'O homem das plantinhas': a história do morador que se dedica a reflorestar as favelas do RJ:ie bet

Crédito, Jocelino Porto
ie bet Articulador social da ONG Viva Rio, onde trabalha desde 2010, Porto deu o seguinte depoimento à BBC Brasil:
"Nasciie betCampina Grande, na Paraíba. Mas, quando tinha dois anos, meu pai decidiu se mudar com toda a família - eu, minha mãe e meus nove irmãos ─ para São Paulo,ie betbuscaie betuma vida melhor. Pouco tempo depois, pegamos a estrada novamente, dessa vez rumo ao Rioie betJaneiro, onde vivo até hoje.
Não tive uma infância feliz. Mas só me dei conta disso mais tarde, depoisie betvelho. Trabalhei desde muito cedo. Éramos muito pobres e sempre moramosie betfavela. Um dia, quando tinha cercaie betdez anos, meu pai me chamou para uma conversa e me disse desesperado que não aguentava mais. Tiveie betpararie betestudar para ajudá-lo a pagar as contas. Era isso ou passaríamos fome.

Crédito, Vitor Madeira/Viva Rio
Sempre gosteiie betplantas. Desde muito cedo, aprendi a cuidar delas. Trata-seie betum trabalho minucioso, que levaie betconta um sem númeroie betvariáveis: água, temperatura, exposição ao sol são algumas delas.
Cultivo as mudasie betminha casa, na favelaie betRocha Miranda, na zona norte do Rioie betJaneiro. Não tenho muito espaço, mas o suficiente para abrigar cercaie bet300 pésie betdiferentes árvores. Em ocasiões especiais, contudo, esse número pode chegar a até 2 mil, como no Dia Internacional do Meio Ambiente,ie betjunho, quando costumo fazer uma grande campanha. Isso sem falar no adubo, que produzo aqui mesmo, com os restosie betalimentos.
Coloco as sementesie betum copinho plástico e espero germinar. Assim que começam a crescer, sei que é horaie betdoá-las.

Crédito, Jocelino Porto
'Homem das plantinhas'
Ganhei o apelidoie bet'homem das plantinhas' por causa do meu trabalho no reflorestamento das favelas. O que começou como um passatempo é hoje a minha razãoie betviver. Desde a décadaie bet90, segundo meus próprios cálculos, já produzi maisie bet72 mil mudas.
Não vou negar que se trata às vezesie betum trabalho solitário. Mas é recompensador ver a felicidade das pessoas quando a árvore que plantei vira referência dentroie betuma favela e promove união.
Aqui pertoie betcasa, por exemplo, plantei um péie beterva cidreira. Todos os dias vejo pessoas quebrando os galhos para fazer chá. A grande maioria não tem dinheiro para comprar remédio e usa o chá para curar resfriados e tratar outras indisposições.
Minha intenção é ver as favelasie betnovo cobertas pelo verde. As favelas hoje são áridas e mal-cuidadas. Somos carentesie bettudo e vivemosie betuma guerra interminável. Quem mais perde com isso são os moradores.
Dianteie bettanto sofrimento, sinto que tenhoie betfazer a minha parte. E vi na natureza uma formaie betreaproximar a comunidade ─ ganhei o respeito dos moradores, dos traficantes e também dos policiais.
Em 1992, fui um dos fundadores do NEPP (Núcleo Ecológicoie betPedras Preciosas), onde desenvolvi um importante trabalhoie beteducação ambiental nas favelas do Rio. A NEPP acabou virando uma referência e um dos frutos do nosso trabalho foi a redução do consumoie betágua dentro das favelas, além da formaçãoie bet200 agentes ambientais.
Quatro anos depois, criei uma escolinha ecológica para criançasie betsete a 11 anos. Participei também da criação da Eco Favela e fui fundador do Movimento Ecológicoie betRocha Miranda.
Tenho por companhia inseparável minha pequena câmera por meio da qual denuncio principalmente locais com acúmuloie betlixo. São maisie bet10 mil fotos reveladas, compiladasie betum arquivo que reúne 36 volumesie betcatálogos, registrosie betmeus serviços prestados à comunidade ao longo da vida.

Crédito, Vitor Madeira/Viva Rio
Orgulho
Mas, sem dúvida, um dos meus maiores orgulhos é ver a reação das crianças ao meu trabalho.
Lembro-me até hoje da campanha que fizemos na Cinelândia, no centro do Rio,ie bet1997. Timidamente, oferecemos uma mudaie betplantaie bettrocaie bet1 kgie betalimento. Foi um sucesso. Em pouco tempo, as 300 mudas que havia trazido acabaram.
Em outra ocasião, recentemente, na favela da Maré, realizei uma oficina voltada para o público infantil. No início, as crianças não queriam sujar as mãos na terra. Mas logo que a primeira começou a transferir as mudas para o copinho plástico, todas ficaram entusiasmadas e quiseram participar.
Sem dúvida, as crianças dão muito mais valor ao meu trabalho do que as autoridades. Todos os secretáriosie betmeio ambiente do Rio já estiveram na minha casa e fizeram promessas. Nenhuma foi cumprida.
Tenho poucas ambições na vida, mas espero que meu legado sirva para conscientizar a todos sobre a importância da preservação da natureza. É uma luta diária que não pode parar."








