O paciente que se livrou do HIV após 31 anos com o vírus e agora decidiu contarcampeonato italiano de futebolhistória:campeonato italiano de futebol

Quase um ano depois, Paul Edmonds decidiu sair do anonimato e finalmente contarcampeonato italiano de futebolhistória. Emcampeonato italiano de futebolprimeira entrevista a um veículocampeonato italiano de futebolimprensa da América Latina, ele conversou com a BBC News Brasil.

"Eu não estava pronto (para falar) naquele momento. Isso tudo era uma grande notícia também para mim, e eu precisavacampeonato italiano de futeboltempo para pensar sobre o que queria fazer", diz Edmonds à BBC News Brasil.

Agora, ele afirma que está preparado para oferecer seu relato. "Eu quero ser uma inspiração para as pessoas que têm HIV. E também honrar aqueles que não sobreviveram.”

O HIV, que é a siglacampeonato italiano de futebolinglês para o Vírus da Imunodeficiência Humana, ataca o sistema imunológico dos portadores. Em seu estágio mais avançado, o vírus pode levar ao desenvolvimento da Aids, que é a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, abrindo caminho para uma sériecampeonato italiano de futeboldoenças oportunistas que se aproveitam das falhas na imunidade do paciente.

Na décadacampeonato italiano de futebol1980, quando Edmonds foi diagnosticado, as opçõescampeonato italiano de futeboltratamento para o HIV eram limitadas, e um resultado positivo era encarado por muitos como uma sentençacampeonato italiano de futebolmorte.

No caso dele, o prognóstico era ainda pior, porque os resultados mostravam que, alémcampeonato italiano de futebolser portador do vírus, ele já havia progredido para Aids.

Ao longo das últimas décadas, novas terapias tiveram sucesso, e hoje portadores do vírus conseguem levar uma vida longa e saudável e muitos nem chegam a desenvolver Aids. Mas ainda não existe uma cura, e as pessoas diagnosticadas com HIV têmcampeonato italiano de futebolconviver com o vírus e tomar medicamentos pelo resto da vida.

O sucesso do casocampeonato italiano de futebolEdmonds, descrito por ele como "milagroso", ocorreu depoiscampeonato italiano de futebolum segundo diagnóstico.

Em 2018, durante examescampeonato italiano de futebolrotina para controlar o HIV, ele descobriu que tinha leucemia mieloide aguda, um tipocampeonato italiano de futebolcâncer que atinge a medula óssea e as células do sangue.

Os médicos disseram que Edmonds precisaria se submeter a um transplantecampeonato italiano de futebolcélulas-tronco, um procedimento arriscado, mas que oferecia uma oportunidade: eles poderiam buscar um doador que tivesse uma mutação genética rara, chamadacampeonato italiano de futebolCCR5 Delta 32, que torna o organismo resistente ao HIV.

Edmonds recebeu o transplantecampeonato italiano de futebol2019, no centrocampeonato italiano de futeboltratamentocampeonato italiano de futebolcâncer City of Hope (Cidade da Esperança), na Califórnia.

Dois anos depois,campeonato italiano de futebol2021, ele parou completamente com a medicação para controlar o HIV, e até hoje estácampeonato italiano de futebolremissãocampeonato italiano de futebollongo prazo, sem HIV ou leucemia detectáveiscampeonato italiano de futebolseu organismo.

Apesarcampeonato italiano de futebolesse tipocampeonato italiano de futeboltransplante ser raro para pacientes com HIV, o resultadocampeonato italiano de futebolEdmonds e dos outros quatro pacientes submetidos ao mesmo procedimento com sucesso é considerado promissor por médicos e pesquisadores. Muitos esperam que o acompanhamento desses pacientes e o estudo desses casos possam levar a novos tratamentos e a uma possível cura.

"Um transplantecampeonato italiano de futebolcélulas-tronco é um procedimento complexo, com efeitos colaterais potenciais significativos", diz à BBC News Brasil a médica Jana Dickter, especialistacampeonato italiano de futeboldoenças infecciosas e parte da equipe que tratacampeonato italiano de futebolEdmonds no City of Hope.

"Portanto, não é uma opção adequada para a maioria das pessoas que vivem com HIV. Mas é uma opção para pessoas com HIV que desenvolvem um câncer no sangue e que podem se beneficiarcampeonato italiano de futebolum transplante para tratar da doença", ressalta Dickter.

O diagnóstico inicial e a vida com HIV

Edmonds cresceucampeonato italiano de futebolToccoa, uma cidadecampeonato italiano de futebolmenoscampeonato italiano de futebol10 mil habitantes no interior do Estado da Geórgia. Apesarcampeonato italiano de futebolviveremcampeonato italiano de futeboluma pequena comunidade religiosa e conservadora no sul dos Estados Unidos, seus pais o apoiaram quando ele revelou que era gay.

Em 1976, aos 21 anoscampeonato italiano de futebolidade, ele se mudou para San Francisco, a cidade californiana que já se firmava como epicentro do movimento gay no país.

"No início, era simplesmente incrível. Era um momento muito especial. Homens gayscampeonato italiano de futeboltodos os lugares estavam vindo para San Francisco", lembra Edmonds.

Mas, no início da décadacampeonato italiano de futebol1980, muitos começaram a ficar doentes. “Era assustador, ninguém sabia o que estava acontecendo. Chamavam (a nova doença)campeonato italiano de futebolcâncer gay. As pessoas estavam com medo umas das outras”, relata.

Muitos dos pacientes com HIV morriam poucos anos após descobrirem que eram portadores do vírus. Edmonds lembra que costumava ler os obituários do jornal local no bar que frequentava, e muitas vezes chorava ao ver o nomecampeonato italiano de futebolamigos e conhecidos.

Edmonds conta que não tinha sintomas quando decidiu fazer o teste para HIV,campeonato italiano de futebol1988, mas já suspeitava que pudesse ser portador do vírus. Ele recebeu o resultado das mãoscampeonato italiano de futeboluma estudantecampeonato italiano de futebolmedicina, que fazia estágio na clínica.

"Ainda lembrocampeonato italiano de futebolsua expressão, foi difícil também para ela me dar a notícia, eu podia ver no seu rosto", afirma Edmonds, que na época tinha 33 anoscampeonato italiano de futebolidade.

"Eu testei positivo (para HIV), e também recebi um diagnósticocampeonato italiano de futebolAids, porque minha contagemcampeonato italiano de futebollinfócitos T (CD4) estava abaixocampeonato italiano de futebol200 (por milímetro cúbicocampeonato italiano de futebolsangue), o que é considerado oficialmente Aids", relata Edmonds. "Embora eu já suspeitasse que podia ser soropositivo, receber o resultado foi um choque."

Edmonds achava que teria o mesmo destinocampeonato italiano de futeboltantos amigos que haviam sucumbido à doença. Ele conta que, por algum tempo, começou a bebercampeonato italiano de futebolexcesso, mas eventualmente aceitou o diagnóstico, controlou a bebida e passou a seguir os tratamentos disponíveis na época.

"Eu trocavacampeonato italiano de futebolmedicamento cada vez que um remédio novo surgia. E, na época, todos eram muito ruins", afirma, ressaltando que se sentia mal a maior parte do tempo, não por causa da doença, e sim devido aos efeitos colaterais dos medicamentos.

"Passei a usar cannabis medicinal para combater os efeitos colaterais, a náusea, a faltacampeonato italiano de futebolapetite, evitar perda extremacampeonato italiano de futebolpeso", diz.

Em 1992, Edmonds conheceu seu marido, Arnold House, chamado carinhosamentecampeonato italiano de futebolArnie. Edmonds imediatamente revelou que era soropositivo e incentivou House a fazer um teste.

"E ele também testou positivo. Foi um choque, mas ele lidou bem com isso, e nós simplesmente seguimoscampeonato italiano de futebolfrente", conta Edmonds, ao ressaltar que um sempre cuidou do outro durante tantos anos vivendo com HIV.

Edmonds fala com carinho do companheiro, com quem vive há 31 anos e com quem casou legalmentecampeonato italiano de futebol2014. "(Desde o início) nós tivemos essa atração instantânea, e isso permaneceu. Nós não nos separamos mais desde o diacampeonato italiano de futebolque nos conhecemos."

Transplante e busca por um doador

Com o passar do tempo, novos e melhores tratamentos para o HIV foram surgindo, e o casal se adaptou à convivência com o vírus. "Você começa a se permitir olhar para um futuro, imaginar um futuro", diz Edmonds.

Até que,campeonato italiano de futebol2018, três décadas após seu diagnóstico, Edmonds descobriu que estava com síndrome mielodisplásica (SMD), termo que se refere a um grupocampeonato italiano de futeboldoenças que afetam a medula óssea, um tecido gelatinoso localizado no interior dos ossos responsável pela fabricaçãocampeonato italiano de futebolcélulas sanguíneas. A SMD algumas vezes evolui para leucemia mieloide aguda, o que ocorreu no caso dele.

Ele afirma que não tinha sintomas, apenas um poucocampeonato italiano de futebolfadiga. Seus médicos indicaram que buscasse tratamento no City of Hope, e lá a equipe médica explicou os detalhes do procedimento, que seriacampeonato italiano de futebolchancecampeonato italiano de futebolsuperar o câncer e, talvez, também o HIV.

A médica Jana Dickter esclarece que o transplantecampeonato italiano de futebolcélulas-tronco a que Edmonds foi submetido, também chamadocampeonato italiano de futeboltransplantecampeonato italiano de futebolmedula óssea, usa células da medula ósseacampeonato italiano de futebolum doador para substituir o tecido doente no organismo do receptor.

Após tomada a decisãocampeonato italiano de futebolir adiante com o transplante, começou a busca por um doador compatível e que tivesse a rara mutação genética que confere resistência ao HIV, presentecampeonato italiano de futebolapenas cercacampeonato italiano de futebol1% a 2% da população, segundo os médicos do City of Hope.

Edmonds precisou passar por quimioterapia para se preparar para receber o transplante, um processo delicado no casocampeonato italiano de futebolum paciente como ele, que também tomava antirretrovirais para controlar o HIV. A quimioterapia pode afetar temporariamente o sistema imunológico.

Em fevereirocampeonato italiano de futebol2019, aos 63 anoscampeonato italiano de futebolidade, ele finalmente estava pronto para receber o transplante, que transcorreu com sucesso. Nos meses seguintes, permaneceu sendo monitoradocampeonato italiano de futebolperto pelos médicos, e conta que recebeu a visita e o carinhocampeonato italiano de futebolamigoscampeonato italiano de futebolvárias partes do país.

"Eu não tinha ideia se (o transplante) ia funcionar ou não. Me esforcei para não tirar conclusões precipitadas, para simplesmente seguir o tratamento e ver o que acontecia", afirma Edmonds.

Ele continuou tomando medicamentos para prevenir complicações do transplante, além do tratamento antirretroviral para o HIV. Um ano depois do procedimento, os planoscampeonato italiano de futebolsuspender a terapia para HIV foram adiados pela pandemiacampeonato italiano de futebolcovid-19.

Foi somentecampeonato italiano de futebolmarçocampeonato italiano de futebol2021, maiscampeonato italiano de futeboldois anos após o procedimento, que Edmonds finalmente interrompeu a terapia antirretroviral. Desde então, ele continua livre da leucemia e do HIV, mas os médicos responsáveis pelo seu tratamento ainda não usam o termo “cura” para descrever o seu caso, considerado por enquanto uma remissãocampeonato italiano de futebollongo prazo.

"Nós não usamos o termo cura muito frequentemente no mundo do HIV", ressalta a médica Jana Dickter. "Mas posso dizer que ele parou com a terapia antirretroviral há maiscampeonato italiano de futeboldois anos e (desde então) não encontramos nenhuma evidênciacampeonato italiano de futebolreplicação do HIVcampeonato italiano de futebolseu sistema."

Segundo a especialistacampeonato italiano de futeboldoenças infecciosas, ainda é preciso mais tempo e mais dados para considerar Edmonds oficialmente "curado". "Mas o que estamos vendo até agora é muito promissor", salienta.

Em casos anteriores, a marcacampeonato italiano de futebolcinco anos sem evidênciascampeonato italiano de futebolHIV costuma ser o padrão para considerar o paciente curado.

Tratamento raro, mas que oferece esperança

"Eu ainda acordo todas as manhãs e tenhocampeonato italiano de futeboldizer a mim mesmo que é real. Eu vejo isso como milagroso, essa coisa incrível que aconteceu comigo", diz Edmonds. "Simplesmente não sei como fui tão afortunado. Sou muito grato."

Ele conta que ainda sofre com pequenos problemas decorrentes do transplante, como o surgimento esporádicocampeonato italiano de futebolferidas na boca e a sensaçãocampeonato italiano de futebololho seco, para os quais continua recebendo tratamento no City of Hope.

"Poderia ser tão pior. Não posso reclamar disso, é tudo administrável", afirma.

Segundo a médica Jana Dickter, até o momento, entre 15 pacientes com HIV no mundo que receberam transplantecampeonato italiano de futeboldoador com a mutação genética rara, oito morreram e cinco, incluindo Edmonds, entraramcampeonato italiano de futebolremissãocampeonato italiano de futebollongo prazo. Outros dois ainda estão recebendo terapia antirretroviral.

Antescampeonato italiano de futebolsair do anonimato, Edmonds era conhecido como o "Paciente da Cidade da Esperança",campeonato italiano de futebolreferência ao centro onde fez seu tratamento. Os outros quatro pacientes que entraramcampeonato italiano de futebolremissãocampeonato italiano de futebollongo prazo para o HIV e leucemia após o transplante ficaram conhecidos como os pacientescampeonato italiano de futebolBerlim (que recebeu o transplantecampeonato italiano de futebol2007), Londres, Nova York e Düsseldorf.

Esse tipocampeonato italiano de futeboltransplante não está disponível para a maioria dos portadorescampeonato italiano de futebolHIV. Devido aos riscos envolvidos e a dificuldadecampeonato italiano de futebolencontrar doadores com a mutação genética rara, o tratamento deverá continuar restrito para alguns poucos pacientes que também enfrentam um câncer, como foi o casocampeonato italiano de futebolEdmonds.

Mas o sucessocampeonato italiano de futebolseu tratamento deve ajudar nas pesquisas sobre o vírus, e oferece esperança para outros pacientes. Edmonds continuará a ser monitorado para uma sériecampeonato italiano de futebolestudos.

"Em geral, quando pacientes recebem um transplante, mesmo sem HIV, são monitorados para qualquer recorrência da leucemia", esclarece Dickter. "No caso dele, estamos monitorando conforme o protocolo padrão para recorrênciacampeonato italiano de futebolleucemia, mas também para garantir que não haja reativaçãocampeonato italiano de futebolseu HIV."

A médica ressalta que, à medida que a populaçãocampeonato italiano de futebolpessoas com HIV envelhece, aumenta o riscocampeonato italiano de futeboldesenvolver alguns tiposcampeonato italiano de futebolcâncer, entre eles os sanguíneos.

"E a possibilidadecampeonato italiano de futebolcurar não apenas o câncer, mas também simultaneamente entrarcampeonato italiano de futebolremissão para o HIV, é animadora. Espero ver futuros pacientes com resultado semelhante", afirma.

Aos 67 anoscampeonato italiano de futebolidade, Edmonds diz que tem se dedicado a ajudar pessoas doentes e idosas, servindo como cuidador e oferecendo companhia. Também tem atuado na defesa da pesquisa da cura do HIV.

Ele participa do conselho consultivo comunitáriocampeonato italiano de futebolum programa dedicado à pesquisa sobre o vírus, e atua com outros pacientes que entraramcampeonato italiano de futebolremissão, entre eles ocampeonato italiano de futebolLondres e ocampeonato italiano de futebolDüsseldorf, para apoiar a arrecadaçãocampeonato italiano de futebolfundos para estudos sobre a cura do HIV.

Edmonds não sabe quem foi seu doador, que escolheu permanecer anônimo. “Eu enviei uma cartacampeonato italiano de futebolagradecimento e disse que estava disposto a conhecê-lo, mas não há pressão, caberá a ele (decidir)"

"Quero destacar o quanto aprecio que alguém tenha se tornado um doador. E quero agradecer ao meu doador. Ele salvou a minha vida", afirma.