PEC que congela gastos é ação 'radical' e 'ideológica' que vai pesar sobre os mais pobres, diz representante da ONU:online blackjack

Para relator da ONU, PEC 55 será um "revés" às crianças brasileiras

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Questionado pela BBC Brasil após a publicação do relatório, o governo rebateu as críticas da ONU e do relator e afirma que a PEC é "necessária para conter o agravamento da crise".

Como se trataonline blackjackuma alteração na Constituição, a medida precisa ser aprovadaonline blackjackquatro votações - duas vezes na Câmara dos Deputados e duas vezes no Senado. Falta apenas o último aval dos senadores para que a medida possa ser sancionada por Temer. Essa votação está prevista para a próxima terça-feira.

'Pressa e alarmismo'

O representante da ONU reconhece a necessidadeonline blackjackmudanças, mas questiona a extensão da medida e critica a pressa com a qual a PEC estaria sendo imposta à sociedade brasileira.

"Não acho que qualquer pessoa esteja negando a necessidadeonline blackjackhaver mudanças significativas nas políticas econômicas, mas colocar todo o peso basicamente sobre os mais pobres e não buscar um pacote mais complexoonline blackjackforma aberta e transparente não é uma forma democráticaonline blackjackfazê-lo. Não é consistente com as obrigaçõesonline blackjackdireitos humanos."

Procurado pela BBC Brasil para responder às críticas, o Ministério da Fazenda, por intermédio do Itamaraty, afirmou que a pressa "é justificável e a proposta foi discutida desde junho, quando foi apresentada ao Congresso". Aindaonline blackjackacordo com o governo, o processo todo deve ter a duraçãoonline blackjackseis meses.

Reuniãoonline blackjackcomissões do Senado para discutir a PEC 55

Crédito, Lula Marques/ AGPT

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Defensores da PEC 55 argumentam que o congelamento dos gastos é necessário para sinalizar aos investidores internacionais que o Brasil está comprometidoonline blackjackconter os custos públicosonline blackjackforma consistente e contínua. Mas Alston interpreta a medidaonline blackjackoutra maneira.

"Dificilmente isso é pragmático. Isso é radical e, eu diria, até ideológico. Tentar amarrar as mãosonline blackjacktodos os governos dentro dos próximos 20 anos não é simplesmente mandar um aviso para os mercados. É mandar uma mensagem ao povo sobre os valores básicos que esse governo apoia", criticou o relator da ONU.

"Uma coisa é fazer isso nesse mandato, outra é tentar fazer isso pelos próximos governos. Eu penso que isso é completamente inaceitável".

O ministério da Fazenda, no entanto, afirma que as contas não fecham e "somente um controle poderá reverter um agravamento da crise" e os defensores da medida argumentam que o regimeonline blackjackcontenção é necessário para afastar o fantasma da inflação e atrair mais capital estrangeiro.

"A dívida pública estáonline blackjackum caminho insustentável e faltaonline blackjackajuste fiscal resultaráonline blackjackhiperinflação. Há 12 milhõesonline blackjackdesempregados no Brasil atualmente e outros 10 milhões que não trabalham tanto quanto gostariam", diz a nota enviada pelo ministério da Fazenda à BBC.

O representante da ONU, no entanto, discorda da justificativa.

"O que eles estão falando aqui não são os níveis atuais da inflação, mas o medo do futuro. Isso é o que chamamosonline blackjackalarmismo. Em outras palavras, estão inventando cenários possíveis para poder justificar ações radicais, mas isso não é uma base apropriada para a criaçãoonline blackjackpolíticas públicas".

Para o relator da ONU, as lideranças políticas brasileiras estão pressionando por uma aprovação apressada, que não representa os interesses da maioria da população, situada nas classes média e baixa. Essa "pressa", segundo ele, denotaria a faltaonline blackjacklegitimidade do projeto.

"Justificar uma política radical como essa exige um debate público extenso, com debate e informação acessível ao público, para que eles entendam quais são as consequências, para que entendam qual é a necessidade real, para que entendam realmente que corteonline blackjackgasto será feito, para só então tomarem uma decisão razoável e democrática".

"Forçar issoonline blackjacktão pouco tempo, com base na desinformação e no contextoonline blackjackum governo cuja legitimidade é limitada pelas circunstâncias eleitorais, me parece profundamente problemático."

Estudantes fazem manifestação contra a PEC; para relator da ONU, educação ficará prejudicada

Crédito, Rovena Rosa/Agência Brasil

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Acordos internacionais

Alston afirma que a imposição da PEC 55 sob a população é uma violação da Convenção Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ratificado pelo Brasilonline blackjack24online blackjackjaneiroonline blackjack1992.

"Certamente,online blackjackuma perspectivaonline blackjackdefesa dos direitos humanos, a aprovação da PEC vai diretamente contra o princípio da não-regressão. Se você vai dar significativos passos para trás, você precisa justificar com muita cautela as razões por que isso é necessário e por que não há alternativas. Nesse caso não há uma análise assim, há apenas a afirmaçãoonline blackjackque empresas e o mercado irão dar boas-vindas à austeridade".

Para ele, a PEC 55 "claramente viola as obrigações do Brasil" na Convenção. Entre elas, aonline blackjack"não tomar medidas deliberadamente retrógradas a menos que não haja outras opções alternativas e uma consideração completa tenha sido feita para garantir que as medidas são necessárias e proporcionais".

O governo, no entanto, não considera a aprovação uma violação à Convenção. Para o ministério da Fazenda, a medida seria "apenas uma regulamentação fiscal, como qualquer outra dotada por diferentes países do mundo".

O professoronline blackjackdireito internacional da PUC-SP Cláudio Finkelstein, afirma que, caso a PEC seja aprovada, há a possibilidadeonline blackjackse acionar o Brasil nas cortes internacionais por descumprimento do tratado.

"Existem diversos pactos internacionais e todos os direitos humanos estãoonline blackjackpéonline blackjackigualdade. Quando se falaonline blackjackuma PEC dessa natureza, isso envolve todos os gastos públicos", resume.

Diretoraonline blackjackeducação do Banco Mundial diz que medida pode prejudicar qualidade do ensino

Crédito, Valter Campanato/ABr

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Educação

Apesar das críticas da ONU, a PEC tem sido bem recebida por outras organizações, como o Fundo Monetário Internacional. No relatório mais recente sobre o Brasil, publicadoonline blackjacknovembro, o FMI afirma que a PEC é necessária e adianta que os cortes não devem parar por aí.

"A aprovação e rápida implementaçãoonline blackjacklimites nos gastos poderia ajudar a melhorar a trajetóriaonline blackjacklongo-prazo do gasto público e permitir a estabilização e eventual redução da dívida públicaonline blackjackporcentagem do Produto Interno Bruto".

O documento acrescenta ainda que seria necessário "acabar com o pré-destinamentoonline blackjackverbas" para setores como saúde e educação.

Para Alston, que recebeu apoio da relatora especial da ONU para educação, Koumbou Boly Barry, isso é um "contrassensoonline blackjackrelação às conclusões contidasonline blackjackoutros estudos econômicos publicados pelo FMI.

"O que realmente é chocante para mim é que se você olhar a análise do Fundo Monetário Internacional eles preveem que isso (o congelamento dos gastos) será problemático e eles não veem isso necessariamente como uma solução para os problemas do Brasil."

O governo vem negando que saúde e educação serão prejudicadas com a aprovação da PEC.

"A proposta afetará apenas 20% das despesas com ensino porque os cortes estão relacionados a gastos federais e a maior parte dos gastos com educação são assumidos pelos Estados", afirmaonline blackjacknota o ministério da Fazenda.

A diretora globalonline blackjackeducação do Banco Mundial, Cláudia Costin, afirmou à BBC Brasil que a medida pode prejudicar um dos mecanismos necessários para garantir a qualidade do ensino: o pagamentoonline blackjackbons salários a professores.

"Nesse ponto infelizmente a PEC 55 deve atrapalhar. Porque congelar a forma como gastamos hoje não vai resolver o problema dos salários."