A americana que fez doutoradoblaze crash siteCambridge sem nunca ter ido à escola:blaze crash site

Tara Westover
Legenda da foto, Tara Westover entrou na faculdade aos 17 anos, após comprar livros escondida e se preparar sozinha para um teste. Anos depois, chegou a Cambridge

A família fazia uma interpretação fundamentalista do Mormonismo - movimento religioso restauracionista iniciado no século 19 nos EUA - e estabelecia regras sobre aspectos da vidablaze crash siteTara, como o que poderia vestir, seus hobbies e seus contatos com o mundo exterior.

Tara na universidade
Legenda da foto, Tara,blaze crash siteCambridge: americana aprendeu a lerblaze crash sitecasa porque o pai acreditava que escolas eram parteblaze crash siteum exercícioblaze crash sitelavagem cerebral do governo a ser evitado a todo o custo

"Achava que os outros fossem alienados"

Era uma vida dura, violenta e autossuficiente, como na sérieblaze crash siteTV americana "Little House on the Prairie" (pequena casa na pradaria).

Tara se lembra que, com medoblaze crash siteincursõesblaze crash siteagentes federais, seu pai comprou armas poderosas o bastante para derrubar um helicóptero.

O estiloblaze crash sitevida que levavam significou, para ela, uma infância montando cavalos na montanha e trabalhandoblaze crash siteuma sucata, mas não indo à escola.

Ela diz que o argumento familiarblaze crash sitedefesa da educação doméstica era, na verdade, um disfarce para nenhuma escolarização.

Na época, não parecia estranho que não fossem à escola como outras crianças locais, diz ela.

"Eu achava que eles estavam errados e nós estávamos certos. Eu pensava que eles eram espiritualmente e moralmente inferiores porque iam (à escola), eu realmente pensava", diz Tara,blaze crash siteCambridge, onde vive agora.

"Eu achava que eles estivessem sendo alienados e eu não."

Tara, agora com 31 anos, escreveu um relato sobreblaze crash siteinfância, chamado Educated (Educada,blaze crash sitetradução literal), que está sendo publicada neste mês.

Em grande parte se tratablaze crash siteuma autoeducação, porque a primeira vez que teve contato com aulas formais foi quando começou a faculdade, aos 17 anos.

Ela havia aprendido a ler e escrever comblaze crash sitemãe e seu irmão, mas nunca tinha aprendido nada sobre história, geografia, literatura ou o resto do mundo.

Tara Westover na infância
Legenda da foto, Tara vai publicar suas memóriasblaze crash siteinfância, com detalhes sobreblaze crash siteeducação não convencional

"Ensinar a si mesmo"

O acesso aos livros era limitado a alguns títulos que se enquadravam na visãoblaze crash sitemundo fundamentalista da família, e ela também trabalhou desde cedo.

Mas tinha sido criada com uma crença feroz na capacidadeblaze crash sitequalquer um aprender o que quer que fosse desde que se concentrasse naquilo.

"Meus pais me diriam: 'Você pode ensinar qualquer coisa a si mesmo melhor do que outra pessoa o faria'. Esse era o espírito da minha família", diz ela.

Buscando uma formablaze crash sitesairblaze crash siteuma vida familiar restrita e emocionalmente claustrofóbica, ela encontrou uma universidade que a admitiria se passasseblaze crash siteum teste.

Foi então que comproublaze crash sitesegredo os livros didáticosblaze crash siteque precisava e estudou metodicamente, noite após noite, até obter as notas necessárias.

Mas quando chegou à salablaze crash siteaulablaze crash site2003, aos 17 anos, ficoublaze crash siteum "estadoblaze crash sitetemor perpétuo".

"Eu era como um bicho da floresta. Estavablaze crash sitepânico, aterrorizada o tempo todo. Achei que me pediriam para fazer algo e eu não saberia o que era."

"Tudo sobre a salablaze crash siteaula era aterrorizante, porque eu nunca tinha estadoblaze crash siteuma delas antes."

Tara Westoverblaze crash siteCambridge
Legenda da foto, Tara chegou à faculdade com enormes lacunas no conhecimento, mas se dedicou e agora ostenta o títuloblaze crash sitedoutora

'Não é uma esteira rolante'

Havia enormes lacunasblaze crash siteseu conhecimento. Ela ficou chocada ao aprender, por exemplo, sobre o Holocausto pela primeira vezblaze crash siteuma aulablaze crash sitehistória.

Sobre escravidão, seu único conhecimento prévio havia saídoblaze crash siteum livro, no qual, diz ela, esse regime era apresentado como uma experiência benevolente e mais difícil para os proprietáriosblaze crash siteescravos.

Depoisblaze crash siteum início desastroso, ela manteve a mente focada nos estudos e provou ser uma aluna altamente capaz.

Tanto que teve a chanceblaze crash sitepassar um períodoblaze crash siteHarvard e, depois, ir estudar no exterior, na Universidadeblaze crash siteCambridge.

Ela conseguiu uma bolsablaze crash siteestudos na universidade, com financiamento da Fundação Gates, e fez doutorado. Virou a doutora Westover aos 27 anos,blaze crash site2014, sem jamais ter concluído o ensino médio.

O assuntoblaze crash sitesua tese foi uma comunidade utópica criada no século 19.

A trajetóriablaze crash siteTara lhe deu uma visão pouco ortodoxa sobre como a educação funciona.

Ela diz queblaze crash siteprópria educação foiblaze crash siteboa parte uma alternativa extrema, mas tem dúvidas sobre a experiência convencional.

"A maior preocupação é que isso parece um processo tão passivo e estéril. Uma esteira rolante onde você fica eblaze crash siteonde sai educado", diz.

"Eu acho que muitas pessoas cresceram com a ideiablaze crash siteque não podem aprender as coisas por conta própria. Elas acham que precisamblaze crash siteuma instituição para lhes suprir conhecimento e ensinar a como fazer as coisas. Eu não poderia discordar mais", diz ela.

Tara Westoverblaze crash siteCambridge
Legenda da foto, Uma década após iniciar estudosblaze crash siteuma instituiçãoblaze crash siteensino formal, sem qualquer tipoblaze crash siteformação, Tara se formoublaze crash siteCambridge

Distanciamento

Tara diz que se tivesse filhos não os enviaria à escola quando tivessem cinco anos. "Eles poderiam pensar que educação é se sentar quieto."

Ela se distancioublaze crash siteseus pais eblaze crash sitesua religião - e diz que romper com suas antigas crenças tem sido uma experiência traumática.

Mas ela não se converteu acriticamente à nova vida e à experiência na universidade.

Tara diz, por exemplo, que há menos tolerância a diferentes opiniões dentro dos círculos acadêmicos liberais da classe média do que havia entre os fundamentalistas estritosblaze crash sitesua infância.

Ela afirma que rejeitou as políticas antigovernamentais extremas, mas que, na perspectiva da Idaho rural onde cresceu, isso fazia algum sentido.

Para comunidades rurais tão isoladas, diz, o governo federal parecia uma "força alienígena e extremamente ineficaz".

Nos relatos sobreblaze crash sitecriação, é possível ouvir algumas das ideias que alimentaram a campanha eleitoral do presidente Donald Trump.

Idaho, nos EUA

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Americana diz que parte mais difícilblaze crash siteescrever suas memórias foi falarblaze crash siteperdas, como Idaho, Estado onde cresceu e que deixou para trás

Memórias

Tara diz que suas memóriasblaze crash siteinfância, incluindo suas descrições sobre a violênciablaze crash siteseu irmão, não têm um "final feliz como nos cinemas".

"Você pode sentir faltablaze crash sitealguém todos os dias e ainda se alegrarblaze crash sitenão terblaze crash sitevê-los", diz.

As coisas mais difíceisblaze crash siteescrever não foram sobre as brigas com a família e as restrições que enfrentava.

"O mais difícil foi escrever sobre as coisas boas, as coisas que eu perdi. O som da risada da minha mãe, o quanto a montanha era bonita."

"É como ir ao casamentoblaze crash sitealguém por quem você ainda está apaixonado."