Como espécies mudam asas, bicos e cantos para sobreviver à vida na cidade:blaze l
Mas, segundo Schilthuizen, "os biólogos não devem mais viajar para lugares remotos como Galápagos para descobrir a formaçãoblaze lnovas espécies".
"Esse processo está acontecendo nas mesmas cidades onde eles trabalham", diz o cientista, autor do livro Darwin Comes to Town (Darwin vem à cidade), ainda sem tradução no Brasil.
O biólogo explorablaze lseu livro exemplosblaze ladaptações, desafios e evoluçãoblaze lcentros urbanos, e compartilhou alguns dos casos mais surpreendentesblaze luma entrevista para a BBC.
O metrôblaze lLondres e o mosquito chato
O mosquito do metrôblaze lLondres, ou Culex molestus, é uma espécie que evoluiu recentemente (desde o século 19) e se adaptou para viverblaze lespaços subterrâneos.
"É provável que tenha se separadoblaze l(outras) espéciesblaze lmosquitos na superfície. Esses últimos se alimentam principalmente do sangue das aves. O Culex molestus, por outro lado, se alimentablaze lsangue humano", explica Schilthuizen.
O nome popular da espécie (mosquito chato) se refere a histórias sobre o insuportável inseto que incomodava os londrinos nos abrigos das estaçõesblaze lmetrô durante os bombardeios da Segunda Guerra Mundial.
Já nos anos 1990, a geneticista Katharine Byrne, da Universidadeblaze lLondres, descobriu que os mosquitos nos túneisblaze ltrês linhas do metrô, Victoria, Bakerloo e Central, eram geneticamente diferentes um do outro.
E nos últimos anos ficou claro que o mosquito subterrâneo não é exclusivoblaze lLondres. Também é possível encontrá-loblaze ltúneis e porõesblaze loutros centros urbanos.
"Culex molestus também viveblaze lgrandes cidades da América Latina", diz Schilthuizen.
O canto do melro
Um dos animais urbanos mais bem estudados é um pássaro chamado Melro-preto, o Turdus merula.
Em cidades da Europa e do norte da África, os biólogos descobriram que os melros têm bicos mais curtos do que seus parentes florestais, o que supostamente se deve à abundânciablaze lalimentos que não requerem bicar.
Também o tomblaze lseu canto é mais alto, eles cantam à noite e não migram mais.
Para Schilthuizen, tanto o mosquito do metrôblaze lLondres quanto o melro-preto são "exemplosblaze lespécies que estãoblaze lestágios iniciaisblaze lespeciação", o processoblaze lformaçãoblaze lespécies diferentes.
Corvo quebra-Nozes
Em outros casos citados por Menno Schilthuizen à BBC, não há registro do surgimentoblaze lnovas espécies, masblaze ladaptações surpreendentes.
"Os corvos da cidadeblaze lSendai, no Japão, são um exemplo incrível, nãoblaze levolução urbana, masblaze lcomo um novo truque pode ser estendido por meio da imitação", diz o biólogo holandês.
"Os corvos descobriram que podiam quebrar nozes colocando-as nas estradas, na frenteblaze lcarros que se aproximavam lentamente e rompiam as cascas com seus pneus", explica.
"O hábito se espalhou na cidade e recentemente a mesma espécieblaze lcorvo aprendeu esse truque na Alemanha eblaze lPortugal."
Andorinhasblaze lasa curta
Nos Estados Unidos, uma espécieblaze lave, a Andorinha-de-dorso-acanelado, Petrochelidon pyrrhonota, começou a fazer seus ninhos sob as pontes das rodovias.
Inicialmente muitas andorinhas foram atropeladas, mas com o passar dos anos essas aves evoluíram e agora possuem asas mais curtas e arredondadas.
As asas mais longas são melhores para voarblaze llinha reta, mas as mais curtas permitem que os pássaros decolem rapidamente na estrada e manobrem quando um carro se aproxima.
"A morte das aves eliminou lentamente a população com genesblaze lasas longas e isso causoublaze levolução", explicou Schilthuizen.
Plantas nas estradas
Não só os animais se adaptam à vida nas cidades.
Uma planta chamada Cochlearia danica geralmente cresce apenasblaze lterras com alto teor salino, na costa.
Mas Schilthuizen aponta que a planta agora cresceblaze lcanteirosblaze lum metro entre as estradas europeias.
E isso se deve à grande quantidadeblaze lsal jogada nas estradas durante o inverno a fimblaze lderreter o gelo.
O ouriço McFlurry e o besouro apaixonado por uma garrafa
Alguns encontros urbanos podem ser letais, como um caso imortalizado no Museublaze lHistória Naturalblaze lRoterdã.
O museu tem uma galeria que preserva animais mortos na cidade nas circunstânciasblaze lque perderam a vida.
Umblaze lseus espécimes mais famosos é o "ouriço McFlurry", que enfiou a cabeça pela aberturablaze lum poteblaze lsorvete McFlurry, da rede McDonald's, mas não conseguiu se soltar e acabou morrendoblaze lfome.
"É um exemplo dos tiposblaze ldesafios que os ambientes urbanos severos às vezes representam", diz Schilthuizen.
Outro exemploblaze lanimais afetados por riscos urbanos é oblaze lmilharesblaze laves que colidem com postes ou ficam desorientadas com as luzes.
E ablaze luma espécieblaze lbesouro da Austrália, Julodimorpha bakewelli, que tentava copular com garrafasblaze lcervejablaze laparência similar às fêmeas da espécie.
A atração sexual pela garrafa era tão forte que a espécie correu o riscoblaze ldesaparecer (até que a cervejaria mudou o design da embalagem).
"Observe a cidade"
O cientista holandês Menno Schilthuizen faz uma comparação um tanto desconcertanteblaze lsuas palestras.
Quais são as semelhanças entre uma pessoa que alimenta pombosblaze luma praça e as chamadas espécies mirmecófilas, como, por exemplo, os besouros, que "enganam" as formigas e vivemblaze lseus ninhos para obter alimento?
"É a mesma coisa, certo?", Schilthuizen pergunta.
"Em ambos os casos, uma espécie se apropria do sistemablaze lcomunicaçãoblaze loutra e faz com que ela compartilheblaze lcomida."
Aos olhosblaze lbiólogoblaze lMenno Schilthuizen, as cidades são muito mais do que edifícios e seus moradores. São redesblaze lecossistemasblaze lminiatura, cada uma com suas oportunidades e desafios.
E à medida que o planeta se torna mais urbano, exemplosblaze ladaptação e evolução aumentarão.
O cientista holandês recomenda àqueles que moramblaze lcidadesblaze lqualquer parte do mundo que cultivem o hábitoblaze lobservar os mini-ecossistemas e os desafios das espécies ao seu redor.
E oferece um último conselho.
"Junte-se a uma plataformablaze lciência cidadã, como o iNaturalist, e compartilhe com a comunidade suas observações (de espécies)."
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