Coronavírus no Equador: “Embalamos os corposespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasminha irmã e meu cunhadoespecialista em apostas esportivassacos plásticos dentroespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivascasa":especialista em apostas esportivas

  • Matías Zibell
  • Da BBC Mundo
Bertha eespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasfamília
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Bertha eespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasfamília vivemespecialista em apostas esportivasum morro ao norteespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasGuayaquil

especialista em apostas esportivas "Minha irmã morreu primeiro. Nós a levamos para fora do quarto porque ela estava com faltaespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasar. A sentamos na área externa da casa e ela morreu ali,especialista em apostas esportivasnossos braços. Nós a levamos ao hospital, mas ela chegou morta. Meu conhado viu a situação e teve um ataque cardíaco, ali mesmo, no hospital. Ele tinha a saúde delicada e teve o mesmo fim que ela. No hospital filantrópico, nos disseram que tínhamos que levar os corpos para casa e ligar para o 911. Então nós os trouxemos. Chamamos, chamamos, chamamos. Mas eles não vinham. Então embalamos os doisespecialista em apostas esportivasplásticos. Os embalamos como se embalam bonecos. A cena era muito estranha, mas estávamos assustados porque o ambiente estava se contaminando."

Bertha Salinas me contaespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivashistória, por telefone, da cidade equatorianaespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasGuayaquil . Estamos separados por uma cordilheira e uma quarentena. Em poucas horas, conhecerei seu rosto.

Neste momento, só tenho comigo a foto dos corpos embalados pelos familiares. Estão no chãoespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasuma casa e se parecem com múmias. Lembro-me da imagem criada por aranhas, quando elas envolvem suas vítimasespecialista em apostas esportivasteia fina.

A cidadeespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasGuayaquil e a província onde ela está, Guayas, são as áreas mais afetadas pela pandemia de covid-19 no Equador.

Segundo números oficiais, publicados enquanto eu conversava con Bertha, Guayas tinha maisespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivas2.400 infectados,dos quais 1.640 foram registrados na capital.

Em 2especialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasabril, o presidente Lenín Moreno pediu que o númeroespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasvítimas fosse mais transparente, devido à grande quantidade de pessoas que morreram pelo vírus, mas não apareciam nas listas oficiais porque não haviam sido testadas.

Bertha não éespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasGuayaquil, ela se mudou para lá com toda a família quando tinha 14 anos. A seguir, ela conta mais detalhes.

Guayaquil
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A tragédia pessoalespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasBertha não é a únicaespecialista em apostas esportivasMapasingue

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"Nasciespecialista em apostas esportivasSanta Elena,especialista em apostas esportivasManglar Alto. Meus pais vieram morarespecialista em apostas esportivasGuayaquil e nos trouxeram ainda pequenos. Éramos 10 irmãos, eu a segunda mais nova.

De todos eles, minha irmã (a que morreu) e eu ficamos aquiespecialista em apostas esportivasMapasingue. Ela tinha 67 anos e era como uma mãe para mim. Seu nome era Inés Salinas.

Sou casada e tenho quatro filhos. Ela tinha cinco. Nós duas tivemos netos. Morávamos quaseespecialista em apostas esportivasfrente uma da outra e nos viamos todos os dias.

Até antes da quarentena, estávamos todos bem.

Quando a quarentena começou, ficamosespecialista em apostas esportivascasa e, como eu via minha irmã sairespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivascasa há uma semana, perguntei como ela estava à minha sobrinha. Ela disse: 'Minha mãe está se sentindo um pouquinho estranha'.

Eu então fui vê-la, mas ela estava bem. Inés me disse: 'Não, irmã, eu estava um pouco mal, mas já estou me recuperando'. De repente, dois dias depois, ela teve uma recaída e minha sobrinha me disse: 'Tia, minha mãe está doente, ela não conseguia respirar ontem à noite'.

Fui vê-laespecialista em apostas esportivascasa e ela me disse 'Irmã, me sinto mal, fico muito agitada, fico sem fôlego'.

E meu cunhado também ficou estranho. Ele também não conseguia respirar e sentia algo forte na barriga.

Eu disse a ele 'Que háespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivaserrado com você?'

'Não sei, mas acho que vou morrer', ele respondeu."

Guayaquil
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A famíliaespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasBertha se prepara para entrar na casaespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasInés e queimar objetos que estavamespecialista em apostas esportivascontato com ela

Bertha me conta tudo issoespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasMapasingue do Leste, ao norteespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasGuayaquil, onde um fotógrafo contratado pela BBC foi tirar uma foto da família.

Durante o relato,especialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasvoz é serena. Quando ela tem dúvidas, alguém que está ao lado a ajuda a se lembrar do que aconteceu.

Assim, fico sabendo que a família entrouespecialista em apostas esportivascontato com o número 171, disponibilizado pelo governo equatoriano para pessoas com sintomas. Mas foi recomendado que eles ficassemespecialista em apostas esportivascasa.

Embora tenham procurado um médico particular, ninguém queria vê-los pessoalmente porque os sintomas indicavam que era o covid-19. Ela continua:

"Eles disseram para esperar, porque o sistema estavaespecialista em apostas esportivascolapso. Eles disseram 'Não é que vocês tenham esse problema, toda Guayaquil está com esse problema. Por favor, aguardem.'

E minha irmã não queria ir ao hospital porque viu no noticiário como os hospitais estavam.

'Não quero que me levem porque dizem que as pessoas deixam os doentes morrerem lá. Que colocam a pessoa no hospital e depois ninguém sabe o paradeiro. Não quero ir', disse ela.

Naquela época, uma nora minha levou a tia ao hospital e não ficamos tivemos mais notícias. Cercaespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivascinco dias depois, deram a notíciaespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasque ela já estava morta. Também por isso, os filhos não a deixaram ir ao hospital.

Então, nós demos a ela paracetamol, como eles recomendavam, e infusõesespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasverbena eespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasgengibre. Também fizemos inalação com vaporesespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivaseucalipto

Eu disse a ela que, se ela não conseguia respirar, tinha que ir ao hospital. Mas ela respondeu: "Se tiver que morrer, vou morrer aquiespecialista em apostas esportivascasa".

Ela e o marido morreram na segunda-feira, 30especialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasmarço, por volta das duas da tarde. Ela o conheceu quando tinha 14 anosespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasidade. O nome dele era Filadelfio Ascencio."

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Línea

Neste momento, pela primeira, a vozespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasBertha fica embargada, como se angustiada e igualmente atônita, pelo fatoespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasduas pessoas que se conhecem há tanto tempo morrerem quase ao mesmo tempo.

Além da criseespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivassaúde, com hospitais cheios e unidadesespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasterapia intensivaespecialista em apostas esportivascolapso, Guayaquil enfrenta uma crise no manejo dos corpos, porque a maioria das empresas funerárias fechou as portas por medoespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivascontágio, sem separar quem havia morrido pelo vírus dos que morreramespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasoutras causas.

Em um primeiro momento, houve boatosespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasque se cavaria uma vala comum, mas a idéia não foi a frente. O governo nacional teve que criar uma força-tarefa para recuperar os corpos e se comprometeu a fornecer sepulturas individuais.

A força-tarefa envolve o Ministério da Saúde, a polícia nacional e as forças armadas, mas mesmo esses três órgãos combinados tiveram problemas para lidar com a ondaespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasmortesespecialista em apostas esportivasuma cidadeespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasmaisespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasdois milhões e meioespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivashabitantes.

Os corposespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasInés e Filadelfio permaneceram maisespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasquatro diasespecialista em apostas esportivascasa e a família Salinas, como outrasespecialista em apostas esportivasGuayaquil, recorreu às mídias sociais. Foi lá que encontrei a foto dos corpos embalados.

Ela continuaespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivashistória:

Guayaquil
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Objetos que estavamespecialista em apostas esportivascontato com os mortos são queimados no meio da rua

"Eles chegaram na quinta-feira, às 9 horas da noite. Chegaram policiais e peritos e os levaram.

E ainda foram grosseiros, não queriam que ninguém gravasse, que ninguém saísse, (queriam) que todos estivessem dentroespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivascasa. Eles só permitiam que um membro da família estivesse lá, masespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivaslonge.

Eles nos disseram que os corpos vão ficar lá, com eles, e que se não tivéssemos como enterrá-los, eles assumiram o controle. Assim, nem saberemos onde eles serão enterrados.

Se quiséssemos uma funerária, teríamos que arrecadar dinheiro. Somos pessoas com baixos recursos e tudo sai por volta 2.000 dólares para cada um, porque você tem pagar os caixões e túmulos, que estão muito caros.

Não sabemos o que fazer: deixá-los lá e não sabermos para onde minha irmã está indo, ou ver se as pessoas da comunidade podem colaborar. Mas tem muita gente doente na comunidade e estamos todos nessa situação difícil no país.

Não temos emprego, estamos trancadosespecialista em apostas esportivascasa, comemos meia refeição porque a situação é super difícil aqui no Equador".

Guayaquil é uma cidadeespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasgrandes contrastes, com casas luxuosas na regiãoespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasSamborondón e pessoas que vivem com menosespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasdois dólares nos arredores da cidade eespecialista em apostas esportivasáreas como Durán.

O vírus mata igualmente, mas morre-seespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasmaneira diferente.

Quando Bertha fala sobre o o preço do caixão,especialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasvoz se eleva.

Mas logo o tom éespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasdesolação diante do possível cenárioespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasnão saber para onde ir no futuro quando quiser recordar seus mortos.

A perspectivaespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivaspedir ajuda emespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasprópria comunidade, comoespecialista em apostas esportivasocasiões anteriores, é complicada porque a situaçãoespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasseus vizinhos não é muito melhor.

Ela mesma explica:

Guayaquil
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Esta é a coisa mais próximaespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasum ritual fúnebre que a família Salinas teve até agora

"Ainda existem cadáveres aqui.

Um senhor que morreu na terça-feira ainda está lá. Outro homem também morreu mais tarde e ele foi jogado na frenteespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivassua casa e porque também não foram buscá-lo.

Empacotamos Inés e Filadelfio e os deixamos dentroespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivascasa, mas saímos todos. Ninguém ficou.

As famílias deixam seus mortos do ladoespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasfora porque imaginam que, dentro, eles ficarão contaminados.

Então as pessoas não têm escolha, a não ser levar os mortos para as ruas.

Além disso, muitas pessoas na comunidade estão doentes. O governo disse que vai nos dar um valeespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivas60 dólares, mas isso ainda não aconteceu e não sabemos o que fazer porque estamos trancadosespecialista em apostas esportivascasa.

Todo mundo tem medo porque as pessoas estão morrendo, morrendo e morrendo."

Bertha
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Bertha ainda não sabe onde ir para se despedir da irmã

O fotógrafo enviado pela BBC me envia as fotos.

Eu vejo Bertha pela primeira vez. Uma máscara azul cobre todo o rosto e eu mal possa ver suas feições.

Acho que as mudanças no tomespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasvoz durante a conversa telefônica me disseram mais sobre ela do queespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasimagem.

As outras fotografias têm jovens que eu nunca saberei se são os filhos dela ou os da irmã.

Junto com um adulto, talvez o maridoespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasBertha, eles estão se preparando para queimar tudo o que entrouespecialista em apostas esportivascontato com seus mortos.

Até agora, essa queima é a coisa mais próximaespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasum ritualespecialistaespecialista em apostas esportivasapostas esportivasdespedida para Inés e Filadelfio.

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