‘Tenho medojogo do suco blazemorrer na própria aldeia’: como ‘cacique-modelo’ da Amazônia se tornou alvojogo do suco blazeíndios madeireiros:jogo do suco blaze

Crédito, Maria Fernanda Ribeiro
O episódio na estrada é sinal do agravamento dos conflitos na TI (Terra Indígena) Setejogo do suco blazeSetembro, localizada entre Rondônia e Mato Grosso e que nos últimos anos foi considerada a grande promessajogo do suco blazeuso da tecnologia para proteger a floresta na Amazônia.
"Tenho medojogo do suco blazemorrer. É um risco que corro a todo o momento. As pessoas acham que me matando vão poder explorar madeira numa boa. Sou alvo não só pelos madeireiros e garimpeiros, mas também pelos índios madeireiros", afirmou Almir à BBC Brasil.
Ele é um dos chefes indígenas mais viajados do país - já rodou por países distantes como Turquia e Indonésia, acumulou prêmios e distinções enquanto faz lobby por parcerias internacionais para preservar os recursos naturais na reserva dos paiter-suruís.

Crédito, Getty Images
Nesse trabalho, costurou acordos com grandes empresas daqui ejogo do suco blazefora, ONGs ambientalistas e políticosjogo do suco blazeBrasília.
Ganhou famajogo do suco blaze2008, quando fez um acordo com o Google para monitorar o desmate na terra indígena - índios ganharam celulares para registrar extração ilegaljogo do suco blazemadeira, capturar fotos e vídeos geolocalizados e fazer upload no Google Earth.
Em 2012, os paiter-suruís se tornaram a primeira nação indígena do mundo a fechar contratos nos quais eles faturam ao evitar desmatamentosjogo do suco blazeseu território - houve acordos com Natura e Fifa, que renderam ao menos R$ 1,2 milhão.
Nos últimos anos, contudo, discordâncias sobre o uso dos recursos reacenderam divisões históricas entre os suruís e situação saiujogo do suco blazecontrole na Setejogo do suco blazeSetembro - uma áreajogo do suco blaze2,4 mil km² (ou duas vezes a cidade do Riojogo do suco blazeJaneiro) e 1,3 mil índios espalhados por 25 aldeias.
O desmate ilegal dentro da TI Setejogo do suco blazeSetembro saltoujogo do suco blaze85 hectaresjogo do suco blaze2013 para 496 hectares (cercajogo do suco blaze500 camposjogo do suco blazefutebol)jogo do suco blaze2015, segundo a ONG Idesam (Institutojogo do suco blazeConservação ejogo do suco blazeDesenvolvimento Sustentável da Amazônia).
Descontrole
A terra dos suruís (ou paiter, como se intitulam) ficajogo do suco blazeum dos principais focos do chamado "arco do desmatamento", regiãojogo do suco blazeque a fronteira agrícola avançajogo do suco blazedireção à floresta e responde pelos maiores índicesjogo do suco blazedesmatamento da Amazônia.
Segundo Almir, hoje 15 das 25 aldeias da terra indígena estão envolvidasjogo do suco blazeexploração ilegaljogo do suco blazerecursos naturais. Cinco se opõem à presençajogo do suco blazemadeireiros e cinco estão divididas, afirma.

Crédito, Divulgação
"A floresta não precisa ser intocável, mas deve ser usada com planejamento e critério. Somos contra a forma como a madeira está sendo retirada", diz o líder dos paiter-suruís.
Índios contrários ao desmatamento estimam que 300 caminhões lotados com torasjogo do suco blazemadeira deixem a Setejogo do suco blazeSetembro todos os meses - avaliação endossada pelo Ministério Público Federal, que acompanha o conflito na região.
As árvores mais procuradas hoje são cerejeira, cedro, ipê, caixeta, garapa e castanheira. O ipê é considerado o novo mogno, muito explorado nas décadasjogo do suco blaze1980 e 1990 e hoje praticamente extinto na floresta.
"A situação é frágil e delicada. Madeireiros assediam índios com coisas que o Estado não consegue suprir, como saúde e educação, e com outras que o Estado nem supriria, como dinheiro para carros e motos. Algumas lideranças se acostumaram com essa renda, o que torna o problema histórico", afirma o procurador da República Henrique Heck.
Histórico
De fato, a relação dos suruís com a exploração ilegaljogo do suco blazemadeira não é nova.
Contatada pela primeira vezjogo do suco blaze1969, essa tribo amazônica chegou a perder 90% da população para a tuberculose e o sarampo antes mesmo do nascimentojogo do suco blazeAlmir,jogo do suco blaze1974.
A terra indígena foi homologadajogo do suco blaze1983, mas sofreu impacto, nos anos seguintes,jogo do suco blazeprojetosjogo do suco blazecolonização e também invasõesjogo do suco blazepequenos agricultores.
Os suruís passaram então a ser conhecidos pela vendajogo do suco blazemadeira a extratores ilegais - situação que motivou divisões internas e desagregação social.

Crédito, Maria Fernanda Ribeiro
Aos 15 anos, ainda com pouco conhecimentojogo do suco blazeportuguês, Almir aceitou convite da Universidade Católicajogo do suco blazeGoiás para estudar Biologia Aplicada. Formou-sejogo do suco blaze1992 e foi eleito chefe dos Gameb (marimbondos pretos), um dos quatro clãs paiter-suruís.
Casou-se, teve filhos (três, hoje com 22, 21 e 19 anos) e passou a planejar programasjogo do suco blazeagricultura sustentável emjogo do suco blazealdeia.
"Mas líderes tribais mais velhos - a maioria com menosjogo do suco blaze40 anos, como efeito das pragas devastadoras dos anos 1970 - tinham outros planos", afirma,jogo do suco blazereferência aos interesses dos índios madeireiros, o jornalista americano Steve Zwick, que trabalhajogo do suco blazeuma biografiajogo do suco blazeAlmir.
Ao final dos anos 1990 Almir Suruí já era um líder indígena conhecidojogo do suco blazeRondônia. Gradativamente, começou a trabalharjogo do suco blazeum plano para uso das terras suruís nos 50 anos seguintes.
Acordo
O acordo com o Google trouxe novas perspectivas para a tribo, ejogo do suco blaze2009 Almir costurou um pacto entre os quatro clãs para encerrar o histórico ciclo históricojogo do suco blazeexploração ilegaljogo do suco blazemadeira dentro do território.
Em 2012, a redução acumuladajogo do suco blazedesmatamento somava 511 hectares, o que permitiu as parceriasjogo do suco blazevendajogo do suco blazecréditosjogo do suco blazecarbono.

Crédito, Getty Images
Foi o primeiro projetojogo do suco blazeárea indígena a explorar o chamado Redd (Reduçãojogo do suco blazeEmissões por Desmatamento), instrumentojogo do suco blazecompensação financeira pela manutençãojogo do suco blazeflorestas tropicais e redução do gás carbônico responsável pelo aquecimento global.
A promessajogo do suco blazesolução, contudo, começou a incentivar velhas (e novas) divisões. Alguns líderes suruís reclamaram da gestão, por Almir, do chamado Fundo Paiter, criado para administrar o dinheiro desses projetos. Apontavam demora na liberação, centralizaçãojogo do suco blazedecisões e ausênciajogo do suco blazebenefícios para as comunidades.
O chefe suruí nega as acusações. "O dinheiro foi repassado corretamente para as associações (dos clãs suruís)jogo do suco blazeacordo com os projetos, conforme foram apresentados para nós. Nossa prestaçãojogo do suco blazecontas é clara e transparente", afirma.
Em julho deste ano, a pedido do Ministério Público Federal, que atendeu a reclamações dos setores insatisfeitos, a Justiça chegou a bloquear a movimentação do fundo (que ainda tinha R$ 500 miljogo do suco blazecaixa). Os recursos acabaram liberados após uma reunião entre os clãs.
Agravamento
A indisposição com o projeto levou parte dos suruís a retomar a exploração ilegaljogo do suco blazemadeira, ouro e diamante, bem como o arrendamentojogo do suco blazeterras para fazendeiros.
Segundo relatos coletados pela reportagem, índios madeireiros esperavam obter mais renda ao interromper o ciclojogo do suco blazedesmatamento, o que não ocorreu.

Crédito, Google/Global Forest Watch
Resultado, segundo Almir: alémjogo do suco blazemadeireiros e fazendeiros, há também garimpo na terra indígena. Com apoio dos índios, aliciados com armas e pagamentos mensaisjogo do suco blazeaté R$ 5 mil, os grupos estariam atuandojogo do suco blazeao menos 20 pontos da área.
A suposta omissão dos órgãos públicos agrava a situação, afirma o líder. "Já fizemos várias denúncias e nada acontece. Dizem que não podem prender índio e os índios sabem disso."
Em razão desse quadro, a Procuradoria entrou na Justiça na semana passada contra Funai (Fundação Nacional do Índio), Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e os Estadosjogo do suco blazeRondônia e Mato Grosso.
A ação pede que os órgãos e governos sejam obrigados a realizar uma sériejogo do suco blazeaçõesjogo do suco blazefiscalização e apoio a atividades sustentáveis pelos índios, como coletajogo do suco blazecastanhas.
Diz ainda que a "criminalidade recrudesceu" dentro da terra indígenajogo do suco blazerazão da "fiscalização acanhada dos órgãos públicos".
Aponta que "muitos indígenas foram cooptados pelas madeireiras" e que a "sensaçãojogo do suco blazeimpunidade prepondera" no local, o que faz aumentar a adesãojogo do suco blazeíndios à atividade ilegal.
"Se a situação continuar assim, há possibilidadejogo do suco blazedescaracterização total do territóriojogo do suco blazemédio prazo", afirma Henrique Heck.
A reportagem entroujogo do suco blazecontato com os governosjogo do suco blazeRondônia e Mato Grosso para comentários sobre a ação da Procuradoria, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Em nota, a Funai disse ter conhecimento do cenário na Setejogo do suco blazeSetembro e que tem feito fiscalizações na região. Reconheceu, contudo, que o "grande desafio" hoje é integrar esferasjogo do suco blazepoder e complementar monitoramento com políticasjogo do suco blazesustentabilidade para índios e cidades do entorno.
"Sem alternativasjogo do suco blazerenda no entorno para as populações não indígenas, a pressão sobre as terras indígenas cresce cada vez mais, ameaçando os recursos naturais e a segurança dessas comunidades", informou o órgão.

Crédito, Saul Loeb/Getty Images
Medo
Enquanto isso, hoje o "cacique tecnológico" Almir Suruí está praticamente sitiado emjogo do suco blazeprópria região - mora com a famíliajogo do suco blazeCacoal, cidadejogo do suco blaze78 mil habitantes a 480 kmjogo do suco blazePorto Velho, vizinha da terra indígena Setejogo do suco blazeSetembro.
Vive escoltado pelos irmãos, nunca viaja sozinho e evita ir ao supermercado ou sacar dinheiro sem estar acompanhado.
"Não gostamos que o Almir vá a nenhum lugar sozinho, nem dentro da nossa própria terra, porque há uma parte grande do nosso povo contra o trabalho dele. A gente também vive com medojogo do suco blazebranco matar o Almir. Branco madeireiro, fazendeiro, garimpeiro. É muita preocupação", diz o irmão Mopiri Suruí,jogo do suco blaze56 anos.
Almir chegou a contar com proteçãojogo do suco blazeagentes da Força Nacionaljogo do suco blazeSegurança entre 2012 e 2013, mas desistiu. "Era uma proteção e não uma solução. A solução é acabar com a exploração ilegal."
Com 98 quilos distribuídosjogo do suco blaze1,68 m, fãjogo do suco blazeRaul Seixas e tubaína, torcedor do Flamengo, apreciadorjogo do suco blazecamionetes e membrojogo do suco blaze23 grupos do WhatsApp, ele diz ter desenvolvido gastrite ao conviver com ameaçasjogo do suco blazemorte.
E às vezes ameaça desistirjogo do suco blazetudo e se dedicar somente à família. "Se é explorar madeira o que o meu povo quer, tudo bem."
Por força da deterioração da situação na terra indígena que um dia foi modelojogo do suco blazerecuperação sustentável, organizações internacionais articulam uma campanha, com abaixo-assinado e pedidojogo do suco blazedoações online,jogo do suco blazeque alertam para uma "situaçãojogo do suco blazeemergência" na terra dos paiter-suruís.
"Minha maior preocupação é que assassinem o meu filho. É muito difícil para mim como mãe. Ele vem trabalhando, defendendo a floresta para trabalharjogo do suco blazeforma sustentável, mas nosso próprio povo prefere o dinheiro fácil da madeira e do garimpo. Meu medo é porque sei que há pessoas contra ele e o trabalho dele. Só Deus para me aliviar. Só Deus", diz Weytanb, 88 anos, mãejogo do suco blazeAlmir.

Crédito, Maria Fernanda Ribeiro










