'Aids levou minha visão do olho direito e limitou meus movimentos', diz jovem que incentiva diagnóstico precoce:slot que mais paga na blaze

  • Giulia Granchi
  • Da BBC News Brasilslot que mais paga na blazeSão Paulo
Vitor Ramos, 29, antes e depois do tratamento para Aids

Crédito, Arquivo Pessoal

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Vitor antes (dir.) e depois do tratamento para Aids

slot que mais paga na blaze Em 2015, Vitor Ramos, na época estudanteslot que mais paga na blazeadministração, começou a sentir sintomas gripais. "Era só uma garganta inflamada e um mal-estar leve. Quem seria capazslot que mais paga na blazeassociar isso com HIV?", indaga ele, que só recebeu o diagnóstico três anos depois.

Vitor conta que a hipótese demorou muito a passar pelaslot que mais paga na blazecabeça. "Eu achava que nunca tinha me relacionado sexualmente com alguém com HIV, porque na minha cabeça essa pessoa seria acamada e estaria muito fraca", diz.

Dois anos depois do aparecimento dos sinais mais genéricos,slot que mais paga na blaze2017, Vitor teve quadros intensosslot que mais paga na blazediarreia que o fizeram perder cercaslot que mais paga na blaze20 quilos e passar por oito hospitaisslot que mais paga na blazebuscaslot que mais paga na blazeum diagnóstico na cidadeslot que mais paga na blazeAraçariguama, onde morava no interiorslot que mais paga na blazeSão Paulo, eslot que mais paga na blazemunicípios próximos.

"O gastroenterologista pediu uma colonoscopia que voltou inconclusiva para doençaslot que mais paga na blazeCrohn [uma doença inflamatória do trato gastrointestinal], a principal suspeita do médico. Mesmo assim, ele decidiu me tratar como se eu tivesse o quadro", lembra.

"Na ocasião, minha mãe chegou a perguntar: 'Doutor, não pode ser HIV?', e ele respondeu que não era 'comumslot que mais paga na blazehomens'. Entendi aquilo como uma suposição equivocadaslot que mais paga na blazeque eu seria um homem hétero, já que o HIV ainda é muito associado aos homossexuais."

A infecção pelo vírus, na realidade, pode acontecer com qualquer pessoa, independentemente daslot que mais paga na blazeorientação sexual. O HIV está presenteslot que mais paga na blazesecreções (fluidos) como sangue, esperma, secreção vaginal e leite materno. Por isso recomenda-se sempre o usoslot que mais paga na blazepreservativos no sexo, e que mães HIV positivas alimentem seus bebês com fórmula infantil.

Além do diagnóstico incorreto, o médico que atendeu Vitor receitou um medicamento imunossupressor, efetivo para o tratamentoslot que mais paga na blazedoençaslot que mais paga na blazeCrohn, mas extremamente nocivo para quem vive com HIV.

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"Os medicamentos imunossupressores podem atuar enfraquecendo diferentes partes do sistema imune a dependerslot que mais paga na blazequal é o remédio receitado. Considerando um paciente que já estava com imunidade celular baixa, se usar medicação que piora a imunidade, há o riscoslot que mais paga na blazedeixá-lo muito suscetível às infecções oportunistas, que às vezes somente o HIV não seria suficiente para causar", aponta o médico infectologista acreano Dyemison Pinheiro, que não acompanhou o casoslot que mais paga na blazeVitor.

"A partir do dia que comecei a tomar o medicamento, a piora foi muita rápida. Eu digo que fui ladeira abaixo, e uma ladeira bem íngreme. Comecei a andar devagar, as diarreias não paravam, eu só ficavaslot que mais paga na blazecasa porque poderia precisar do banheiro a qualquer momento. Precisei trancar a faculdade", lembra Vitor.

Com o quadro cada vez mais grave,slot que mais paga na blazefamília insistia para que ele procurasse um pronto-socorro. "Eu tentava disfarçar dizendo que estava bem. Mas um dia, minha irmã chegou decidida a me levar. Eu fui até o carro andando, e quando chegamos no hospital, já não sentia minhas pernas. Precisei ser tirado por um segurança e fiquei na cadeiraslot que mais paga na blazerodas. Ali, senti que algo estava muito errado."

Foi neste dia, 8 abrilslot que mais paga na blaze2018, que Vitor recebeu o diagnósticoslot que mais paga na blazeHIV.

Vitor rodeado por enfermeiras que acompanharam seu período no hospital

Crédito, Arquivo pessoal

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Vitor ao lado das enfermeiras do hospital, onde passou quatro meses internado

A contagemslot que mais paga na blazecélulas imunológicas CD4slot que mais paga na blazeseu corpo estava extremamente baixa. Para comparação, o índiceslot que mais paga na blazeuma pessoa saudável deve ser acimaslot que mais paga na blaze500. Quando está abaixoslot que mais paga na blaze350, indica que a pessoa sofreslot que mais paga na blazeAids. A contagemslot que mais paga na blazeCD4slot que mais paga na blazeVitor no momento do diagnóstico era 2.

"Com tratamento, é possível melhorar o número, mas o índice não levaslot que mais paga na blazeconta a recuperação imunológica. Algumas pessoas apresentam falhas qualitativas importantes nas célulasslot que mais paga na blazedefesa, e por isso, há pesquisadores que advogam que, uma vez que o número esteve abaixoslot que mais paga na blaze350, a pessoa sempre terá Aids", explica Pinheiro.

Ainda assim,slot que mais paga na blazeacordo com o médico, é possível que essa pessoa venha a ter carga viral indetectável se receber tratamento adequado.

Na primeira semanaslot que mais paga na blazeinternação, Vitor só lembraslot que mais paga na blazeflashes. Algo que o marcou foi uma conversa que ouviu dos médicos, que falaram que não tratariam o HIV no primeiro momento, já que haviam outras doenças oportunistas deixando seu corpo fraco.

Além do vírus do HIV, exames constataram neurotoxoplasmose (infecção no sistema nervoso central), sarcomaslot que mais paga na blazeKaposi (câncer que acomete as camadas mais internas dos vasos sanguíneos) e as infecções sexualmente transmissíveis sífilis e HPV.

Vitor comslot que mais paga na blazemãe, cão, e profissionaisslot que mais paga na blazesaúde que acompanharam seu caso

Crédito, Arquivo pessoal

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Vitor comslot que mais paga na blazemãe, cão, e profissionaisslot que mais paga na blazesaúde que acompanharam seu caso

"Apesar do HIV ser perigoso, a faltaslot que mais paga na blazetratamento pode não ser a razão principal responsável pelo óbito. Pelo excessoslot que mais paga na blazemedicações,slot que mais paga na blazeum caso com diferentes infecções oportunistas, é preferível focar no que oferece mais risco", aponta Pinheiro.

Ao todo, Vitor passou quatro meses internado, incluindo dois períodos na unidadeslot que mais paga na blazetratamento intensivo (UTI).

"Perdi os movimentos das pernas e dos braços e fiquei dependente dos outros para tudo. Meu corpo doía muito, eslot que mais paga na blazeuma das noites comecei a enxergar tudo vermelho. Foi quando me levaram para a UTI pela segunda vez. Lá, fiquei sem visitas, olhando para o teto e sem me mexer. Só ouvindo barulhosslot que mais paga na blazegente morrendo ou aparelhos apitando. Foram dias extremamente difíceis", lembra.

A primeira alta aconteceu depoisslot que mais paga na blazecercaslot que mais paga na blazetrês meses, mas, após uma semanaslot que mais paga na blazecasa tomando remédio para uma suposta conjuntivite, Vitor perdeu a visãoslot que mais paga na blazeum olho.

De volta ao hospital, uma oftalmologista especialistaslot que mais paga na blazeAids diagnosticou a presençaslot que mais paga na blazecitomegalovírus ocular (infecção causada por vírus da família da herpes) e recomendou internação urgente.

"Eu não queria voltarslot que mais paga na blazejeito nenhum, chorei muito, mas fui internado. Também segui fazendo fisioterapia, e, para me ajudar a recuperar os movimentos, minha mãe colocava uma toalha embaixo do pratoslot que mais paga na blazecomida e me pedia para tentar fazer a refeição sozinho. Eu parecia uma criança sujando tudo, mas, aos poucos, fui conseguindo", diz.

Vitor ao lado da mãe (à esquerda) e ao lado das duas irmãs

Crédito, Arquivo pessoal

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Vitor ao lado da mãe (à esquerda) e ao lado das irmãs. Segundo ele, o apoio familiar foi essencial no tratamento

"Nos meses que passei internado, perdi autonomia, liberdade e privacidade. Meu pai me perguntou: 'Qual é a primeira coisa que você quer fazer quando sair daqui? Viajar, ir ao shopping...' E eu respondi que queria tomar um banhoslot que mais paga na blazepé, sozinho. Ele ficou surpreso."

Vitor conta que todaslot que mais paga na blazefamília foi muito carinhosa e essencial no períodoslot que mais paga na blazetratamento. "Se hoje falo abertamente sobre HIV nas redes sociais e incentivo outras pessoas a fazerem o teste, é só porque tive uma redeslot que mais paga na blazeapoio muito forte."

As sessõesslot que mais paga na blazefisioterapia para recuperar os movimentos eram dolorosas. "Quando as enfermeiras entravam, fingia estar dormindo para não ter que passar pela rotina exercícios, que, ao meu ver, não ajudavamslot que mais paga na blazenada. Foi só quando me emocionei ao ver meu polegar do pé se movimentar sutilmente que fiquei mais motivado."

Da cadeiraslot que mais paga na blazerodas, Vitor passou a usar um andador, depois um parslot que mais paga na blazemuletas e, por fim, andava com o auxílioslot que mais paga na blazeuma bengala — uma evolução que levou um ano.

Vitor no dia da alta hospitalar eslot que mais paga na blazefoto recente

Crédito, Arquivo pessoal

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Vitor no dia da alta hospitalar eslot que mais paga na blazefoto recente

Quando recebeu alta, o CD4slot que mais paga na blazeVitor eraslot que mais paga na blaze40, um número considerado ainda bastante baixo. Por isso, a condição para voltar para casa foi que ele retornasse ao hospital todos os dias para receber medicamentos na veia.

"Diziam que eu não passariaslot que mais paga na blaze200, que meu caso era muito grave. Foram dias muito difíceis. Os medicamentos tiravam minhas forças." Nos últimos dois exames feitos, seu CD4 passavaslot que mais paga na blaze470.

Apesarslot que mais paga na blazea taxa não representar que ele está curado, mostra uma boa resposta ao tratamento, que Vitor diz que segue à risca até hoje, com medicamentos que obtém no SUS (Sistema Únicoslot que mais paga na blazeSaúde).

Além disso, pouco tempo depoisslot que mais paga na blazeiniciar o tratamento, Vitor chegou ao estágioslot que mais paga na blazeHIV indetectável, ou seja, ele não transmite o vírus sexualmente (mesmo que sem proteção).

De acordo com o infectologista Dyemison Pinheiro, é plenamente possível que, mesmoslot que mais paga na blazequadros graves como foi oslot que mais paga na blazeVitor, nos quais as pessoas têmslot que mais paga na blazeimunidade parcialmente comprometida irreversivelmente, ainda se possa chegar ao nívelslot que mais paga na blazeHIV indetectável conforme o tratamento avança — um fator não está atrelado ao outro.

Ele pratica exercícios físicos regularmente, na academia ou jogando vôlei com a família, terminou a faculdade e conseguiu um emprego recentemente.

"Por conta do diagnóstico tardio, que levou quase três anos, a Aids me fez perder a visão do olho direito, parte da audição, e me causou sequelasslot que mais paga na blazeum certo atrasoslot que mais paga na blazemovimento na perna esquerda. Mas me sinto ótimo, considero que minha recuperação foi muito boa, e, hoje, vivo bem."

Nas redes sociais, Vitor incentiva outros homens e mulheres a procurar fazer um teste antes que o vírus avance no organismo. "Se eu pudesse voltar no tempo, esse seria o conselho que eu daria a mim mesmo. Falaria também para pesquisar sobre o vírus e não ser influenciado pelo que qualquer pessoa diz. Há vida depois do diagnóstico", diz.

Vitor atualmente, ao lado dos amigos Sammia e Kaique

Crédito, Arquivo pessoal

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Vitor atualmente, ao lado dos amigos Sammia e Kaique

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