Os jovens que ainda usam máscara por vergonhabét365mostrar o rosto: 'Sou feio, mãe':bét365

Crédito, Francesco Carta/Getty Images
A história da jovem ressoa nos relatosbét365centenasbét365jovens nas redes sociais,bét365especial adolescentes, que dizem ter dificuldadebét365ficar sem máscara forabét365casa por vergonhabét365mostrar o próprio rosto.
Em muitos casos, eles são alguns dos únicos alunos da classe que continuam a utilizar o acessório rigorosamente, e sofrem bullyingbét365colegas que questionam o uso e até tentam retirá-lo à força.
Outros dizem que a máscara os ajuda a passar despercebidos e diminuir as interações sociais, inclusive chamando menos atenção dos professores.
A situação ganha complexidade num momentobét365reincidência dos casosbét365coronavírus,bét365que a máscara é recomendada para frear o contágio da doença.
Em que momento, então, o uso rigoroso do acessório por adolescentes se torna preocupante? E como pais e professores podem lidar com essa situação?
Hábito antigo
O costumebét365usar acessórios que desviam o próprio corpo da atenção alheia não é algo novo entre os adolescentes.
Moletons largos, bonés e cabelo longo sobre o rosto são alguns dos "mecanismos" aos quais os jovens recorrem para lidar com inseguranças relacionadas à autoimagem corporal, explica o psicólogo e doutorbét365educação Alessandro Marimpietri.

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A cantora Billie Eilish é um exemplo desse comportamento: quando tinha 17 anos, declarou que preferia vestir roupas largas para que os fãs e a imprensa não a sexualizassem por contabét365seus seios grandes.
Marimpietri explica que a pandemia e a reclusão forçada do contato social foram agravantes dessa questão.
"Um adolescente que entrou na pandemia com 13 anos e agora tem 15, por exemplo, se modificou do pontobét365vista físicobét365maneira muito substancial. Muitos já estavam inseguros sobre como iriam se apresentar para o outro do pontobét365vista imagético e comportamental — e a máscara figura como um anteparo simbólicobét365proteção, como se a autoimagem estivesse resguardada por uma fronteira que me protege do olhar do outro."
Ele acrescenta que os problemas com a imagem corporal foram inflados na pandemia, quando nosso recursobét365interação social era, muitas vezes, digital.
"Se ver o tempo todo nas telas e nos ângulos das câmeras digitais modificou a autopercepçãobét365todos os sujeitos: crianças, adultos, idosos. No caso dos adolescentes, isso ocorreubét365maneira destacada, já que se somam outras questões próprias dessa fase", diz.
O que se perde ao esconder o rosto
Marimpietri explica que as expressões faciais são "pistas não-verbais importantes para o desenvolvimento da vida do sujeito — do pontobét365vista psíquico, da interação social, e até da cognição".
Ao esconder parte do rosto com a máscara por tempo indefinido, os adolescentes escondem, também, essas pistas fundamentais para a convivência e interação socioafetiva.
Esse prejuízo é percebido por Simone Machado, professorabét365Língua Portuguesa da rede públicabét365São Paulo.
"Os professores leem os alunos a todo momento, mesmo quando não dizem nada. São expressõesbét365dúvida, por exemplo, que nos fazem repetir uma explicação. As máscaras atrapalham essa troca", conta.
A professora relata que seus alunos que seguiram usando máscara mesmo quando houve uma flexibilização da medida são estudantes que já tinham um comportamento introspectivo e dificuldadesbét365socialização.
Um deles, conta Machado, ficou ainda mais tímido depois da pandemia. "É como se a máscara fosse mais um muro na socialização dele com o mundo. Até seu olhar ficou menos expressivo e, quando lhe faço perguntas, ele responde apenas balançando a cabeça — nem consigo lembrar como ébét365voz."
Ela acrescenta que essa situação é especialmente delicada com o aumento nos casosbét365infecção por coronavírus. "Como falar para os paisbét365um aluno que seu filho 'está usando máscara demais'?"

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Como abordarbét365casa
A mãebét365Laura, personagem que abre esse texto, descreve o comportamento da filha como algo passageiro, segundo relata a irmã da garota. "Minha mãe diz que é só uma fase, e que Laura* está 'fazendo graça'."
Ela conta que um tio já obrigou Laura a tirar a máscarabét365um evento familiar, mas que a jovem ficou visivelmente desconfortável.
"Eu falo para minha mãe que ela deveria colocar Laurabét365um psicólogo, mas ela não escuta."
Ela adiciona quebét365irmã passa boa parte do dia no computador, jogando RPG — um tipobét365jogobét365que cada jogador é representado por um personagem fictício, com uma narrativa e características próprias.
Fabiana*, uma outra mãe cujo filho também tem dificuldadesbét365sairbét365casa sem máscara, conta que pode ser difícil para os pais entender esse comportamento.
Como perderam dois parentes próximos para a covid-19, ela associava o uso rigoroso da máscara por seu filho como um receiobét365se infectar e disseminar o vírus.
Com o tempo, foi percebendo que o acessório tinha adquirido outros contornos. "Ele entrou na puberdade na pandemia, agora tem espinhas e colocou um aparelho. Já me disse maisbét365uma vez: 'Eu sou feio, mãe'."
Ela confessa que já chegou a perder a paciência com o comportamento do filho. Mas diz que,bét365geral, eles conversam com frequência sobre o assunto e que ele mesmo já decidiu flexibilizar esse uso no ano que vem.
Essa é uma das estratégias mais importantes que os pais podem assumir, conta Marimpietri.
"Não há receitabét365bolo. Mas,bét365um mundo que é construído por palavras, é preciso acessar os jovens por meio delas: entender o que motiva esse comportamento e pensar, aos poucos,bét365maneiras alternativasbét365lidar com esses sentimentos."
No ambiente escolar
Na escola, a professorabét365geografia Luciana Cardoso ressalta a importância das conversas entre os professores. "Foi no 'conselhobét365classe' que descobri, por um outro professor, que uma aluna minha usa sempre a máscara por vergonhabét365um dente faltando."
Se um professorbét365Educação Física, por exemplo, fala que o aluno pratica esportes vestindo moletom e máscara, isso acende um alerta diferente para os professores que só os veem dentrobét365sala, reflete Cardoso.
Para a professora Simone Machado, uma estratégia interessante é não falar diretamente sobre o uso insistente da máscara, mas tentar incentivar a socialização desses alunos por outras vias — passando trabalhosbét365grupo dentro e fora da salabét365aula, por exemplo.
A médica pediatra Evelyn Eisenstein lembra que, entre os jovens, é mais comum que haja um comportamento negligente quanto às medidas sanitáriasbét365combate à covid.
"Estamos num momentobét365cautela,bét365que a máscara deve ser usadabét365aglomerações como transportes públicos, centros comerciais e também nas escolas", alerta.
*Os nomes originais foram alterados para preservar a identidade dos entrevistados
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