Tim Vickery: Como a rejeição pelas Forças Armadas9 betplena 2ª Guerra mudou a vida do meu pai:9 bet

Crédito, Eduardo Martino
Mas ele não enxergava bem o suficiente. Chegou aos 17 anos, idade da convocação, e teve que enfrentar um problema: era bastante míope e não podia ser piloto. Não podia fazer parte nem da Força Aérea, nem da Marinha, nem do Exército.
Em vez disso, fora do expediente, meu pai fazia parte do Home Guard - o famoso Dad's Army (Exército dos Pais,9 bettradução livre), uma brigada9 betdefesa civil formada principalmente por homens que eram velhos demais para as forças armadas.
Ele passava as noites atirando - o que achava pouco útil - contra os aviões alemães bombardeando Londres.

Crédito, Arquivo pessoal
Durante o dia, ele trabalhava como desenhista no arsenal9 betWoolwich, no sul9 betLondres, fazendo imagens9 betarmamentos. Não tinha talento para a função, mas não foi por causa disso que recusou um aumento.
Foi uma coisa muito dele, uma mistura9 betnobilidade, ingenuidade e teimosia, e criou uma dor9 betcabeça burocrática do nada. O que diabos fazer quando um funcionário não aceita um aumento? O sistema não está preparado para uma situação como essa.
Ele recusou - e permaneceu firme na postura - porque sentia que não estava merecendo. Enquanto a9 betgeração estava lutando, correndo risco9 betnão voltar para a casa, ele não achava justo receber um aumento. Sentia-se inútil.
Meu pai viveria mais seis décadas, mas nunca perdeu totalmente o sentimento9 betvergonha e a amargura9 betser rejeitado pelas Forças Armadas9 betum momento9 betcrise nacional. Ele cresceu9 betmeio à grande causa moral da época moderna, mas não podia ter um papel9 betdestaque.
Depois da guerra a economia melhorou e houve mais oportunidades. Até para ele, um garoto9 betfamília pobre. Ele tinha um pouco9 betescolaridade e uma mente aguda, mas, minado por uma falta9 betautoestima e um sentimento9 betnão merecimento, não aproveitou. Não sabia o que queria ser.
O seu pai era mestre9 betobras9 betuma empresa9 betmudanças, e ele conseguiu um trabalho na mesma empresa. Aprendeu sobre móveis e ganhou a vida vendendo-os numa loja. Poderia ter sido mais.

Crédito, PA
Meu pai se expressava no esporte - que na Inglaterra, naquela época, queria dizer futebol no inverno e críquete no verão. Ele era um bom atleta, o que fazia da9 betrejeição militar algo ainda mais difícil9 betengolir, e usou o esporte para provar a9 betcapacidade, talvez até para si mesmo.
Sua dedicação era claramente, e ele sabia disso, uma reação a ter sido rejeitado na guerra.
Ele era um homem misterioso e difícil9 betconhecer. Só se casou aos 40 anos - algo incomum na época -, e desconfio que foi porque estava percebendo que seu tempo como esportista chegava ao fim.
Como atleta, meu pai foi um jogador "quase": talentoso, mas não o suficiente para ser profissional. Como primeiro filho, nasci com a obrigação9 betrealizar os seus sonhos.
Garotos da classe média sofriam pressão para se destacar como alunos. Eu não. Só sofria pressão para ter um bom desempenho9 betcampo.
Não deu. Herdei o interesse, mas não o talento.

Crédito, Getty Images
Lembro-me da primeira vez que voltei para a casa do meu pai depois9 betmudar para o Brasil. Ele, que sonhava conhecer a Austrália, mas nunca foi além9 betum fim9 betsemana na Irlanda, só tinha uma pergunta a me fazer: "Você está jogando bola?".
Para explicar a importância dessa pergunta para ele, é preciso ir lá atrás e examinar o que aconteceu com ele e como isso o afetou.
A história sempre tem consequências. Essa é somente a história dele. Não é muito dramática, tem outros com relatos muito mais emocionantes. Mesmo assim, merece ser contada.
Porque ele, junto com a maioria da9 betgeração, não está mais aqui para contá-la. Para que suas vidas não caiam no esquecimento, a tarefa cabe a nós.
*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formado9 betHistória e Política pela Universidade9 betWarwick.
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