Embaixadas e até empresas da Lava Jato: como Brasil tenta recuperar o prejuízo na África:boa casino
Crédito, Ricardo Stuckert/Presidência da República
Entre elas, gigantes investigadasboa casinocasosboa casinocorrupção pela Operação Lava Jato.
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Tempo 'perdido'
"O Brasil está correndo atrás do espaço que perdeu nos últimos 10 anos", diz o professorboa casinopolítica e história africana do Institutoboa casinoRelações Internacionais (IRI) da Pontifícia Universidade Católica do Rioboa casinoJaneiro (PUC Rio), Alexandre dos Santos.
Segundo ele, a crise política que afetou o Brasil desde 2013, o escândalo da Lava Jato – que implicou empreiteiras que mantinham negócios com países africanos –, e a política internacional do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fizeram com que o Brasil passasse por um momentoboa casinoretração nas suas relações com o continente.
Crédito, Ricardo Stuckert/Presidência da República
"Isso aconteceu, mais especificamente, nas duas administrações passadas. Tanto [Michel] Temer quanto [Jair] Bolsonaro relegaram o continente a uma área do planeta sem importância", afirma o professor.
Durante o mandatoboa casinoBolsonaro, por exemplo, o governo fechou duas embaixadas no continente africano sob o argumentoboa casinoreduçãoboa casinogastos.
No vácuo supostamente deixado pelo Brasil, a China, principalmente, passou a ocupar o espaçoboa casinopaíses como Angola e Moçambique.
Outro país que também passou a ocupar espaços na região foi a Índia, especialmente na porção leste do continente.
Dados da Agência Brasileiraboa casinoPromoção à Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) mostram que,boa casino2003, o Brasil era o 16º principal exportador para a África enquanto a China ocupava a 7ª posição.
Em 2022, a China tinha subido seis posições e se tornou o maior exportador para a África. O Brasil, no entanto, subiu apenas uma posição.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) obtidos pela BBC News Brasil reforçam esse movimento.
Em 2022, o Brasil exportou US$ 12,8 bilhões (cercaboa casinoR$ 62 bilhões) ao continente africano. O valor corresponde a um aumentoboa casino35%boa casinorelação a 2021, mas, quando comparado ao que o país exportavaboa casino2011 (US$ 12,2 bilhões), por exemplo, o montante praticamente não cresceu.
Crédito, Getty Images
"As exportações do Brasil cresceram muito nos últimos anos, mas quando a gente analisa a relação com a África, os números mostram que elas patinaram", disse a secretáriaboa casinoComércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres.
Ela é uma das responsáveis por tentar alavancar o fluxo comercial do Brasil com o mundo.
Aindaboa casinoacordo com o MDIC, a participação da África no total do que o Brasil exporta éboa casino3,82%. Ou seja:boa casinocada US$ 100 que o Brasil vende para o exterior, apenas US$ 3,82 foram comprados por países africanos.
Essa estaganação no volumeboa casinovendas brasileiras aconteceu ao mesmo tempoboa casinoque o continente se transformouboa casinouma das regiões que mais crescem no planeta.
Dados do Banco Africanoboa casinoDesenvolvimento apontam que a expectativa éboa casinoque a África seja a segunda região com o maior crescimento econômico do mundo, atrás apenas da Ásia.
A projeção éboa casinoque o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, somaboa casinotodas as riquezas geradas) do continente chegue a 4,3%boa casino2024.
Aindaboa casinoacordo com o relatório,boa casinotornoboa casino22 países do continente deverão crescer acimaboa casino5%. Para efeitoboa casinocomparação, a expectativa éboa casinoque a economia brasileira cresça 2,1%boa casino2024, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Competitividade e legado da Lava Jato
Tatiana Prazeres diz que há uma combinaçãoboa casinofatores que ajuda a explicar a dificuldade do Brasilboa casinoampliar suas relações comerciais com a África.
Um deles é a diminuição da competitividade da economia brasileiraboa casinocomparação com a chinesa.
"O Brasil é menos competitivoboa casinoprodutos industrializados do que era no passado. Outros países ocuparam o espaço que o Brasil tinha", afirma.
Crédito, Fernando Frazão/Agência Brasil
Outro ponto mencionado por ela foi o impacto do fim da polêmica linhaboa casinofinanciamentoboa casinoexportaçãoboa casinoobrasboa casinoinfraestrutura mantida pelo governo brasileiro por meio do Banco Nacionalboa casinoDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES) durante anos.
De acordo com o banco, entre 1998 e 2017, foram emprestados US$ 10,5 bilhões (R$ 51 bilhões) para financiar obras no exterior.
Tatiana explica que, por meio dessa linha, empreiteiras brasileiras obtinham financiamento junto ao banco brasileiro para executarem obrasboa casinoinfraestruturaboa casinopaíses na África e América Latina.
Para executar essas obras, no entanto, as empresas, muitas vezes, eram obrigadas a importar maquinário do Brasil, o que tinha impacto no volume e na qualidade das exportações brasileiras para o continente.
Isso acontece porque esse tipoboa casinoproduto tem maior valor agregado do que alimentos e commodities que hoje compõem a maior parte das exportações do país ao continente.
A partirboa casino2014, no entanto, esse tipoboa casinofinanciamento entrou na mira das investigações da Operação Lava Jato, que apurou um esquemaboa casinopagamentoboa casinovantagens indevidas a agentes políticosboa casinodiversos paísesboa casinotrocaboa casinocontratos muitas vezes bilionários.
Crédito, BBC Brasil
Angola foi o principal destino desses recursos: US$ 3,2 bilhões. Empreiteiras brasileiras como a Odebrecht construíram estradas e usinas hidrelétricas espalhadasboa casinodiversas partes do país.
Executivosboa casinoempreiteiras como a Odebrecht admitiramboa casinoacordosboa casinocolaboração premiada que pagaram propina a agentes políticosboa casinotrocaboa casinocontratos internacionaisboa casinopaíses na América Latina como Brasil, Peru e Argentina, e também da África como Angola e Moçambique.
Segundo o acordo feito por executivos da Odebrecht junto ao Departamentoboa casinoJustiça dos Estados Unidos, entre 2006 e 2013, a empresa pagou US$ 50 milhõesboa casinopropinas a agentes políticosboa casinoAngolaboa casinotrocaboa casinocontratos.
Em Moçambique, o valor pagoboa casinopropinas, segundo os delatores da Odebrecht, foiboa casinoUS$ 900 mil.
Procurada pela BBC News Brasil, a Odebrecht afirmou que seus executivos estavam no Brasil mantendo reuniões bilaterais, mas não respondeu a questionamentos enviados.
Lula foi alvoboa casinotrês ações penais envolvendo supostas irregularidades envolvendo países africanos. Ele foi acusadoboa casinoter feito lobby para que uma empresa pertencente a um sobrinho fosse contratadaboa casinouma obraboa casinoAngola.
Em outro caso, foi acusadoboa casinoter influenciado a mudançaboa casinolinhasboa casinofinanciamento do BNDES que favoreceram a Odebrecht.
Em um terceiro processo, ele foi acusadoboa casinoter feito lobby para uma empresa que queria se estabelecer na Guiné Equatorial. Lula sempre negou ter praticado irregularidades.
Em todos os casos, os processos contra o petista foram trancados pela Justiça Federal.
Em meio à pressão política gerada pelas revelações feitas pela Lava Jato, o BNDES suspendeu a linhaboa casinofinanciamentoboa casinoexportaçãoboa casinoserviçosboa casino2016.
'Vamos voltar a fazer financiamento para países africanos'
Tatiana Prazeres afirma que o fim do financiamento das exportaçõesboa casinoserviçosboa casinoengenharia brasileiros pode ter impactado a vendaboa casinobens manufaturados brasileiros para a África.
"Em algum grau isso também afeta nossas exportaçõesboa casinobens, porque por muitas vezes, exportaçãoboa casinoserviços está atrelada à exportaçãoboa casinobens", explica.
Ela diz, no entanto, que o assunto dependeboa casinouma decisão política que cabe a instâncias superiores.
Crédito, Ricardo Stucket/Presidência da República
Em seu discurso a empresáriosboa casinoLuanda, Lula prometeu que o Brasil voltará a fazer financiamentosboa casinoAngola, apesar das polêmicas dos anos anteriores.
"Vamos voltar a fazer financiamento para os países africanos. Vamos voltar a fazer investimentos para Angola que é um bom pagador das coisas que o Brasil investiu aqui", disse Lula, sem mencionar a partirboa casinoquando isso poderia voltar a acontecer.
O assunto foi discutidoboa casinouma reunião privadaboa casinoLuanda entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e um grupoboa casinoempresários, incluindo executivos da Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Novonor, grupo que controla a Odebrecht Engenharia e Construção (OEC).
Na reunião, os empresários disseram que estariam perdendo oportunidadesboa casinonegócios no continente africano por conta da faltaboa casinolinhasboa casinofinanciamentoboa casinoexportaçãoboa casinoserviço.
À BBC News Brasil, Haddad disse que pediu aos empresários para formalizarem suas demandas e para que também acionassem o Congresso Nacional.
Segundo ele, os empresários afirmaram que eles estariam recorrendo a financiamentosboa casinobancos estrangeiros e que esses contratos os obrigam a importar equipamentos dos paísesboa casinoonde partem os financiamentos e não do Brasil.
“O ambiente no Brasil sobre isso é delicado e eles precisam explicar ao país e aos parlamentares o queboa casinofato está afetando a vida deles para que esse debate seja pública e possa ser feito à luz do dia”, disse o ministro.
“Tem empresa brasileira abrindo filial na Alemanha para ter acesso a linhaboa casinocrédito e contratar os bens alemães para fazer serviçosboa casinoAngola. Eu disse que é importante que eles, empresários, expliquem isso, porque pode dar a impressãoboa casinoque é uma coisa ideológica e não pragmática”, acrescentou.
Oficialmente, o BNDES vem afirmando que as operaçõesboa casinofinanciamento à exportaçãoboa casinoserviços feitas pelo banco "estão sob análiseboa casinodiversas autoridades legais".
Membros do governo e do BNDES discutem mecanismos para a retomada desses financiamentos.
Empresas da Lava Jato na comitiva presidencial
A promessaboa casinoLula acontece nove anos depois do início da Operação Lava Jato.
E a listaboa casinoempresas convidadas a participarboa casinoum evento organizado para marcar a retomada da proximidade entre Brasil e Angola tem pelo menos cinco companhias que foram alvo da investigação.
A lista previa a participaçãoboa casinoexecutivos da JBS, Marfrig, Odebrecht Engenharia e Construção (OEC), Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão.
As três últimas são empreiteiras cujos executivos fizeram acordosboa casinocolaboração premiadaboa casinoque admitiram terem pago propinaboa casinotrocaboa casinocontratos.
A JBS é uma empresa que atua no ramoboa casinoprocessamentoboa casinoproteína animal e pertence ao grupo J&F, que foi liderado pelos empresários Joesley e Wesley Batista.
Eles e outros executivos do grupo fizeram acordosboa casinocolaboração premiada no qual confessaram terem pago vantagens indevidas a políticos.
Crédito, Reuters
A Marfrig também atua no segmentoboa casinofrigoríficos.
Em 2018, um dos executivos do grupo firmou um acordoboa casinocolaboração premiada no qual ele se comprometeu a pagar R$ 100 milhões às autoridades por ter tido acesso a financiamentos públicos após o pagamentoboa casinovantagens indevidas.
A BBC News Brasil entrouboa casinocontato com todas as empresas citadas.
Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão disseram que não iriam se manifestar. JBS e Marfrig não responderam a pedidoboa casinoposicionamento.
Prioridades
Tatiana Prazeres, do MDIC, afirma que o plano do Brasil para retomar espaços perdidos nos últimos anos vai incluir uma sérieboa casinoeventos empresaraisboa casinosetores que vão do agronegócio à indústriaboa casinodefesa.
Além disso, o governo estuda firmar acordos com países africanos para facilitar investimentosboa casinoempresas brasileiras no continente.
Diplomatas brasileiros com quem a BBC News Brasil conversouboa casinocaráter reservado afirmam que o país deverá abrir mais embaixadas no continente africano nos próximos anos.
Uma nova embaixada, possivelmenteboa casinoRuanda, será aberta. Outras duas representações que haviam sido fechadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro deverão ser reabertas. Elas ficariam na Libéria eboa casinoSerra Leoa.
