Comparado ao Brasil, mundo é amadorandré akkaricorrupção, diz cientista político francês:andré akkari

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Dabène prevê que dessa crise surgirá um "grande partidoandré akkaridireita" para defender os interesses das classes altas, que não se viam representadas desde o retorno à democracia. Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
andré akkari BBC Brasil - Qual é aandré akkariavaliação da crise política no Brasil, após as denúncias recentes envolvendo o presidente Temer?
andré akkari Olivier Dabène - Temos a impressãoandré akkarique as revelaçõesandré akkaricorrupção não irão acabar nunca. As delações premiadas levam a acusaçõesandré akkarisérie. Há um agravamento progressivo porque os elementos se tornam mais precisos e o númeroandré akkaripolíticos envolvidos é impressionante, e inclui os mais populares, como Lula.
Isso leva a pensar que era praticamente impossível fazer política no país sem recorrer a financiamentos privados ilegais. O modoandré akkarifuncionamento da vida política brasileira foi exposto e hoje atravessa um momento crítico.
O caso envolvendo o presidente Michel Temer (investigação após delações da JBS) é o cúmulo do cinismo. Temos a impressãoandré akkarique os políticos brasileiros não aprendem. Eles continuam fazendo a mesma coisa. É uma maneira instintivaandré akkarifazer política. É muito difícil mudar o comportamento e as mentalidades.

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andré akkari BBC Brasil - O que explica a dimensão da corrupção no Brasil?
andré akkari Dabène - É difícil explicar tamanhos absurdos. Há uma visão da política no Brasil como atividade que permite o enriquecimento pessoal, da mesma forma que outras atividades.
Não há uma visão da política como atividade que deva servir aos interesses gerais. Quando dizem que não há consciência cívica no Brasil, penso que isso não está errado.
A corrupção não é particularidade do Brasil, mas é exagerada no país. Talvez porque o Brasil seja um país grande, rico, com muitos recursos naturais e que por muito tempo foi alvoandré akkariexploração fácil. Há comportamentos que se enraizaram na história. Essas pessoas estão comprometendo o crescimento econômico do Brasil e o desenvolvimento futuro.
andré akkari BBC Brasil - Na França, por exemplo, também há revelaçãoandré akkarisuspeitasandré akkaridesvioandré akkaridinheiro público, como ocorreu durante a campanha presidencial com o candidato conservador, François Fillon, até então favorito na disputa.
andré akkari Dabène - Os franceses são amadores se comparados ao que ocorre no Brasil. O mundo inteiro, aliás. Imagine o que teria sido o crescimento econômico do Brasil nos últimos 30 ou 40 anos se não tivesse havido essa pilhagem sistemáticaandré akkariseus recursos e empresas. Isso dá vertigem. É totalmente inacreditável.
Quando digo que os políticos brasileiros não aprendem, me refiro também ao fatoandré akkarique não conhecem a história do Brasil. Esse tipoandré akkarisituação no país hoje é tipicamente o climaandré akkarium golpeandré akkariEstado.
Não estamos mais, claro, na épocaandré akkarigolpes militares, há pouquíssimas chancesandré akkarique isso ocorra. Mas há todos os elementos para que um militar queira virar a situação.

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Quando a democracia chega a esse tipoandré akkariabsurdo,andré akkaricomportamentos imorais, pode sempre surgir um militar para dizer basta a tudo isso.
As coisas, claro, mudaram. A grande maioria dos militares no Brasil tem um espírito republicano. E hoje as Forças Armadas têm menos necessidadeandré akkariintervir na política porque há homens políticos, como o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), com linguagem dura e comportamento autoritário.
andré akkari BBC Brasil - O senhor diz que para mudar o comportamento dos políticos no Brasil é necessário que haja uma nova geração ou candidatos andré akkari outsiders andré akkari .
andré akkari Dabène - Tenho receioandré akkarique a eliminaçãoandré akkariuma classe política, como ocorre atualmente com os escândalosandré akkaricorrupção, resulteandré akkarium outsider que queira colocar ordem e seja autoritário. Uma personalidade forte, que não hesitaráandré akkariagir com dureza.
É um cenário catastrófico para o Brasil que não pode ser descartado. Os brasileiros estão muito descontentes. É uma situação inédita que torna possível o surgimentoandré akkarium outsider linha-dura ouandré akkaripessoas que nunca tenham atuado na política.
O deputado Bolsonaro é preocupante e já se beneficiaandré akkaricerto apoio, segundo pesquisas. Vai sair dessa crise política um grande partido abertamenteandré akkaridireita, que defenderá as classes mais altas. Elas hoje não sentem representadas. Não houve, após a volta da democracia no Brasil, com um grande númeroandré akkaripequenos partidos atualmente, um grande partidoandré akkaridireita clássica, dura. Há um vazio sendo preenchido.
andré akkari BBC Brasil - O senhor acredita que o presidente Temer conseguirá terminar o mandato ou isso se tornou inviável?
andré akkari Dabène - Já faz tempo que é inviável. A cada nova revelação, se estende o limite do que é suportável. Mas acho que apenas a eventual decisão do Tribunal Superior Eleitoralandré akkaricassar seu mandato o impediriaandré akkaricontinuar na Presidência.
O que é fascinante no casoandré akkariTemer é que ele um presidente sem nenhuma legitimidade e impopular e, ao mesmo tempo, que lança reformas radicais. É paradoxal. Ele aposta que fará algumas reformas.

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andré akkari BBC Brasil - Mas há pressão popular para que ele renuncie e por eleições diretas.
andré akkari Dabène - É difícil medir hoje a forçaandré akkarimobilização nas ruas porque há o fator da mobilização online, nas redes sociais. É diferente do movimento Diretas-Já nos anos 80. A mobilização nas redes sociais não fará o presidente Temer renunciar. Isso é certo. No entanto, se o movimento Diretas-Já com 10 milhõesandré akkaricurtidas na internet se transformarandré akkari10 milhõesandré akkaripessoas nas ruasandré akkariBrasília, será outra coisa.
Tenho certezaandré akkarique muitos brasileiros estão descontentes e querem que Temer renuncie. Mas será que isso se resume a curtir páginas Fora Temer ou Diretas-Já nas redes sociais ou pessoasandré akkaritodo o país irão protestarandré akkariBrasília? Ou seja, se o movimento crescer e houver milhõesandré akkaripessoas nas ruas, pode ser que Temer seja obrigado a renunciar. Não descarto essa possibilidade.
Mas não é fácil fazer com que as pessoas marchem nas ruas, o que me leva a pensar que Temer continuará no cargo, caso seu mandato não seja cassado pela Justiça.
andré akkari BBC Brasil - Com boa parte do Congresso investigada pela operação Lava Jato, não haveria, no casoandré akkarieleição indireta, um problemaandré akkarilegitimidade para designar o eventual novo presidente?
andré akkari Dabène - Eleições indiretas representariam um problemaandré akkarilegitimidade, claro. Mas seria um presidenteandré akkaritransição até as eleiçõesandré akkari2018. Se for uma personalidade moderada, com um discursoandré akkarireconciliação eandré akkaripaciência, no sentidoandré akkarirespeitar o calendário eleitoral, poderá dar certo.
Acho notável, nestes dois últimos anos no Brasil, o desejoandré akkarirespeitar a Constituiçãoandré akkarimeio a toda essa crise. A classe política vai querer respeitar o que diz a Constituição nesse caso.
andré akkari BBC Brasil - Com a rejeição da classe política tradicional, o senhor acha possível que o Brasil possa eleger um presidente como o da França, Emmanuel Macron, que jamais havia disputado uma eleição e era totalmente desconhecido no país há apenas três anos?
andré akkari Dabène - Sim. A opinião pública brasileira está tão decepcionada que devemos nos preparar para enormes surpresas. Talvez o próximo presidente do Brasil possa até ser um artista. É possível que os candidatos que disputarão o segundo turno presidencialandré akkari2018 não sejam hoje pessoas conhecidas.








