'Qualquer tipoesportes da sorte patrociniomãe é capazesportes da sorte patrocinioabandonar seus filhos. É uma questãoesportes da sorte patrociniocircunstância':esportes da sorte patrocinio

"Que tipoesportes da sorte patrociniomãe abandona seu filho?". A pergunta foi o que motivou a jornalista e escritora catalã Begoña Gómez Urzaiz a escrever o livro As Abandonadoras (Zahar), lançado recentemente no Brasil.

Para tentar responder ao seu questionamento, a própria autora, mãeesportes da sorte patrocinioduas crianças, teve que cometer “microabandonos” como ela mesma classificaesportes da sorte patrocinioausência nos finsesportes da sorte patrociniosemana e outros momentos com a família.

“A primeira coisa que meus filhos aprenderam foi a puxar o caboesportes da sorte patrocinioalimentação do meu Mac”, contou ela à BBC News Brasilesportes da sorte patrociniouma rápida passagem pelo Brasilesportes da sorte patrociniojunho. “Para eles, meu computador era um inimigo”.

Para escrever seu livro — longe dos filhos — Begoña fez uma pesquisa profunda pelas histórias dessas famosas mulheres e suas motivações. “Percebi que na minha cabeça já havia uma espécieesportes da sorte patrociniolistaesportes da sorte patrociniomulheres abandonadoras, com as quais eu me sentia desconfortável”, conta ela. “Foi então que comecei a me questionar por que isso me incomodava tanto”.

A partiresportes da sorte patrocinioentão, ela tenta responder à própria pergunta jogando luz sobre uma parte da história dessas mulheres que, normalmente, não costuma ser revelada.

“Eu conto sobre a vida dessas mulheres por meioesportes da sorte patrociniosuas maternidades e o que isso significou para elas”, afirma. “E normalmente não estamos acostumados a contar sobre essas vidas assim, ainda mais sobre mulheres que fizeram coisas importantes”.

No filme Que horas ela volta? (2015), a diretora Anna Muylaert conta a históriaesportes da sorte patrocinioVal (Regina Casé), uma pernambucana que vai para São Paulo para trabalharesportes da sorte patrociniouma casaesportes da sorte patrociniofamília com o intuitoesportes da sorte patrocinioproporcionar melhores condiçõesesportes da sorte patrociniovida para a filha Jéssica, que ficaesportes da sorte patrocinioPernambuco.

Passado um tempo, Jéssica pede para ir morar com a mãe e a trama fica mais intensa. A relação da empregada com os filhos da patroa, a crítica social ao tratamento corriqueiro dado a funcionários domésticos como se fossem “da família” estão presentes no filme, cujo títuloesportes da sorte patrocinioinglês é The second mother (A segunda mãe).

Duranteesportes da sorte patrociniopesquisa, Begoña encontrou casos parecidos com o da personagem vivida por Regina Casé. Especialmenteesportes da sorte patrociniomulheres latinas que foram para a Europaesportes da sorte patrociniobuscaesportes da sorte patrociniotrabalho, que,esportes da sorte patrociniomuitos casos, consistiaesportes da sorte patrociniocuidar dos filhosesportes da sorte patrociniooutras mulheres.

Por isso, o livroesportes da sorte patrocinioBegoña não se debruça somente sobre históriasesportes da sorte patrociniomulheres famosas, que deixam seus filhosesportes da sorte patrociniobuscaesportes da sorte patrociniouma carreiraesportes da sorte patrociniosucesso. Há uma nuance econômica e social quando se falaesportes da sorte patrocinioabandono materno e esse tema também é delicadamente tratadoesportes da sorte patrocinioAs Abandonadoras.

Ela conta que quando passou a buscar mães anônimas e suas histórias, teve que tocar, obrigatoriamente, no tema da migração. Há um capítulo somente sobre essas histórias,esportes da sorte patrociniomães que mudaramesportes da sorte patrociniopaís, sozinhas,esportes da sorte patrociniobuscaesportes da sorte patrociniomelhores oportunidades. “99% dessas mulheres abandonaram seus filhos por faltaesportes da sorte patrociniodinheiro e oportunidadesesportes da sorte patrocinioseus paísesesportes da sorte patrocinioorigem”, conta a escritora.

"DNA do abandono"

Até mais ou menos a metade do século passado, para abandonar uma criança era necessário apenas um recurso: um cilindro giratórioesportes da sorte patrociniomadeira, normalmente instalado nas portasesportes da sorte patrocinioinstituições como as Santas Casas.

A roda dos expostos, ou dos enjeitados, foi uma prática iniciada na Idade Média e que atravessou séculos e continentes.

Recentemente, a Europa fez ressurgir o mecanismo, mas com uma nova roupagem. Os bebês são deixados em uma escotilha chamada “Babywiege” (berço,esportes da sorte patrocinioportuguês). O local é seguro e com uma temperatura ideal para os bebês.

No Brasil, a questão passou a ser tratadaesportes da sorte patrocinioforma mais humana a partir da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê o direito da mulher realizar a entrega do bebê para a adoção, preservandoesportes da sorte patrocinioidentidade.

A psicóloga Carolina Santos Soejima realizou um estudo com algumas dessas mulheres para saber se havia histórico comum na dinâmica familiar durante a infância delas.

A pesquisa foi realizada para aesportes da sorte patrocinioteseesportes da sorte patrociniomestrado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)esportes da sorte patrocinio2004, intitulada "o que leva uma mãe a abandonar um filho?". Para tentar responder a essa pergunta, ela conseguiu reunir uma amostraesportes da sorte patrocinio21 mulheres que entregaram bebês para a adoção. Cada uma delas indicou outra mulher, do mesmo círculo social, com filhos, para que pudesse ser feito um comparativo.

A pesquisadora avaliou então a qualidade das interações familiares a partiresportes da sorte patrocinioindicativos como envolvimento dos pais na infância, regras, comunicação, clima conjugal, punições, dentre outros.

"A conclusão foi que havia diferença na qualidade da interação familiar entre esses dois grupos", conta a psicóloga. As mulheres que, independentemente da razão, entregaram os bebês para a adoção, não vivenciaram "relações afetivas, envolvimento parental e não receberam reforços positivos, influenciando diretamente emesportes da sorte patrocinioauto-estima e afeto", diz o estudoesportes da sorte patrocinioCarolina.

Com todas essas nuances, a pergunta feita pela psicóloga, muito parecida com a que Begoña fez a si mesma para escrever o livro, não tem uma resposta simples. Para Carolina, são comportamentos que se repetem.

Para Begoña, são circunstâncias. “Qualquer tipoesportes da sorte patrociniomãe é capazesportes da sorte patrocinioabandonar seus filhos nas circunstâncias que a levam a fazê-lo”, diz. “Não há um gene, não há um DNAesportes da sorte patrociniouma mulher abandonadora. O que existem são circunstâncias”.

Enquanto o abandono materno é temaesportes da sorte patrocinioteses acadêmicas, livros, filmes e toda a sorteesportes da sorte patrocinioconteúdo, o mesmo não ocorre quando se trata do pai, cuja ausência sempre foi naturalizada.

Pablo Neruda, como lembra a escritora no início do livro, abandonouesportes da sorte patrocinioúnica filha, Malva Marina, aos dois anos. A menina tinha hidrocefalia, uma doença congênita, e ficou aos cuidados da mãe até falecer, aos oito anos.

O poeta chileno ignorou pedidosesportes da sorte patrocinioajuda, inclusive financeira, da ex-mulher e mãe da menina, Maria Antonieta Hagenaar.

No Brasil, somente no ano passado, 172 mil crianças foram registradas sem o nome do pai na certidãoesportes da sorte patrocinionascimento.

“A lista é infinita”, diz a escritora sobre os pais que abandonam seus filhos. “Até porque não sabemos sobre aqueles pais que não vão embora, mas que não praticam uma paternidade responsável”. Para os pais, é possível ser ausente mesmo sem que haja o abandono físico, uma opção que só cabe a mulheres mais abastadas, defende a autora.

“Para uma mulher, é impossível desistir [da maternidade] estando presente”, afirma. “A não ser que você seja muito rica e tenha muitos empregados”, diz ela. "Mas, neste caso, também não há um desejo ou um tabuesportes da sorte patrocinioter que fugir para poder ser [alguém], porque elas já poderiam ser, graças a essa redeesportes da sorte patrocinioapoio paga”.

Qual é o custoesportes da sorte patrocinioser mãe?

O livroesportes da sorte patrocinioBegoña toca bastante nos custos emocionais, tantoesportes da sorte patrociniopermanecer, quantoesportes da sorte patrocinioabandonar um filho.

Mas a maternidade tem outros custos. Alguns, inclusive, mais palpáveis.

Em maio deste ano, as pesquisadoras do Centroesportes da sorte patrocinioPesquisaesportes da sorte patrocinioMacroeconomia das Desigualdades (Made), da USP, Amanda Resende, Tainari Taioka, Clara Saliba e Luiza Nassif tentaram calcular o custoesportes da sorte patrocinioser mãe no Brasil. Para isso, elas traçaram alguns perfis, com base nos números da Pesquisa Nacional por Amostraesportes da sorte patrocinioDomicílios Contínua (Pnad)esportes da sorte patrocinio2022, feita pelo Instituto Brasileiroesportes da sorte patrocinioGeografia e Estatística (IBGE).

“O que mais nos chamou a atenção foi a desigualdade entre mulheres casadas e mães solo”, afirmou Amanda Resende. “Existe um diferencial significativoesportes da sorte patrociniopobreza eesportes da sorte patrociniotempo entre elas”. Ela explica que mães solo muitas vezes deixam o trabalho porque os custosesportes da sorte patrocinioterceirizar os serviçosesportes da sorte patrociniocuidado doméstico não compensam.

“Já as mulheres casadas escolhem continuar no mercado quando elas têm uma renda alta suficiente”, explica Amanda. “No casoesportes da sorte patrociniomães com filhos com até dois anosesportes da sorte patrocinioidade, mulheres casadas chegam a ganhar até o dobroesportes da sorte patrociniorelação às mães solo”.

De acordo com ela, conforme a criança vai crescendo, essa diferença vai diminuindo. “O que nos faz pensar que existe um custo da maternidade, especialmente para as mães solo”.

Na pesquisa, o recorte racial também ficou evidente: a maior parcelaesportes da sorte patrociniofamílias monoparentais são negras. “E mães solo negras são as que mais se aproximam da linha da pobreza. Issoesportes da sorte patrocinioqualquer idade dos filhos”, diz a pesquisadora.