A jornadatabela de palpites copa do mundoquase 20 horas das mães imigrantes brasileiras que trabalham no Japão:tabela de palpites copa do mundo

Cada minuto conta na família Kanda. Vanessa é uma mãe dekassegui — nome que se dá aos imigrantes descendentestabela de palpites copa do mundojaponeses que buscam trabalho no país — que tem uma jornadatabela de palpites copa do mundotrabalhotabela de palpites copa do mundoquase 20 horas por dia, se somados os períodos passados no trajeto, no trabalho fora e nos cuidados com a casa, a cozinha e o filho, como muitas mães brasileiras radicadas no Japão.

Marina Yoko Hungria, por exemplo, acorda às 5h30 da manhã e só para casa por volta da meia-noite. Entre breves viagens ao Brasil, a paulistatabela de palpites copa do mundo38 anos já está há quase 17 anos no Japão. Mas hoje, diz ela, a rotina é mais "leve".

"Sempre trabalheitabela de palpites copa do mundofábricas. Saíatabela de palpites copa do mundocasa às 5h da manhã e só voltava às 10h da noite, isso é, todo dia fazia 5 horastabela de palpites copa do mundozangyo [hora extra,tabela de palpites copa do mundojaponês]. Depois, precisei diminuir o ritmo", diz Marina, que há cercatabela de palpites copa do mundo5 anos passou a trabalhar como cuidadoratabela de palpites copa do mundoidosos. Neste mês, ela se inscreveutabela de palpites copa do mundoum curso para se especializartabela de palpites copa do mundogerontologia — no país com o maior númerotabela de palpites copa do mundoidosos no mundo (35 milhões, o que representa quase 30% da população), esse é um nichotabela de palpites copa do mundomercado. Entre seus pacientes atuais, por exemplo, está uma senhoratabela de palpites copa do mundo101 anos.

Mãetabela de palpites copa do mundoduas meninas (de 14 e 18 anos) e dois meninos (de 5 e 9 anos), e agora grávida do quinto filho, Marina moratabela de palpites copa do mundoToyota, mas trabalhatabela de palpites copa do mundoum asilo da cidade vizinha Okazaki.

"O trajeto até o trabalho dá uns 35 minutos. No caminho, dirigindo, vou me virando para lixar uma unha, tirar um fiotabela de palpites copa do mundosobrancelha. Na volta, pego o menino mais novo na creche. As meninas mais velhas adiantam o gohan [arroz,tabela de palpites copa do mundojaponês]. Janto e confiro a lição e a leituratabela de palpites copa do mundokanji do meu filhotabela de palpites copa do mundo9 anos. Depois, vou atender pacientes na casa deles, como home helper [auxiliartabela de palpites copa do mundoenfermagem domiliciar] das 20h às 21h30. Às vezes volto para casa e os pequenos já estão dormindo", narra. "Não paro nunca."

S.O.S. Mamães

No Japão, foratabela de palpites copa do mundocasa, as mulheres trabalham tanto quanto os homens, mas ganham salários menores, divulgados abertamente: nas fábricas, por exemplo, mulheres recebem entre 900 e 1.300 ienes (entre R$ 34 e R$ 49) por hora; homens, a partirtabela de palpites copa do mundo1.300 (R$ 49).

De acordo com os dadostabela de palpites copa do mundo2017 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que analisa 37 nações, o Japão é o 3º país com a maior desigualdade salarial entre homens e mulheres (24,5%), superado apenas por Estônia (28,3%) e Coreia do Sul (34,6%). E, segundo relatório do Fórum Econômico Mundialtabela de palpites copa do mundo2019, o Japão tevetabela de palpites copa do mundopior marca no rankingtabela de palpites copa do mundoigualdadetabela de palpites copa do mundogênero, que mede participaçãotabela de palpites copa do mundomulheres no mercado e na política: despencou 11 posições ante o ano anterior, ficando na 121ª posiçãotabela de palpites copa do mundo153 países analisados. O Brasil ficou na 92ª.

Já dentrotabela de palpites copa do mundocasa, elas trabalham muito mais que eles. Dados do Instituto Nacionaltabela de palpites copa do mundoPesquisa sobre População e Seguridade Social divulgados no ano passado mostram que mulheres casadas dedicam,tabela de palpites copa do mundomédia, 4 horas e 23 minutos aos cuidados da casa e dos filhos por dia. Entre aquelas que têm trabalho fora por tempo integral, a média étabela de palpites copa do mundo3 horas e 7 minutos — ela cai para apenas 37 minutos entre os homens.

A tendência também foi identificada no estudo da economista Noriko Tsuya, da Universidade Keio,tabela de palpites copa do mundoTóquio: mulheres que trabalham maistabela de palpites copa do mundo49 horas semanais fora dedicam maistabela de palpites copa do mundo25 horas semanais aos afazeres domésticos; homens contribuem com menostabela de palpites copa do mundo5 horas.

Hoje, Marina conta com a ajuda das filhas. "Antigamente, meu marido ajudava mais, mas ele teve dois infartos. Ele precisa tomar remédio e cuidar dos batimentos cardíacos e, ainda assim, faz 3 horas extras todo dia, trabalhando das 8h às 20h. Quando estátabela de palpites copa do mundofolga, faz arubaito [bico,tabela de palpites copa do mundojaponês]. É extremamente corrido para todos nós."

Já Vanessa conta com a ajuda da mãe. "Como minha mãe trabalha 'só' 8 horas por diatabela de palpites copa do mundouma fábrica mais tranquila, ela cuida da casa na minha ausência: deixa a janta pronta e a louça lavada. Meu marido trabalha nikotai [em turnos alternados]tabela de palpites copa do mundooutra fábrica — quer dizer, uma semana durante o dia, uma semana durante a noite. Quando dá tempo, ele tira o lixo e busca água mineral. No fimtabela de palpites copa do mundosemana, faço tudo: lavar roupa, lavar louça, cozinhar... E, finalmente, passar tempo com meu filho", diz.

Para ter mais oportunidadestabela de palpites copa do mundotrabalho fora, Vanessa matriculou o garototabela de palpites copa do mundodois colégios: das 8h30 às 15h ele frequenta a escola japonesa (que lhe cobra mil ienes por mês, o equivalente a R$ 38) e das 15h às 19h30, a escola brasileira particular (que pode custar até 45 mil ienes por mês, R$ 1,7 mil).

Ainda nos primeiros dias no Japão, ela descobriu um centro comunitário que reúne doaçõestabela de palpites copa do mundorandoseru, a famosa mochila quadrada, feitatabela de palpites copa do mundocouro ou couro sintético, que as crianças devem levar à escola — uma randoseru nova pode custar até 60 mil ienes (R$ 2,3 mil).

A descoberta aconteceu na página Mamãestabela de palpites copa do mundoToyohashi, uma divisão regional do grupo SOS Mamães no Japão no Facebook, que reúne informações para ajudar as mulheres no dia a dia, como indicaçõestabela de palpites copa do mundotrabalho, ofertatabela de palpites copa do mundodoações (como material escolar, móveis e eletrodomésticos) e orientaçõestabela de palpites copa do mundoserviços (consultórios pediátricos com apoiotabela de palpites copa do mundointérprete japonês-português, atendimentotabela de palpites copa do mundohospitais, horáriostabela de palpites copa do mundoônibus, entre outros).

Fundadotabela de palpites copa do mundo2015, o grupotabela de palpites copa do mundoToyohashi (que contempla cidades vizinhas como Gamagori, Shinshiro, e Toyokawa) tem 3 mil membros; já o grupo maior, SOS. Mamães no Japão, fundadotabela de palpites copa do mundo2012, tem maistabela de palpites copa do mundo34 mil membros — e, diferentemente da divisão regional, não permite doações.

Feliz Natal

No domingo 29tabela de palpites copa do mundodezembro, as mamães realizaram uma festatabela de palpites copa do mundoNataltabela de palpites copa do mundoum centro comunitáriotabela de palpites copa do mundoToyohashi — já que, nos dias 24 e 25tabela de palpites copa do mundodezembro, todos trabalham normalmente no Japão, onde não se celebra a data católica. A confraternização, que teve direito a árvore, brindes e Papai Noel, reuniu cercatabela de palpites copa do mundo100 adultos e crianças.

A paulista Alessandra Higashi,tabela de palpites copa do mundo38 anos, há 17 no Japão, é uma das moderadoras do grupo no Facebook. "Como muitas famílias chegaram há pouco tempo e ainda estão se adaptando, a ideia era dar um climatabela de palpites copa do mundofesta brasileira. Incluímos brinquedos como fliperama e cama elástica, pois muitas mães são solteiras e não têm condiçõestabela de palpites copa do mundolevar as crianças aos centrostabela de palpites copa do mundogames. Foi um diatabela de palpites copa do mundodiversão para os filhos etabela de palpites copa do mundoencontro para as mães, para elas não se sentirem tão sozinhas nessa épocatabela de palpites copa do mundofimtabela de palpites copa do mundoano", diz.

Mãetabela de palpites copa do mundoum meninotabela de palpites copa do mundo3 anos, Alessandra pretende montar um negócio próprio como confeiteira. Antes da maternidade, trabalhava 12 horastabela de palpites copa do mundofábrica; depois, passou a trabalhar "apenas" 8 horas.

A rotina não diferia muito dastabela de palpites copa do mundoMarina e Vanessa: Alessandra acordava às 6h, arrumava-se, preparava o café e a marmita do marido, levava o filho para a creche, trabalhava das 8h às 17h10, pegava o filho na creche, dava banho, brincava, fazia janta, lavava louça e, por volta das 22h, quando a família ia dormir, adiantava afazeres do dia seguinte como lavar roupa, preparar mochilas, verificar agendas. De quarta a sábado, também fazia doces e bolos sob encomenda. Às vezes, encerrava o expediente à meia-noite.

Entretanto, Alessandra se afastou da fábricatabela de palpites copa do mundosetembro, após um diagnósticotabela de palpites copa do mundodepressão. A ideia é voltar à ativatabela de palpites copa do mundofevereiro, "se tudo der certo", diz.

Emy Ueda, outra moderadora do Mamãestabela de palpites copa do mundoToyohashi, também preferiu desacelerar. "Trabalhava muito,tabela de palpites copa do mundo3 a 4 horas extras por dia. Um dia, meu filho me perguntou: 'Mamãe, por que você nunca tem tempotabela de palpites copa do mundome levar ao parque?' Isso me pesou o coração. Tive uma crisetabela de palpites copa do mundoestresse, depois descobri que estava grávida pela segunda vez. Aí decidi parartabela de palpites copa do mundotrabalhartabela de palpites copa do mundofábrica e passar a investirtabela de palpites copa do mundooutros projetos. Gostotabela de palpites copa do mundoartesanato", conta a paulistatabela de palpites copa do mundo28 anos, há 4 no Japão, hoje mãetabela de palpites copa do mundoum meninotabela de palpites copa do mundo5 anos e uma meninatabela de palpites copa do mundo11 meses.

Diáspora

Segundo as entrevistadas, os dirigentes das fábricas não são muito compreensivos com os compromissos das mães. Apreensivas diante do riscotabela de palpites copa do mundoseus filhos brasileiros se tornarem alvotabela de palpites copa do mundobullying nos colégios japoneses, por serem diferentes e não dominarem o idioma, elas fazem questãotabela de palpites copa do mundoparticipar das atividades escolares, como jogos e reuniõestabela de palpites copa do mundopais e professores. Elas pedem, mas nem sempre são liberadas do trabalho. A faltatabela de palpites copa do mundoflexibilidadetabela de palpites copa do mundohorários é um dos principais motivos para os pedidostabela de palpites copa do mundodemissão.

No estudo "As brasileiras no Japãotabela de palpites copa do mundolonga duração", publicado na coletânea Histórias Migrantes: Caminhos Cruzados (Humanitas, 2016), organizada pelo sociólogo Sedi Hirano e pela historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, a socióloga Yumi Garcia dos Santos aborda papéis diferentes desempenhados por brasileiras moradorastabela de palpites copa do mundocidades periféricastabela de palpites copa do mundometrópoles como Tóquio e Osaka: como trabalhadoras, companheiras e mães.

"Quando se tratatabela de palpites copa do mundomães, a questão da educação dos filhos se torna objeto central no processotabela de palpites copa do mundoconstrução familiartabela de palpites copa do mundoum país estrangeiro, onde elas reveem atabela de palpites copa do mundoidentidade brasileira e pensamtabela de palpites copa do mundorepassar aos filhos os valores que condizem com o que entendem por 'ser brasileiro'", diz o artigo. Segundo a autora, as mães tentam oferecer aos filhos uma educação bicultural (o aprendizado dos dois idiomas, por exemplo), mas também buscam apresentar a eles um "estilotabela de palpites copa do mundovida brasileiro". Assim, elas dão corpo a uma comunidade — "uma diáspora brasileira no Japão", na expressão da autora.

As mães ouvidas pela BBC News Brasil dizem que querem criar seus filhos como brasileiros — e, no futuro, eles poderão escolher entre viver no Japão ou voltar ao Brasil.

Yumi, que atualmente é professora da Universidade Federaltabela de palpites copa do mundoMinas Gerais, lembra, entretanto,tabela de palpites copa do mundouma similaridade negativa entre os dois países:tabela de palpites copa do mundoambos, as mulheres ocupam posições menos promissoras e estáveis no mercadotabela de palpites copa do mundotrabalho do que os homens.

"A maior diferença é que a divisão sexual do trabalho operatabela de palpites copa do mundomaneira mais típica no Japão: as mulheres se retirando do mercadotabela de palpites copa do mundotrabalho quando se tornam mães, principalmente por pressão social. Ainda é considerado que o cuidado das pessoas dependentes é responsabilidade exclusiva da esposa/mãe. Assim,tabela de palpites copa do mundomaneira importante, elas retornam ao mercadotabela de palpites copa do mundotrabalho depois que o filho caçula passa a ser escolarizado. Há mães trabalhadoras, sim, mas com forte desaprovação social", observa a socióloga.

Desde fins da décadatabela de palpites copa do mundo1980, muitas famílias brasileirastabela de palpites copa do mundoascendência japonesa buscam trabalhotabela de palpites copa do mundofábricas. Ainda atualmente, a expectativatabela de palpites copa do mundomuitos é trabalhar o maior númerotabela de palpites copa do mundohoras possível para poupar dinheiro e, aproveitando a atual alta do dólar e do iene, convertê-lotabela de palpites copa do mundoreal. Um saláriotabela de palpites copa do mundo1.250 ienes (R$ 47) a hora, com 3 horas extras diárias, pode render cercatabela de palpites copa do mundo270 mil ienes no fim do mês, isso é, aproximadamente R$ 10 mil.

É o casotabela de palpites copa do mundoVanessa, que pretende trabalhar pesado e poupar por 2 ou 3 anos. "Tudo é diferente. No Brasil, eu tinha tempo ao lado do meu filho. No Japão, eu só o vejo no café da manhã e no fimtabela de palpites copa do mundosemana. É pouco? É, mas é tempo. Foi uma aposta que a gente fez: trabalhar, trabalhar, trabalhar e juntar dinheiro, pra garantir um futuro melhor pra ele. Na minha infância, quando eu tinha 10, 11 anos, meus pais vieram para cá e me deixaram no Brasil — e tudo o que eu queira era estar ao lado deles. Então, eu quis fazer diferente e vir com a família toda. É mais difícil, mas é melhor estar junto."

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