'Fui vendido três vezes': a jornadaaposta minima na blazeum migranteaposta minima na blazemeio ao 'mercado' humano na Líbia:aposta minima na blaze

Harun Ahmed
Legenda da foto, Harun Ahmed conseguiu chegar à Alemanha, mas só depoisaposta minima na blazemesesaposta minima na blazetortura, inanição eaposta minima na blazeser tratado como mercadoria por traficantes

Após a reportagem, autoridades prometeram investigar a prática, mas migrantes entrevistadosaposta minima na blazeTrípoli, capital líbia, dizem ser comum sofrer torturas e coerção na mãoaposta minima na blazetraficantes e mercadores humanos.

Harun,aposta minima na blaze27 anos, nasceuaposta minima na blazeAgarfa,aposta minima na blazeuma região com uma das mais altas taxasaposta minima na blazemigração da Etiópia, por conta da ausênciaaposta minima na blazeperspectivas. Harun chegou a tentar a vida no Sudão, mas, depoisaposta minima na blazeum ano e meio, decidiu ir à Líbia, conhecido pontoaposta minima na blazepartidaaposta minima na blazemigrantes que decidem se arriscar na perigosa jornada pelo Mediterrâneo rumo à Europa.

Ele contouaposta minima na blazehistória à BBC.

Grey line

"Eu e outros migrantes começamos a jornada à Líbia pagando US$ 600 (cercaaposta minima na blazeR$ 1900 na cotação atual) para cada traficante", explica Harun.

"Éramos 98 dentroaposta minima na blazeum único caminhão. As pessoas tinham que sentar umasaposta minima na blazecima das outras, e o calor era insuportável. Nos deparamos com diversos problemas pelo caminho. Existem homens armados pelo deserto, (milicianos) que te paramaposta minima na blazerepente e roubam tudo o que você tem."

Migrantes transitando entre Líbia e Níger,aposta minima na blazemarço

Crédito, AFP

Legenda da foto, Migrantes transitando entre Líbia e Níger,aposta minima na blazemarço; tráfico humano é frequente no Saara

Mas a situação se complicou mesmo foi na fronteira: após seis diasaposta minima na blazeviagem pelo Saara, o grupoaposta minima na blazemigrantes chegou à divisa entre Egito, Líbia e Chade.

Ali, os traficantes se reuniram para comercializar os migrantes, conta Harun.

Só que houve um imprevisto.

"Na fronteira, um grupoaposta minima na blazemilicianos nos sequestrou e nos levou ao Chade", ele conta. "Viajamos pelo deserto ao longoaposta minima na blazedois dias, até chegarmos ao acampamento deles."

Ali, o grupo, fortemente armado, explicou -aposta minima na blazeárabe eaposta minima na blazeoutros idiomas africanos - o que queria.

"Eles trouxeram um carro e disseram que os migrantes que pudessem pagar US$ 4 mil cada poderiam entrar no veículo. Quem não pudesse pagar ficaria ali (no acampamento)."

"Não tínhamos dinheiro, mas conversamos entre nós e decidimos fingir que tínhamos, para conseguir entrar no carro."

Migrantes no deserto do Saara
Legenda da foto, Migrantes no deserto do Saara; milicianos costumam exigir pagamento das pessoasaposta minima na blazetrocaaposta minima na blazeliberdade

Harun e os demais migrantes que conseguiram entrar no veículo rodaram por mais três dias, até chegarem a outro local onde seres humanos são comprados e vendidos.

"Os homens que nos levaram disseram que haviam nos comprado por US$ 4 mil cada - e que, se não devolvêssemos o dinheiro, não iríamos a lugar nenhum", conta.

Ao seu redor, ele via o que poderia acontecer com ele caso não arranjasse dinheiro.

"Víamos migrantes, a maioria delesaposta minima na blazeorigem somali e eritreia, que estavam ali havia maisaposta minima na blazecinco meses. Eles sofreram muito e sequer se pareciam com seres humanos mais."

"Nós sofremos muito também. Nos forçavam a beber água quente misturada com petróleo, para fazer com que os pagássemos mais rapidamente. Nos davam uma quantidade minúsculaaposta minima na blazecomida, e só uma vez por dia. Nos torturavam todas as noites."

'Muito ossudo'

Harun não conseguiu o dinheiro para pagar seus novos captores e, durante 80 dias, ficou retido no acampamento com outros 31 etíopes.

Até que os captores perderam a paciência.

"'Se você não vai nos pagar, então vamos vendê-lo', eles nos disseram", relembra Harun.

"Estávamos sem comida havia maisaposta minima na blazedois meses, então nossos ossos estavam muito aparentes. Por isso, um homem que levaram ao acampamento se recusou a nos comprar, dizendo 'eles não devem nem mesmo ter rins'."

Por fim, os traficantes encontraram um comprador: um líbio que pagou US$ 3 mil por migrante.

"Entramos no carro dele convencidosaposta minima na blazeque nada poderia piorar ainda mais a nossa situação. Mas fomos levados a Saba (Líbia) e, após quatro diasaposta minima na blazeviagem, nos deparamos com um sofrimento desumano. Nos torturaram colocando sacolas plásticasaposta minima na blazenossas cabeças, prendendo nossas mãos nas costas e nos empurrando para dentroaposta minima na blazeum barril cheioaposta minima na blazeágua. Batiamaposta minima na blazenós com cabosaposta minima na blazeaço."

Harun e os demais homens viveram assim por maisaposta minima na blazeum mês, até conseguirem contato com parentes para pedir dinheiro.

Após o pagamento, os migrantes foram autorizados a ir embora - só para serem presos novamente.

"Não fomos muito longe, porque outros homens armaram uma emboscada e nos levaram a um galpão. Disseram que só nos deixariam sair se pagássemos US$ 1 mil por cabeça."

Resgateaposta minima na blazemigrantes que tentavam chegarà Europa

Crédito, AFP

Legenda da foto, Resgateaposta minima na blazemigrantes que tentavam chegar à Europa: jornada pelo Mediterrâneo é perigosa

"A tortura e as surras continuaram. Telefonamos para nossas famílias, pedindo dinheiro outra vez. Nossos parentes venderam gado, terras, todas as suas posses e nos mandaram mais dinheiro."

Refugiado

Harun conseguiu, assim, avançar mais emaposta minima na blazejornada. Chegou ao norteaposta minima na blazeTrípoli, disposto a tentar atravessar o Mediterrâneo.

"Ali, a situação ficou um pouco melhor", conta ele. "Trabalhamos durante alguns meses,aposta minima na blazequalquer emprego que conseguíssemos encontrar, e daí cruzamos o Mediterrâneo para vir à Europa."

Harun teve, por fim, sorte -aposta minima na blazenão ter sido detido pelas forçasaposta minima na blazesegurança dos países europeus eaposta minima na blazenão ter caído nas garrasaposta minima na blazenovos traficantes humanos.

Ele desembarcou na Itália eaposta minima na blazelá seguiu à Alemanha, onde seu pedidoaposta minima na blazerefúgio foi aceito.

Harun Ahmed
Legenda da foto, Harun diz que não teria feito a viagem caso soubesse o sofrimento a que seria submetido | Foto: Arquivo pessoal

Harun diz que a "vida está boa agora", mas agrega que seu sofrimento até chegar à Europa -aposta minima na blazeespecial as perdas que ele viveu na jornada - permanecerá para sempre emaposta minima na blazememória.

"Enterramos umaposta minima na blazenossos amigos na fronteira entre o Egito e a Líbia. Outros dois se separaramaposta minima na blazenósaposta minima na blazeSaba (Líbia), e não sei se estão vivos ou mortos. Uma garota caiu no mar Mediterrâneo. Mas alguns conseguiram chegar à Europa."

Questionado sobre se, com o conhecimento que tem agora, ele voltaria a fazer essa jornada, a resposta é direta: "Não".

"Falando francamente, eu poderia ter estudado ou trabalhado no meu país natal. (Mas) via as pessoas indo embora e isso, somado à situação (de instabilidade) política, me convenceu a emigrar."