David Bohm, o 'comunista' rebelde da mecânica quântica que era amigobet score netEinstein e deu aula na USP:bet score net

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Já estão circulando rumoresbet score netque eu sou um comunista e esses rumores vão tornar a renovação mais difícil."
Assim tem início a carta, escrita à mão,bet score netinglês,bet score netpapel timbrado da Faculdadebet score netFilosofia, Ciências e Letras da Universidadebet score netSão Paulo (USP), datadabet score net3bet score netfevereirobet score net1954.
Ela é uma entre inúmeras escritas pelo físico e filósofo da ciência americano David Bohm para o seu amigo e colega Albert Einstein entre outubrobet score net1951 e janeirobet score net1955, períodobet score netque Bohm viveubet score netSão Paulo e trabalhou no Institutobet score netFísica da USP.
O que levou um dos grandes físicos do século 20 a ir viver no Brasil?
Quais foram suas contribuições para a ciência?
Por que o Dalai Lama o chamabet score net"meu guru cientista", e por que seu nome é tantas vezes associado ao do pensador indiano Jiddu Krishnamurti?
Figura multifacetada, cuja vida nos permite traçar a história política e as grandes conquistas científicas do século 20, David Joseph Bohm nasceubet score net1917, na Pensilvânia. Seu pai, um imigrante húngaro, era comerciante.
Bohm sofreu perseguições do Estado americano por ser um simpatizante do comunismo que, acreditava-se, dominava "segredos nucleares". Também foi marginalizado na comunidadebet score netfísicos, que não aceitava suas ideias.
Hoje, é tido por seus pares como um dos mais brilhantes teóricos da Física do último século, com contribuições fundamentais para a ciência dos Plasmas e a Mecânica Quântica.
Seu legado inclui também contribuições filosóficas, onde ele usa as teorias da física para explicar, por exemplo, o que é a consciência humana.
Bohm morreubet score netLondres, Reino Unido,bet score net1992. Tragicamente, não obtevebet score netvida o merecido reconhecimento.
Mas por que falarmosbet score netDavid Bohm nesse momento? Veja o que respondem um biógrafo, um colegabet score netBohm e, antes deles, um cineasta:
"A pandemia global está revelando a vulnerabilidadebet score netnossas estruturas políticas, espirituais, econômicas e sociais", disse à BBC News Brasil o cineasta britânico Paul Howard, diretorbet score netum filme sobre Bohm, Infinite Potential (Potencial Infinito,bet score nettradução livre), lançado no ano passado.
"Bohm nos mostra que estamos todos interconectados, ele nos direciona para a Totalidade do Universo. Quando pudermos compreender issobet score netuma forma mais profunda, perceberemos que deveríamos cuidar melhorbet score netnós mesmos, uns dos outros e da casa que todos compartilhamos - o planeta Terra."
Para o físico, historiador e professor da Universidade Federal da Bahia Olival Freire, autor da biografia David Bohm: A Life Dedicated to Understanding the Quantum World (Uma Vida Dedicada à Compreensão do Mundo Quântico,bet score nettradução livre), Bohm é relevante porque suas ideias continuam influenciando a ciênciabet score nethoje e do futuro.
"Bohm foi um pioneiro. Na décadabet score net50, foi o primeiro grande físico a insistir na importânciabet score netuma reinterpretação da Mecânica Quântica - contrariando a ortodoxia. Então, foi precursorbet score netuma área que nos últimos vinte anos explodiu no mundo: a Informação Quântica."
E qual a importância disso?
"Basta ver a disputa hoje entre Google e IBM para ver quem vai chegar ao primeiro computador quântico eficaz."
Freire diz que o pioneirismobet score netBohm também apontou o caminho dos físicos na direçãobet score netuma nova grande fronteira a ser rompida: a almejada reconciliação entre Mecânica Quântica e Teoria da Relatividade Geral (hoje antagônicas) para criar uma teria unificada.
E entre os muitos cientistas queimando seus neurônios para juntar as peças desse quebra-cabeças está o homem que trabalhou com Bohm durante as três últimas décadasbet score netsua vida, o físico e professor emérito da University of London Basil Hiley, hoje com 85 anos.
Por que falarbet score netBohm hoje?
"Por causa da imensa amplitude das explorações que ele fez."
"Ele foi um grande homem porque, apesarbet score netentender muitobet score netfísica, ebet score netter feito contribuições muito importantes para a física, estava interessado mesmo é no contexto maior."
"Se você pega um livrobet score netgraduaçãobet score netMecânica Quântica hoje, vai ver milharesbet score netfórmulas sem qualquer discussão sobre o seu significado. E [entender] o significado da vida era a motivação, era quase a razãobet score netexistirbet score netBohm."

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"Ele queria saber: o que é realidade? O que estamos fazendo aqui? Quem somos nós, seres humanos? O que é o nosso pensamento? Somos só neurônios ou existe algo mais?"
"E seus textos abrem os horizontesbet score nettodo mundo para um jeitobet score netpensar que não é comum", diz Hiley.
Antesbet score netse despedir, um pedido do ilustre cientista à repórter:
"Por favor, escreva uma reportagem que seja fiel a David Bohm", diz o físico. "Essa história precisa ser contada."
Vamos tentar, professor Hiley. Nesta reportagem, com uma "mãozinha"bet score netHiley e do historiador Olival Freire, apresentamos a você as várias facetasbet score netDavid Bohm. O ser humano, o cientista, o filósofo e amigo dos gurus e o exilado professor da USP. E prepare-se também para mergulhar no mundo misterioso e intrigante da Mecânica Quântica. Não dá para entender David Bohm sem ela.
Mente brilhante e vida marcada por perdas e perseguições
Desde a Segunda Guerra Mundial, muitos homens brilhantes foram vítimas do que poderíamos chamarbet score net"a maldição nuclear".
Bohm teria sido um deles. Mas no seu caso, diriam alguns, talvez possamos falarbet score netduas maldições - a nuclear e a comunista.
O contexto é o seguinte:bet score net1942, um jovem David Bohm chegava à Universidade da Califórniabet score netBerkeley, para fazer seu PhD com o teórico da Física Robert Oppenheimer. O professor era também o chefe do Projeto Manhattan para a construção da bomba atômica americana - que se iniciava exatamente naquele ano.
Como é comumbet score netsituações como essa, o orientador pede ao aluno que resolva um certo problemabet score netFísica.
Enquanto trabalha embet score nettese, Bohm e outros alunosbet score netOppenheimer entrambet score netcontato com ideologias comunistas. Alguns, como Bohm, resolvem se afiliar ao partido. Anos mais tarde, Bohm falaria da experiência ao colega e amigo Basil Hiley:
"Isso sim foi uma maldição sobre ele", comenta o físico. "Sabe por que ele se afiliou ao Partido Comunista? Porque queria encontrar pessoas com quem pudesse falar sobre [as ideias do filósofo Friedrich] Hegel."
"Eu perguntei a ele: 'David, com quantas pessoas [do partido] você discutiu Hegel?'"
"Nenhuma, não sabiam quem ele era", Bohm teria respondido. Nove meses depois, desapontado, ele teria canceladobet score netafiliação.
De volta aos estudos na universidade.
Bohm resolve o problemabet score netFísica e entregabet score nettese, mas algo inusitado acontece, explica o historiador Olival Freire.
"Oppenheimer tinha formulado o problema. E como a solução para esse problema tinha relevância para os estudos militares, a tese foi imediatamente classificada, considerada secreta."
Bohm nunca mais poria os olhos no trabalho. Ele obtém seu títulobet score netdoutorado normalmente, diz Freire. "Mas esse episódio colocou Bohm num circuito problemático" - como veremos mais adiante.
Em julhobet score net1945, no Novo México, os Estados Unidos testam a primeira bomba nuclear da história. O teste dá início a uma corrida frenética entre outras potências com ambições nucleares. Quem não domina essa tecnologia precisa se virar, e uma das armas usadas nesse vale-tudo é a espionagem.

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"Qualquer grande livro sobre espionagem no século 20 tembet score netreservar um capítulo enorme ao problema da espionagem atômica, com sequestros e assassinatosbet score netcientistas envolvidos nisso", diz Olival Freire.
"O conhecimento nuclear se converteubet score netum conhecimento proibido e, portanto, maldito."
Em agostobet score net1949, os soviéticos testambet score netprimeira bomba. Um climabet score nethisteria toma conta do mundo.
"Os governantes sabiam que o uso desses arsenais nucleares poderia levar ao extermínio da espécie humana", diz Freire.
Nos Estados Unidos, a preocupação era: alguém vazara segredos nucleares para os soviéticos? Quem seria esse "inimigo entre nós"?
Inicia-se no país a era macarthista (personificado na figura do político Joseph McCarthy), períodobet score netque muitos americanos são acusadosbet score nettraição e subversão por supostos vínculos com ideologias comunistas. Sofrem perseguições, perdem seus empregos. Alguns são aprisionados.
David Bohm, a essa altura, é um jovem professor na prestigiosa Universidade Princeton,bet score netNova Jersey.
Amigobet score netAlbert Einstein, frequenta a casa do ilustre físico, que alémbet score netoferecer o jantar, ainda toca violino para os convidados.
Na carreira, Bohm começa a mostrar a que veio.
Convidado a dar um curso sobre Mecânica Quântica, se depara com um problema, conta Hiley.
"Ele deu o curso e, quando terminou, pensou, 'tem alguma coisabet score netMecânica Quântica que eu não entendo… já sei! Vou escrever um livro.'"
"Então, ele escreveu o livro. E era um dos melhores que havia na época. Foi no começo dos anos 50, e esse livro se chamava Quantum Theory. Nenhum outro físico abordava as ideias do [teórico da Física Niels] Bohr daquela forma. Era cheiobet score netinsight."

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Bohm desponta como uma nova estrela da Física. Mas a partir desse ponto, a trama começa a se complicar. Vários dos episódios narrados até agora, aparentemente isolados, vão se combinar e gerar uma reaçãobet score netcadeia que mudará para sempre o destino do cientista.
A tese classificada e a passagem pelo Partido Comunista farão dele uma figura "perigosa".
"Ele era suspeito, aos olhos do macarthismo,bet score netser um comunista que dominava segredos nucleares", diz Freire. "Sabemos hoje que nenhum desses segredos seria capazbet score netlevar à bomba, mas não era assim que se pensava naquela época."
Em 1949, Bohm é chamado a prestar depoimento à Comissãobet score netAtividades Antiamericanas, Ele se recusa a dizer se é ou não membro do Partido Comunista e por isso é preso.
"Ele foi libertado sob fiança e depois inocentado, mas não se sentia seguro", conta Freire.
Pouco tempo depois, Bohm perde seu cargobet score netPrinceton.
Em 1950,bet score netum caso que se tornaria emblemático da Guerra Fria, o casal Julius e Ethel Rosenberg é preso, acusadobet score netespionagem. Em 1953, os dois serão executados na cadeira elétrica.
Temeroso, Bohm usa seus contatos. Com a ajuda do físico brasileiro Jaime Tiomno, obtém um cargobet score netprofessorbet score netFísica Teórica no Institutobet score netFísica da Universidadebet score netSão Paulo e vai morar no Brasil.
Bohm não pode imaginar que, quatro anos mais tarde, deixará o Brasil como cidadão brasileiro, e que nunca mais voltará a viver nos EUA. Ele também não sabe que este será um duplo exílio: seu jeito originalbet score netpensar Mecânica Quântica fará dele um "dissidente" também entre seus colegas físicos.
Na mira do macarthismo: David Bohm e o exílio no Brasil
"6bet score netoutubro, 1953
Querida Hanna,
Tenhobet score netme desculpar por não ter respondidobet score netúltima carta, mas ando cansado e deprimido, e por isso tendo a deixar a resposta para depois. Fico felizbet score netsaber que você está bem, e tão feliz quanto alguém pode estar nesses tempos. (...)
Quanto a mim, temo que eu e o Brasil jamais consigamos nos acertar.
Primeiro, tem o clima, que é muito quente para mim (mesmobet score netSão Paulo, e especialmente no Rio), e que torna muito difícil, para mim, trabalhar. Eu poderia me acostumar ao clima, se houvesse algum fator atrativo como compensação, mas não há."
Bohm, como revela essa carta, endereçado à ex-namorada Hanna Loewy, não é feliz no Brasil.
Além do calor, ele reclama do barulhobet score netSão Paulo e da comida, e diz quebet score netsaúde não vai bem (na carta acima, comenta que sofre com diarreia constante, que ele associa à comida).

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Na universidade, não se entusiasma com as alunos, que ele acha "desinteressados". Também reclama da corrupção.
Mas para Olival Freire, dois fatores impedem que Bohm avaliebet score netforma equilibradabet score netexperiência brasileira.
Primeiro, o trauma profundobet score netperder seu país, seu cargo na universidade e o convívio com os amigos e colegas.
"Ele não tinha planosbet score netvir para o Brasil. Em quatro ou cinco meses, perde a vida que tinha", diz Freire.
O segundo fator é que, intimamente, Bohm sente a ameaça constante do macarthismo, e teme ser deportado. Isso explica a carta que abre essa reportagem, escrita por ele ao amigo e colega Albert Einstein.
"Parte da insatisfação [com o Brasil] era devida ao medo que ele tinha das perseguições norte-americanas", diz o historiador.
"Ele chega a São Paulo, o consulado americano o chama para uma entrevista e pede seu documento. Ele entrega o passaporte e o consulado retém o passaporte. Dizem que o passaporte será devolvido quando ele quiser retornar aos Estados Unidos", conta Freire.
Bohm está efetivamente preso no Brasil. Não pode participarbet score netconferências internacionais, essenciais à vidabet score netqualquer cientista. O único país para onde ele pode viajar são os EUA.
"Mas ele tinha medobet score netvoltar. Ele carrega essa tensão até os últimos dias aqui", diz o historiador.
Todo esse drama pode ser acompanhado na correspondência que Bohm mantém com amigos nesse período. Entre eles, um tem papelbet score netdestaque: Albert Einstein.
"Einstein foi extremamente solidário a David Bohmbet score nettodo o processo do macarthismo", conta Freire.
Alémbet score netaconselhar Bohm a obter a cidadania brasileira, Einstein usabet score netinfluência pessoal para tentar ajudar o amigo.
"Ele escreveu cartas apoiando Bohm. Temos publicada aqui no Brasil uma carta dirigida ao presidente da república, Getúlio Vargas, para ser utilizada caso houvesse necessidadebet score netdefender Bohmbet score netalgum momento", diz o historiador.
A carta, mais tarde publicada pela revista Estudos Avançados da USP, databet score net24bet score netmaiobet score net1952.
"Caro Sr. Presidente,
(…)
O dr. Bohm, que eu conheço há vários anos é, na minha opinião, um físico teórico muito destacado e original. Profissionalmente, ele tem contribuído para o crescimento do nosso conhecimento da Mecânica Quântica e, mais recentemente, tornou-se muito interessado nas implicações filosóficas fundamentais daquele teoria.
(…)
Acredito que saiba que o dr. Bohm teve algumas dificuldades políticas nos Estados Unidos. Eu não tenho nenhuma hesitaçãobet score netafirmar que, na minha opinião, aquelas dificuldades resultam da tensa situação do pós guerra ebet score netnada dizem respeito ao caráter moral do dr. Bohm. Eu tive no passado, e continuo a ter, a mais elevada confiança nele, tanto como cientista quanto como pessoa.
Respeitosamente,
Albert Einstein"

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A carta não será usada. Quase dois anos mais tarde, no dia 24bet score netagostobet score net1954, Getúlio Vargas comete suicídio. Três anos após escrevê-la,bet score net18bet score netabrilbet score net1955, morre Albert Einstein. Seu plano, porém, é bem-sucedido.
Quatro meses antes da morte do amigo, Bohm deixa o Brasil como cidadão brasileiro rumo a Israel, onde viverá por dois anos. De lá, seguirá para o Reino Unido, que será seu lar atébet score netmorte,bet score net1992. Ele conservarábet score netcidadania brasileira por maisbet score nettrês décadas.
Mas afinal, o que o Brasil deu a Bohm? E o que Bohm deu ao Brasil?
"Eu diria que o Brasil deu a Bohm um porto num momento difícil da vida dele,bet score netque ele não se sentia seguro. Também não se sentia completamente seguro no Brasil, mas passou três anos e meio aqui sem ser incomodado."
"E era um porto seguro dentrobet score netum departamentobet score netFísica", acrescenta.
Enquanto muitosbet score netseus colegas nos Estados Unidos sofrem perseguições e perdem seus empregos, Bohm segue trabalhando. Publica artigos com os brasileiros Jaime Tiomno e Walter Schutzer. E nesse período, conhece um dos mais importantes teóricos da Física do Brasil, o também matemático, críticobet score netarte e político Mário Schenberg.
"Ele aqui encontrou Mário Schenberg, com quem teve divergências quanto à interpretação da Mecânica Quântica. Mas Schenberg teve influência sobre ele. Na obra filosófica e cientificabet score netDavid Bohm a gente encontra as marcas da influênciabet score netMário Schenberg."
Com financiamento do CNPq (Conselho Nacionalbet score netPesquisas), que acabarabet score netser criado, ele traz outros físicos para trabalhar no Brasil.
Bohm, porbet score netvez, contribui para a consolidação do Departamentobet score netFísica da Universidadebet score netSão Paulo.
"As pessoas que estudaram com ele se referem aos bons cursos que ele deu no Brasil."
Alguns desses alunos, diz Freire, se tornarão grandes físicos.
"Vou citar dois ou três nomes. Ernesto Hamburger, Newton Bernardes e Moysés Nussenzveig. Três dos melhores físicos que já tivemos no Brasil. O Moysés está vivo."
Também é durante o exílio no Brasil que Bohm verá publicado o seu artigo propondo uma interpretação diferente da teoria quântica. A publicação,bet score netjaneirobet score net1952, colocará Bohmbet score netconfronto com a ortodoxia na comunidadebet score netfísicos.
Entre seus críticos mais veementes no período está o homem que ganhara o Nobelbet score netFísicabet score net1945, Wolfgang Pauli. O cientista chama a teoriabet score netBohmbet score net"metafísica artificial".
Bohm também sofre ataques por suas contribuições no campo da filosofia da ciência.
Em resenha na revista Physics Today sobre o livrobet score netBohm Totalidade e a Ordem Implicada, publicadobet score net1980, o físico Martin Curd diz: "Suas ideias são, com frequência, expressas não matematicamente, por meiobet score netmetáforas e analogias parciais (…) e caracterizadas por considerável imprecisão e vagueza".

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Bohm só será reabilitado anos mais tarde. Na opiniãobet score netalguns, tarde demais.
"É uma pena, é muito triste mesmo, que ele não tenha vivido para ver comobet score netreputação explodiu recentemente. Sua interpretação da Mecânica Quântica está se tornando respeitada não apenas pelos filósofos da ciência mas também pelos físicos quadradões", escreveu a amigabet score netBohm Melba Philipsbet score netcarta ao físico e co-roteiristabet score netInfinite Potential David Peat, no dia 17bet score netoutubrobet score net1994, dois anos após a mortebet score netBohm.
Em resposta às críticas, conta Basil Hiley, Bohm dizia o seguinte:
"Basil, a maneira como eu abordo a Física Teórica é: eu faço propostas. Podem estar certas, podem estar erradas. Mas são propostas."
Fascinante, misteriosa, bizarra: o que é Mecânica Quântica?
David Bohm fez contribuições fundamentais para várias áreas da Física, como a ciência dos plasmas, por exemplo. Mas o campo da Física que desafiará Bohm até o último diabet score netsua existência chama-se Mecânica Quântica. Ele dedicabet score netvida a compreendê-la, sugere Freire no títulobet score netsua biografia.
E olhandobet score netperto, não é difícil entender o que atraiu Bohm.
Veja como o físico David Peat explica a Mecânica Quânticabet score netseu filme:
"A Mecânica Quântica nos falabet score netuma realidade que não pode ser entendida na nossa experiência cotidiana. É um mundo misterioso, onde não existe espaço nem tempo linear. Um universo não dividido, onde tudo está interconectado, incluindo nós próprios. Tudo o que existe no universo conhecido vem desse lugar e tudo o que nós somos depende dele."
(Peat, que faleceubet score net2017, foi amigobet score netDavid Bohm e é autor da primeira biografia do físico, Infinite Potential - The Life and Times of David Bohm. Em tradução livre, Potencial Infinito - A Vida e os Temposbet score netDavid Bohm. O livro foi publicadobet score net1997.)
Agora, vamos a uma definição mais detalhada. O que é Mecânica Quântica?
A Mecânica Quântica é uma das grandes teorias da Física. Há outras, como a Teoria da Relatividade Geral, por exemplo.
Mas enquanto a Relatividade se ocupa do Universo macroscópico, das coisas grandes - o cosmos, o espaço, o tempo, a gravidade -, a Mecânica Quântica está interessada nas menores coisas do Universo.
Ela descreve o comportamentobet score netpartículas infinitamente pequenas, como átomos, moléculas, partículas subatômicas. E descreve a interação dessas partículas com a luz (a radiação eletromagnética).
Bem, como toda teoria da Física, a Mecânica Quântica tem uma estrutura matemática.
Lembrando que, no caso da Mecânica Quântica, a realidade que a teoria está descrevendo é tão infinitamente pequena que a humanidade não tem como conhecê-la visualmente. Um grãobet score netareia contém mais átomos do que toda a areiabet score nettodas as praias do planeta, diz Peatbet score netseu roteiro.
Os cientistas não podem ver o mundo quântico, mas expressam esse mundo por meiobet score netequações matemáticas.

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E como é que eles sabem que as equações estão certas? Porque elas predizem certos fenômenos físicos, explica Olival Freire. Esses cálculos levaram a humanidade a criar, por exemplo, a bomba atômica (criada com base na Mecânica Quântica e na teoria da Relatividade), o transistor, o laser, a ressonância magnética nuclear e o microscópio eletrônico. Hoje, são a basebet score netindústriasbet score netbilhõesbet score netdólares, como as dos telefones celulares e tablets.
"Há consenso entre matemáticos, físicos e engenheiros quanto ao modo como você calcula e extrai predições da Mecânica Quântica. Não há dúvida sobre como conectar dois chips para produzir certo efeito na hora que você constrói, por exemplo, o celular", diz Freire.
Os problemas começam a surgir quando os cientistas tentam usar as equações como pontobet score netpartida para dizer o que é a realidade.
Por exemplo, eles se perguntam: a realidade é feitabet score netpartículas oubet score netondas? (E por que isso importa? - você talvez queira saber. Porque veja bem: um ponto estábet score netum lugar definido. Mas uma onda é algo espalhado, ela estábet score netvários lugares ao mesmo tempo. Ou seja, a diferença entre as duas coisas é muito grande, é fundamental.)
Na busca da resposta, um dos instrumentos disponíveis aos cientistas é o experimento da dupla fenda, um clássico da Física criado no século 19 para o estudo da luz.
"Você ilumina dois pequenos buraquinhos muito próximos, furados por agulhas. E o que você vai ver do outro lado são faixas brancas, portanto iluminadas, e faixas mais escuras, portanto não iluminadas", explica Freire.
Esses padrões são a melhor evidência da natureza ondulatória da luz, ele diz, porque só ondas têm a propriedadebet score netgerar esse tipobet score netfigura.
Os físicos quânticos decidem então reviver esse experimento. Eles disparam elétrons ou fótons na direção das duas fendas. E observam algo muito estranho: o experimento traz duas respostas diferentes.
Quando o cientista monitora o comportamento do elétron, ou seja, quando o cientista "está olhando", o elétron se comporta como um ponto e passa por uma das fendas. Então, o que se vê do outro lado é uma mancha única, um borrão. Mas quando o cientista tira o marcador, ou seja, quando ele "não está olhando", o elétron se comporta como uma onda e passa pelas duas fendas ao mesmo tempo. Como resultado, a imagem produzida pelo elétron é uma mancha com faixas brilhantes e escuras.
"É um experimento icônico porque desde 1927 ele vem sendo debatido e objetobet score netinquietação" diz Freire.
"Uns, como o dinamarquês Niels Bohr, por exemplo, viram aqui uma nova lição filosófica, epistemológica. Uma dependência do que é observadobet score netrelação ao observador."
É nesse ponto que começa a emergir o conceito que, décadas mais tarde, vai permitir o inusitado encontro entre David Bohm e o pensador Jiddu Krishnamurti: a noçãobet score netque o observador é o observado e o observado é o observador.
Mas voltemos à pergunta que os físicos não conseguem responder (a realidade é feitabet score netondas ou partículas?). Diante desse impasse, a ortodoxia da Física decide o seguinte: não dá para resolver essa questão, chegamos até onde dava para chegar. A Mecânica Quântica está resolvida, ela funciona, certo? Deixemos esse assuntobet score netlado e bola para a frente com a Física!
"Outros físicos, como o Einstein, nunca gostaram dessa ideia, achavam que havia uma insuficiência na teoria. Essa é a grande cisão na Mecânica Quântica", diz Freire.
Entrabet score netcena David Bohm. Ele vai avançar a Física Quânticabet score netvárias formas, mas vamos focarbet score netduas. Primeiro, vai "brigar" com os ortodoxos, insistindo que tem outras formasbet score netvocê interpretar aquelas equações matemáticas. Depois, ele vai ajudar a identificar outras bizarrices da Mecânica Quântica - os chamados Efeitos Quânticos.
Vejamos algumas das contribuiçõesbet score netBohm.

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A Reinterpretaçãobet score netBohm para a Mecânica Quântica
David Bohm é da mesma opinião que o amigo Einstein. Tem alguma coisa errada com a Teoria Quântica, ele pensa.
Ebet score net1952, no exílio no Brasil, Bohm publica seu (mais tarde famoso) artigo das Variáveis Escondidas, no qual propõe uma interpretação diferente das equações matemáticas da Mecânica Quântica.
A nova interpretação leva aos mesmos efeitos, ou, nas palavrasbet score netFreire, "é empiricamente indistinguível da interpretação aceita até então". (Ou seja, com base nela também dá para construir iPads e celulares.)
"Na interpretação do Bohm, o elétron será sempre um ponto e uma onda. De modo que o ponto passa apenas por uma das fendas e a onda passa pelas duas fendas ao mesmo tempo", explica o historiador.
Mas como é possível isso?
Essa ideia está na base do conceitobet score netTotalidade, a noçãobet score netque tudo o que existe no Universo está interconectado, tudo é uma coisa só. Voltaremos a ele mais adiante.
Do pontobet score netvista pessoal, a reinterpretaçãobet score netBohm para a Mecânica Quântica tem um custo alto: o físico, levado ao exílio por perseguições políticas, torna-se um "dissidente" também entre os colegas. (Esse é, aliás, o títulobet score netum outro livrobet score netFreire, The Quantum Dissidents, que conta a históriabet score netvários rebeldes quânticos, entre eles, David Bohm.)
Por mais que tentem, os cientistas não conseguem encontrar erros nos cálculosbet score netBohm, explica Freire.
"Mas durante décadas,bet score netinterpretação da Mecânica Quântica foi tratada com um mistobet score netindiferença e às vezes até hostilidade pela comunidadebet score netfísicos", ele diz.
Hoje, reconhecida como um dos grandes legadosbet score netDavid Bohm para a ciência, a teoria é pontobet score netpartida para pesquisadores que estudam a chamada Cosmologia Quântica - um ramo da Física que tenta combinar Teoria Quântica com Gravitação (ou seja, Teoria Quântica com Teoria da Relatividade).
Bem, um outro legadobet score netBohm são as explorações que fez sobre os chamados Efeitos Quânticos. Estranhos, quase mágicos, eles são capazesbet score netabalar as certezas dos racionais mais convictos.
Vamos explicar um deles, o Efeito Aharonov-Bohm, que Bohm descreve com seu aluno Yakir Aharonovbet score net1959, já vivendo no Reino Unido. O artigo sobre esse efeito é o mais citadobet score netBohm e valeu à dupla indicações ao Nobelbet score netFísica.
Emaranhamento Quântico e Efeito Aharonov-Bohm: quando ciência pura parece magia
A Teoria Quântica prevê fenômenos que contrariam as leis da nossa vida cotidiana. Ela diz, por exemplo, que duas partículas subatômicas que estão separadas espacialmente estão instantaneamente correlacionadas. Ou seja, se você interferirbet score netuma delas, a outra, não importa quão distante esteja, também será afetada.
(Você talvez pense, já vi isso antes. Não é isso que um imã faz? Não, responde Freire. Porque quando você aproxima o imãbet score netum parafusinho, por exemplo, vai haver um intervalobet score nettempo até o efeito magnético do imã chegar ao parafuso. No caso das duas partículas subatômicas, as duas são afetadas simultaneamente.)
Esse efeito à distância, ou, nas palavrasbet score netFreire, "essa dependência que existe entre duas partículas que estão afastadas", chama-se Emaranhamento.
Fazendo uma analogia, imagine partirmos uma laranja ao meio e colocarmos uma metade na redação da BBC News Brasilbet score netLondres e a outra na nossa redaçãobet score netSão Paulo. Segundo o efeitobet score netEmaranhamento, se um repórter movimentar a metade da laranjabet score netSão Paulo, a metade que estábet score netLondres também vai se mexer.
Outra analogia: imagine que você leitor mexe no seu cabelo e,bet score netoutra cidade,bet score netmãe sente alguém fazendo nela um cafuné.
Pois é, no universo das coisas infinitamente pequenas descrito pela Física Quântica, algo análogo a isso é possível.
"Einstein chamava issobet score net'spooky action at a distance', ação fantasmagórica à distância", explica Freire. "Ele recusava a possibilidade desses efeitos existirem na natureza, mas o desenvolvimento da Física demonstrou que eles existem."
E veja aqui como Bohm interpreta esse efeito estranho previsto pela Mecânica Quântica:
"Esse emaranhamento entre duas partículas distantes para o Bohm não era problema porque, para ele, as duas partículas são partículas e ondas ao mesmo tempo. Então, o que é que está interagindo um com o outro? São as ondas, não as partículas", explica Freire.
O Emaranhamento Quântico ocorre entre duas partículas. Mas a Mecânica Quântica também prevê uma dependência entre uma partícula e um campo magnético, mesmo que a partícula esteja fora do alcance desse campo.
Bohm e Aharonov decidiram criar um experimento para provar a existência desse efeito. Olival Freire descreve como a dupla fez isso:
"Eles pegaram uma espéciebet score netbobina, que é um cilindro, com um fio circulando o cilindro. Quando você põe a carga elétrica ali, para circular naquele fio, dentro do cilindro você tem um campo magnético uniforme. E fora do cilindro o campo é zero."
"Então, eles pegaram esse cilindro, fizeram os cálculos e mostraram que uma partícula carregada que passasse distante dessa bobina seria afetada pelo campo magnético confinado na bobina."
Essas são algumas das contribuiçõesbet score netDavid Bohm no que Freire chamabet score net"terreno rochoso da ciência".
Agora, vamos conhecer um pouco do legadobet score netBohm, o filósofo da ciência, para a humanidade.
Os 'voos audaciosos' do filósofo David Bohm: Consciência, Potencial Quântico, Totalidade e Ordem Implicada
Basil Hiley lembra-se bembet score netseu último encontro com David Bohm.
"No diabet score netque ele morreu, estivemos juntos no [Birkbeck] College. Ele sempre passava na minha sala quando estava na cidade."
Os dois conversam um pouco. "Coisasbet score netrotina, nada que me chamasse a atenção."
Hiley decide ir para casa mais cedo e se despede do amigo. Pouco depois, Bohm telefona para a esposa, Sarah. Diz que vai pegar um táxi para casa. E acrescenta:
"É quase insuportável - acho que estou muito, muito pertobet score netalgo importante", ele teria dito.
"Quando chegueibet score netcasa, recebi a notíciabet score netque ele tinha morrido", conta Hiley.
O físico não sabe o que se passou na cabeça do amigo naquele diabet score netoutonobet score net1992, mas tem uma suposição.
"Ele estava interessado na relação entre a mente e a matéria. Naquela época, nos perguntávamos se a Mecânica Quântica nos daria a chave para entendermos a mente. Um tema muito difícil, que ocupou a vida dele 24 horas por dia nesse período final."
"Por isso, acho que provavelmente ele viu alguma coisa relacionada à consciência."
Bohm propõe que uma teoria que seja uma generalização da Mecânica Quântica vai nos levar também à explicação do fenômeno da consciência, diz Olival Freire. "Para ele, a consciência é parte da realidade, não um domínio separado."
Para o historiador, essa e outras das propostas filosóficasbet score netBohm são "voos audaciosos" que representam o aspecto mais conjecturalbet score netseu trabalho.
Teria Bohm, no último diabet score netsua vida, encontrado a chave que desvendava o mistério da consciência humana?
Jamais saberemos. Mas suas ideias continuam sendo investigadas por cientistas hoje. Entre eles, o ganhador do Nobelbet score netFísicabet score net2020, Roger Penrose, amigo e colegabet score netDavid Bohm. Penrose discute a questão da consciênciabet score netseu livro "A Mente Nova do Rei".
Outros voos audaciososbet score netBohm são seus conceitosbet score netPotencial Quântico, Totalidade e Ordem Implicada. Vamos a eles:
O que é Totalidade segundo David Bohm?
Para fazer a Reinterpretação da Mecânica Quânticabet score net1952, Bohm introduziu um conceito que ele chamoubet score netPotencial Quântico.
"Trata-sebet score netuma função matemática que conecta instantaneamente partículas muito distantes", diz Freire.
"Nos anos 1960, quando já estavabet score netLondres, ele formulou a hipótesebet score netque tanto a Mecânica Quântica quanto o Potencial Quântico estariam sugerindo uma ideiabet score netTotalidade."
Bohm discute esse conceito com seu colaborador Basil Hileybet score netum livro que os dois escreveram juntos, Totalidade e o Universo Indiviso.
Eis aqui algumas analogias, cortesia do próprio professor Hiley para a BBC News Brasil:
"Na nossa filosofia reducionista, presumimos que o todo pode ser analisado como partes independentesbet score netinteração umas com as outras. O sistema é um gigantesco mecanismobet score netrelógiobet score netque todas as rodas dentadas podem ser separadas e depois colocadas juntas para que voltem a funcionar."
"Agora, pensebet score netum sistema no qual as propriedades das partes são determinadas pelo todo. Você não pode retirar as peças e 'colocá-las na mesa' como as rodas dentadas."
"Um exemplo simples - os redemoinhosbet score netum rio. Você não pode retirar o redemoinho e colocá-lo numa mesa. É o movimento do líquido que cria o vórtice. O todo gera as partes."
"Organismos vivos são bons exemplos. Você não pode pegar um embriãobet score netcrescimento, parti-lobet score netpedaços, colocar tudo juntobet score netnovo e esperar que ele cresça."
A ideiabet score netTotalidade ganha uma conotação quase mística quando aplicada a nós, seres humanos.
"Você é uma observadora, eu sou um outro observador e estamos conversando como se fôssemos pessoas independentes", diz Hiley.
"Mas na verdade, não somos. E tem muito poucobet score netnós que é independente um do outro."
"E o que nós observamos quando chegamos nas coisas muito pequenas é que você não pode separar a partícula do seu ambiente. [Niels] Bohr estava certo. Você não pode separar o observador do observado."
Você leitor talvez esteja se perguntando: mas então como é possível que duas pessoas conversem, e que eu esteja aqui lendo essa reportagem?
Para encaixar a experiência humana da realidadebet score netsuas conjecturas sobre o mundo quântico, David Bohm introduz o conceitobet score netOrdem - a Ordem Implicada, ou Implícita, e a Ordem Explicada, ou Explícita.
Bohm chama o mundobet score netque o professor Hiley conversa com a repórter da BBC News Brasilbet score netordem "explícita" ou "explicada".
Mas esse mundo é apenas a superfície, propõe Bohm. Existe algo subjacente a essa realidade. Uma ordem profunda onde tudo está internamente ligado a todo o resto: a ordem implicada. Nesse lugar, o mundo subatômico, das coisas infinitamente pequenas, não há objetos separados, e sim um processobet score netmovimento constante. A realidade que vivenciamos na nossa vida cotidiana resulta desse processo, diz Bohm.
David Bohm e Jiddu Krishnamurti - Um diálogobet score net25 anos

Crédito, Getty Images
Para quem gostabet score netfilosofar, as conjecturasbet score netBohm são um convite a viagens profundas da imaginação.
Físicos respeitados, o líder espiritual do Tibet Dalai Lama e o renomado escultor britânico David Gormley discutem algumas delas no filme Infinite Potential. Mas na décadabet score net1960, quando Bohm trabalha nesses conceitos, a maioria dos seus colegas não se mostra muito interessada. (Lembrando que, nesse período, Bohm é um "dissidente" na comunidadebet score netfísicos.)
Um dia, por acaso, a esposabet score netBohm encontrabet score netuma livraria um livrobet score netum pensador indiano chamado Jiddu Krishnamurti que dizia: "o observador é o observado".
Essa descoberta casual dá início a um diálogo que começabet score net1960 e durará 25 anos. Dele restam vários livros e também vídeos disponíveis hoje no YouTube.
Para muitos, fica também uma pergunta: como se explica essa afinidade tão profunda entre um cientista e um pensador indiano?
O indiano Krishnamurti nasceubet score net1895 e morreubet score net1986. Foi educado segundo os preceitos da Teosofia para um líder espiritual da humanidade, mas rejeitou essa missão e trilhou seu próprio caminho como pensador.
Para Basil Hiley, os diálogos do amigo com Krishnamurti eram uma espéciebet score netexercício filosófico.
"Ninguém na comunidadebet score netfísicos conversaria com Bohm sobre os temas que ele discutia com Krishnamurti."
"Ninguém, nem mesmo eu", admite.
"As ideiasbet score netBohm iam sendo desenvolvidas à medida que ele conversava com as pessoas. E ele precisavabet score netalguém que [assim como ele] percebesse o problema do observador e do observado."
"[Os diálogos] eram um exercíciobet score netuma áreabet score netque ele não podia exercitar seu cérebro, a não ser por meio dessa amizade com Krishnamurti."
Olival Freire lembra que amizades entre físicos e pensadores religiosos não são raras. "Há vários casos", diz. "O ponto é: a Mecânica Quântica abre espaço para conjecturas."
Mas depoisbet score netestudarbet score netdetalhe a vidabet score netBohm, o historiador sugere uma motivação a mais para esse encontro: decepcionado com a experiência comunista soviética, Bohm estaria buscando um caminho alternativo para a transformação da sociedade.
"Essa é a minha interpretação", diz Freire.
"Até 1956, Bohm tinha convicções marxistas profundas e essa conexão [com o ideal marxista] se manteve no Brasil ebet score netIsrael."
Mas dois eventos na história do século 20 mudariam isso, diz Freire. As denúncias dos crimesbet score netJosef Stalin e a invasão da Hungria pela União Soviética, ambosbet score net1956.
"A correspondênciabet score netBohm evidencia impacto imenso desses acontecimentos. Para ele, o mundo acabou", conta o historiador.
"Entrevistei o físico brasileiro Jean Meyer, que esteve com Bohmbet score netParisbet score net1957, na época da invasão soviética da Hungria. Ele me contou que Bohm chorava feito criança depoisbet score netouvir a notícia."
Olival Freire faz uma ressalva:
"A buscabet score netespiritualidade por Bohm não é uma busca individual. É uma busca para a sociedade. De elevação da sociedade pelo autoconhecimento, pela superação da fragmentação entre seres vivos."
Quase três décadas após aquela última conversa com David Bohm, Basil Hiley admite que ainda sente faltabet score nettrocar ideias com ele. Físicos são pessoas muito conservadoras, comenta. Bohm era diferente.
"Era um cara muito aberto."
Bem humorado, Basil Hiley lamenta também a caixabet score netchampagne que, na opinião dele, Bohm ficou lhe devendo.
Bohm prometeu dar a champagne a quem resolvesse um famoso problemabet score netFísica, a Equaçãobet score netDirac.
"Bem, eu resolvi esse problema mas ele foi se esconder lábet score netcima para não terbet score netpôr a mão no bolso e comprar a champagne."
*Os documentos e cartasbet score netDavid Joseph Bohm incluídos nessa reportagem foram gentilmente cedidos pela Birkbeck Library, Birkbeck, University of London

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