Como Milei conseguiu baixar inflação e valor do dólar na Argentina:b 1 bet

Javier e Karina Milei

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Legenda da foto, O governo libertário, liderado por Javier Milei eb 1 betirmã Karina, comemora o controle da inflação e do dólar

Outros alertaram que uma nova hiperinflação estava a caminho, como ab 1 bet1989, quando os preços subiram 5.000% ao ano.

Mesmo muitos dos 56% do eleitorado que escolheram Milei e rejeitaram o ministro peronista da Economia, Sergio Massa, no segundo turno eleitoral preparavam-se para a possibilidadeb 1 beto “azul” subir sem freios após o novo governob 1 betLa Libertad Avanza (LLA) dobrar o valor do dólar oficial (desvalorizando o pesob 1 bet50%), após promessasb 1 betcampanhab 1 betdolarizar a economia.

No entanto, dez meses após a posseb 1 betMilei – o primeiro economista a tornar-se presidente da Argentina e o primeiro político libertário a liderar uma nação – nenhum destes cenários pessimistas se concretizou.

Pelo contrário: a inflação foi reduzida para 3,5% ao mês, o valor mais baixob 1 betquase três anos.

E o dólar paralelo, que atingiu o recordeb 1 bet1.500 pesosb 1 betjulho, hoje estáb 1 betníveis semelhantes aosb 1 betjaneiro.

Embora tenha perdido cercab 1 bet10 pontosb 1 betpopularidade – ele ainda está acima dos 40% – Milei consolidou seu poder, obtendo importantes vitórias legislativas apesarb 1 better uma pequena minoria no Parlamento eb 1 betnão haver nenhum governador do seu grupo político partidário.

“Votei nele porque queria uma mudança e ele está conseguindo”, diz Diego, 56 anos, passeadorb 1 betcachorrosb 1 betBuenos Aires.

“Embora tenham sido meses muito difíceis, principalmente para meu velho [pai], que está aposentado, com a inflação e o dólar baixo estamosb 1 betmelhor situação”, disse ele à BBC Mundo.

Javier Milei

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Legenda da foto, Segundo a consultoria Escenarios, a popularidadeb 1 betMilei caiub 1 bet54% para 42% entre maio e setembro
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Apesar disso, não há dúvidab 1 betque a Argentina atravessa um momento bastante difícil: segundo os últimos números oficiais, no primeiro semestre do ano o país registou o seu pior salto na pobrezab 1 betduas décadas, com maisb 1 betmetade da populaçãob 1 betsituaçãob 1 betpobreza (quase 53%), incluindo quase 7b 1 betcada 10 crianças.

Além disso, o consumo despencou e o Produto Interno Bruto (PIB), índice que mede a atividade econômica, caiu 3,4%b 1 betcomparação com o primeiro semestre do ano anterior. Tanto o Banco Mundial quanto o Fundo Monetário Internacional concordam que a Argentina será a economia latino-americana com a maior contração econômica este ano.

No entanto, pelo menos por agora, Milei está cumprindob 1 betpromessab 1 betlimpar a macroeconomia, reduzir a inflação e estabilizar o dólar.

“Estamos saindo do inferno com sucesso”, anunciou o presidenteb 1 betentrevista recente ao canalb 1 betnotícias LN+.

A BBC Mundo explica como ele está conseguindo isso (e por que nem todos acreditam queb 1 betestratégia seja bem-sucedida).

O plano Milei

“Para entender como Milei reduziu a inflação, é preciso entender essencialmente a origem da inflação”, explicou à BBC Mundo o economista Miguel Boggiano, um dos membros do Conselhob 1 betAssessores Econômicos do governo argentino.

“Na Argentina, a explicação é relativamente simples: como os diferentes governos gastaram mais do que arrecadaram, o que acabou acontecendo foi que esse excessob 1 betgastos acabou sendo financiado pela impressãob 1 betpapel-moeda, ou seja, com emissão monetária, porque ninguém empresta dinheiro à Argentina."

Boggiano garante que “o problema foi piorando” porque, alémb 1 betimprimir dinheiro para o Tesouro, o Banco Central também passou a conceder empréstimos ao Tesouro, o que deixou ambas as organizações endividadas.

“O Banco Central sabia que geraria inflação com todos aqueles pesos que deu ao Tesouro, porque havia um excessob 1 betpesos que o público não demandava e depois iria para o dólar ou para os preços.”

Para evitar que isso acontecesse, explicou, o Banco Central criou um mecanismo para absorver uma parte importante desse dinheiro: os chamados passivos remunerados, dívidab 1 betcurto prazo que foi contraída com os bancos.

E essa dívida foi se acumulando.

Miguel Boggiano ao ladob 1 betJavier Milei

Crédito, Miguel Boggiano

Legenda da foto, Miguel Boggiano, parte do Conselhob 1 betAssessores Econômicosb 1 betMilei

Quando Milei assumiu o cargo, o déficit do Tesouro equivalia a 4,6% do PIB. Mas o do Banco Central era o dobro, devido à “bola”b 1 betjuros que a dívidab 1 betcurto prazo gerou.

Para resolver o problema do Tesouro, Milei foi diretamente à raiz: brandindo a motosserra metafórica símbolob 1 betsua campanha, ele eliminou um terço dos gastos públicosb 1 betuma só vez.

Assim, desde o primeiro mêsb 1 betmandato, conseguiu reduzir as emissõesb 1 betmoeda – principal causa da inflação – e passou do déficit ao excedente fiscal (mais receitas do que despesas), algo que a Argentina conseguiu poucas vezes no século passado.

Para resolver a dívida do Banco Central (e reduzir as emissões que gerava) ele recorreu a outro artifício, explica Boggiano.

“Baixou a taxab 1 betjuros paga pelos passivos remunerados e também desvalorizou o peso, corrigindo a taxab 1 betcâmbio oficial e colocando-a quase no mesmo nível da taxab 1 betcâmbio do mercado”.

“Isso produziu um ajuste nos preços relativos que significou um salto na inflação superior aos juros pagos por aquela dívida. Dessa forma, liquidou os passivos remunerados, deixando-os com taxasb 1 betjuros reais negativas”, explica o assessor.

Falandob 1 betum fórumb 1 betnegócios na semana passada, Milei orgulhava-seb 1 betsua estratégia: “Ninguém sabia como resolver e resolvemosb 1 betseis meses. Nós tornamos possível algo que parecia impossível”, destacou.

Sustentabilidade

Embora muitosb 1 betseus críticos afirmassem ser impossível manter o superávit, pois isso exigiria continuar a adiar pagamentos que eventualmente teriam que ser feitos e congelar os gastos públicosb 1 betníveis mínimos históricos, a verdade é que o governo libertário conseguiu sustentá-lob 1 betseus primeiros nove mesesb 1 betgoverno.

Conseguiu, inclusive, ter superávit depoisb 1 betpagar os juros da dívida pública, algo inédito no país e considerado fundamental para o equilíbrio das contas.

No entanto, há quem acuse o presidente e o ministro da Economia, Luis Caputo,b 1 betfazerem um malabarismo financeiro que simplesmente “esconde” o déficit.

Ex-assessorb 1 betMilei, o economista Carlos Rodríguez, que foi secretáriob 1 betPolítica Econômica no governob 1 betCarlos Menem, alertou emb 1 betconta X (antigo Twitter) que o governo não teria superávit se não fosse financiado com títulos do Tesouro, conhecidos como Lecap e LEFI, que permitem o adiamento do pagamentob 1 betjuros uma vez que estes são pagos, juntamente com o capital, apenas no vencimento do título da dívida.

Segundo Rodríguez, essa dívida remunerada que vai se acumulando “não aparece no déficit financeiro do Tesouro nem no cuasifiscal (nome oficial do déficit do Banco Central). Apenas aumenta a dívida pública”.

"Como num passeb 1 betmágica, o déficit cuasifiscal desapareceu e Milei reduziu instantaneamente o déficit do Estadob 1 betvários pontos do PIB. Isso é simplesmente uma engano. O déficit continua. Eles não enganam ninguém, apenas perdem credibilidade, " escreveu.

Cristina Fernándezb 1 betKirchner e Javier Milei no dia da posse presidencialb 1 betMilei

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Legenda da foto, Uma das pessoas que questionam mais duramente a estratégia econômicab 1 betMilei é a ex-presidente Cristina Fernándezb 1 betKirchner

Na mesma linha, a ex-presidente Cristina Fernándezb 1 betKirchner disse através do X, na segunda-feira, que Milei, que disseb 1 betcampanha que fecharia o Banco Central, acabou "passando ao Estado argentino seus passivos com o LEFI e os Lecaps que estão gerando juros mensaisb 1 betmaisb 1 bet2 bilhõesb 1 betpesos (US$ 2 bilhões) e criando uma bola que, quando explodir, é melhor não se estar por perto”.

Para além deste debate, Milei está confianteb 1 betque mantendo ab 1 betpolíticab 1 bet“déficit zero” conseguirá reduzir a inflação, uma das suas principais promessas eleitorais.

Em seu projetob 1 betOrçamento para 2025, apresentadob 1 betsetembro, ele estimou que este ano a inflação fechará nos 104,4%, metade do que erab 1 bet2023 (211,4%). E que no próximo ano cairá para 18,3% anuais.

O mercado está um pouco menos otimista, mas concorda que haverá uma desaceleração significativa: a última Pesquisab 1 betExpectativasb 1 betMercado do Banco Central projetou queb 1 bet2024 a inflação seráb 1 bet123,6%, um pouco abaixo do estimado pelo FMI (140%).

“E se desta vez tudo correr bem???” perguntou no X Mariano – um advogado “com o desejo irreprimívelb 1 betver uma Argentina próspera” –b 1 betmeio aos muitos posts que questionam se as metas do governo são realistas.

O dólar

Ao contrário da inflação, que diminuiu progressivamenteb 1 bet20,6%b 1 betjaneiro para 3,5%b 1 betsetembro, o dólar paralelo, que reflete a confiança do mercado no governo e é uma referência incondicional no país, tem tido um ritmo mais errático.

Quando Milei assumiu, valia mil pesos, subindo 25% no finalb 1 betjaneiro (1.250). Embora tenha voltado a cair e tenha permanecido próximo a 1 mil entre março e maio, a partir daí começou uma escalada que gerou preocupação entre os argentinos, que sabem que o valor do “azul” costuma refletir rapidamente nos preços.

Em julho, o dólar atingiu seu valor mais alto: 1.500 pesos, cercab 1 bet50% a mais que o valor do dólar oficial, regulado pelo governo, e se valoriza a uma taxa fixab 1 bet2% ao mês, como uma “âncora contra a inflação”

Isto levou a novos sinaisb 1 betalarme devido aos receiosb 1 betque pudesse pressionar os preços.

Porém, desde então, o “azul” voltou aos níveisb 1 betjaneiro, uma vitória para o governo libertário.

“O dólar cai, as despesas não sobem, o aluguel da garagem não sobe, meu salário sobe. OBRIGADO MILEI”, escreveu Matías, torcedor do Boca Juniors e simpatizante do governo, no X.

Notasb 1 bet100 dólares

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Legenda da foto, Os argentinos estão sempre atentos à evolução do dólarb 1 betmercado, ou do “dólar azul”

Mas o que Milei fez para conter o dólar?

Há quem considere a "lavagem"b 1 betcapital um fator também relevante para explicar a queda da taxab 1 betcâmbio obtida pelo governo, ao permitir a regularizaçãob 1 betaté US$ 100 mil antes não declarados, sem penalidades ou impostos adicionais (valores maiores pagam entre 5% e 15%).

Isso gerou uma maior ofertab 1 betdólares, o que contribui para a redução do valor da moeda.

Mas o governo nega que seja um “veranito cambial” causado pela regularizaçãob 1 betdinheiro antes não declarado e afirma que a queda do dólar é parte do plano.

O próprio presidente explicou isso, inclusive,b 1 betdiscurso a empresários reunidos no fórum do Institutob 1 betDesenvolvimento Empresarial da Argentina (IDEA), no dia 18b 1 betoutubro.

“Dianteb 1 betum ataque especulativob 1 betque o dólar era negociado a 1.500 pesos e nos disseram que na semana seguinte iria para 2 mil, e assim por diante, decidimos mudar o esquema monetário e ir diretamente para a emissão zero”, afirmou.

“Parece que também funcionou e aconteceu algo que nunca havia acontecido na Argentina, que é o dólar cairb 1 bet1.500 para 1.100 pesos. E assim o que também parecia impossível, nós também tornamos possível”, gabou-se.

Boggiano explicou a estratégia com mais detalhes à BBC Mundo.

“No início da administração do presidente Milei, o Banco Central emitia pesos para comprar dólares e reconstruir suas reservas (que o governo herdou com um saldo negativob 1 betmaisb 1 betUS$ 11 bilhões)”, disse.

"Há dois ou três meses, o Banco Central decidiu diretamente não emitir mais pesos para comprar dólares, o que significa que não há emissão por nenhum motivo."

“E como, além disso, o Tesouro tem um superávit fiscal – ou seja, gasta menos do que arrecadab 1 betimpostos – o próprio Tesouro está absorvendo pesos da economia. O resultado é que há mais pesos e isso está fazendo o dólar cair", disse ele.

Argentina carab 1 betdólares

O paradoxo da estratégiab 1 betMilei é que alguém que faloub 1 betdolarizar a economia e durante ab 1 betcampanha chamou o peso argentinob 1 bet“excremento” valorizou-a tanto que agora o país ficou carob 1 betdólares.

O rostob 1 betMileib 1 betuma notab 1 bet100 dólares

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Legenda da foto, Milei manteve o valor do dólar abaixo da inflação, gerando uma defasagem cambial e o paradoxob 1 betum peso forte

“Se o câmbio permanecesse onde está atualmente, nos primeiros 12 meses do ano a Argentina teria uma inflaçãob 1 bet104% a 105%b 1 betdólares”, destacou outro ex-apoiador e hoje crítico do presidente, Diego Giacomini.

“Significa que, se no início do ano, quando Milei assumiu, você precisavab 1 betUS$ 100 para pagar a luz, no final do ano você vai precisar entre US$ 200 e US$ 210 para pagar a luz”, explicou durante uma entrevista recente à Radio con vos.

Segundo o economista “é um câmbio que não serve nem a quem produz para o mercado interno nem a quem exporta. Portanto, o nívelb 1 betatividade está condenado a ser ruim”.

“Isso terá que ser corrigidob 1 betalgum momento com um salto cambial e posterior aceleração da inflação”, diagnosticou.

Alguns argentinos compartilham seu pessimismo. “Estamos carosb 1 betdólares porque o valor do dólar está defasado porque eles o seguraram!!! Já vi esse filme e já sei o final: 2001, isso te parece familiar?!!!”, escreveu o tweeter Jean Valjean.

Milei descartou uma nova desvalorização e afirmou que manteráb 1 betestratégiab 1 betvalorização do dólar oficialb 1 bet2% a cada mês, mesmo que isso tenha deixado seu valor defasadob 1 betrelação à inflação.

O ministro da Economia, Caputo, destacou que o plano do governo é que o dólar oficial e o "dólar azul" eventualmente convirjam, um passo importante antesb 1 betpoder levantar os controlesb 1 betcapital (aqui apelidadosb 1 bet"armadilhas") que limitam o acesso à moeda americana no país.

E também algo que deve preceder uma eventual dolarização, que continua a fazer parte dos planos oficiais, através da livre “competição cambial”.

Entretanto, o governo minimiza as preocupações daqueles que alertam que, para além das boas notícias financeiras, a “economia real” não está decolando.

E destaca que, embora as comparações anuais da atividade econômica sejam negativas, se compararmos mês a mês vemos que a tendência é positiva, uma mudança que já começa a ser notadab 1 betalguns setores.

“De agorab 1 betdiante só vêm boas notícias”, repete Mileib 1 betseus discursos e entrevistas.

Seu otimismo é compartilhado pelo Banco Mundial e pelo FMI, que estimam queb 1 bet2025 a Argentina crescerá 5%, deixandob 1 betser a economia latino-americana com maior contração econômica passando a ser a que apresenta maior crescimento.

Há que esperar para ver se essa recuperação econômica é um trampolim para um futuro mais próspero, capazb 1 betmelhorar a vida dos cercab 1 bet25 milhõesb 1 betpobres que o país tem hoje, como promete Milei, ou se a Argentina novamente voltará a ficar, mais uma vez, presa numa outra espiralb 1 betdívida, como alertam os adversários do presidente.