'Foi assustador': cartaaposta galera83 anos detalha estragos da grande enchenteaposta galera1941 no Rio Grande do Sul:aposta galera
A carta escrita há 83 anos faz parte do acervoaposta galeramemórias da família que a filhaaposta galeraHelena, a arquiteta Elenara Stein Leitão, 67, guarda há anos.
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Helena vivenciou por acaso a enchente que atingiu o Rio Grande do Sul. Após perder os pais aos 10 anos, ela foi morar no Rioaposta galeraJaneiro com uma tia e foi à capital gaúcha para visitar familiares. O plano era ficar apenas algumas semanas.
A casa da família, na avenida Independência, não foi invadida pela água e serviuaposta galeraabrigo para diversas pessoas que perderam tudo com as cheias. Situações que foram descritas por ela.
"Tia Maria saiuaposta galeracasa. Nós quase que saímos, pois faltou uns quatro metros para chegar aquiaposta galeracasa! Zilá e Carlos passaram várias semanas aqui, flagelados. A água lá foi um bom pedaço acima do assoalho. Este estragou-se completamente, ficando todo embaulado", descreveu a jovem.
Na enchenteaposta galeramaioaposta galera1941, o rio Guaíba registrou 4,76 metrosaposta galeraelevação no nível da água — e era, até recentemente, a maior referênciaaposta galeratragédia ligada a um desastre naturalaposta galeraPorto Alegre. Segundo os relatos da época, foram 22 diasaposta galerachuvas naquele mês.
“Os trens pararam e o telégrafo interrompeu. Estávamos simplesmente isolados do interior. Cinemas, colégios, faculdadeaposta galeramedicina e direito ficaram cheiosaposta galeraflagelados e o governo sustentando todo o pessoal. Flagelados 17 mil! O professorado todo dando comida e cuidando deles. No Pão dos Pobres foi até ao segundo andar, quase cobriu a Igrejaaposta galeraSanto Antônio. Os meninos saíram e o prejuízo foi calculadoaposta galera5 mil contos!”, diz outro trecho da carta.
No texto, Helena também relata que diversos bairros ficaram alagados e a plantaçãoaposta galeraarroz foi perdida.
A situação a marcou tanto que os diasaposta galeramedo vividos há 83 anos eram frequentemente recordados por ela.
“Bastava chover um pouco mais e o nível do rio subir que ela relembrava tudo o que passou e nos contava as histórias da época. Era uma tragédia muito grande, segundo ela, algo que eu nunca poderia imaginar que passaríamos. O fatoaposta galeraela ter escrito a cartaaposta galeraum pedaçoaposta galeraretalho mostra também que até papel chegou a faltar”, conta Elenara, que mora na capital gaúcha.
Assim como a mãe vivenciou as enchentes e os problemas causados por ela, a arquiteta também está vivenciando os efeitos da cheia, apesaraposta galeranão ter tido a casa invadida pela água. O local serviuaposta galeraabrigo para conhecidos e enfrenta a faltaaposta galeraabastecimentoaposta galeraágua.
A carta escrita por Helena há maisaposta galeraoito décadas não foi o único relato recuperado da época.
A dermatologista Renata Cid Bacil Karam guarda emaposta galeracasa,aposta galeraSão Paulo (SP), várias fotos sobre a época e relatos escritos pelo avô Abrahim Bacil, que era conhecido como Baico. Em 1941 ele tinha 25 anos e moravaaposta galeraPorto Alegre.
Duas fotos,aposta galeraque o homem aparece com a água na altura da cintura, foram enviadas para a mãe dele, que viviaaposta galeraMinas Gerais. No verso, ele descreveu a situação que enfrentava com a enchente.
“Entrada das lojas, nos fundos vê-se o portão, e água me batia na cintura, neste dia tinha 80 cmaposta galeraágua dentro do depósito. Ficamos o dia todo tirando mercadoria para não molhar”, descreveu.
Em outra foto registrada no mesmo período, Bacil aparece com os amigosaposta galeratrabalho sentadoaposta galeraum barco usado para levar alimentos aos moradores atingidos.
“Mãe, uma fotografia como esta acho que nunca mais se consegue, veja um verdadeiro navio nos fundos da loja, na rua do centro da cidade (Rua 15)aposta galeraque tiramos esta.
Esta embarcação navegava todos os dias trazendo alimentos para a cidade, e “só vendo” milharesaposta galeraoutras grandes e pequenas”, escreveu.
Segundo a dermatologista, na época o avô morava sozinho no estado e trabalhavaaposta galerauma loja. O local foi invadido pela água.
“Meu avô sempre contava histórias daquela enchente. Onde ele morava não chegou a inundar, mas ele já estava noivo da minha avó e a família dela perdeu tudo. Ele dizia que era algo que nunca se viu”, conta a dermatologista.
Como foi a enchenteaposta galera1941
A enchenteaposta galera1941 ficou marcada como a pior da históriaaposta galeraPorto Alegre, perdendo a posição para a tragédia registrada no estado este ano. Na ocasião, o rio Guaíba atingiu a marcaaposta galera4,76 metros no dia 8aposta galeramaio.
E no dia 5aposta galeramaioaposta galera2024, essa marca foi superada: o rio atingiu 5,35 metros.
Com 272 mil habitantes, a capital gaúcha teve cercaaposta galera70 mil desabrigados, o que corresponde a um quarto da população da época.
Na tragédia deste ano, segundo dados da Defesa Civil, 615 mil pessoas foram atingidas, sendo 538,2 mil desalojados (em casasaposta galeraparentes ou amigos) e outros 77,4 milaposta galeraabrigos. Pouco maisaposta galera90% dos municípios do estado foram atingidos pela chuva, sendo 450 das 497 cidades afetadas.
Assim como agora, na enchente anterior, as escolas da cidade se transformaramaposta galeraabrigos para acolher aqueles que tiveram a casa invadida pela água.
Relatos da época apontam que a cidade ficou tomada pela água por 40 dias.
Leia a carta escrita por Helena na íntegra
Porto Alegre, 26aposta galeramaioaposta galera1941
Flavinha querida, saudades!
Respondo com carinho tua querida cartinhaaposta galera28 do mês passado e que só me veio às mãos ontem. Imagina! Quase um mês!
Como se foramaposta galeraenchente? Aquiaposta galeraPorto Alegre foi um assunto muito sério! As águas atingiram a Rua da Praia. A zona que mais sofreu foi Navegantes, São João e Menino Deus. Foi até Floresta e Passo da Mangueira.
Tia Maria saiuaposta galeracasa. Nós quase que saímos, pois faltou uns quatro metros para chegar aquiaposta galeracasa! Zilá e Carlos passaram várias semanas aqui, flagelados. A água lá foi um bom pedaço acima do assoalho. Este estragou-se completamente, ficando todo embaulado.
A cidade esteve vários dias às escuras, sem água, sem leite, sem jornal, foi mesmoaposta galeraassustar! A coitada da Belmira perdeu tudo, tudo... os móveis abriram-se todos, estragaram-se completamente.
Os trens pararam e o telégrafo interrompeu. Estávamos simplesmente isolados do interior. Cinemas, colégios, Faculdadeaposta galeraMedicina e Direito ficaram cheiosaposta galeraflagelados e o governo sustentando todo o pessoal. Flagelados 17.000! O professorado todo dando comida e cuidando deles.
No Pão dos Pobres foi até ao segundo andar, quase cobriu a Igrejaaposta galeraSanto Antônio. Os meninos saíram e o prejuízo foi calculadoaposta galera5 mil contos!
Dizem queaposta galeraSão Jerônimo foi uma coisa horrorosa! Cachoeira (do Sul), a não ser as lavouras, a cidade não sofreu nada, mas o arroz perderam todo.