Herdeiro político, amigocampo de futebolAécio e juiz não praticante: quem é o autor do relatório que pode salvar Temer:campo de futebol

Crédito, PSDB
Apesar da chegada tardia a Brasília,campo de futebolligação com a política começou na adolescência, quando fez parte da Juventude do PDS, partidocampo de futebolsustentação do governo militar. Na época, seu pai era ministro da Justiça do presidente João Figueiredo, que o hoje deputado chegou a conhecer pessoalmente.
Segundo a biografia disponívelcampo de futebolseu site, o parlamentar e outros filhoscampo de futebolpolíticos foram recebidos por Figueiredo para pedir a realização das Eleições Diretas,campo de futebol1985. Um dos participantes do encontro, Murilo Prado Badaró, filho do então ministro da Indústria e Comércio, ofereceu à BBC Brasil uma versão um pouco diferente sobre o que aconteceu.
"Nós fomos chamados porque estávamos numa linha renovadora demais para o momento. A Juventude do PDS falavacampo de futeboleleição direta, e o partido lutava contra isso. O Palácio do Planalto nos chamou lá e falou que a gente tinha que maneirar."
Ele diz que o aviso não fez o grupo parar com a militância.

Crédito, LULA MARQUES
Amigo do deputado desde os 15 anos, por causa da proximidade das famílias, Badaró conta que sempre conversavam sobre quando entrariam na política, seguindo o exemplo dos pais.
"Nós tivemos uma formação política e familiar dos políticos tradicionaiscampo de futebolMinas Gerais, muito baseada no espírito público, na ética, diferentemente da classe que tomou contacampo de futebolBrasília."
Badaró tornou-se economista e Abi-Ackel demorou a ingressar na vida pública, concorrendo a uma vaga quando o pai já deixava a Câmara, após sete mandatos. Para o amigo, a sucessão seguiu um "processo natural" e não foi pensada para que o filho arrecadasse os votos.
"O pai era o protagonista da história, sempre foi, e no momento certo ele (Paulo) entrou e teve mais votos do que Ibrahim."
Laçoscampo de futebolfamília
As comparações entre pai e filho são constantes quando se fala dos Abi-Ackel.
Com longo e prestigiado currículo - ex-ministro, ex-deputado, exímio orador, advogado brilhante, Ibrahim é citado como referência no direito e na política. As diferenças entre os dois são mencionadascampo de futeboltom mais ou menos elogioso, a dependercampo de futebolquem fala. O consenso é que "Paulinho', como muitos o chamamcampo de futebolBH, não teria a mesma grandeza do antecessor.
"Ibrahim é um dos maiores oradores da história desse país. É um cara inteligentíssimo, cultíssimo. Até brinco com o Paulo que ele não tem essa verve toda do pai, mas Paulinho é um cara muito preparado", diz Badaró.
Entre a esquerda mineira, os comentários são mais ácidos. Um deputado estadual do PT diz que o parlamentar é uma "figura apagadíssima".
"Se quiser saber dele, só perguntando pelo pai. É totalmente inexpressivo, foi uma surpresa (a escolha dele como relator). Como advogado não é brilhante, não teve grande carteira", afirma.
"Só não teve dificuldadecampo de futebolse eleger porque Aécio investiu muito nele, foi um candidato priorizado."

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Durante 20 anos, Abi-Ackel foi sócio do escritório fundado por Ibrahim nos anos 1950. Lá, trabalhava principalmente com direito penal e eleitoral. Advogados e professorescampo de futebolBelo Horizonte entrevistados pela BBC Brasil dizem que o escritório é respeitado na cidade, mas não lembramcampo de futebolum casocampo de futebolgrande repercussão na carreiracampo de futebolPaulo.
"O escritório é bem-sucedido na áreacampo de futeboladvocaciacampo de futebolmassa. Lida com empresascampo de futebolcartãocampo de futebolcrédito, telefonia, aviação. Paulo é considerado um sujeito bem preparado, mas não tem o famoso brilhantismo do pai", diz um conhecido advogado criminal da capital mineira.
Juiz não praticante
Por ser advogado, Paulo Abi-Ackel pôde ser indicado como juiz do Tribunal Regional Eleitoralcampo de futebolMinas Gerais pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ele ocupou o postocampo de futebolmagistrado substituto por pouco maiscampo de futebolum ano,campo de futebol2004 a 2005, períodocampo de futebolque deveria substituir dois advogados nomeados como juízes titulares.
A passagem pela corte é motivocampo de futeboldestaquecampo de futebolseu currículo. Mas, segundo apurou a BBC Brasilcampo de futebolconsulta ao TRE, não há registroscampo de futebolque Abi-Ackel tenha relatado processos nem participadocampo de futebolsessõescampo de futeboljulgamento. Ele também não é lembrado por funcionários antigos do tribunal.
Uma das hipóteses que explicariam a ausência é acampo de futebolque nenhum dos titulares tenha faltado nesse período e que, por isso, não tenha sido necessária a presença do substituto - a reportagem não conseguiu falar com os juízes.
Procurado, o parlamentar disse que não daria entrevistas antes da votação do relatório no plenário da Câmara. Pessoas próximas afirmam que Abi-Ackel participoucampo de futebol"várias" sessões do TRE e tem como provar, mas não deram exemploscampo de futebolprocessos que ele ajudou a julgar.
Interlocutorcampo de futebolAécio
Abi-Ackel deixou o tribunal no mesmo diacampo de futebolque se filiou ao PSDB: 18campo de futeboloutubrocampo de futebol2005. Ele precisava ter um anocampo de futebolfiliação para poder concorrer às eleições do ano seguinte, segundo as regras da época. Antes, era filiado ao PTB, onde ficou durante cinco anos.
Entre os tucanos, é tido como um dos principais interlocutorescampo de futebolAécio Neves, informação que consta até no site do PSDB.
O relacionamento entre os herdeiros políticos começou nas visitascampo de futebolTancredo Neves, avôcampo de futebolAécio, à família Abi-Ackel e se fortaleceu ao longo dos anos. Para a esquerda mineira, a ajuda do senador foi essencial para que Paulo vencesse as eleiçõescampo de futebol2014, quando tevecampo de futebolpior votação: 104 mil votos, a 32º posição no Estado.
O deputado Luiz Fernando Faria (PP-MG), próximo do congressista, diz que o novo relator "é motivocampo de futebolorgulho para a bancadacampo de futebolMinas Gerais".
"É uma referência quando se falacampo de futebolqualquer matériacampo de futebolConstituição e Justiça. É um dos mais respeitados no PSDB."
Abi-Ackel é considerado peça-chave na articulação interna da legendacampo de futebolMinas e assumiu alguns postos dentro do partido, como presidente estadual e líder da Minoria parlamentar. Mesmo assim, é visto por grupos da oposição como um fiel servo do senador que não ocupou cargoscampo de futebolprojeção nem propôs projetos relevantes.
"Tem alguma importância no PSDB mineiro, mas nunca foi líder do partido, presidente das principais comissões ou estevecampo de futebolalgum postocampo de futeboldestaque nacional. Não diria que é o braço direito (de Aécio). Pode ser a perna direita ou esquerda", disse um deputado do PSB, sigla que foi para a oposição ao governo Michel Temercampo de futebolmaio.
"Não me lembro, nos três mandatos do Paulo,campo de futebolele relatar algum projeto que tenha sido proeminente."

Crédito, Beto Barata/PR
Entre os projetoscampo de futebolleicampo de futebolautoriacampo de futebolPaulo Abi-Ackel há um que impõe novos limitescampo de futebolindenização a vítimascampo de futebolacidentes aéreos e a seus familiares; outro que permite a estudantescampo de futebolDireito se inscreverem na OAB como estagiários a partir do quinto período do curso; e um terceiro que cria a possibilidadecampo de futebolintimações processuais por email. Nenhuma deles virou lei.
Em rankingscampo de futeboldesempenho, a ausênciacampo de futebolpropostas aprovadas pesa negativamente para o mineiro. Na lista da plataforma Atlas Político, ele ficacampo de futebol404º lugar na Câmara entre 498 nomes analisados.
Escolha e voto
Mais do que definir a posiçãocampo de futebolAbi-Ackel no Congresso, a relação com Aécio é, para alguns deputados, o que explica a escolha do tucano como relator pelo presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PDMB-MG).
Um das teses repetidas pela oposição e por alas oposicionistas do PSDB é acampo de futebolque ele teria sido nomeado relator da denúncia contra Temer para pagar uma dívidacampo de futebolAécio com o PMDB: o arquivamento,campo de futeboljunho,campo de futebolum pedidocampo de futebolcassaçãocampo de futebolmandato contra o senador, então afastadocampo de futebolsuas funções pelo Supremo.
Mesmo com um pedidocampo de futebolprisão da Procuradoria-Geral da República contra Aécio à época por causa da delação da JBS, o presidente do Conselhocampo de futebolÉtica do Senado, João Alberto Souza, do PMDB do Maranhão, afirmou que não haveria elementos "convincentes para que se abrisse um processo"campo de futebolquebracampo de futeboldecoro contra o tucano.

Crédito, Marcelo Camargo/Agência Brasil
Para Abi-Ackel, pagar o favor do senador também seria bom negócio, argumentam alguns parlamentares, já que ganharia uma posiçãocampo de futeboldestaque que nunca teve antes, mesmo votando a favorcampo de futebolum presidente tão impopular.
Procurada, a assessoriacampo de futebolimprensacampo de futebolAécio disse que ele não foi informadocampo de futebolque o colega Abi-Ackel seria designado como relator.
À BBC Brasil, Pacheco disse que, após a derrota do relatóriocampo de futebolZveiter, o regimento da Casa determinava a indicaçãocampo de futebolum novo relator entre aqueles que votaram contra o parecer anterior, ou seja, contra a continuidade da denúncia.
"Dentre os 40 que votaram contra o parecer do deputado Sergio Zveiter, escolhi Paulo Abi-Ackel, do PSDBcampo de futebolMinas Gerais, que é um advogado que conheço e sei da competência. E podia ser qualquer um dos outros que fizeram votoscampo de futebolseparado."
Pacheco nega quecampo de futebolpostura tenha intenções políticas: "não foi para agradar ala A, ala B, Planalto ou coisa que o valha".

Crédito, Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Apesar do silênciocampo de futebolAbi-Ackel, seus interlocutores apontam a fragilidade das provas da Procuradoria como principal motivação para que redigisse um votocampo de futebolseparado, contrário à admissibilidade da denúncia, e depois aceitasse a relatoria.
No documento, ele diz que as acusações contra Temer são resultadocampo de futebolação "suspeitíssima"campo de futebolJoesley Batista, empresário da JBS, que fechou acordocampo de futeboldelação premiada com o Ministério Público Federal. Para o parlamentar, falta o "nexo causal" (ligação) entre o presidente e os atoscampo de futebolcorrupção mencionados.
O advogadocampo de futebolTemer, Antônio Cláudio Mariz, afirma que o parecer aprovado merece "aplausos" da defesa.
"Ele enfrentou questões que não foram enfrentadas pelo relator anterior. Todos os pontos favoráveis à defesa o outro relator não tocou, passou ao largo."
Se é aplaudido por Mariz, os argumentos são vistos com desconfiança pelo PSDB.
A escolhacampo de futebolAbi-Ackel pegoucampo de futebolsurpresa a legenda que, na Comissãocampo de futebolConstituição e Justiça, se colocou majoritariamente a favor da continuidade da denúncia. Quando o parecer do deputado foi aprovado, Silvio Torres (PSDB-SP) fez questãocampo de futebolafirmar que a posição não era compartilhada pela maioria da bancada - apesarcampo de futebolos parlamentares estarem livres para votar como quisessem.
"Quando chegamos à comissão, soubemos que ele seria o responsável pela leitura do voto. Ficamos surpresos. (Ele) resolveu que era o relator e disse que era uma posição pessoal", afirmou à BBC Brasil.

Crédito, Marcelo Camargo/Agência Brasil
Integrantes do PSDB disseram que, inicialmente, as justificativascampo de futebolAbi-Ackel e do presidente da CCJ não batiam. Um deles relata que, enquanto Rodrigo Pacheco afirmava que o tucano pediu a relatoria, o relator dizia ter sido escolhido. Para os entrevistados, não ficou claro o critério da decisão do presidente da CCJ.
Outro pontocampo de futebolaberto são as consequências que o papelcampo de futebolrelator terá no futuro políticocampo de futebolAbi-Ackel. Até então sem históricocampo de futebolaltos cargos na vida parlamentar, o tucano é cotadocampo de futebolMinas para o Senado ou o governo do Estado. Apesar da impopularidadecampo de futebolTemer e da proximidade com Aécio, há quem veja vantagens na postura "corajosa" do parlamentar, que já foi citadocampo de futeboldelação da Odebrecht.
"Aécio não foi julgado, ainda é um nomecampo de futebolgrande respeitocampo de futebolMinas e foi o melhor governador dos últimos cinquenta anos. Sai dessa crise forte. E Abi-Ackel pode ser um dos construtores do caminhocampo de futebolvolta ecampo de futebolfortalecimento do partido no Estado. Acho que isso só traz vantagem. Um relatório bem feito, aprovado, é mais um upgrade na campanha para qualquer cargo majoritário que vier a pleitear", diz Danilocampo de futebolCastro, que foi secretáriocampo de futebolEstado do governocampo de futebolMinas entre 2003 e 2014.
Mas se os parlamentares alcançam um consenso sobre o passadocampo de futebolAbi-Ackel, o mesmo não se pode dizer sobre seu futuro.
"Acho que Paulo mais perdeu do ganhou com a relatoria. Vamos ver", opina um congressista da bancada mineira.








