As descobertas que mudam o que sabemos da importância do tamanho do cérebro para inteligência humana:bet365 receber pix
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Fim do Matérias recomendadas
Ao observar que os seres humanos possuem cérebros maiores do que os outros primatas, ele defendeu que o desenvolvimento da inteligência humana só foi possível porque o tamanho do nosso cérebro atingiu um limite mínimo específico.
Para o gênero Homo ao qual pertencemos, ele acreditava que esse volume mínimo seriabet365 receber pixcercabet365 receber pix600 a 750 centímetros cúbicos. E, para a nossa espécie Homo sapiens, seriabet365 receber pix900 centímetros cúbicos.
Seu argumento era que qualquer cérebro com tamanho menor do que esse não teria poderbet365 receber pixcomputação suficiente para sustentar o raciocínio humano.
De fato, a espécie Homo sapiens tem cérebro maior do que as demais. Mas é cada vez mais obscuro o que isso significa.
Evidências paleoantropológicas indicam que algumas espécies, como Homo naledi e os "hobbits" da espécie Homo floresiensis, tinham comportamentos complexos, mesmo tendo cérebros razoavelmente pequenos.
Estes relatos são discutíveis, mas existem também cada vez mais evidências genéticas e neurocientíficasbet365 receber pixque o tamanho do cérebro está longebet365 receber pixser o fator decisivo para a inteligência.
Na verdade, alterações do diagramabet365 receber pixconexões do cérebro, da forma dos neurônios e atébet365 receber pixonde e quando certos genes são ligados, têm a mesma importância ou até maior.
Portanto, é fácil deduzir que o tamanho do cérebro não é tudo.
Inteligência com cérebro pequeno
É verdade que o cérebro humano é anormalmente grande. E esta constatação se mantém até quando examinamos o tamanho do cérebrobet365 receber pixcomparação com o nosso corpo.
"Os seres humanos são,bet365 receber pixlonge, os primatas com o maior cérebro", afirma o neurocientista Martijn van den Heuvel, da Universidade Livrebet365 receber pixAmsterdã, na Holanda.
Também é verdade que, se você observar os últimos seis milhõesbet365 receber pixanosbet365 receber pixevolução humana, existe uma tendênciabet365 receber pixaumento do tamanho do cérebro.
Os cérebros dos primeiros hominídeos, como o Sahelanthropus e o Australopithecus, são relativamente pequenos, mas as primeiras espécies Homo já têm cérebros maiores, até chegar ao Homo sapiens.
Mas, quando você observa os detalhes maisbet365 receber pixperto, a história não é tão simples. Existem duas espécies que se destacam pelos seus cérebros incrivelmente pequenos.
Uma delas é Homo floresiensis, também conhecida como o "hobbit" da vida real (devido ao seu porte semelhante ao dos personagensbet365 receber pixJ. R. R. Tolkien). A outra é a espécie Homo naledi. Ambas foram descobertas no século 21.
O H. floresiensis foi descrito pela primeira vezbet365 receber pix2004. Eles tinham apenas um metrobet365 receber pixaltura e viveram na ilhabet365 receber pixFlores, na Indonésia, 100 mil anos atrás. Eles foram extintos há pelo menos 50 mil anos.
O cérebro do primeiro espécime encontrado media apenas 380 cm³ – talvez atingindo 426 cm³. Este tamanho é comparável ao dos cérebros dos chimpanzés.
Ainda assim, existem fortes indicaçõesbet365 receber pixque o H. floresiensis produzia e utilizava ferramentasbet365 receber pixpedra, da mesma forma que outras espécies do gênero Homo.
Estudos iniciais também demonstraram evidênciasbet365 receber pixqueimadas, o que sugere que os hobbits podiam controlar o fogo. Mas análises posteriores sugeriram que aquelas fogueiras foram acesas há menosbet365 receber pix41 mil anos. Isso indica que elas foram feitas por humanos modernos e não pelos hobbits.
Mas as ferramentasbet365 receber pixpedra já são evidências suficientesbet365 receber pixque os "hobbits" se portavambet365 receber pixformas que são impossíveis para os chimpanzés.
Uma década depois, pesquisadores da África do Sul descreveram o Homo naledi. Seus restos foram encontrados no fundo do sistemabet365 receber pixcavernas Rising Star, que apenas exploradores experientes podem alcançar.
Como os "hobbits", os H. naledi da África do Sul tinham cérebros pequenos, mas também viverambet365 receber pixum passado recente, entre 200 mil e 300 mil anos atrás.
O líder da pesquisa, Lee Berger, e seus colegas descreveram marcasbet365 receber pixfuligem no teto das cavernas. Eles interpretaram essas marcas como evidênciasbet365 receber pixque o H. naledi tinha controle do fogo.
Acredita-se que eles possam ter acendido tochas para se mover na escuridão das cavernas profundas.
Em 2021, a equipebet365 receber pixBerger encontrou o esqueletobet365 receber pixuma criança H. naledi, que parecia ter sido colocado sobre uma formaçãobet365 receber pixprateleiras, dentrobet365 receber pixuma câmara com acesso extremamente difícil. Eles interpretaram a descoberta como um enterro proposital.
Em julho deste ano, os pesquisadores publicaram a continuação do seu estudo. Eles afirmaram que diversos esqueletos foram enterrados no piso da caverna, o que aumentaria as evidênciasbet365 receber pixcostumes funerários.
Mas este último estudo causou furor entre os paleoantropólogos. Um dos motivos foi porque Berger anunciou os resultados antes que o relatório passasse pelo processo científico comumbet365 receber pixrevisão por pares.
A divulgação incluiu o conhecido documentário da Netflix intitulado Explorando o Desconhecido: Cavernabet365 receber pixOssos (2023).
Quando outros pesquisadores fizeram a revisão do estudo, alguns foram extremamente críticos. Eles afirmaram que as pesquisas "não atendem os padrões do nosso campo" e que "está faltando uma quantidade significativabet365 receber pixinformações".
O debate sobre o comportamento e as habilidades do H. floresiensis e do H. naledi, além das suas implicações sobre o papel do tamanho do cérebro, provavelmente irá continuar nos próximos anos.
Enquanto isso, outro grupobet365 receber pixpesquisadores abordou a evolução do cérebro humanobet365 receber pixoutra forma. Em vezbet365 receber pixexaminar ossos fossilizados, eles estudam cérebrosbet365 receber pixverdade.
A anatomia da mente
A primeira observação a fazer é que, embora os seres humanos médios tenham cérebros anormalmente grandes, o tamanho realmente varia.
"Existem pacientes com cérebros menores", afirma a neurobiologista Debra Silver, da Universidade Dukebet365 receber pixDurham, na Carolina do Norte (Estados Unidos).
Pessoas com microcefalia – que têm a cabeça anormalmente pequena – costumam ter incapacidades intelectuais e outros sintomas. Mas Silver destaca que "ainda assim, são humanos".
Existem também casosbet365 receber pixque as pessoas têm grandes pedaços do cérebro faltando e exibem relativamente poucos efeitos negativos.
Claramente, algo mais está acontecendo neste processo. E uma possível razão é o diagramabet365 receber pixconexões do cérebro, conhecido como "conectoma".
O cérebro humano contém cercabet365 receber pix86 bilhõesbet365 receber pixcélulas especializadas chamadas neurônios. Elas se conectam entre si e enviam sinaisbet365 receber pixumas para as outras.
Muitos neurocientistas suspeitam que as alterações do padrãobet365 receber pixconexão são mais importantes para o desenvolvimento da cognição humana do que algo tão prosaico como o volume do cérebro.
"Até mesmo mudanças pequenas da conectividade, especialmente da conectividadebet365 receber pixlongo alcance, realmente geram profundas mudanças cognitivas ebet365 receber pixcomportamento", afirma o neurocientista Nenad Sestan, da Universidade Yalebet365 receber pixNew Haven, no Estado americanobet365 receber pixConnecticut.
Particularmente, algumas partes do cérebro humano recebem informaçõesbet365 receber pixmuitas outras regiões. Isso permite integrar diversas informações e tomar decisões adequadas.
O córtex pré-frontal, na parte da frente do cérebro, é uma dessas regiões. Sestan o chamabet365 receber pix"CEO [diretor-executivo] do cérebro".
"Um pequeno aumento desse circuito integrativo é muito benéfico para as capacidades cognitivas humanas", concorda van den Heuvel.
Em um estudo publicadobet365 receber pixmaio deste ano,bet365 receber pixequipe demonstrou que os cérebros humanos e dos chimpanzés compartilham muitos padrõesbet365 receber pixconectividade similares, mas os seres humanos apresentam conectividade mais forte entre as regiões envolvidas com a linguagem.
E estas áreas integradas do cérebro também são associadas a transtornos psiquiátricos.
Em 2019, a equipebet365 receber pixvan den Heuvel demonstrou que os padrõesbet365 receber pixconexão encontradosbet365 receber pixseres humanos, mas nãobet365 receber pixchimpanzés, são frequentemente associados ao aumento do riscobet365 receber pixesquizofrenia.
Esta conclusão indica que os seres humanos fizeram uma compensação evolutiva: maior inteligência,bet365 receber pixtrocabet365 receber pixum risco maiorbet365 receber pixproblemasbet365 receber pixsaúde mental.
Evidências como esta sugerem que o conectoma é importante. E quanto aos neurônios propriamente ditos? Os neurônios humanos são diferentes dos neurônios dos chimpanzés?
Células alteradas
"Existe um longo históricobet365 receber pixpessoas que procuram neurônios específicos no cérebro humano", segundo van den Heuvel.
Uma das primeiras tentativas foi realizada no início do século 20, pelo neurologista austríaco Constantin von Economo (1876-1931). Ele identificou neurôniosbet365 receber pixformabet365 receber pixfuso no córtex cerebral humano, às vezes denominados "neurôniosbet365 receber pixvon Economo".
Acreditou-se inicialmente que esses neurônios fossem exclusivos dos seres humanos, explica van den Heuvel, "mas foram posteriormente descobertos neurôniosbet365 receber pixvon Economobet365 receber pixoutros cérebros".
Mais recentemente,bet365 receber pix2022, Sestan e seus colegas estudaram as célulasbet365 receber pixuma parte do cérebro conhecida como córtex pré-frontal dorsolateralbet365 receber pixseres humanos, chimpanzés e macacos. E eles só conseguiram encontrar um tipobet365 receber pixcélula exclusivo dos seres humanos.
Não se tratavabet365 receber pixum neurônio, masbet365 receber pixuma célula microglial – parte do sistema imunológico do cérebro. De forma geral, as células pareciam normais, mas tinham ativado um conjunto exclusivo dos seus genes.
Sestan se preocupabet365 receber pixnão supervalorizar as descobertas.
"Não acho que isso seja fundamental", explica ele. "Não há razão para achar que as micróglias nos fornecem capacidades cognitivas."
Pode ser difícil encontrar neurônios específicos dos seres humanos, mas as proporções dos diferentes tipos celulares foram claramente alteradas ao longo da nossa evolução.
Debra Silver afirma que os neurôniosbet365 receber pixvon Economo são mais comunsbet365 receber pixseres humanos e nos grandes símios,bet365 receber pixcomparação com os outros primatas. Ela sugere que eles "podem ajudar a assumir novas tarefas".
Para compreender os neurônios modificados do cérebro humano, é preciso entender como as células crescem e se desenvolvem. Por motivos óbvios, não conseguimos estudar este processobet365 receber pixembriões vivos, mas os pesquisadores podem estudar neurônios crescendobet365 receber pixlaboratório.
Nos últimos anos, eles também cultivaram "organoides" – conjuntosbet365 receber pixcélulas que imitam a estrutura e o comportamentobet365 receber pixparte do cérebrobet365 receber pixdesenvolvimento.
Este campo produziu inúmeras descobertas, a maioria das quais ainda não é totalmente compreendida, segundo a neurobióloga do desenvolvimento Barbara Treutlein, da ETH Zurique, na Suíça. Mas existe um padrão que se destaca claramente.
"Nos seres humanos, leva mais tempo para produzir os neurônios e para que eles realmente amadureçam", explica ela. "Nos chimpanzés, os neurônios amadurecem mais rápido que nos humanos."
Treutlein relaciona cautelosamente esse lento amadurecimento dos neurônios ao tempo relativamente mais longo que os bebês humanos levam para se desenvolver,bet365 receber pixcomparação com os chimpanzés.
Mas ela também afirma que ainda não podemos traçar relações consistentes entre seus estudos sobre os neurôniosbet365 receber pixdesenvolvimento – que nunca imitam nada além do segundo trimestrebet365 receber pixgravidez – e o comportamento dos adultos humanos.
E existe mais um fator a ser considerado: o genoma humano e seus efeitos sobre o nosso cérebro.
A expressividade genética
É fato conhecido que os seres humanos e os chimpanzés compartilham 99% do seu DNA.
"Mas a questão é que não somos 1% diferentes dos chimpanzés", destaca Nenad Sestan. Evidentemente, a diferença é muito maior.
Os geneticistas identificaram trechos do genoma que são exclusivos dos seres humanos e muitos deles aparentemente têm função cerebral.
Um estudobet365 receber pix2019 examinou trechosbet365 receber pixDNA específicosbet365 receber pixseres humanos e concluiu que muitos deles afetam células conhecidamente envolvidas na expansão do cérebro.
Da mesma forma, um gene chamado SRGAP2C é exclusivo do gênero Homo. Em outro estudobet365 receber pix2019, pesquisadores expressaram esse genebet365 receber pixhominídeobet365 receber pixcamundongos e concluíram que ele alterou o conectoma dos roedores, criando conexões adicionais entre certas camadas do córtex.
"Ele muda a atividade neuronal e a morfologia dos neurôniosbet365 receber pixnívelbet365 receber pixcircuito", segundo Debra Silver.
Ao longo da evolução humana, muitos genes foram alterados.
Em fevereiro deste ano, a equipebet365 receber pixMartijn van den Heuvel publicou uma cronologiabet365 receber pix13,5 milhõesbet365 receber pixmutações específicasbet365 receber pixseres humanos, ocorridas nos últimos 5 milhõesbet365 receber pixanos – desde o surgimento do ramo Homo na árvore evolutiva.
Eles encontraram dois surtosbet365 receber pixmutações específicas dos seres humanos. O primeiro ocorreu há cercabet365 receber pix1,9 milhãobet365 receber pixanos, mais ou menos na épocabet365 receber pixque evoluiu a espécie Homo erectus. Já o segundo foi entre 1,5 mil e 62 mil anos atrás.
Muitas mutações relacionadas à cognição são relativamente novas, segundo van den Heuvel.
Não se trata apenas da sequênciabet365 receber pixDNA. Como sugeriu o estudo microglialbet365 receber pixSestan, também é questãobet365 receber pixquais genes são ligadosbet365 receber pixcada célula.
As alterações da "expressão genética" podem fornecer às células formatos e comportamentos fundamentalmente diferentes, embora o seu genoma seja o mesmo.
Aqui, a complexidade é vertiginosa.
Um estudo sobre a expressão genética realizadobet365 receber pix2021 concluiu que alguns genes importantes para o cérebro podem produzir 100 proteínas cada um, dependendo da formabet365 receber pixsua expressão.
Um gene expressobet365 receber pixseres humanosbet365 receber pixdesenvolvimento, mas nãobet365 receber pixchimpanzés, controla toda uma redebet365 receber pixoutros genes. E se acredita que estes genes estejam envolvidos no desenvolvimento do cérebro humano.
Algumas alterações da expressão genética são fascinantes. Em um estudobet365 receber pix2017, por exemplo, a equipebet365 receber pixSestan comparou a expressão genética no cérebrobet365 receber pixseres humanos, chimpanzés e macacos.
Eles concluíram que alguns neurôniosbet365 receber pixuma região do cérebro humano expressam genes envolvidos na produçãobet365 receber pixdopamina, uma substância relacionada à sensaçãobet365 receber pixrecompensa. As células equivalentes dos macacos e chimpanzés não expressam esses genes.
"Nós cultivamos esses neurônios", conta Sestan. "Eles conseguem produzir dopamina in vitro. Se isso for confirmadobet365 receber pixum cérebro real, nós, humanos, podemos produzir dopamina internamente no córtex."
E ele apresenta uma curiosa especulação sobre o possível significado dessa descoberta.
Os seres humanos conseguem sentir prazer apenas pensando e resolvendo problemas, o que pode ser uma característica única. Se tivermos neurônios corticais que produzem dopamina, eles podem ser "um sistemabet365 receber pixrecompensa apenas porque estamos pensando".
Mas Sestan destaca que, por enquanto, tudo isso é especulação.
Nós avançamos muitobet365 receber pixrelação à simples comparação do tamanho do cérebro dos diferentes primatas. Os cientistas, agora, procuram alterações das sequências genômicas, da expressão genética, do formato e comportamento das células e do diagramabet365 receber pixconexão do cérebro.
O que ainda não conseguimos é "entender como todos esses elementos interligados se tornam um sistema e esse sistema modela o nosso comportamento", explica van den Heuvel.
Barbara Treutlein e seus colegas deram um grande passo nessa direçãobet365 receber pix2019, quando publicaram um "atlas"bet365 receber pixtodas as células do cérebro humanobet365 receber pixestágio inicialbet365 receber pixdesenvolvimento.
E,bet365 receber pix2023, uma equipebet365 receber pix500 pesquisadoresbet365 receber pixtoda a Europa anunciou a conclusão do Projeto Cérebro Humano, um estudo que levou 10 anos para analisar a complexa estrutura e funcionamento do cérebro.
Um enorme projetobet365 receber pixandamento chamado Atlas das Células Humanas pretende avançar com base no conhecimento já obtido. Seus membros pretendem mapear todos os tiposbet365 receber pixcélulas do corpo humano: suas posições, formatos, expressões genéticas e muito mais.
"Existem muitos tiposbet365 receber pixcélulas no cérebro", ressalta Treutlein. O desafio será dar sentido a esse vasto conjuntobet365 receber pixdados.
Este projeto irá levar décadas, mas já é possível tirar algumas conclusões sobre a influência exercida pelo tamanho do cérebro.
"Acho que este é apenas um dos fatores", segundo Debra Silver.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.