Por dentro da extrema direita chinesa nos EUA:supersport al

Apoiadoressupersport alTrump asiáticos e sino-americanos durante uma manifestaçãosupersport alManhattan,supersport al2016

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Apoiadoressupersport alTrump asiáticos e sino-americanos durante uma manifestaçãosupersport alManhattan,supersport al2016

Para combater a disseminaçãosupersport altanta notícia falsa, ela organizou um gruposupersport alcentenassupersport alverificadoressupersport alnotícias voluntários. Seu objetivo era desmascarar essas histórias mentirosas, mas não demorou muito para que esses ambientes digitais fossem dominados por uma forte correntesupersport alboatos e teorias da conspiração envolvendo a eleição presidencial dos Estados Unidos, que ocorreu no ano passado.

Falsas alegaçõessupersport alfraude,supersport alparticular, se espalharam como fogo no palheiro entre os imigrantes chineses extremamente conservadores na América do Norte — um grupo pequeno, mas expressivo, entre as comunidades da diáspora.

"Eles são politicamente ativos e agem coletivamente com frequência", diz Qian.

A maioria dos membros dessas salassupersport albate-papo são fervorosos apoiadoressupersport alDonald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, se identificam como cristãos e nutrem opiniões bastante críticas sobre o Partido Comunista Chinês.

A pesquisadora diz que não posta nada nos grupos do Telegram. Ela apenas observa as conversas. Enquanto isso, os outros participantes do bate-papo trocam dezenassupersport almilharessupersport almensagens todos os dias.

Doações para os Proud Boys

Um membro dos Proud Boys recebe um spraysupersport alpimenta no rosto jogado por um policial após um confrontosupersport alWashington DC,supersport al12supersport aldezembrosupersport al2020

Crédito, The Washington Post via Getty Images

Legenda da foto, Membros do Proud Boys entraramsupersport alconfronto com a polícia e com outros manifestantes durante protestos que ocorreramsupersport aldezembrosupersport al2020 na capital Washington

Em dezembrosupersport al2020, Qian identificou um movimento que pedia a arrecadaçãosupersport alfundos para beneficiar os Proud Boys (Meninos Orgulhosos,supersport altradução literal).

Trata-sesupersport alum gruposupersport alextrema direita que é classificado pelo governo do Canadá como uma "organização neofascista" terrorista.

A "vaquinha" serviria para cobrir as despesas médicassupersport almembros feridos durante um comício pró-Trumpsupersport alWashington, capital dos EUA, que ocorrera alguns dias antes.

A mensagem começava com uma frase comoventesupersport alchinês: "Não deixe lutando com cardos e espinhos aqueles que pavimentam o caminhosupersport aldireção à liberdade", seguida por emojissupersport alrosas e corações, além de, claro, links para um sitesupersport alcrowdfunding (financiamento coletivo,supersport alportuguês).

Vale destacar que os Proud Boys são um grupo contrário à imigração. Mas, aos olhos da extrema direita sino-americana, eles estão lutando contra as forças comunistas pela liberdade.

A mensagemsupersport alarrecadaçãosupersport alfundos foi compartilhadasupersport alvários grupos do Telegram e atingiu dezenassupersport almilharessupersport alconservadoressupersport alpoucas horas.

"Quanto mais [doações], melhor", escreveram os organizadores da arrecadação.

Uma dúziasupersport aldoadores declararam no sitesupersport alfinanciamento coletivo que são americanos ou canadenses cujos familiares vieramsupersport alChina, Hong Kong ou Taiwan. Alguns deles deixaram mensagens, desejando aos membros feridos do Proud Boys "uma recuperação rápida".

Em menossupersport alum mês, a vaquinha virtual arrecadou maissupersport al100 mil dólares (R$ 525 mil),supersport alacordo com dados contabilizados pelo Distributed Denial of Secrets, um sitesupersport aldenúncias. Esse número também foi checado ​​pela BBC News.

Das quase mil contribuições individuais, maissupersport al80% vieramsupersport aldoadores com sobrenomessupersport alorigem chinesa.

Uma mulher sino-americana que doou 500 dólares (R$ 2,6 mil) disse ao jornal USA Today: "Você tem que entender como nos sentimos. Conseguimos sair da China comunista e apreciamos muito o que vivemos aqui."

Ascensão da direita sino-americana

Nos Estados Unidos, imigrantes chineses se tornaram uma força crescente na política conservadora.

Muitos são impelidos para a direita porsupersport aloposição às políticas afirmativas, que visam reduzir a desigualdadesupersport aláreas como educação e trabalho, mas são vistas por alguns sino-americanos como prejudiciais às oportunidades para seus filhos e netos.

As crenças anticomunistas também desempenham um papel importante na mobilização desse grupo, já que alguns acreditavam que a política linha-dura do governo Trump pressionaria Pequim e acabaria levando à queda do regime comunista.

"Na história dos Estados Unidos, Trump é o presidente que mais apoiou os direitos humanos na China", afirmou um imigrante chinês que reside na cidadesupersport alLos Angeles.

Comíciosupersport alTrump na cidadesupersport alNova York,supersport al2019

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A maioria dos membros dessas salassupersport albate-paposupersport alextrema direita no Telegram são fervorosos apoiadoressupersport alDonald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos

Enquanto Pequim apertava seu controle e aumentava a pressão militar nos últimos meses, um número crescentesupersport alcidadãossupersport alHong Kong e Taiwan depositavam as esperanças na posição "dura com a China", que era uma das bandeirassupersport alTrump.

E, para completar, a pandemia trouxe a possibilidadesupersport aluma aliança improvável entre a diáspora chinesa e os conservadores americanos, enquanto os governossupersport alWashington e Pequim entraramsupersport alconfronto sobre as origens da covid-19.

Para os oponentes, culpar a China por não conter o vírus dentrosupersport alsuas fronteiras é uma oportunidadesupersport alcondenar o governo comunista.

Enquanto isso, a direita americana entende que as críticas sobre a China por causa da pandemia tiram o foco sobre as políticas internassupersport alTrump, que levaram o país a ter o mais alto númerosupersport alcasos e mortes pelo coronavírus até o momento.

A aliança entre Steve Bannon, ex-conselheirosupersport alTrump, e Guo Wengui, empresário chinês exilado, é um exemplo disso. A dupla está envolvidasupersport aluma ampla rede que dissemina desinformação sobre supostas fraudes eleitorais, as vacinas contra a covid-19 e as narrativas do QAnonsupersport alvárias mídias sociais.

Para completar, os imigrantes chineses costumam ignorar os sites jornalísticos tradicionais na horasupersport alconsumir as notícias, de acordo com o First Draft, uma organização sem fins lucrativos que luta contra a desinformação.

Isso acontecesupersport alrazão das barreirassupersport alidioma e os costumessupersport allidar com as notícias entre esse grupo.

Na diáspora chinesa, muitos tendem a ler as reportagens que circulam por espaços mais fechados e particulares, como os grupossupersport almensagens do Telegram — afinal, já existe ali uma relaçãosupersport alconfiança entre os participantes, e todas as informações compartilhadas são aceitas como verdades, o que cria enormes "câmarassupersport alressonância da desinformação".

"Depois que você é exposto às redessupersport alinformações falsas, é difícil sair desse universo", analisa Qian.

'Reviravolta' nas eleições?

Quando manifestantes pró-Trump invadiram o Capitóliosupersport aljaneirosupersport al2021, houve um verdadeiro frenesi entre os membrossupersport alextrema direita sino-americana.

Nas salassupersport albate-papo do Telegram, as pessoas iam "além do entusiasmo", lembra Qian. Elas estavam torcendo pelos desordeiros e celebrando a "reviravolta" nos resultados das eleições presidenciais.

Legenda do vídeo, 'Minha mãe põe minha vidasupersport alrisco': as famílias destroçadas pelo QAnon

Nesse mesmo dia, a arrecadaçãosupersport alfundos para os Proud Boys foi marcada por um novo aumento nas doações. Um benfeitor anônimo escreveusupersport alchinês que eles deveriam "impedir que Satanás roube a eleição".

Nos grupos privados, muitos dos membros haviam inclusive planejado a logística do comício pró-Trumpsupersport alWashington: eles encomendaram camisetas com os dizeres "Sino-americanos a favorsupersport alTrump" e reservaram ônibus que sairiamsupersport alvárias cidades para inundar a capital dos EUA.

No dia 6supersport aljaneiro, maissupersport aluma centenasupersport alsino-americanos estevesupersport alWashington e se juntou aos demais manifestantes na marcha contra o resultado da eleição. Na multidão, dezenas agitavam bandeiras americanas, gritavam slogans pró-Trump e seguravam cartazes com os dizeres "Fim da tirania. Fim do PCC [Partido Comunista Chinês]".

Um manifestante disse a um canal conservador no YouTube que o dia marcaria uma nova era para os sino-americanos.

"Nós realmente nos tornamos americanos. Finalmente entramos na esfera política do país", afirmou,supersport almandarim.

Não está claro quantos desses indivíduos chegaram a invadir o Capitólio, mas vídeos sobre o ataque ao Congresso e toda a desordem se tornaram virais nos grupossupersport almensagens com integrantes da diáspora chinesa.

Em um desses materiais, um homem gritasupersport almandarim o preâmbulo da Constituição dos Estados Unidos.

Qian acredita que, embora esses manifestantes sino-americanos se sintam fortalecidos pela liberdade e pela democracia nos EUA, eles estão cercados pela desinformação política, o que atrapalha a interpretação que eles têm dos fatos.

Nos fatídicos protestossupersport aljaneiro, Qian entende que os manifestantes "queriam mostrar o poder do povo aos legisladores, mas não tinham ideiasupersport alquais seriam as consequênciassupersport alseus atos".

Quando uma grande maioriasupersport alamericanos começou a condenar o ataque ao Capitólio, muitos grupos do Telegram rapidamente removeram o históricosupersport almensagens relacionadas aos tumultos, observou a pesquisadora.

Nos últimos meses, a discussão sobre as alegaçõessupersport alfraude defendidas por Trump já diminuiu, mas as salassupersport albate-papo permanecem ativas: os membros agora focam asupersport alatençãosupersport alteoriassupersport alconspiração sobre as vacinas contra a covid-19 e os supostos vínculos do atual presidente Joe Biden com a China.

Muitos creem nos boatossupersport alque Biden tem laços estreitos com Pequim. Para isso, citam os contatos comerciais mantidos por seu filho, Hunter Biden, com empresas do país localizado na Ásia.

Recentemente, quando o presidente americano fez um discurso que tratava da China e omitiu algumas palavras, participantes dessas salassupersport albate-papo concluíram que o líder dos EUA estava "enviando um sinal", lembra Qian.

A situação no momento pode até estar mais calma. Mas, nos cantos secretos da Internet, a extrema direita sino-americana está atenta à próxima tempestade política.

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