'Não rejeitamos estrangeiros se forem turistas, cantores ou atletas famosos, rejeitamos se forem pobres':sport io bet

Adela Cortina

Crédito, Adela Cortina

Legenda da foto, Adela Cortina cunhou um novo termo: 'aporofobia', que significa ódio aos indigentes, aversão aos desfavorecidos
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sport io bet BBC Mundo - Você cunhou há maissport io bet20 anos o termo "aporofobia", reconhecido pela Real Academia da Língua e incluídosport io betseu dicionário. Como surgiu? De onde vem etimologicamente?

sport io bet Adela Cortina - O termo "aporofobia" vemsport io betduas palavras gregas: "áporos", o pobre, o desamparado, e "fobéo", que significa temer, odiar, rejeitar. Da mesma forma que "xenofobia" significa "aversão ao estrangeiro", aporofobia é a aversão ao pobre pelo fatosport io betser pobre.

E a palavra surgiu da forma mais simples, quando percebemos que não rejeitamos realmente os estrangeiros se são turistas, cantores ou atletas famosos, rejeitamos se eles são pobres, imigrantes, mendigos, sem-teto, mesmo que sejam da própria família.

garotos

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Legenda da foto, Da mesma forma que 'xenofobia' significa aversão ao estrangeiro, 'aporofobia' é a aversão ao pobre pelo fatosport io betser pobre

sport io bet BBC Mundo - Por que é importante que haja uma palavra para denominar o ódio aos sem-teto?

sport io bet Cortina - Porque as pessoas precisam dar nomes às coisas para reconhecer que existem e identificá-las; ainda mais se forem fenômenos sociais, não físicos, que não podem ser apontados com o dedo.

Nomear a rejeição aos pobres permite-nos tornar visível esta patologia social, investigar as causas e decidir se concordamos que continue a crescer ou se estamos dispostos a desativá-la por nos parecer inadmissível.

sport io bet BBC Mundo - A aporofobia é um fenômeno especialmentesport io betnossos tempos,sport io betque o sucesso e o dinheiro são concebidos por muitos como valores supremos?

sport io bet Cortina - Infelizmente, a aporofobia sempre existiu, está nas entranhas do ser humano, é uma tendência universal.

O que acontece é que algumas formassport io betvida e algumas organizações políticas e econômicas promovem a rejeição aos pobres mais do que outras.

Sesport io betnossas sociedades o sucesso, o dinheiro, a fama e o aplauso são os valores supremos, é praticamente impossível fazer com que as pessoas tratem todas as pessoas igualmente, reconhecendo-as como iguais.

imigrantes

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Legenda da foto, Cortina aponta que imigrantes e refugiados não são bem-vindossport io bettodos os países, inclusive alguns partidos políticos ganham votos quando prometem fechar suas portas

sport io bet BBC Mundo - Como a aporofobia se manifesta na sociedade? Você pode nos dar alguns exemplos?

sport io bet Cortina - Claro. Imigrantes e refugiados não são bem-vindossport io bettodos os países, inclusive alguns partidos políticos ganham votos quando prometem fechar suas portas.

Tratamos com muito cuidado pessoas que podem nos fazer favores, nos ajudar a encontrar um emprego, ganhar uma eleição, nos apoiar a vencer um prêmio e abandonamos aquelas que não podem nos dar nada disso.

A sabedoria popular diz que você deve trocar favoressport io betfrases como "hoje por você, amanhã por mim", e os pais muitas vezes aconselham seus filhos a se aproximaremsport io betcriançassport io betmelhor situação. O bullying escolar é um exemplosport io betaporofobia.

sport io bet BBC Mundo - De onde vêm a aversão e o medo dos pobres,sport io betque se alimenta a aporofobia? É algo biológico, neuronal ou cultural?

sport io bet Cortina - Para colocarsport io betuma palavra muito bonita e muito apropriada, é biocultural.

A evolução do nosso cérebro e da nossa espécie é biológica e cultural, ambas as dimensões estão interligadas, influenciam-se mutuamente.

No caso da aporofobia, existe uma base biológica, uma tendência a colocar o que não interessa entre parênteses, o que pode ser reforçado pela cultura ou desativado, cultivando outras tendências, como simpatia ou compaixão.

Adela Cortina

Crédito, Adela Cortina

Legenda da foto, Cortina é membro da Real Academiasport io betCiências Morais e Políticas da Espanha. Ela foi a primeira mulher a fazer parte dessa instituição

sport io bet BBC Mundo - Você argumenta que a aporofobia é universal e que todos os seres humanos são aporófobos. Em que você baseia essa afirmação?

sport io bet Cortina - No fatosport io beta antropologia evolutiva mostrar que os seres humanos são animais recíprocos, estão dispostos a dar aos outros, mas desde que recebam algosport io bettroca, seja da pessoa a quem deram ousport io betoutrasport io betseu lugar.

Este mecanismo tem sido denominado "reciprocidade indireta" e é a base bioculturalsport io betnossas sociedades contratuais, tanto políticas quanto econômicas.

Estamos prontos para cumprir nossos deveres se o Estado proteger nossos direitos, estamos prontos para cumprir nossos contratos se outros o fizerem.

Mas quando há pessoas que parecem não conseguir nos dar nadasport io betinteressantesport io bettroca, nós as excluímos desse jogosport io betdar e receber. Esses são os pobres, os excluídos.

sport io bet BBC Mundo - As religiões tradicionalmente pregamsport io betfavor dos pobres. O catolicismo garante, por exemplo, que deles será o reino dos céus, e o papa Francisco está constantemente mostrando seu apoio aos pobres. A crise das religiões está relacionada à aporofobia?

sport io bet Cortina - Mais do que uma crisesport io betreligiões, eu falaria sobre o fatosport io betque, com algumas exceções, vivemossport io betsociedades pós-seculares.

Nelas, o poder político e o religioso não se unem, o que é excelente, porque então o pluralismo é um fato, mas as religiões não desapareceram, continuam a ser fontesport io betvida esport io betsentido para muitas pessoas e para muitos grupos sociais.

Até mesmo seus valores, junto com outros, estão na raiz dos valores da ética cívica nesses países.

Quanto ao cristianismo, efetivamente apostasport io bettodos os seres humanos e no cuidado da natureza, mas por isso mesmo, num mundo onde há ricos e pobres, faz uma opção preferencial pelos pobres, exigindo que eles sejam fortalecidos para que possam sair da pobreza.

pobreza

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Legenda da foto, Cortina acredita que a aporofobia é universal e que todos os seres humanos são aporófobos

sport io bet BBC Mundo - A pandemiasport io betcoronavírus e a crise econômica que ela desencadeou podem aumentar a aporofobia?

sport io bet Cortina - Por um lado, sim, porque quando as pessoas se encontramsport io betsituaçõessport io betincerteza e medo, tendemos a fechar-nossport io betnós mesmos. Mas, por outro lado, o que a pandemia está mostrando é que foi a solidariedade que salvou vidas e evitou mais sofrimento.

Mostrou que somos interdependentes, e não independentes, que o apoio mútuo é o que nos salva. E essa forçasport io betsolidariedade e compaixão é o que deve ser cultivado como o melhor aprendizado com a pandemia.

sport io bet BBC Mundo - Você acha que a rejeição aos pobres está por trás da ondasport io betxenofobia que nos últimos anos atingiu os Estados Unidos e a Europa? Se sim, por quê?

sport io bet Cortina - Porque quando a situação política e econômica é ruim, buscam-se bodes expiatórios e os estrangeiros pobres são bodes expiatórios. Fechar as portas para eles, garantir que sejam um perigo e defender ossport io betdentro contra ossport io betfora é a tática dos supremacistas. Mas principalmente diante dos pobres.

sport io bet BBC Mundo - Você considera que Donald Trump sofresport io betaporofobia? É possível que muitosport io betseu sucesso político resida precisamente emsport io betaporofobia?

sport io bet Cortina - Sim, acho que sim, e o mais triste é que isso gera votos. Ele não é um personagem extravagante e perturbado, mas um que sabe perfeitamente que muitas pessoas concordam com ele e, com isso, reforçasport io betaporofobia.

Veremos o que acontecerá na eleição e esperamos que a estratégia não dê bons resultados. Mas o pior é que Trump não é um caso isolado.

Cartaz com a frase 'finish the wall' (termine o muro)

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A aporofobia existe e não é apenas uma questão econômica, mas a rejeição dos piores colocadossport io betcada situação

Em cada umsport io betnossos países, o supremacismo nacionalista rejeita os que estãosport io betpior situação e essa tática lhes dá votos. No século 21, devemos reverter essa tendência.

A aporofobia ameaça a democracia porque viola a igual dignidadesport io bettodas as pessoas, exclui os pobres, os que parecem não ter o que trocar.

É radicalmente excludente, quando a democracia deveria ser inclusiva.

sport io bet BBC Mundo - E qual dano a aporofobia causa a quem sofre dessa patologia social? Estamos cientessport io betque somos aporofóbicos?

sport io bet Cortina - Não estamos. Por isso é necessário falar sobre essa patologia na esfera da opinião pública e tentar descobrirsport io betque medida a aporofobia está envolvidasport io betnossas vidas.

Felizmente, existem grupos trabalhando nesse sentido, jovens realizando projetossport io betlicenciatura, mestrado e projetossport io betpesquisa sobre aporofobia.

sport io bet BBC Mundo - A aporofobia também se manifesta entre países? Os estados mais ricos mostram aversão aos mais pobres? E dentro dos países pobres também há aporofobia ou é mais prevalente nos países ricos?

sport io bet Cortina - Claro, os países procuram a ajuda dos mais poderosos e isso explica, por exemplo, que se aproximem da China, esquecendo que o país não quer falarsport io betdireitos humanos.

E, dentrosport io betcada país, acredito quesport io bettodos eles há também uma tendênciasport io betse afastar dossport io betsituação pior, tratá-los como leprosos, no sentido bíblico da palavra.

sport io bet BBC Mundo - Como a aporofobia pode ser combatida?

sport io bet Cortina - Percebendo que ela existe e que não é apenas uma questão econômica, mas a rejeição dos piores colocadossport io betcada situação.

Creio que se luta construindo instituições baseadas na igualdadesport io betvalor das pessoas, e educando no respeito pela dignidadesport io bettodas elas, e não só com palavras, mas também mostrando no dia a dia que nos reconhecemos e nos sentimos igualmente dignos.

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