoria, porque trabalhava na informalidade. Seu pai era camelô e morreu quando ele tinha 6 anos. Hoje, a família sobrevive graças à pensão que a avó recebe do Estadosport 360 apostasnome do avô, falecido, que era policial militar.

"Eu gostariasport 360 apostasver políticas para beneficiar as pessoas ao meu redor", diz Paulo sobre o candidato que será eleito presidente. "Muitos vizinhos e muitas pessoas na minha família estão desempregados. Não somos só nós."

No seu círculosport 360 apostasconhecidos, as dificuldades para ter acesso a saúde também são motivossport 360 apostaspreocupação. "As pessoas aqui que precisamsport 360 apostasmédicos têm muita dificuldadesport 360 apostasconseguir. Até sair uma vaga no Sisreg (o Sistema Nacionalsport 360 apostasRegulação, do Ministério da Saúde, que gerencia vagas para atendimento e exames), a pessoa já piorou. Ou até mesmo já morreu", afirma.

Poucos dias antes das eleições, nem Mateus nem Paulo haviam escolhido seu candidato ainda.

"A gente não costuma falar muitosport 360 apostaspolítica. Não dá ânimo falar desse tiposport 360 apostasassunto. Por desacreditar mesmo", diz Mateus.