PIB sobe 1,4% no 2º tri: por que economia cresce, desemprego cai, mas percepção do brasileiro segue negativa?:bwine f7

Trata-sebwine f7mais um resultado positivo para a atividade econômica, após uma altabwine f71% do PIBbwine f7janeiro a março,bwine f7relação ao trimestre anterior (o dado foi revisado,bwine f70,8% divulgado anteriormente).

E isso apesarbwine f7o segundo trimestre ter sido marcado pelas enchentes no Rio Grande do Sul, que tiveram início no fimbwine f7abril.

Na semana passada, o IBGE também informou que a taxabwine f7desemprego no trimestre encerradobwine f7julho recuou para 6,8%, com 7,4 milhõesbwine f7desocupados. Este é o menor nívelbwine f7desemprego registrado para o período desde o início da série histórica do instituto,bwine f72012.

Diante das repetidas surpresas positivas na atividade, economistas têm revisado para cima suas projeções para o PIBbwine f72024.

Segundo o boletim Focus do Banco Central, os analistas começaram o ano esperando um avançobwine f71,6% para a economia este ano e, no levantamento mais recente (de 2/9), a mediana das projeções já estavabwine f7quase 2,5%.

Após a divulgação do PIB nesta terça-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo deve elevarbwine f7projeção para o crescimento da economia no ano, dos atuais 2,5%, para algo como 2,7% ou 2,8%, o que pode levar a uma projeção mais altabwine f7receitas no Orçamento do próximo ano.

Essa melhora no desempenho da economia, no entanto, não parece estar chegando à percepção das pessoas.

A pesquisa AtlasIntelbwine f7avaliação do governo Luiz Inácio Lula da Silva mais recente (divulgadabwine f728/8) mostrou, por exemplo, que para 47% dos entrevistados a situação atual da economia é ruim, contra 33% que consideram boa. Outros 21% acham que a situação econômica está "normal".

O resultado é similar à pesquisa divulgada pela Genial Quaestbwine f7julho, que mostrou que para 36% dos entrevistados a economia do Brasil piorou nos últimos 12 meses, ante 28% que avaliam que melhorou e 32% que dizem que ficou igual.

Mas o que explica essa discrepância entre os dados e a percepção da população? Conversamos com três economistas e um cientista político sobre isso.

Destaques do PIB do 2º trimestre

Na ponta da oferta, os destaques do PIB do segundo trimestre foram as altas do setorbwine f7serviços (1%) e da indústria (1,8%), enquanto a agropecuária registrou quedabwine f72,3%, semprebwine f7relação ao trimestre anterior.

Já na ponta da demanda, as maiores altas ficaram por conta do investimento (2,1%) e do consumo das famílias (1,3%), enquanto o consumo do governo cresceu 1,3%.

No setor externo, a alta das importações (7,6%) superou a das exportações (1,4%), também um sinal da demanda interna aquecida.

Para Rodolfo Margato, vice-presidentebwine f7pesquisa econômica da XP Investimentos, o mercadobwine f7trabalho aquecido – com desempregobwine f7baixa e rendabwine f7alta – é o principal motivo por trás do bom desempenho do setorbwine f7serviços e do consumo das famílias no segundo trimestre.

"Eu também destacaria a recuperação do mercadobwine f7crédito, com um aumento das concessõesbwine f7crédito tanto para pessoas físicas, quanto para pessoas jurídicas, alémbwine f7um recuo, ainda que moderado, do comprometimentobwine f7renda das famílias com serviços da dívida", diz o economista.

A melhora das condiçõesbwine f7crédito também contribuiu para a retomada dos investimentosbwine f7ativos fixos, que caíram 3% no anobwine f72023, mas avançaram 3,8% bwine f7 no primeiro trimestre e voltaram a crescerbwine f7abril a junho.

"Além da melhora do crédito, essa recuperação do investimento se deve também a uma recuperação da fabricaçãobwine f7caminhões, que por questões regulatórias havia contraído bastante ano passado."

Em 2023, a produçãobwine f7caminhões despencou quase 40%,bwine f7meio à migração do setor para um padrãobwine f7motor menos poluente (o Euro 6), mas mais caro. Diante da perspectiva da mudança, o mercado antecipou comprasbwine f72022, o que elevou fortemente a produção naquele ano, derrubando no seguinte.

Além da produçãobwine f7caminhões, a construção civil – puxada pelo mercado imobiliário e por obrasbwine f7infraestrutura dos governos regionais – também contribuiu para o bom desempenho do investimento no trimestre, observa Margato.

Já a queda no agro vem depoisbwine f7uma altabwine f711,1%bwine f7janeiro a março (o dado foi revisadobwine f75,9% divulgados antes) e refletebwine f7grande medida a sazonalidade do setor, que costuma concentrar a maior partebwine f7sua produção no primeiro trimestre.

Projeçõesbwine f7alta para o PIBbwine f72024

Um dos fatores que surpreendeu este ano foi o fatobwine f7as enchentes do Rio Grande do Sul não terem tido um impacto tão negativo sobre os dados gerais da economia brasileira bwine f7 quanto inicialmente esperado, observa Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileirobwine f7Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

"O governo respondeu rapidamente [às enchentes no Sul] com políticas e o resto do país continuou crescendo forte", diz Matos.

A economista começou o ano esperando altabwine f71,4% para o PIBbwine f72024 – após avançobwine f72,9%bwine f72023 – e agora projeta um crescimentobwine f72,3% para este ano.

Outro elemento surpreendente é o mercadobwine f7trabalho, avalia Margato, da XP, que elevoubwine f7projeção para o PIB este anobwine f71,8% no início do ano, para 2,7%.

"Acredito que poucos economistas imaginavam uma taxabwine f7desemprego abaixobwine f77%bwine f7meadosbwine f72024 e a massabwine f7renda [soma dos rendimentosbwine f7toda a população ocupada no país] deve crescer entre 6,5% e 7% até o fechamentobwine f72024, muito acima da nossa estimativabwine f74,5% feita no início do ano", destaca.

Ele observa que a alta da renda vem tanto do reajuste do salário mínimo no início do ano, quantobwine f7correções acima da inflação que vêm sendo obtidas por diversas categorias nas negociações salariais.

Para Leonardo Costa, do ASA (antiga ASA Investments), a resiliência do setorbwine f7serviços – grande empregador da economia brasileira atual – também é uma das surpresas da economiabwine f72024.

O ASA começou o ano projetando uma altabwine f72,2% para o PIBbwine f72024 e havia revisadobwine f7estimativa para 2,5% antes da divulgação do PIB do segundo trimestre.

"O setorbwine f7serviços sofreu bastante com a pandemia, estava patinando, andandobwine f7lado", lembra.

"Mas, no ano passado, já foi bastante forte, com as pessoas após a pandemia com um desejo maior por consumir serviços e ter experiências, o que vemos pelos shows lotados, por exemplo. Imaginávamos que isso ficaria mais restrito a 2023, mas 2024 ainda mostra demanda forte."

Silvia Matos, do Ibre-FGV, observa ainda que a atividade este ano também teve um forte impulso fiscal – isto é, a partirbwine f7gastos do governo.

O maior impulso vem dos R$ 90 bilhõesbwine f7precatórios (dívidas da União já reconhecidas pela Justiça, sem possibilidadebwine f7novos recursos) que começaram a ser pagos no fim do ano passado, após o Supremo Tribunal Federal declarar inconstitucional medida que postergava o pagamento dessas dívidas para 2027.

Também o Bolsa Família turbinado, com benefício mínimobwine f7R$ 600, e o reajuste do salário mínimo acima da inflação – que impacta aposentadorias e benefícios sociais como o Benefíciobwine f7Prestação Continuada (BPC, salário mínimo pago a idosos e pessoas com deficiênciabwine f7baixa renda) – ajudaram a impulsionar a capacidadebwine f7consumo das famílias este ano.

Matos diz ainda que era esperada uma desaceleração no agro este ano, após a safra recordebwine f72023, mas que essa perdabwine f7ritmo não foi tão forte quanto antecipado. Também o cenário internacional foi menos adverso do que o previsto.

Margato cita também a possibilidade – já discutida há algum tempo pelos economistas –bwine f7que a capacidade potencialbwine f7crescimento da economia brasileira tenha aumentado nos últimos anos, graças a reformas como a trabalhista, da Previdência e mudanças microeconômicas feitas para melhorar o ambientebwine f7negócios.

Por que população está insatisfeita?

Para Margato, da XP, a resposta pode estar na inflação – o que faz sentido, considerando que 63% dos entrevistados na pesquisa Genial Quaestbwine f7julho avaliavam que o poderbwine f7compra dos brasileiros é hoje menor do que um ano atrás, contra 21% que diziam ser maior e 14% que consideravam igual.

"É verdade que a inflação corrente está relativamente bem comportada, ainda que a nossa projeção sejabwine f74,4% para [o IPCA, índice oficialbwine f7inflação do país] esse ano, mas nos últimos anos a inflação foi alta, especialmente após o choque da pandemia", diz o economista da XP.

"Períodosbwine f7inflação alta acabam diminuindo o poderbwine f7compra das famílias e, mesmo com uma recuperação nos períodos seguintes, aquelas marcas da inflação alta ficam."

Silvia Matos, do Ibre-FGV, observa ainda que, embora emprego e renda estejam crescendo, muitos dos empregos que estão sendo criados não sãobwine f7qualidade – o que fica evidente pela taxabwine f7informalidade da economia brasileira ainda próxima a 40%.

"Empregos e salários crescem, mas parece que não crescem o tanto que as pessoas esperariam, e há também muita volatilidadebwine f7renda entre informais e trabalhadores por conta própria", diz Matos.

"Há um certo desencantamento, que leva as pessoas a quererem soluções mágicas, porque parte da sociedade tem uma frustração, mesmo com o crescimento."

Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria, observa que essa dissonância entre economiabwine f7crescimento e percepção negativa da população não ocorre só no Brasil, mas tambémbwine f7outros países, como os Estados Unidos.

Segundo ele, isso está relacionado com a polarização políticabwine f7ambas as sociedades e também com a prevalência das redes sociais como principal formabwine f7a população se informar atualmente.

"A radicalização alimenta leituras muito distintasbwine f7relação ao desempenho do governo e dos eventos políticos", diz Cortez.

"Então, a despeito do desempenho do governo na economia, há uma rejeição pessoal ao presidente Lula que dificulta essa transmissão entre melhoria do crescimento econômico e popularidade."

Com as redes sociais, as pessoas acabam consumindo produtos e informações para reafirmar suas leituras do mundo, diz o cientista político, o que é reforçado pelo algoritmo e faz com que a ideiabwine f7livre informação vá perdendo força.

"A política da rede social é a política encurtada – a pessoa não vê o debate, ela vê o corte – e aí esse arsenalbwine f7informação que chega na cabeça do eleitor nem sempre ajuda a entender a relaçãobwine f7causalidade que é chave para a ideiabwine f7premiar [os governantes] pelo bom desempenho do governo. As redes sociais são perversas nesse sentido."

E o que esperar para a economia à frente?

Os três economistas ouvidos pela BBC News Brasil são unânimes na avaliaçãobwine f7que, apesar do desempenho surpreendente da economia no primeiro semestre, a atividade deve perder força na segunda metade do ano ebwine f72025.

Segundo Silvia Matos, do Ibre-FGV, houve uma concentraçãobwine f7estímulos no início do ano, com os precatórios, o aumento do salário mínimo e a antecipação do 13º dos aposentados.

Além disso, há uma piora nas condições financeiras, com aumento dos jurosbwine f7mercado e desvalorização cambial, o que torna o ambiente menos propício ao investimento e ao consumo.

Leonardo Costa, do ASA, e Rodolfo Margato, da XP, preveem ainda que o Banco Central deve reiniciarbwine f7breve o aperto monetário, elevando gradualmente a taxa básicabwine f7juros para manter a inflação na meta (que ébwine f73% para este ano, com margembwine f7tolerânciabwine f71,5 ponto percentual), diante da resiliência da economia, da piora do câmbio e do aumento da percepçãobwine f7risco.

"A gente imagina que o BC voltará a subir jurosbwine f7setembro, começando com 0,25 ponto percentual e um ciclo totalbwine f71,5 ponto, levando a Selic dos atuais 10,5% para 12% no começo do ano que vem. Com isso, o PIB do ano que vem desacelera", diz Costa, que vê uma altabwine f71,5% para o PIBbwine f72025.