'Vou ficar por aqui. Está muita ladroagem': os ilhados que se recusam a deixar suas casas no Rio Grande do Sul:betway deposito minimo

O município foi proporcionalmente o mais afetado pelas chuvas que arrasam o Estado desde o fimbetway deposito minimoabril. A cidade chegou a ficar 98% alagada nos últimos dias, segundo o governo.

A reportagem da BBC News Brasil conversou com Fábio enquanto acompanhava,betway deposito minimoum bote do Corpobetway deposito minimoBombeiros, o trabalho da equipe que tenta convencer os moradores que ainda resistem a deixar suas casas.

A previsão para os próximos dias é abetway deposito minimoque o nível da lagoa do Guaíba suba a pontobetway deposito minimoatingir um novo recorde e coloquebetway deposito minimorisco a vida dessas pessoas. São ainda dezenas, talvez centenasde moradores que não querem abandonar o pouco que lhes sobrou.

A estimativa dos bombeiros é que cercabetway deposito minimo90% da população do municípiobetway deposito minimo40 mil habitantes tenha deixado suas casas e estão abrigadas na casabetway deposito minimofamiliares oubetway deposito minimoalojamentos montados pelo poder público.

“Os caras entraram na casa da vizinha. Eu saí umas 7h para dar uma olhadinha e colocar comida do cachorro. Eu dei uns berros e os caras largaram. Agora vai saber se mexeram ou não”, conta Fábio.

Segundo o morador, à noite é o momento mais tenso.

“Um deserto. Só escuta bala passar. Só entrelaçadabetway deposito minimobala. Os passarinhos cantando e as balas.”

Ele diz que tem água e alimentos suficientes para passar dias sem precisar sairbetway deposito minimocasa. Conta também que improvisou uma bateriabetway deposito minimocarro para carregar o celular duas vezes ao dia. A comida chegou graças a um helicóptero que levou cestas básicas para a zona, diz.

Rastrobetway deposito minimodestruição e forte odor

O caminhobetway deposito minimoPorto Alegre a Eldorado do Sul, quebetway deposito minimotempos normais leva menosbetway deposito minimomeia hora, agora pode levar até 5 com todos os alagamentos.

Só usando uma estrada transformadabetway deposito minimocorredor humanitário, usada majoritariamente pelas equipesbetway deposito minimosocorro, é possível encurtar o tempo para uma hora.

No caminho, um rastrobetway deposito minimodestruição, alémbetway deposito minimoum cheiro fortebetway deposito minimolixo ebetway deposito minimomaterial orgânicobetway deposito minimodecomposição.

Onde antes havia uma cidade que se orgulhavabetway deposito minimoser banhada pelo rio Jacuí e pelo lago Guaíba, agora há veículos completamente embaixo d’água, animais mortos e casas abandonadas com móveis boiando.

Nos comércios, as portas exibem sinaisbetway deposito minimoarrombamentos, sugestãobetway deposito minimoque sofreram saques.

Na tarde friabetway deposito minimosegunda-feira, com a temperatura por voltabetway deposito minimo15ºC, o completo silêncio só era quebrado pelo barulho do barco dos bombeiros e algumas motos aquáticasbetway deposito minimovoluntários.

Durante as duas horasbetway deposito minimoque a reportagem acompanhou a equipe dos bombeiros, nenhum dos cercabetway deposito minimo20 moradores que receberam a ofertabetway deposito minimoajuda aceitou deixar suas casas.

O motivo é sempre o mesmo: cuidar do que restoubetway deposito minimoseus móveis e objetos pessoais.

Entre as pessoas ilhadas que se recusam mudar para um abrigo estava um casalbetway deposito minimoidosos. Os bombeiros contam que já insistiram diversas vezes para que eles saíssem, mas foibetway deposito minimovão.

Rudinei Silva dos Santos, comandante dos bombeiros voluntáriosbetway deposito minimoEldorado do Sul, se levanta do mesmo bote onde está a reportagem, sobe na pilastra do portão e se identifica aos idosos que estão abrigados no fundobetway deposito minimouma casa.

Aos gritos para que o casal possa ouvir, ele oferece ajuda para que eles deixem o localbetway deposito minimosegurança. Os idosos negam, dizem que estão bem e vão permanecerbetway deposito minimocasa.

“É muito complexo e muito complicado, porque as pessoas estão com muito receiobetway deposito minimodeixar as suas residências, deixar os seus animaizinhos, seus pets", analisa Santos.

"E também tem a questão do receiobetway deposito minimoque alguém entre e ainda leve o pouco que sobrou”, segue ele.

O comandante-geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, coronel Cláudio dos Santos Feoli, que lidera as operaçõesbetway deposito minimosegurança durante a tragédia, diz à BBC News Brasil que reconhece que foram registrados crimes no início da crise. Mas afirma que hoje não há mais motivo para os moradores continuarembetway deposito minimoáreas inundadas por medo da violência.

“Num primeiro momento, nós tivemos alguns saques, sim, porque nós tivemos cidades ilhadas. Em Eldorado do Sul, só se chegavabetway deposito minimohelicóptero e nós colocamos o efetivo do Batalhãobetway deposito minimoChoque lá no Black Hawk (helicóptero)”, diz.

Ele afirma que nos últimos dias o patrulhamento foi reforçado nas áreas alagadas e que hoje estão seguras.

“A partir do momentobetway deposito minimoque nós tivemos acesso por barco e também por via asfáltica, nós conseguimos retomar a normalidade dessa cidade. Hoje, nós temos um patrulhamento bastante robusto nas áreas alagadas, com a utilizaçãobetway deposito minimoembarcações.”

Segundo o comandante-geral da Brigada Militar gaúcha, hoje muitas ocorrências registradasbetway deposito minimoáreas alagadas são trotes dos próprios moradores para atrair a presençabetway deposito minimopoliciais para o seu bairro.

“O que se vêbetway deposito minimoalgumas zonas é o chamado para alguma tentativabetway deposito minimosaque pelo 190 e não se confirma. As pessoas, me parece, colocam essa situação para que abetway deposito minimozona também seja patrulhada”, afirma.

“Só se subir mais 5 metros”

No segundo andarbetway deposito minimoseu imóvel, João Carlos Velasquez Batista diz que deixará o localbetway deposito minimoapenas uma hipótese: se a água subir até o teto do segundo andar da casa, que não tem janelas e está inacabada.

Trajando um sobretudo - a previsão para os próximos dias é que a temperatura mínima chegue a 5ºC durante a madrugada -, João diz que o pé direito da casa dele é mais alto que o da vizinhança e garante que a água não alcançará a área onde ele está.

Para garantir que dormirá sem ser atingido pela enchente, ele diz ter construído um cavaletebetway deposito minimomadeira para erguer o colchão onde dorme.

“Só se subir 5 metros [o rio]. Daí, eu tenho um cavaletebetway deposito minimo2,5 metros, estouro o telhado e saiobetway deposito minimohelicóptero. [Hoje], não vão me levar”, diz à reportagem.

João também conta que está cuidandobetway deposito minimogatos e um cãobetway deposito minimogrande portebetway deposito minimoum vizinho vizinho. Ele diz que no início da crise chegou a beber água do alagamento, mas afirma que hojebetway deposito minimosituação está confortável.

Ele recebe doações, tem água potável estocada e tem ração para dar aos cães e gatos.

João conta que joga saquinhos com raçõesbetway deposito minimooutros telhados para que os bichos se alimentem.

No momentobetway deposito minimoque a reportagem estava no local, a comida lançada era devorada por ratos que corriam pelos telhados.

No fim da conversa, ele até oferece um café à reportagem.

“Vocês querem uma água? Querem tomar um café? Eu passo um cafézinho para vocês”, oferece.

O bombeiro Rudinei oferece ajuda mais uma vez, antesbetway deposito minimoseguir na operação.

“Seu João, qualquer coisa que precisar, se mudarbetway deposito minimoideia, liga. Um abraço”.

O morador agradece e diz que não há motivo para tamanho cuidado.

“Tenho comida, tenho bolacha, tenho sopa, tenho tudo”.