Tim Vickery: Onde foi parar a elegância?:caxias grêmio

  • Tim Vickery
  • Colunista da BBC News Brasil*
Tim Vickery

Crédito, Eduardo Martino

caxias grêmio Já faz maiscaxias grêmiooito anos que apareço na bancada do programa Redação SporTV. Nunca fui censurado. Sempre tive a liberdadecaxias grêmiofalar o que eu quisesse. Mas, no início,caxias grêmiocerta forma, me comportava como um cordeirinho.

Vestia uma das camisas que o canal prepara para os convidados - às vezes razoáveis, outras daquele tipo com a gola rasa e mole que cai para os ladoscaxias grêmiouma maneira deselegante quando não se fecha o botão por cima.

Então, alguns anos atrás, iniciei uma rebelião. Já que o componente visual tem uma importância enorme no processo da comunicação, resolvi assumir mais controle sobre o conteúdo e vestir a minha própria roupa.

Pode ser um figurino mais clássico - ternocaxias grêmiomohair, camisa com gola generosa e gravata. Pode ser mais extravagante, com camisa estampada,caxias grêmiopadrão paisley, por exemplo. Mas tudo cabendo dentrocaxias grêmiouma estética do modernismo britânico do final dos anos 50 e a décadacaxias grêmio60, o períodocaxias grêmioque uma nova geração estava se encontrando, ecaxias grêmioque, pela primeira vez, as pessoas tinham recursos para adquirir gosto e criar acaxias grêmioprópria identidade.

Passei, então, a enviar a mensagem visual que eu estava querendo. Claro, nem todos vão gostar. O ex-jogador Afonsinho, por exemplo, opinou que eu era "um estandarte todo engomadinho parecido com o tal que anda a rifar o Brasilcaxias grêmio'xepacaxias grêmiofeira'".

É mentira. Juro que iria lutar por um preço justo.

Existem outros, felizmente, que parecem curtir um pouco os meus "looks". Confesso, porém, que há momentoscaxias grêmioque o meu esforçocaxias grêmiome vestir à minha maneira faz com que eu me sinta um tipocaxias grêmioET, totalmente fora do padrão comum, sendo considerado "um lorde inglês" que caiucaxias grêmioparaquedas. Como explicar isso?

Músicos celebram Dia do Choro e aniversáriocaxias grêmio120 anoscaxias grêmioPixinguinha, no Rio,caxias grêmio2017

Crédito, Tânia Rêgo/Agência Brasil

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Músicos celebram Dia do Choro e aniversáriocaxias grêmio120 anoscaxias grêmioPixinguinha, no Rio,caxias grêmio2017; colunista elogia estilo inspirado nos sambistas originais: 'impecáveis e afiados'

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Tem uma coisa estranha aqui, uma tradição brasileira perdida. Basta olhar para fotos dos sambistas originais - Sinhô, Donga, Pixinguinha, o jovem Cartola. São impecáveis - com camisas com golacaxias grêmioverdade, gravata imaculada. São estilosos e, para pegar emprestado uma expressão inglesa, bem afiados.

Fico fascinado assistindo a um documentário local chamado Imagens do Estado Novo. É um espanto ver como os brasileiros se vestiam por voltacaxias grêmio80 anos atrás. Getúlio Vargas e as autoridades normalmente aparecem com terno do tipo transpassado.

E as cenas dos populares mostram uma quantidade enormecaxias grêmiohomenscaxias grêmiopaletó. Levandocaxias grêmioconsideração que a lã daquela época era muito menos fina que hojecaxias grêmiodia, e portanto mais pesada para usar, trata-secaxias grêmioum graucaxias grêmioformalidade impressionante.

O que mudou, então?

Tenho uma conclusão negativa. Parece óbvio que as obras da humanidade criaram um ambiente urbano que aumentou bastante o calor. Vejo as roupascaxias grêmio80 anos atrás e penso que colocando esse pano todo hojecaxias grêmiodia,caxias grêmiolugares sem ar-condicionado, as pessoas iam desmaiarcaxias grêmiomassa. As temperaturas mais altascaxias grêmiohojecaxias grêmiodia exigem menos formalidade.

Também tenho uma conclusão positiva. Para muita gente, morreu a obrigaçãocaxias grêmiose vestircaxias grêmiouma certa maneira. E fazer uma coisa por obrigação não é saudável.

A faltacaxias grêmioobrigação, talvez, junto ao excessocaxias grêmiocalor, acabou levando as pessoas para uma concepção mais próxima à dos americanos -caxias grêmioque conforto é rei.

Miles Davis,caxias grêmiofoto tirada por voltacaxias grêmio1959

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Jazzista Miles Davis: 'Talvez a sociedade não esperasse tanta elegância deles - mas eles evoluíram, conquistaram, ganharam gosto e conhecimento'

Essa linha do pensamento tem os seus méritos. Mas pode ser interpretadacaxias grêmiouma forma exagerada. Na minha humilde opinião, falando do homem brasileiro, definitivamente está sendo interpretadacaxias grêmiouma forma exagerada. Fora do ambientecaxias grêmiopraia, entendo chinelos e camisa regata como um crime contra a estética.

Na conquista do conforto, perdeu-se um outro valor. Porque a faltacaxias grêmioobrigação deveria ser libertária, no sentidocaxias grêmioabrir os caminhos para a criatividade e autoexpressão. Essa oportunidade é perdida se todos andamcaxias grêmiochinelo e camisa regata.

E tem o outro extremo. Também é perdida se a pessoa busca se afirmar somente atráscaxias grêmiouma marca conhecida e cara. A roupa não representa um valorcaxias grêmiosi. É uma ferramenta que a pessoa tem disponível para se expressar. A gola, por exemplo, forma a moldura para o rosto. O terno dá uma silhueta boa para o corpo.

O objetivo saudável, acredito eu, é a roupa como símbolocaxias grêmiodesenvolvimento da pessoa, na buscacaxias grêmioadquirir bom gosto e criar uma identidade própria. Por isso, adoro as imagens dos sambistas originais,caxias grêmioMiles Davis e outros músicos do jazz histórico, dos modernistas britânicos. Todas mostram um certo ar desafiador.

Talvez a sociedade não esperasse tanta elegância deles - mas eles evoluíram, conquistaram, ganharam gosto e conhecimento. E a roupa é como um símbolo exterior da autoestima interior - e por isso, já estou pensando no meu figurino para a próxima apresentação no Redação SporTV.

*Tim Vickery é colunista da BBC News Brasil e formadocaxias grêmioHistória e Política pela Universidadecaxias grêmioWarwick.

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