Por que algumas rochas da Terra se parecem com asbetano palmeirasMercúrio:betano palmeiras

Mari achou que conseguiria relembrar o caminho até um restaurante, onde ele poderia reabastecer seu estômago, seu motor e a bateria do celular. Mas, ao chegar lá, tudo estava deserto.

Com um poucobetano palmeirassorte, Mari acabou chegando a outro estabelecimento, mas ele reconhece que receou perder a vida naquelas solitárias estradas montanhosas. "Calculei mal", diz ele.

Mas, felizmente,betano palmeirasmissão não foibetano palmeirasvão.

Mari é geólogo planetário da Universidadebetano palmeirasPavia, na Itália. Ele estuda como os nossos vizinhos do Sistema Solar se formaram e evoluíram. E, para obter o graubetano palmeirasPhD, ele estudou os fluxosbetano palmeiraslavabetano palmeirasMarte.

Desta vez, seus olhos estavambetano palmeirasChipre, mas voltados para Mercúrio. Seu objetivo era encontrar na ilha um certo tipobetano palmeirasrocha, chamada "boninita".

Acredita-se que esta rocha tenha notável similaridade com as encontradasbetano palmeirasMercúrio. E, se esta suposição estiver correta, pode ser uma indicação das origens únicas daquele planeta.

Primeira rocha a partir do Sol

Mercúrio é um planetabetano palmeirasextremos. Com volume total um pouco maior que o da Lua, é o menor planeta do Sistema Solar – e o mais próximo do Sol.

Mercúrio não tem atmosfera para reter calor. Ou seja, a temperatura nabetano palmeirassuperfície variabetano palmeiras400°C durante o dia até -170°C, à noite.

O planeta também tem a menor órbitabetano palmeirasqualquer planeta do Sistema Solar. O anobetano palmeirasMercúrio dura apenas o equivalente a 88 dias na Terra.

Os cientistas têm muita dificuldade para estudar Mercúrio devido àbetano palmeiraslocalização.

Um dos motivos é o calor. Para se aproximar do planeta, as espaçonaves precisam suportar temperaturas escaldantes, devido àbetano palmeirasproximidade com o Sol.

O outro motivo é a gravidade. Quanto mais perto você chega do Sol, maior é abetano palmeirasforçabetano palmeirasatração, o que aumenta a velocidade da espaçonave. Com isso, manobras delicadas passam a ser muito mais difíceis.

Para evitar viajar rápido demais, a espaçonave pode seguir uma rota mais complexa, fazendo uma sériebetano palmeirasdesviosbetano palmeirastornobetano palmeirasoutros planetas, o que ajuda a reduzir a velocidade. Mas ela ainda precisabetano palmeirasmuito combustível para desacelerar e manter o controle dos seus movimentos.

"Do pontobetano palmeirasvista da trajetória, provavelmente é mais difícil chegar lá do quebetano palmeirasJúpiter", afirma Ignacio Clerigo, gerentebetano palmeirasoperaçõesbetano palmeirasespaçonaves da BepiColombo, a atual missão da Agência Espacial Europeia para Mercúrio. O trabalhobetano palmeirasMari vem ao encontro deste projeto.

Todas estas dificuldades fizeram com que Mercúrio tenha sido menos estudado do que os outros planetas vizinhos.

Mas duas missões anteriores – a Mariner 10 e a Messenger – chegaram suficientemente perto do planeta para mapearbetano palmeirassuperfície, pontilhadabetano palmeirascrateras. Elas revelaram grandes surpresas sobrebetano palmeirasestrutura.

Uma dessas surpresas foi o núcleo do planeta. Todos os outros planetas rochosos – Vênus, Terra e Marte – possuem um núcleo relativamente pequeno, rodeado por um espesso manto compostobetano palmeirasmagma e uma crosta endurecida.

Mas a crostabetano palmeirasMercúrio parece ser surpreendentemente fina, enquanto seu núcleo é inesperadamente grandebetano palmeirascomparação com o manto. "É absurdo", segundo Mari.

Outra descoberta ainda mais inesperada trazida pelas missões é que Mercúrio é rodeado por um campo magnético.

Combinado combetano palmeirasdensidade, ele sugere que o planeta tem um núcleobetano palmeirasferro – que pode ser parcialmente líquido, como o núcleo da Terra.

Para aumentar ainda mais o mistério, a proporçãobetano palmeirassubstâncias químicas na superfíciebetano palmeirasMercúrio é altamente incomum.

Usando uma técnica conhecida como espectrometria para analisar a composição química do planeta à distância, os cientistas descobriram que Mercúrio possui concentraçãobetano palmeirastório muito mais alta que os seus vizinhos mais próximos.

O tório deveria ter evaporado no calor extremo do início do Sistema Solar. Mas o teorbetano palmeirastóriobetano palmeirasMercúrio é mais próximo do nívelbetano palmeirasMarte (a três planetasbetano palmeirasdistância), que teria se formado sob temperaturas mais baixas, devido àbetano palmeirasdistância do Sol.

Essas anomalias levaram alguns cientistas planetários a imaginar que Mercúrio tenha se formado originalmentebetano palmeirasum ponto mais distante do Sol, pertobetano palmeirasMarte.

E que teria começado com uma massa muito maior, aproximadamente do tamanho da Terra, o que justificaria seu grande núcleo.

Mas a hipótese é que,betano palmeirasalgum ponto da história, Mercúrio tenha colidido com outro corpo planetário que o deslocou, fazendo com que ele girassebetano palmeirasdireção ao Sol. Esta colisão pode ter arrancadobetano palmeirascrosta e boa parte do seu manto, deixando o enorme núcleo líquido do planeta.

"O Mercúrio que vemos hoje pode ser apenas a semente do planeta que ele foi um dia", segundo Mari.

Rochas alienígenas

A melhor formabetano palmeiraspesquisar esta teoria seria analisar amostrasbetano palmeirasrochas da crostabetano palmeirasMercúrio ou perfurar seu manto. Mas nenhuma sonda conseguiu pousar na superfície do planeta até hoje, o que leva os cientistas na Terra a buscarem outras fontesbetano palmeirasinformação.

Algumas indicações podem virbetano palmeirasuma classebetano palmeirasmeteoritos conhecidos como aubrites. Seu nome vem da comuna francesabetano palmeirasAubres, onde eles foram encontrados pela primeira vez.

Estas rochas têm composição química similar àbetano palmeirasMercúrio e alguns cientistas chegaram a imaginar que elas podem ser fragmentos da colisão que levou o planeta àbetano palmeirasposição atual no Sistema Solar.

A ideia é tentadora, mas Mari é cético. Ele conta que as evidências já descobertas indicam que os aubrites vêmbetano palmeirasasteroides que se formaram na mesma região da nebulosa solar que Mercúrio, mas que nunca fizeram parte do planeta.

Uma linha alternativabetano palmeirasevidências pode vir dos "análogos geoquímicos", que são rochas formadas na Terra que apresentam boa semelhança com as estruturas encontradasbetano palmeirasoutros planetas.

Afinal, nosso conhecimento dos processos geológicos da Terra é muito melhor e podemos usar esse conhecimento para desenvolver teorias sobre a formação dos nossos parceiros do Sistema Solar.

Este foi o objetivo da missãobetano palmeirasMari para Chipre. Segundo os dados geológicos disponíveis, aquele local era o mais viável para encontrar a composição específica que ele estava buscando.

Quando saiu nabetano palmeirasjornada pelas montanhas desertas, Mari se sentiu um "Indiana Jones moderno", conta.

Chipre é um pedaçobetano palmeirascrosta formado sob o Marbetano palmeirasTétis, maisbetano palmeiras90 milhõesbetano palmeirasanos atrás. Com a colisão das placas tectônicas, ele acabou sendo lançado à superfície, onde se transformou na ilha que conhecemos hojebetano palmeirasdia.

O cenário traz uma sensaçãobetano palmeirasoutro planeta até hoje, segundo Mari, com suas rochas esverdeadas e ricasbetano palmeirasminerais.

"Em certas regiões das montanhasbetano palmeirasChipre, é como se você ainda estivesse andando sobre um leitobetano palmeirasoceano antigo", afirma ele.

Durantebetano palmeirasbusca, Mari encontrou os pedaçosbetano palmeiraslava específicos que procurava, conhecidos como boninitas.

Ele voltou para casa e, trabalhando com seus colegas da Nasa e do Museubetano palmeirasCiências Planetárias da Itália, ele analisou a composição das rochas, comparando com as mediçõesbetano palmeirasMercúrio. Os resultados o deixaram perplexo.

"Eles não eram apenas similares; eram idênticos."

A misturabetano palmeiraselementos como magnésio, alumínio e ferro era a mesma observada no misterioso planeta com seu enorme núcleo.

A única diferença era que as rochasbetano palmeirasChipre haviam se oxidado – o que é inevitável, considerando a atmosfera da Terra, ricabetano palmeirasoxigênio.

As rochasbetano palmeirasboninita são o primeiro análogo terrestre verdadeirobetano palmeirasMercúrio, segundo Mari. Elas fornecem dados adicionais preciosos para nossa compreensão daquele planeta. E estudos adicionais podem revelar indicações sobre a atividade geológica do passadobetano palmeirasMercúrio.

Sabemos que as boninitas cipriotas se formaram com a lavabetano palmeiraserupçõesbetano palmeirasum ponto raso da crosta da Terra. Por isso,betano palmeirassemelhança quase perfeita com as rochasbetano palmeirasMercúrio sustenta a ideiabetano palmeirasque o manto daquele planeta fica anormalmente perto da superfície, segundo Mari.

E esta conclusão é consistente com uma origem violenta que tenha soprado para longe boa parte da crosta originalbetano palmeirasMercúrio.

Viagens futuras

As descobertasbetano palmeirasMari são uma peçabetano palmeirasum quebra-cabeça muito grande.

Muitos outros conhecimentos podem vir da missão BepiColombo, realizadabetano palmeirascolaboração entre o Japão e a Agência Espacial Europeia, que foi lançadabetano palmeirasoutubrobetano palmeiras2018.

Seu nome é uma homenagem ao matemático e engenheiro italiano Giuseppe (Bepi) Colombo (1920-1984). Entre outras coisas, ele ajudou a planejar o complicado trajeto da espaçonave Marine 10.

Cumprindobetano palmeirasrota sinuosa até Mercúrio, a BepiColombo já se aproximou três vezes do planeta. Estas aproximações fazem parte da estratégiabetano palmeirasreduzirbetano palmeirasvelocidade.

A espaçonave farábetano palmeirasúltima aproximaçãobetano palmeiras2025, quando irá se dividirbetano palmeirasdois veículos orbitais. Um deles irá medir o campo magnético e o outro irá estudar a superfície e a composição internabetano palmeirasMercúrio.

Mari afirma quebetano palmeiraspesquisa sobre análogos geoquímicos pode ser relevante para estes estudos, pois ela poderá servirbetano palmeirasreferência para algumas dessas medições.

"As mediçõesbetano palmeiraslaboratóriobetano palmeirasanálogos a Mercúrio nos ajudam a interpretar melhor os resultados das medições que obtivemos com nossos espectrômetros infravermelhos e infravermelhos térmicos, alémbetano palmeirasalgum tipobetano palmeirasespectrômetrobetano palmeirasraio X", explica Johannes Benkhoff, cientistabetano palmeirasprojetos da BepiColombo.

Por um ano após a chegada, os veículos orbitais tomarão medições mais precisas da composição mineralbetano palmeirasMercúrio,betano palmeirastopografia ebetano palmeirasestrutura interna.

Comparando esses dados com as missões passadas, os cientistas poderão até determinar se o planeta ainda está geologicamente "vivo".

Existem depressões na superfície que parecem ter sido formadas pela evaporaçãobetano palmeirasmaterial do interiorbetano palmeirasMercúrio, mas não sabemos ao certo se este processo ainda está ativo.

Tomadasbetano palmeirasconjunto, essas medições podem finalmente nos permitir chegar ao fundo das misteriosas origensbetano palmeirasMercúrio – e, por extensão, elas podem nos ensinar muito mais sobre o nosso próprio lugar no cosmos.

"As questões sobre a alta densidadebetano palmeirasMercúrio e por que o seu núcleo é tão grande são muito importantes para entendermos a formação e a história do nosso Sistema Solar", explica Benkhoff.

"A espaçonave tem um conjunto completobetano palmeirascarga e instrumentos e esperamos que eles realmente façam avançar o nosso conhecimento científico."

Antes mesmo da chegada da missão, muitas das nossas impressões sobre o primeiro planeta a partir do Sol já foram alteradas.

"Quinze anos atrás, Mercúrio era considerado um planeta monótono", afirma Benkhoff. "Mas espero encontrar muitas outras surpresas."

Para Nicola Mari, Mercúrio é apenas o princípio.

"Em Lanzarote [ilhas Canárias], encontramos lava similar ao mantobetano palmeirasMarte. E, para encontrar traçosbetano palmeirasVênus, estamos pesquisando a Sicília [Itália], o Havaí, a Indonésia e Kamchatka, na Rússia."

Quando a BepiColombo iniciar plenamente suas operações científicas, o que está previsto para ocorrerbetano palmeiras2026, poderemos entender melhor o quanto essas rochas da Terra podem nos contar sobre os nossos vizinhos do Sistema Solar.

Alessia Franco é escritora e jornalista especializadabetano palmeirashistória, cultura, sociedade, narraçãobetano palmeirashistórias e seus efeitos sobre as pessoas.

David Robson é um escritorbetano palmeirasciências premiado. Seu próximo livro (em inglês) chama-se As Leis da Conexão: A Ciência Transformadorabetano palmeirasSer Social, a ser publicadobetano palmeirasjunhobetano palmeiras2024 pela editora Canongate (no Reino Unido) e pela Pegasus Books (nos Estados Unidos e no Canadá). Sua conta no X (antigo Twitter) é @d_a_robson. Ele também pode ser encontrado com o nome @davidarobson no Instagram e no Threads.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Innovation.