O ex-neonazista arrependido que 'resgata' extremistas e ajuda ex-combatente a deixar o EI:o jogo mais dificil do mundo

Membros do Chicago Cash

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Christian Picciolini fez parteo jogo mais dificil do mundoum dos grupos neonazistas mais influentes dos EUA entre 1987 e 1995

Um homem que havia visto o anúncio da palestra pediu para se reunir com ele. Mas não se tratava do típico casoo jogo mais dificil do mundoum neonazista que precisavao jogo mais dificil do mundoum empurrão para mudar: era, na verdade, um ex-combatente do grupo extremista autodenominado Estado Islâmico (EI).

'Todo jovem está vulnerável'

Para Picciolini, não existe um perfil exatoo jogo mais dificil do mundoquem pode se tornar um extremista. "Todo jovem está vulnerável a cairo jogo mais dificil do mundogrupos radicais, porque todos estãoo jogo mais dificil do mundobuscao jogo mais dificil do mundouma identidade,o jogo mais dificil do mundoaceitação,o jogo mais dificil do mundoum propósitoo jogo mais dificil do mundovida", diz.

Ele afirma que não cresceu sendo racista - seus pais eram imigrantes italianos que chegaram aos Estados Unidos na metade dos anos 1960 e sofreram na pele o preconceito contra os estrangeiros. Ambos tinham longas jornadaso jogo mais dificil do mundotrabalho nos sete dias da semana. "Eu me sentia muito abandonado", lembra.

Christian Picciolini

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Ex-neonazista criou uma banda que fazia apologia à supremacia branca para atrair jovens para seu grupo

Era a décadao jogo mais dificil do mundo1980. Ele tinha 14 anos no diao jogo mais dificil do mundoque um homem saiu do carro para arrancaro jogo mais dificil do mundosua boca o cigarroo jogo mais dificil do mundomaconha que estava fumando. "Você não sabe que é isso que os comunistas e os judeus querem que você faça, para que então eles possam te controlar?", disse o homem.

"Não sabia o que era um comunista e acho que nunca havia conhecido um judeu. Mas tinha certezao jogo mais dificil do mundoque não queria que ninguém me controlasse", conta Picciolini.

O homem se chamava Clark Martell, chefe do Chicago's CASH. "Ele disse que meus problemas não eram culpa minha, mas causados pelos outros. Falou sobre como os negros cometiam crimes, os mexicanos roubavam nossos empregos e os judeus manipulavam os meioso jogo mais dificil do mundocomunicação."

O neonazista ofereceu ao jovem a desculpa perfeita para canalizaro jogo mais dificil do mundorevolta adolescente: "Ele me ofereceu uma família e poder, justo no momentoo jogo mais dificil do mundoque eu me sentia mais impotente".

'Destruí muitas vidas'

"Nunca fui preso, mas fiz coisas pelas quais deveria ter ido para a cadeia", admite Picciolini.

Os Chicago's CASH estamparam as manchetes dos jornais na época por terem atacado mulheres hispânicas, pintado suásticaso jogo mais dificil do mundosinagogas e cometido atoso jogo mais dificil do mundovandalismo contra negócioso jogo mais dificil do mundoproprietários judeus, como recorda o livro Terrorismoo jogo mais dificil do mundoPerspectiva,o jogo mais dificil do mundoSue Mahan e Pamala L. Griset.

Mas foi a agressão a uma antiga integrante do grupo que fez com que Martell fosse parar atrás das grades. Picciolini, ainda adolescente, foi encarregadoo jogo mais dificil do mundosubstituí-lo.

"Eu era bom para recrutar pessoas", lembra-se. Ele criou uma bandao jogo mais dificil do mundomúsica que proclamava a supremacia branca para atrair pessoas mais novas - foi o primeiro grupoo jogo mais dificil do mundoskinheads dos Estados Unidos a fazer uma turnê pela Europa.

Picciolini convenceu centenaso jogo mais dificil do mundopessoas a se juntarem aos Chicago's CASH. "Destruí muitas vidas. Eu me sinto responsável pelo que fiz", diz.

Picciolini

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Legenda da foto, Picciolini decidiu deixaro jogo mais dificil do mundoser um skinhead quando teve um filho

Medoo jogo mais dificil do mundocomeçar do zero

Mas o que leva um neonazista a querer deixaro jogo mais dificil do mundosê-lo? Segundo Picciolini, o motivo mais comum é conhecer o objeto do seu ódio.

Ele cita como exemplo o ex-militar nova-iorquino que ligou para ele depoiso jogo mais dificil do mundoler seu livroo jogo mais dificil do mundomemórias, Violência Romântica, e lhe contou que odiava os muçulmanos e tinha vontadeo jogo mais dificil do mundoatacá-los.

Picciolini viajouo jogo mais dificil do mundoChicago para falar com o homem e marcou um encontro na mesquitao jogo mais dificil do mundoseu bairro. "Fiquei amigo dele, e, agora, marcamoso jogo mais dificil do mundojantar toda sexta-feira", conta.

No seu caso, a razão para se afastar da violência foi outra: seu filho. "Foi a primeira pessoa que me permitiu voltar a amar depoiso jogo mais dificil do mundotantos anoso jogo mais dificil do mundoódio. Ele me reconectou com a inocência que eu havia perdido aos 14 anos, quando me juntei ao movimento", explica.

Sentir-se bem consigo mesmo é o primeiro passo, defende: "Uma vez que você consegue isso, a ideologia se quebra".

Mas o caminho é longo. "Quando você se junta ao movimento, deixa tudo para trás: a família, os amigos, tudo o que gostavao jogo mais dificil do mundofazer. Eu queria sair, mas tinha medoo jogo mais dificil do mundoabandonar aquilo que, naquele momento, era para mim a minha identidade, a minha comunidade. Não queria começar do zero", conta.

Ele demorou três anos para sair do grupo.

A vida depois do ódio

Uma vez fora, Picciolini estudou e se formouo jogo mais dificil do mundoRelações e Negócios Internacionais. Em 2010, criou a ONG Life After Hate ("A vida depois do ódio",o jogo mais dificil do mundotradução livre), que se dedica a ajudar neonazistas que querem deixar o radicalismo para trás.

"Fiquei 22 anos fora do movimento, tentando entender e desmantelar aquilo que eu mesmo havia ajudado a construir", afirmou. Uma experiência que inspira confiançao jogo mais dificil do mundomuitos, inclusive ex-jihadistas, como aquele que pediu para encontrá-lo na Bélgica.

O homem havia viajado da Síria e, ao voltar, se entregou para as autoridades. Cumpriuo jogo mais dificil do mundopena na prisão, mas, ao sair, teve problemas para recomeçar a vida. "Os combatentes estrangeiros do EI estão voltando agora e não conhecem ninguém que tenha passado por uma transformação similar à minha, alguém que possa orientá-los", explicou Picciolini.

Picciolini

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Legenda da foto, Picciolini fundouo jogo mais dificil do mundo2010 uma ONG para ajudar pessoas que decidiram abandonar o radicalismo

O antigo jihadista viu que a história do ex-neonazista e ao jogo mais dificil do mundotinham algoo jogo mais dificil do mundocomum. E ambos seguiam vivendo nos mesmos bairros onde haviam sido "capturados" pelo radicalismo - e onde tinham um passado difícilo jogo mais dificil do mundoapagar.

"Muitoso jogo mais dificil do mundoseus antigos amigos o veem como um traidor ou um covarde. Ele não tem conseguido trabalho, mesmo sendo engenheiro e tendo muita experiência. Ele não tinha mais com quem falar", afirma Picciolini.

"As pessoas que deixam esses grupos, sejam neonazistas ou jihadistas, precisam do apoioo jogo mais dificil do mundooutros que tenham passado pelo mesmo. Para o restante das pessoas, não é fácil entender por que caíram no extremismo", observa.

Racismo 'mais suave'

O ex-líder dos Chicago's CASH alerta para o erroo jogo mais dificil do mundoconcentrar todos os esforços no extremismo jihadista e relaxar na prevenção da expansãoo jogo mais dificil do mundomovimentoso jogo mais dificil do mundoextrema-direita - ferramentas como a internet e a propagaçãoo jogo mais dificil do mundositeso jogo mais dificil do mundonotícias falsas fizeram com que grupos como os neonazistas tenham mais facilidade para recrutar pessoas.

"Além disso, nossos políticos estão repetindo mensagens que nós (neonazistas) utilizávamos. Não sei se as eleições (americanas) provocaram mais racismo, mas elas deram forças aos racistas para sair da sombra e para que suas mensagens ganhem credibilidade", adverte.

"Às vezes, ouço os políticos dizerem as mesmas coisas que eu dizia quando era neonazista."

Picciolini diz que, há 30 anos, teve início uma estratégia para "normalizar" o racismo. "Deixamoso jogo mais dificil do mundolado a indumentária neonazista e as suásticas, porque nos demos contao jogo mais dificil do mundoque isso estava afugentando até mesmo as pessoas que já eram racistas."

Ele conta que a estratégia foi difundir a mensagemo jogo mais dificil do mundoódio "de uma forma mais suave", para que ela ficasse mais fácilo jogo mais dificil do mundoser absorvida pelo cidadão médio.

Até metade do ano passado, as vítimas fatais do extremismoo jogo mais dificil do mundodireita nos Estados Unidos superavam aso jogo mais dificil do mundoataques jihadistas. Mas, com o massacre da boate Pulse,o jogo mais dificil do mundoOrlando, a estatística virou, segundo o centroo jogo mais dificil do mundopesquisas New America.

Anteso jogo mais dificil do mundodeixar a Casa Branca, a administraçãoo jogo mais dificil do mundoBarack Obama aprovou um incentivoo jogo mais dificil do mundoUS$ 400 mil (IR$ 1,25 milhão) para a ONGo jogo mais dificil do mundoPicciolini desenvolver um programao jogo mais dificil do mundointervenção direcionado a todos os tiposo jogo mais dificil do mundomilitantes radicais.

Hoje, esta e outras ideias com o mesmo fim estão sendo revistas pelo novo governo, segundo informou a imprensa americana.