Quando a literatura, as artes e até as hashtags 'abraçam' as árvores:pino bet

Pessoa abraçando árvore
Legenda da foto, A expressão 'tree hugging' vempino betum ocorridopino betJodhpur (Índia)pino bet1730, quando um grupopino betmulheres fizeram um protesto para salvar a floresta onde viviam e foram mortas. (Crédito: Cultura RM/Alamy)
Ilustraçãopino betárvore
Legenda da foto, A ilustradora Clare Curtis está entre os artistas contemporâneos inspirados por árvores e florestas. (Crédito: Clare Curtis)

Nos últimos anos, houve um aumento significativo na publicaçãopino betliteratura sobre árvores, com novos livros sobre o assunto surgindo regularmente - entre eles The Hidden Life of Trees (A Vida Secreta das Árvores)pino betPeter Wohlleben, Strange Labyrinth (Estranho Labirinto)pino betWill Ashon, The Long, Long Life of Trees (A Longa, Longa Vida das Árvores)pino betFiona Stafford e o conto alegórico The Man Who Planted Trees (O Homem que Plantava Árvores)pino betJean Giono, só para citar alguns.

Então, por que essa recente obsessão com árvores? Por que os escritores e artistas são tão atraídos às árvores como um tema? O que as árvores podem nos ensinar? As árvores realmente podem nos deixar mais felizes e tranquilos?

Não é que as árvores sejam um assunto novo na literatura, é claro. Hesse é apenas um dos muitos escritores, poetas, artistas e filósofos que se inspirarampino betárvores e florestas ao longo dos séculos.

Outro exemplo é o poeta inglês do século 19 John Clare, que escreviapino betdialeto rural e cujo poema The Fallen Elm (O Olmo Caído) explora as liberdades ganhas e perdidas com a industrialização, quando vastas porçõespino betflorestas antigas foram derrubadas. Já o poemapino betWilliam Wordsworth It Was an April Morning (Era Uma Manhãpino betAbril) fala sobre a beleza e a promessapino betuma árvore na primavera.

Ilustraçãopino betárvores
Legenda da foto, O artista alemão Anselm Kiefer frequentemente pintava florestas proibidaspino betseus quadros, como esse detalhepino betResurrexit 1973 (Crédito: Peter Horee/Alamy)

Entre os livros com temáticapino betárvore que surgiram recentemente está uma antologia, Arboreal: A Collection of New Woodland Writing (Arbórea: Uma Coleçãopino betNovos Textos Sobre Bosques e Florestas), que explora literatura, história, mitologia e cultura rural das árvores e florestas.

No livro, há ensaiospino betarquitetos, artistas e acadêmicos, assim como escritores com afinidades com árvores e florestas. Entre os contribuidores estão o poeta Zaffar Kunnial e os escritores Tobias Jones, Helen Dunmore, Ali Smith, Germaine Greer e Richard Mabey.

Floresta para as árvores

A escritora "arbórea" Fiona Stafford, também autora do livro The Long, Long Life of Trees (A Longa, Longa Vida das Árvores), diz que a atual obsessão por árvores na literatura faz partepino betuma tendência florescentepino betbusca por uma nova formapino betescrever sobre a natureza, o que, ao menospino betparte, está relacionada com a preocupação com o meio ambiente.

"Mas a nova literatura sobre árvores é também partepino bettradições literárias muito antigas", diz ela. "O paradoxo é que sempre parece se voltar para um mundo rural perdido, mas ao mesmo tempo está sempre renascendopino betnovopino betnovas formas com relevância contemporânea urgente."

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Legenda da foto, 'Hockney faz as árvores brilharem com energia e cores inesperadas', diz a escritora Fiona Stafford, sobre Felled Trees (Árvores Caídas),pino bet2008 (Crédito: Alamy)

Desde criança, Stafford ama as árvores. "As árvores parecem criar um mundo diferente dentropino betnós, não apenaspino bettermospino betvida selvagem, maspino betesferas imaginárias onde as coisas parecem possíveis e que não seriam assim no mundo diário do trabalho."

Ela descobriu algo muito "tranquilizante", diz ela, a respeitopino bet"um objeto muito familiar que é tão cheiopino betvida e silenciosamente alimenta todas as coisas que vivempino betseu entorno". Stafford menciona clássicos da literatura infantil,pino betRobin Hood a The Wind in the Willows (O Vento nos Salgueiros). "E o premiado último livropino betFrances Hardinge, The Lie Tree (A Árvore da Mentira) pode muito bem ser um clássico do futuro."

Stafford também se interessa pela forma como artistas se inspiram e interpretam o tema. Seu preferido? "David Hockney", diz ela. "Que pinta árvores e florestas com tanta paixão e intensidade que o que parecia ser um cenário comum é profundamente transformado. Ele é capazpino betdiscernir a personalidadepino betárvores e as faz ferver com energia, brilho e cores inesperadas."

Obraspino betJohn Crome e Gustave Courbet exploraram o tema do carvalho, que tem status mitológico e é um emblemapino betforça e dignidade.

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Legenda da foto, A floresta nativapino betDavid Hockneypino betYorkshire (Reino Unido) inspiroupino betsériepino betpinturas e desenhos para iPad, incluindo 'Três Árvores pertopino betThixendale'pino bet2008 (Crédito: Alamy)

Stafford também explora o lado mais sombrio das florestas, que, segundo ela, está "enraizado nas lendas europeias". Dos Irmãos Grimm até os contos russospino betBaba Yaga.

"(O) Medopino betquais perigos podem estar escondidospino betflorestas negras está enraizadopino bethistórias como Chapeuzinho Vermelho ou João e Maria. Mas há sofisticadas versões adultas para árvores sombrias, que Dante entendeu na 'floresta escura'pino betA Divina Comédia. Sylvia Plath e Robert Graves também usaram esse imaginário da floresta escura."

E é claro que muitos talentos das artes visuais - entre eles Anselm Kiefer - são atraídos por esse lado obscuro e intenso das árvores e florestas como um tema.

Apesar dessas referências, no fim das contas as árvores aparecem como uma força do bempino betboa parte dos textos recentes sobre o assunto.

Se Stafford pensa que as árvores podem nos deixar mais felizes? "As árvores são um apelo para todos os sentidos", diz ela.

"Cheiros frescos, o sompino betfolhas se movendo e pássaros cantando, a textura da casca - tudas essas coisas são atraentes, especialmentepino betcidades modernas... Elas nos conectam a outras pessoas, sejam elas contemporâneas ou do passado ou do futuro. Se você planta uma semente que pode levar 200 anos para chegar ao seu tamanho ideal, você está botando fé no futuro e oferecendo um presente para as gerações que ainda nem nasceram. É um sentimento muito bom."

Árvore
Legenda da foto, 'As árvores são poemas que a Terra escreve no céu', escreveu o poeta americano-libanês Kahlil Gibran. (Crédito: Peter Adams Photography Ltd/Alamy)

O Fundopino betFlorestas no Reino Unido promove a "hora da árvore" como uma maneirapino betnos sentirmos melhorespino bettermospino betcorpo, mente e espírito e afirma que a nossa imersão na natureza acalma nossa alma e nos ajuda a lidar com o estresse. O fundo colabora com uma publicaçãopino betchamada Leaf! , com arte, poesia e textos sobre árvores.

O fundo também está trabalhandopino betuma versão moderna da Carta da Floresta, que foi escritapino bet1217 na Inglaterra logo depois da Carta Magna. A Carta da Floresta falava sobre os direitos e deveres dos cidadãos britânicospino betrelação às florestas do país, incluindo assuntos como a criaçãopino betporcos e fogueiras. A Carta para Árvores, Florestas e Pessoas é a versão do século 21 desse documento e deve ser publicadapino betnovembro deste ano.

Hora da árvore

"A 'hora da árvore' pode ser fundamental para quem sofrepino betestresse", diz Tobias Jones, um dos autores que está entre os contribuidores da coletânea Arbóreo que faloupino betum painel do Festival (Literário) Hay sobre o assunto. "A síndromepino betdeficit da natureza é real e eu tenho certezapino betque a floresta é o ambiente com maior potencialpino betcura que há", diz ele.

Jones criou uma comunidade no Reino Unido, chamada Windsor Hill Wood, "um refúgio para pessoaspino betcrise". Também é o assuntopino betseu livro mais recente, A Place of Refuge (Um Lugarpino betRefúgiopino betportuguês).

Quando Jones estava pesquisando para escrever seu livro Utopian Dreams (Sonhos Utópicos), viu comopino betsaúde mental melhorou ao viver na floresta. Segundo o escritor, árvores são uma cura para angústia e ansiedade.

Isso acontecepino betparte por causa do conceitopino bet"banhopino betmato", mas também porque "florestas podem ser lugares assustadores, misteriosos e assombrados e nelas você pode enfrentar seus medos". E também, diz ele, o trabalho longo e árduopino betser autossuficientepino betuma floresta - cortar madeira para aquecer a acomodação, fazer móveis e outras coisas essenciais a partir da madeira das florestas, é terapêutico e traz paz.

Ele cita o coppicing, um métodopino betpodar árvores na altura das canelas para que elas cresçampino betnovo, como análogo a esse processopino betregeneração. "A ideiapino betderrubar as árvorespino betforma que elas se regenerem é bom para a saúde mental e o sensopino betcontinuidade das pessoas para que elas reconstruam suas vidas."

Gravura antiga
Legenda da foto, As árvores sempre foram emblemáticas, como nessa gravura antigapino betespíritos protetores e a árvore sagrada da vida (Crédito: Heritage Image Partnership Ltd/Alamy

Em Arbóreo, o poeta Zaffar Kunial descreve como uma árvore laburnum no jardim da casapino betsua infânciapino betBirmingham (Reino Unido) se tornou significativa para ele, dando-lhe um sentimentopino better raízes. "Ela ficou conhecida como 'minha árvore' na família", diz. "E veio representar tempo, continuidade e raízes, especialmente para mim, que tenho paispino betdois continentes diferentes."

O poema Fielder,pino betKunial, descreve como, ao procurar por uma bola perdidapino betcríquete, ele se viu inesperadamente ao mato rasteiro uma floresta, "a unha sombriapino betuma floresta", e tem um momentopino betclareza, como "um relógio parado".

Ele gosta, diz ele, da "qualidadepino betprisma da luz na floresta epino betcomo essa luz parece virpino betlâminas, com as árvores cortadas pela luz. Quando você vê jacintospino betuma floresta eles parecem turvos, quase um reflexo do céu. Eles me tiram do eixo, bagunçam meu sensopino bettempo". O poeta americano-libanês Kahlil Gibran também se inspirou com o tema: "as árvores são poemas que a Terra escreve no céu", diz ele.

A expressão "tree hugger" ("abraçadorpino betárvore",pino bettradução literal) é considerada um insulto, um sinônimopino bethippie sonhador, fora da realidade. Só que a expressão derivapino betum cenário que foi real demais. A ideiapino betabraçar árvores surgiupino bet1730 na Índia, quando os marajás decidiram construir um palácio novopino betum vilarejo próximo à cidadepino betJodhpur que também era o lar do povo bishnoi, uma seitapino betadoradores da natureza.

Os marajás ordenaram a destruiçãopino betalgumas árvores antigas na vila para dar espaço para o novo palácio, e Amita Devri e outras mulheres da população Bishnoi protestaram corajosamente ao cercar as árvores enrolando suas pernas e seus braçospino betvolta dos troncos para protegê-lospino betum protesto pacífico.

Tragicamente, elas fizeram um sacrifício derradeiro: foram espancadas pelos encarregadospino betderrubar as árvores, e dizem que 353 manifestantes foram degoladas e mortas antes que os marajás finalmente parassem com a matança.

Há muitas coisas além do termo "tree hugger", e o mesmo pode ser dito sobre as árvores. Ou, como Herman Hesse escreveu:

"Em seus galhos mais altos o mundo sussurra. Suas raízes descansam no infinito. Mas elas não se perdem lá; elas lutam com toda a força que podem para um único propósito: realizar-sepino betacordo com suas próprias leis, para construir apino betprópria forma, para representar a si mesmo. Nada é mais sagrado, nada é mais exemplar do que uma árvore, bela e forte."