'Professora, você é homem?' A vidaestrategia double brabetuma mulher trans na salaestrategia double brabetaula:estrategia double brabet

Legenda do vídeo, 'Não abro mão do respeito', diz Alexya - que é professora, mãe e pastora

Nas duas situações, foi pioneira. Deve tornar-se até o fim do ano a primeira reverenda trans da ICM na América Latina e foi a primeira mulher trans a adotar uma criança no Brasil.

Na escola,estrategia double brabettransformação trouxe a discussãoestrategia double brabetgênero para a aula. Perguntas sobre o tema começaram a aparecer entre as liçõesestrategia double brabetgramática. Um dia, um dos alunos comentou: "professora, para mim você sempre vai ser um homem". O jovem sentia-se incomodado com a maquiagem e o cabelo liso no corpo forteestrategia double brabetmaisestrategia double brabet1,80m.

"Vi que ele ficou nervoso, mas respondi: 'fala, vivemosestrategia double brabetuma democracia, quero ouvir você'. Não coloco nada goela abaixo. Apenas convido à reflexão. Eu disse: 'se mesmo depoisestrategia double brabettudo o que te apresentei, você olhar para mim e ver um homem vestidoestrategia double brabetmulher, mas respeitar esse homem vestidoestrategia double brabetmulher, está ótimo. Você é livre para concordar ou não, mas o deverestrategia double brabetrespeitar, isso não abro mão'."

A professora Alexya Salvador

Crédito, Isadora Brant/BBC Brasil

Legenda da foto, Professora diz que preconceito não é comum nas crianças - mas sim nos adultos

Para Alexya, falar sobre identidade não serve apenas para tornar os estudantes mais tolerantes. Ela diz que o debate, muitas vezes iniciado pelas turmas, ajuda a formar cidadãos com poderestrategia double brabetargumentação, que pensem sobre si próprios e sobre os outros, mesmo que seja para discordar das ideias da professora.

"Deixo que tragam suas realidades... porque as crianças querem ser ouvidas. Muitas delas não têm um pai e uma mãe que sentam para conversar. Percebo que, trabalhando esses mecanismosestrategia double brabetconstrução do gênero, eles pensam para falar e começam a ter vocabulário para se expressar sobre esse e outros assuntos. Como dizer que não se tornam mais donos daestrategia double brabetrazão?"

Mesmo com dúvidas e discordâncias, ela diz que as classes lidam bem comestrategia double brabettransexualidade. O preconceito, afirma, não é comum às crianças - o maior problema está nos adultos. No diretorestrategia double brabetuma escola anterior que insistiaestrategia double brabetchamá-laestrategia double brabetAlexander. Nos funcionários que olhavam (e olham) torto para suas roupas, nos pais que a acusamestrategia double brabetconverter seus filhosestrategia double brabetgays e lésbicas.

"Ainda sinto que sou muito silenciada. Assim que começou a sair a discussão sobre a cartilha anti-homofobia, a diretoraestrategia double brabetoutro colégio, que era evangélica, disse que eu não poderia mais falar sobre gênero. Respondi: querida, entrei na sala, eu sou o gêneroestrategia double brabetpessoa. Meu corpo me representa enquanto gênero", diz.

"Como uma mãe pode vir brigar comigo, se eu falei pro filho dela ajudá-la com os afazeresestrategia double brabetcasa? Falarestrategia double brabetgênero não é falarestrategia double brabetsexo, é discutir a condição humana."

Alexya Salvador na ICM

Crédito, Isadora Brant/BBC Brasil

Legenda da foto, Até fim do ano, Alexya deve tornar-se primeira reverenda trans da ICM (Igreja Cristã Metropolitana) na América Latina

Carinho e confidências

Se colegas e pais tentam calá-la, adolescentes e crianças parecem gostar que ela fale. Na sala visitada pela BBC Brasil, Alexya recebe beijos e abraços. Ao andar entre as mesas, elogia os cachecóis e batons das meninas, enfeitadas para aparecer nas fotos da reportagem. Abre o apostila e lêestrategia double brabetvoz alta um exercício. Interrompe a leituraestrategia double brabetrepente: "gente, só tem homens nessas figuras, não tem uma mulher... que coisa chata, né?"

As alunas e alunos contam que a professora pode ser brava quando fazem bagunça, ou muito legal, e aí dançam valsa desviando das carteiras. Para Larissa Oliveira,estrategia double brabet12 anos, muita coisa mudou ali quando Alexya chegou, principalmente as definições do que é tarefaestrategia double brabetmenino ouestrategia double brabetmenina.

"Eu, por exemplo, amo jogar bola e os garotos diziam que eu era sapatão. Depois a professora foi explicando as coisas para gente, falou que futebol não é só para homens, que não tem escolha certa para o sexo masculino ou feminino, (vale) o que a pessoa gosta. Ela ensinou bastante sobre preconceito, machismo, essas coisas. É uma pessoa maravilhosa, amoestrategia double brabetpaixão."

Alexya Salvador na salaestrategia double brabetaula

Crédito, Isadora Brant/BBC Brasil

Legenda da foto, Alexya conta ter vivido, quando criança, momentos difíceis na escola

A proximidade com os estudantes fez com que Alexya se tornasse confidenteestrategia double brabetalguns deles. Sentada na cantina do colégio, ela lembraestrategia double brabetum aluno do ensino fundamental que a chamou para contar que era gay e pedir conselhos. A família do menino era muito religiosa e os pais haviam impedido as visitasestrategia double brabetum primo que se assumira pouco antes.

"Quando ele estava chorando, a única coisa que eu podia falar era que ele não era uma aberração, mas um menino lindo, saudável. Não queria dar um conselho para amanhã ele dizer 'Prô, fiz aquilo que você mandou e hoje tô na rua, meu pai me espancou'. Falei que ia caber a ele saber o momento certo. Aconselhei que estudasse muito para um dia ser independente e viverestrategia double brabetvida."

Ao abraçar o garoto, Alexya se viu nele. Ela própria derrubou lágrimas emestrategia double brabetescola, no chão do estacionamento, enquanto apanhavaestrategia double brabetcolegas por ser a "bichinha" da classe. Maisestrategia double brabetvinte anos depois, não esquece do que seu professorestrategia double brabetEducação Física disse ao ver a cena: "Não quis ser viado? Apanha quieto". Hoje, quando escuta alguém usando apelidos como "viadinho" na salaestrategia double brabetaula, faz um escândalo, diz.

Alexya Salvador com família na ICM

Crédito, Isadora Brant/BBC Brasil

Legenda da foto, Alexya com os filhos e marido Roberto, com quem está desde 2009

Mãe e pastora

Alexya vê a ideiaestrategia double brabetque possa moldar a identidade ou a sexualidade do filho dos outros como "falaciosa demais". Mãeestrategia double brabetuma menina transexualestrategia double brabet10 anos eestrategia double brabetum garotoestrategia double brabet12, ela prega, inclusive como pastora, que cada um traça seu próprio caminho.

Em uma das missas da Igreja da Comunidade Metropolitana, onde seus filhos vão todos os domingos para ouvir os sermões, fala sobre a liberdade do ser. Trans, gays, lésbicas, bissexuais, travestis e drag queens ocupam as fileiras. Jesus aceitava a todos da forma como eram, diz nas pregações, então não nos cabe julgar. Mas ressalta que a ICM não se resume ao filhoestrategia double brabetDeus.

"Hoje é conhecida mundialmente como a igreja dos direitos humanos, porque não queremos só ficar falandoestrategia double brabetJesus. A gente quer ir para as frentesestrategia double brabetbatalha, para o Senado, para o Congresso, quer dizer que, se a mulher quiser abortar, o corpo é dela. Não vou legitimarestrategia double brabetvida, você legitimaestrategia double brabethistória."

A históriaestrategia double brabetAlexya é também aestrategia double brabetsua família, símbolo da diversidade que defende. Roberto é gay, Gabriel, hétero, Ana Maria, trans. Quatro pessoasestrategia double brabetcantos diferentes que decidiram "cuidar umas das outras", segundo a definição da matriarca. E que se unemestrategia double brabetuma coisa só no momento da hóstia quando, crianças no colo dos pais, se abraçam, cabeças encostadas e olhos fechados.

Uma drag queen,estrategia double brabetperucaestrategia double brabetarco-íris e vestidoestrategia double brabettutu rosa, canta um hino e sorri.