'É possível ser cientista e mãe': grupo brasileiro que debate maternidade e carreira acadêmica ganha prêmio internacional:bónus premier bet

Nascia ali,bónus premier bet2016, o embrião do Parent In Science (Paternidade/Maternidade na Ciência,bónus premier bettradução livre), uma iniciativa que discute a maternidade (e a paternidade) no ambiente científico brasileiro e tenta criar políticasbónus premier betapoio e suporte social às famíliasbónus premier betuniversidades e institutosbónus premier betpesquisas.

O projeto, que já alcançou importantes conquistas e foi exportado para outros países da América Latina, acababónus premier betganhar o Prêmio Mulheres Inspiradoras na Ciência, concedido pela revista Nature, uma das publicações acadêmicas mais prestigiadas do mundo. Essa é a primeira vez que um grupo brasileiro recebe a honraria.

Uma pausa pouco compreendida

Staniscuaski explica que uma das métricas mais usadas para determinar a produtividadebónus premier betum cientista é a quantidadebónus premier betartigos que ele escreve e publica.

Esse é um dos principais elementos avaliados pelas instituições, como o Conselho Nacionalbónus premier betDesenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e as agênciasbónus premier betfomento à pesquisa dos Estados (casobónus premier betFapespbónus premier betSão Paulo e Faperj no Riobónus premier betJaneiro, por exemplo), na horabónus premier betconceder bolsas para as pesquisas.

Agora, imagina o que acontece quando a cientista vira mãe. Logo após o parto, ela saibónus premier betlicença maternidade por cercabónus premier betseis meses. E, mesmo quando retorna ao trabalho, o ritmo não será o mesmo, pelo menos durante os primeiros anosbónus premier betvida do bebê.

Sem a publicaçãobónus premier betartigos recentes, essas mulheres não conseguem comprovar a produtividade e acabam sendo eliminadas dos editais que custeiam o trabalho científico.

E isso gera um círculo vicioso: sem dinheiro, não é possível continuar com os estudos. Sem os estudos, não há novos artigos. E sem os artigos, a medida da produtividade continua a cair ladeira abaixo.

"A gente fala tantobónus premier betdiversidade na ciência, mas as próprias instituições não costumam cultivar isso. Elas pensam que a carreira acontecebónus premier betforma linear, sem pausas ou transformações", diz Staniscuaski.

"Uma breve interrupção no trabalho das cientistas já faz parecer que elas não pertencem mais àquele ambiente", complementa.

A bióloga lembra que o Parent In Science nasceubónus premier bet2016 com um grupobónus premier betsete pessoas (seis mães e um pai). "Todos éramos pais e mães há pouco tempo e tínhamos essa inquietação: como será nossa carreira e o que podemos fazer para mudar as coisas?"

O retrato da realidade

Fernanda Reichert, professora da Escolabónus premier betAdministração da UFRGS, conta que ouviu falar do Parent In Science durante uma palestra na universidade.

"Eu tive minha filha alguns dias depoisbónus premier bettomar posse como professora. Naquele momento, vivenciava tudo aquilo que estava sendo discutido ali", relata a administradora, que passou a integrar e contribuir com o projeto aindabónus premier betmeadosbónus premier bet2016.

A pesquisadora entende que boa parte do sucesso do Parent In Science se deve à seriedade das ações do grupo, que começou a realizar levantamentos entre a comunidade acadêmica e chegou até a publicar artigos científicos chamando a atenção para o problema.

"Desde o início, a nossa abordagem foi centrada nos dados. Assim, podemos conversar com as instituições baseadosbónus premier betalgo concreto, e não apenas num discurso", aponta Reichert.

Um dos achados mais significativos do grupo foi obónus premier betque a mulher, após virar mãe, costuma demorar quatro anos para começar a recuperar o mesmo nívelbónus premier betprodutividadebónus premier betantes.

"Foi exatamente o que aconteceu comigo. O retorno às atividades profissionais é sempre meio confuso, e a gente fica com aquele sentimentobónus premier betculpa. Parece que estamos nos dedicando demais ao trabalho e esquecendo da família, ou vice-versa", confessa Reichert.

Maternidade no Lattes

Uma das ações do Parent In Science que mais gerou repercussão foi o "Maternidade no Lattes", uma campanha para que os períodosbónus premier betlicença após ter um filho fossem registrados nas basesbónus premier betdados oficiais.

Mantido pelo CNPq, o Currículo Lattes é uma espéciebónus premier betLinkedIn dos pesquisadores brasileiros, onde são informadas todas as atividades que eles fazem, como a participaçãobónus premier betconferências, a publicaçãobónus premier betartigos e toda a formação acadêmica (mestrado, doutorado, entre outros).

Após pressão pelas redes sociais e diversas reuniões com representantes da plataforma, o grupo finalmente conseguiu que a informação sobre maternidade entrasse no currículo.

Desde abrilbónus premier bet2021, as cientistas brasileiras conseguem inserir o períodobónus premier betque ficarambónus premier betlicença após o nascimento dos filhos.

Staniscuaski entende que a mudança traz repercussões práticas para a carreira das mães cientistas.

"Agora, no momento da avaliação do currículo para conceder bolsas, as instituições podem checar os períodosbónus premier betausência e entender porque não houve a publicaçãobónus premier betartigos ou uma menor produtividade", destaca.

Na visão da bióloga, as conquistas não param por aí. "A alteração passa a considerar que a maternidade tem um efeito na carreira e as mulheres recebem uma maior sensaçãobónus premier betacolhimento e pertencimento", conclui.

Pandemia agravou o cenário

Se a situação das mães cientistas já não era das melhores, a chegada da covid-19 aprofundou ainda mais as desigualdades e as dificuldades.

Esse cenário foi retratado em outro artigo produzido pelo Parent In Science. Por meiobónus premier betum formulário eletrônico, o grupo levantou dadosbónus premier bet3,3 mil pesquisadores brasileirosbónus premier betdiversas áreas do conhecimento ebónus premier betvárias instituiçõesbónus premier betensino.

Os resultados mostram que os cientistas do sexo masculino foram os que tiveram menos prejuízo na produtividade durante a crise provocada pelo coronavírus. Do outro lado, mães e pesquisadoras negras se mostraram as mais afetadas neste período.

"Esses impactos são provavelmente uma consequência da bem conhecida divisão injusta das tarefas domésticas entre homens e mulheres, fato que foi exacerbada ao longo da pandemia", descreve o artigo.

Com as universidades e os laboratórios praticamente fechados por longos meses, muitos cientistas precisaram adaptar a rotina e trabalharbónus premier betcasa (quando possível). Essa nova realidade impactou a produtividadebónus premier betmuitos deles, especialmente das mulheres negras e das mães, como apontou o trabalho brasileiro.

E, mais uma vez, isso representa uma ameaça na disputa por futuras bolsasbónus premier betpesquisa.

"Esses dados são fundamentais para a gente pensar numa políticabónus premier betapoio nas instituições", acredita Staniscuaski.

Outra iniciativa do Parent In Science após a chegada da covid-19 foi a criação do Programa Amanhã, que incentiva a conclusão da pós-graduação após a maternidade.

A ideia foi montar uma vaquinha para dar suporte financeiro e complementar a renda dessas mulheres com filhos que estão matriculadasbónus premier betprogramasbónus premier betmestrado e doutorado, mas não possuem uma bolsa.

A arrecadaçãobónus premier betfundos, feita por meio da internet, conta com 274 apoiadores e conseguiu juntar 54 mil reais até o momento.

Premiação internacional

Staniscuaski e Reichert não escondem a surpresa que tiveram com o anúnciobónus premier betque o Parent In Science havia ganhado o Prêmio Nature para Mulheres Inspiradoras na Ciência, concedidobónus premier betforma inédita para um grupo brasileiro por uma das maiores publicações científicas do mundo.

"Foi algo extremamente relevante, pois nós somos uma iniciativa jovem, com apenas cinco anosbónus premier bethistória", diz a bióloga.

"Tudo passa tão rápido que às vezes a gente nem consegue assimilar direito o que fizemos nesse tempo. O prêmio coloca issobónus premier betperspectiva e reforça que estamos mudando as coisas", interpreta.

Além do reconhecimento, o prêmio também dará 40 mil dólares (225 mil reais) ao Parent In Science. "Tudo o que fizemos até agora dependia das vaquinhas e dos apoiadores. Com esse montante, podemos pensarbónus premier betações ainda mais relevantes", completa.

Após todas as repercussõesbónus premier betterritório brasileiro, o Parent In Science começa a ganhar a América Latina: o trabalho já é replicado na Colômbia e o mesmo deve acontecerbónus premier betbreve na Argentina, no Equador e no México.

Outra fronteira do projeto é envolver cada vez mais os pais cientistas e estimular os debates sobre as outras configurações familiares e sobre a licença parental, que permita o contato com os filhos por um tempo prolongado.

Para Reichert, iniciativas como o Parent In Science são bem-sucedidas porque mostram que as pessoas não estão isoladas e podem resolver problemas comuns quando trabalhambónus premier betconjunto.

"É possível ser cientista e mãe. Não estamos sozinhas e podemos, juntas, reduzir as dificuldades que enfrentamos."

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