Cuba: 4 razões que explicam a histórica emigração da ilha aos EUAibis sport club2022:ibis sport club

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A grande maioria dos cubanos que têm emigrado para os Estados Unidosibis sport club2022 o fazemibis sport clubforma ilegal e arriscando suas vidas.
O mais comum é voar para a Nicarágua, onde os cubanos não precisamibis sport clubvisto, e acompanhar guias clandestinos por milharesibis sport clubquilômetros atravésibis sport clubHonduras, Guatemala e México, até pisar no solo dos Estados Unidos. As máfias cobram entre US$ 8 mil e US$ 15 mil (cercaibis sport clubR$ 42 mil a R$ 80 mil).
Há também a opção mais barata, mas ainda mais arriscada,ibis sport clubtentar chegar à costa da Flórida, nos EUA,ibis sport clubbarco.
Os planos às vezes falham e muitos acabam deportados ou mortos. Então, por que mesmo assim tantos cubanos estão arriscando suas vidas para chegar aos Estados Unidos?
1. Escassez e faltaibis sport cluboportunidades

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Diana Pérez, uma filólogaibis sport club27 anos e administradoraibis sport clubredes sociais, chegou a Miamiibis sport clubmarço, após percorrer, por 16 dias, uma rota pela América Central que lhe custou cercaibis sport clubUS$ 10 mil (R$ 53 mil).
"Decidi vir porqueibis sport clubCuba não se pode fazer nada: comprar comida, produtosibis sport clublimpeza, sair para tomar um café, viver do trabalho... As pessoas lá não vivem mais, apenas sobrevivem", explicou à BBC News Mundo (serviçoibis sport clubespanhol da BBC).
Oitoibis sport clubcada dez cubanos que emigram para os Estados Unidos têm entre 15 e 59 anos, ou seja, a grande maioria estáibis sport clubidadeibis sport clubtrabalhar.
Mas eles não querem fazer issoibis sport clubCuba, onde o salário médio mensalibis sport clubum emprego público equivale a aproximadamente US$ 22 (R$ 115). O setor privado se limita a um grupo restritoibis sport clubatividades e ofícios.
Para a socióloga Elaine Acosta, da Universidade Internacional da Flórida, a onda migratória cubana é produto "da crise estrutural e do esgotamentoibis sport clubum modelo político e socioeconômico que não oferece alternativas viáveis para sustentar a vida na ilha".
"A pobreza e as desigualdades sociais e territoriais aumentaram significativamente, juntamente com uma crescente deterioração da assistência social", explicou à BBC News Mundo.
Cuba estáibis sport clubcrise há décadas, mas a pandemia — que atingiu fortemente o turismo, um setor-chave —, o aperto do embargo econômico dos EUA e uma fracassada reforma monetária e salarial, entre outros fatores, acabaram afundando ainda mais a economia da ilha.
Hoje, o governo não consegue pagar seus credores, então os suprimentos vindos do exterior são limitados — algo especialmente graveibis sport clubum país que importa entre 60 e 70% dos alimentos que consome.
Na tentativaibis sport clubarrecadar divisas, o Estado, que monopoliza o comércio legal no país, vende alimentos e produtos básicosibis sport clubdólares, moeda à qual apenas parte da população tem acesso.

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Isso deu origem a um mercado paralelo, mas não resolveu o problema da escassez. Para conseguir frango, pão, arroz, xampu ou pastaibis sport clubdente, é preciso frequentemente pegar várias horasibis sport clubfila desde a madrugada.
"Durante o dia, ou você trabalhava ou ficava na fila para conseguir comida. Não dava para fazer as duas coisas", lembra Diana.
Sua geração não viveu a relativa prosperidade dos anos 1970 e 1980, quando a União Soviética subsidiou a ilha. Esses jovens viveram apenas o longo declínio após o bloco comunista sucumbir.
Assim, para eles, as perspectivasibis sport clubmudança são praticamente nulas, motivo pelo qual seus sonhos por sucesso profissional e abundância passam pela emigração.
"Como disse Joan Manuel Serrat sobre a Espanha rural na época do franquismo, os jovens cubanosibis sport clubhoje não esperam que esta terra lhes dê amanhã o que não lhes deu ontem", resume Juan Carlos Albizu-Campos, professor do Centroibis sport clubEstudos da Economia Cubana da Universidadeibis sport clubHavana.
2. A faltaibis sport clubliberdade

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Em 11ibis sport clubjulhoibis sport club2021, dezenasibis sport clubmilharesibis sport clubcubanos saíram às ruas para exigir liberdade e melhores condiçõesibis sport clubvida. Foi uma ondaibis sport clubprotestos sem precedentes.
As autoridades responderam nos meses seguintes com prisõesibis sport clubmassa e julgamentos sumários. Maisibis sport club1,5 mil pessoas, a maioria jovens, foram detidas e pelo menos 670 seguem presas até hoje, segundo a ONG Cubalex.
Também se tornou lugar-comum convocar e interrogar na delegacia cidadãos que criticam abertamente o sistemaibis sport clubpartido único, firmado há maisibis sport clubseis décadas.
"Chegava uma hora que você não conseguia nem se expressar, postar algo ou fazer um comentário. Sabendo que tudo estava errado, você não podia falar, porque poderia ter um problema sério", lembra Diana.
"Nos últimos tempos, por postar qualquer bobagem no Facebook, você podia ser intimado e até preso."
A jornalista, escritora e ativista cubana Mónica Baró sustenta que a faltaibis sport clubliberdade está sendo um fator importante — e subestimado na mídia — para a emigração.
"Depois do 11ibis sport clubjulho, muitas pessoas que participaram das manifestações emigraram, assustadas com o nívelibis sport clubrepressão", diz ela.
Mónica explica que, embora grande parte dos manifestantes e pessoas que apoiaram as passeatas não tenham sido presas nos primeiros meses, "muitos ficaram assustados e passaram a temer queibis sport clubalgum momento fossem identificadosibis sport clubvídeos e então fossem detidos".

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Alina Castillo, atrizibis sport club28 anos, chegou a Miamiibis sport clubabril, após uma odisseiaibis sport club14 dias pela América Central, semelhante à da maioria dos cubanos que chegaram nos EUA este ano.
"Não saí por faltaibis sport clubcomida, mas pelas limitações impostas por eu não concordar com o governo cubano. Eles não permitiam a liberdadeibis sport clubexpressãoibis sport clubartistas e intelectuais. Não tínhamos o direitoibis sport clubcriar um espaço privado para nos expressarmos."
"Vi que,ibis sport clubalguns anos, minha carreira seria interrompida pelo fatoibis sport clubpensar diferente ouibis sport clubter participadoibis sport clubalguma manifestação. Eu já sentia que falar o que eu queria poderia causar problemas, até para o meu grupoibis sport clubteatro", diz a atriz.
3. Visto ampliado para a Nicarágua

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O passaporte cubano é um dos mais restritos do mundo, tendo isençãoibis sport clubmenosibis sport club30 países.
Um deles é a Nicarágua, já queibis sport clubnovembroibis sport club2021, os governosibis sport clubDaniel Ortega e Miguel Díaz-Canel assinaram um acordo para permitir que os cubanos entrem livremente no país centro-americano como turistas.
Esta se tornou, então, a principal portaibis sport clubentrada pelo continente para aqueles que visam chegar aos Estados Unidos.
Alguns especialistas acreditam que o acordo com a Nicarágua foi uma manobra intencional do governo cubano para dar uma válvulaibis sport clubescape para a população e aliviar as pressões internasibis sport clubum momentoibis sport clubforte insatisfação pela escassez e repressão.
"O governo cubano continua usando politicamente a migraçãoibis sport clubforma instrumental, transformando-aibis sport clubuma ferramenta para neutralizar as pressões e descontentamentos internos. Também é um mecanismoibis sport clubnegociação com os governos da região", analisa a socióloga Elaine Acosta.

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Albizu-Campos, poribis sport clubvez, minimiza o acordoibis sport clubisençãoibis sport clubvisto.
"É apenas mais um facilitador: o que ele faz é possibilitar a mobilidade por uma rota, mas o êxodo teria ocorrido com ou sem acordo entre Cuba e Nicarágua", conclui.
De qualquer forma, é significativo que o númeroibis sport clubmigrantes cubanos que chegam à fronteira com os Estados Unidos tenha disparado desde a abertura dessa nova rota.
4. O que os espera nos EUA

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Emboraibis sport club2022 muitos cubanos também tenham emigrado para a Europa — especialmente artistas e intelectuaisibis sport clubHavana — e para outras partes da América Latina e do mundo, a verdade é que a grande maioria foi para os Estados Unidos, por vários motivos.
A primeira e fundamental é o apoio das famílias cubanas que já vivem nos Estados Unidos. Elas formam uma comunidadeibis sport clubmaisibis sport club1,3 milhãoibis sport clubpessoas e dão suporte aos parentes que decidem deixar a ilha.
"Ter meu irmão, tios e primos aqui facilitou as coisas para mim. Eles me receberam na casa deles, nos primeiros meses não precisei pagar aluguel nem alimentação e, uma vez acomodada, posso começar a pensaribis sport clubser independente", diz Diana.
O casoibis sport clubAlina Castillo é parecido: ela se estabeleceu na casaibis sport clubsua mãe, moradoraibis sport clubMiami há oito anos.
Além disso, geralmente são os parentes nos Estados Unidos que financiam a travessia ilegalibis sport clubCuba até lá, já que os valores exigidos são incompatíveis com o bolsoibis sport clubqualquer habitante da ilha.
Outro fator são as oportunidadesibis sport clubtrabalho que os EUA oferecem aos migrantes, e especialmente aos cubanos.
Não é muito segredo que, diferentemente da Europa,ibis sport clubMiami eibis sport cluboutras cidades dos Estados Unidos é relativamente fácil trabalhar ilegalmenteibis sport clubum restaurante,ibis sport clubuma loja ouibis sport cluboutros tiposibis sport clubnegócios.

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Isso, juntamente com alguma ajuda governamental na alimentação e na saúde, permite que os recém-chegados garantam seu sustento.
Além disso, a Leiibis sport clubAjuste Cubano concede aos migrantesibis sport clubCuba um tratamento preferencialibis sport clubrelação aosibis sport cluboutros países: se eles passarem pelo menos um ano e um dia no país, já podem começar os trâmites para fincar residência e,ibis sport clubpoucos anos, poderão se tornar cidadãos.
"Os privilégios que os migrantes cubanos desfrutam, tantoibis sport clubtermosibis sport clubadmissão preferencial quantoibis sport clubassistência na chegada, criaram incentivos para que eles deixem Cubaibis sport clubdireção aos Estados Unidos", explica William Leogrande, professor da Universidade Americanaibis sport clubWashington e especialista nas relações Cuba-Estados Unidos.
A BBC News Mundo pediu posicionamento do governo cubano sobre a atual onda migratória, mas não obteve resposta.
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