Quem foi Henri Christophe, o escravo rebelde que se declarou rei do Haiti:betsul brasileirão

Lá embaixo, do outro lado do Cabo Haitiano, onde vivia a plebe do Reino do Haiti, a rebelião se espalhava ao sombetsul brasileirãotambores e encantamentos.

As guarnições militares, os colonos e até seus próprios generais há muito conspiravam contra ele, "o primeiro monarca coroado do Novo Mundo", já fraco e doente, manco desde um derrame que sofreu meses antes.

Naquele dia, 8betsul brasileirãooutubrobetsul brasileirão1820, ele pediu para ser banhado e vestido com seu chapéubetsul brasileirãoduas pontas e seu mais luxuoso uniforme militar, enfeitado com insígnias e os símbolos sagradosbetsul brasileirãosua realeza.

Quando os criados deixaram o escritório, ele caminhou taciturnobetsul brasileirãovolta à escrivaninha, abriu a gaveta sem hesitar e pegou nas mãos a pistolabetsul brasileirãocabo perolado carregada com uma balabetsul brasileirãoprata.

O estrondo da pólvora fez com que os pombos voassem do telhado e sacudissem num eco surdo os arcos e cisternas da fortaleza impenetrável, construída para armazenar água e comida para a resistênciabetsul brasileirãoum regimentobetsul brasileirãoaté 5.000 homens por um ano.

Quando os criados correram para o escritório, um pequeno jatobetsul brasileirãofumaça branca ainda saía do cano da pistola quente.

Henrique I, o "destruidor da tirania", o "regenerador e benfeitor da nação haitiana", "o criadorbetsul brasileirãosuas instituições morais, públicas e guerreiras", o ex-escravo que lutou contra a França e acabou se coroando rei, estava no chão, envoltobetsul brasileirãouma poça escurabetsul brasileirãosangue.

O fim do reino

O suicídiobetsul brasileirãoHenri Christophe, que completa 201 anos, gerou uma das maiores revoltas — e reconfigurações políticas — que deu origem ao que hoje é o Haiti.

O país, na época, estava divididobetsul brasileirãodois: uma república no sul, governada por Alexandre Pétion, e uma monarquia no norte, governada por Christophe.

Mas poucos dias apósbetsul brasileirãomorte, a república sufocaria a segunda tentativabetsul brasileirãocriar uma realeza no continente americano (Jean-Jacques Dessalines já havia tentado, também no Haiti) e tomaria os últimos redutos do "poder imperial".

O singular reinadobetsul brasileirãoChristophe havia começado quase uma década antes,betsul brasileirão1811: ele se nomeou monarca e decretou oito diasbetsul brasileirãofestividades e bailes pelabetsul brasileirãocoroação.

O rei do Haiti, porém, não era haitianobetsul brasileirãonascimento. Acredita-se que ele nasceubetsul brasileirão6betsul brasileirãooutubrobetsul brasileirão1767betsul brasileirãouma ilha caribenha que alguns dizem ser San Cristóbal e outros, Granada.

O jovem escravo chegou à colôniabetsul brasileirãoSão Domingos, onde comproubetsul brasileirãoliberdade e,betsul brasileirão1791, aderiu à insurreição contra o poder francês.

Mas o soldado que se acredita ter combatidobetsul brasileirãouma batalha na guerrabetsul brasileirãoindependência dos Estados Unidos e que foi um dos generaisbetsul brasileirãoToussaint Louverture — líder da maior rebelião negra da história — durante a Revolução Haitiana, acabou tendo seus próprios escravos e construindo um dos reinos mais luxuosos, despóticos e incomuns, dos poucos que existiram no continente americano.

O reinadobetsul brasileirãoHenrique I

Ele se autodenominou Henrique I, mandou construir seis castelos, oito palácios e a Cidadelabetsul brasileirãoLaferrière, que ainda é uma das construções mais imponentes do século 19 no hemisfério (foram necessários 15 anos, 20.000 trabalhadores e 2.000 vidas para construí-la e afirma-se que, nabetsul brasileirãoconstrução, o cimento foi misturado com cal virgem, melaço e sanguebetsul brasileirãovacas) para tornar mais forte a união entre os blocos.

Ele criou uma moeda própria combetsul brasileirãoefígie coroada com uma oliveira no estilo César. Chamou a capitalbetsul brasileirãoreinobetsul brasileirãoCabo Henrique, e crioubetsul brasileirãoprópria nobreza para a qual nomeou quatro príncipes, oito duques, 14 cavaleiros, 22 condes, 37 barões, se autodenominando Grão-Mestre Soberano (e fundador) da Ordem Real e Militarbetsul brasileirãoSão Henrique.

Ele também criou um sistema educacional inusitado, um dos mais abrangentes que existiram durante a primeira metade do século 19 na América Latina, e estabeleceu um código legal, com seu nome, que regia quase todos os aspectos da vida do reino.

Mas também promoveu um sistemabetsul brasileirãotrabalho forçado — quase escravo — e impôs condiçõesbetsul brasileirãovida, normas e regulamentos aos camponeses quebetsul brasileirãopoucos anos o tornaram um líder extremamente impopular.

O rei foi ficando sozinho e isoladobetsul brasileirãoseu palácio, e um derramebetsul brasileirãoagostobetsul brasileirão1820 o deixou paralisadobetsul brasileirãoum dos lados do corpo e desconfiado, uma sombrabetsul brasileirãosi mesmo, embora tivesse apenas 53 anos.

O reino deste mundo

Não houve ritos ou missas no Reino do Haiti pela mortebetsul brasileirãoseu rei.

O corpobetsul brasileirãoChristophe foi enterrado sigilosamente por servos nas entranhas da Cidadela naquele mesmo 8betsul brasileirãooutubro, enquanto o Cabo Haitiano ardiabetsul brasileirãorevoltas.

Cortaram umbetsul brasileirãoseus dedos, que a rainha guardou como uma relíquia — e acredita-se que tenha sido levado com ela para o exílio na Itália — e se apressarambetsul brasileirãodar a ele um enterro incomum no reino deste mundo.

Enterraram seu corpo na argamassa que haviam preparadobetsul brasileirãoum buraco na base da fortaleza para que ninguém pudesse profanar seu cadáver.

O rei do Haiti afundou lentamente e, aos poucos, foi se transformandobetsul brasileirãopedra. Ele se fundiu combetsul brasileirãoCidadela, o sonho megalomaníacobetsul brasileirãoseu império, que, apesar dos tempos e dos terremotos, ainda zela pelo Cabo Haitiano da montanha do Chapéu do Bispo.

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