Desmatamento cria saia justa para Temervisita a Noruega, maior doador para preservação da Amazônia:

Crédito, Beto Barata / PR
Além disso, ambientalistas têm criticado o fortalecimentogrupos "ruralistas" no governo Temer que têm atuado para aprovar no Congresso a flexibilização das regraslicenciamento ambiental e a reduçãoáreasproteção.
"Nosso programadoação é baseadoresultados: o dinheiro é repassado se o desmatamento é reduzido, e foi o que vimos nos últimos anos. Isso significa que, se o desmatamento está subindo, haverá menos dinheiro", disse nesta semana o ministro norueguêsMeio Ambiente, Vidar Helgesen, ao serviço brasileiro da Deutsche Welle, ao comentar a política ambiental brasileira.
"Nós mencionamos a nossa preocupação com as autoridades brasileirasrelação a esse debate sobre a legislação (em discussão no Congresso). Mas, no fim, é o Brasil que toma a decisão. Quando vemos a tendência indo na direção errada nos últimos anos, é claro que isso levanta preocupação e perguntas sobre o que o governo está planejando para reverter esse quadro. E deixamos bem claro que nosso financiamento é baseadoresultados", afirmou também.
Em carta enviada como resposta ao ministro do Meio Ambiente da Noruega, o ministro brasileiro Sarney Filho disse que não há perspectivaretrocesso na Lei GeralLicenciamento, reiterou que a alegada reduçãoáreaunidadesconservação florestal foi vetada por Michel Temer e garantiu que o país mantém sue compromisso com a sustentabilidade e o controle do desmatamento.

"Tenho empreendido todos os esforços para manter o rumo da sustentabilidade com determinação e vontade política. (...) Quero assegurar a Vossa Excelência que o compromisso do governo brasileiro com a sustentabilidade, com o controle do desmatamento e com a plena implementação dos compromissosreduçãoemissões assumidos sob o AcordoParis permanecem inabaláveis", diz a carta.
O ministro diz ainda que seria "prematuro" concluir que as contribuições ao Fundo Amazônia, tanto da Noruega comooutros países como a Alemanha, tenham impacto limitado no combate ao desmatamento. Sarney Filho escreve que, embora ainda não haja dados oficiais recentes sobre as taxasdesmatamento, "nossas ações já estão dando resultados". "Dados preliminares, ainda sujeitos a verificação, indicam que podemos ter estancado a curva ascendente do desmatamento que verificamos entre agosto2014 e julho2016."
Na segunda-feira, antesembarcar para a visitaquatro dias à Rússia e Noruega, Temer acabou vetando trechosmedidas provisórias aprovadas recentemente no Congresso que reduziam significativamente reservas florestais no Pará eSanta Catarina. A expectativa, porém, é que um novo projetolei seja encaminhado ao Congresso pelo Planalto com outras alterações.
A organização ambiental Greenpeace soltou um nota acusando Temerter vetado a nova legislação apenas como "uma manobra política para acalmar a opinião da sociedade civil e também para poder visitar a Noruega sem ter assinado qualquer redução da floresta no Brasil".
O comunicado ressalta que, da mesma forma que o Congresso alterou as medidas provisórias enviadas pelo governo, ampliando a redução proposta originalmente da áreaproteção ambiental, o mesmo deve ocorrer com um eventual projetolei que retome essa discussão.
"A manobra do governo ressuscita a ameaça inicial, com o objetivoreutilizar todo o texto que foi vetado, trazendo consigo a possibilidadeainda mais danos", diz o Greenpeace.
A medida provisória 756, vetada por Temer, por exemplo, alterava os limites da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no Pará, desmembrando partesua área para a criação da ÁreaProteção Ambiental (APA) do Jamanxim.
A proposta havia sido foi enviada ao Congresso pelo Planalto, mas o texto inicial foi modificado pelos parlamentares, aumentando ainda mais a área da Flona Jamanxin que seria transformadaAPA. Apesartambém ser uma unidadeconservação, a APA tem critériosuso mais flexíveis, o que poderia ampliar o desmatamento na região.
O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, divulgou um vídeo na última semana defendendo a necessidademudanças nesta reserva do Pará, e anunciando um novo ProjetoLei - segundo ele, com apoio da bancada ruralista - que mantém o teor da proposta original do governo, reduzindo a proteção da Floresta Nacional do Jamanxim para permitir atividade econômicaalgumas partes dela.
"Nosso compromisso é dar segurança jurídica. Tenho muita convicçãoque essa região, que tem violência, que tem desmatamento enorme, com essas medidas ela será pacificada e começará um novo tempo rumo ao progresso e ao desenvolvimento sustentável".

Crédito, The Kremlin/FotosPúblicas
Há duas semanas, a embaixadora da Noruega no Brasil, Aud Marit Wiig, também adotou tom crítico pouco usual na diplomacia, ao comentar a questãoentrevista ao jornal Valor Econômico.
"A criaçãoáreas protegidas foi uma medida muito eficiente para manter a floresta. E quando se enfraquece esse instrumento, tememos que os resultados possam ser negativos", afirmou.
"Estamos preocupados. O serviçoreduçãoemissõesCO2 que o Brasil entrega é muito importante, não podemos desistir. O que vai acontecer, provavelmente, é uma redução no dinheiro (repassado ao Brasil)", disse ainda.
Na mesma entrevista, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, também manifestou descontentamento do governo alemão, outro financiador da preservação ambiental no país.
"Vemos como problemáticos os sinaisredução na proteção da floresta. É claro que isso não tem impacto positivo no governo (da chanceler Angela) Merkel e também nos membros do Parlamento, que estão se perguntando o que se está fazendo com esse dinheiro público", disse Witschel.
Na Noruega, Temer terá encontros com o rei Harald 5º, com a primeira-ministra Erna Solberg e com o presidente do Parlamento, Olemic Thommessen. O país também tem investimentos importantes no Brasil na áreapetróleo e gás.








