Inflação na Argentina: a lutaptc cbet tvpaís vizinho para vencer inimiga íntimaptc cbet tvdécadas:ptc cbet tv

Peso argentino

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Aumento nos juros é tentivaptc cbet tvconter desvalorização do peso argentino

A escritora e jornalista argentina Cristina Noble conta que aprendeu com os pais a importânciaptc cbet tvguardar dinheiro para temposptc cbet tvcrise - eptc cbet tvinflação. Mas as incertezas argentinas acabaram levando-a a viver desconfiadaptc cbet tvrelação à economia do país e à real eficáciaptc cbet tvpoupar dinheiro nesse contexto.

"Quando eu tinha dez anos, meu pai depositou para mim o dinheiro da vendaptc cbet tvum apartamento. Mas quando fiz 25 anos e fui sacar o dinheiro, só deu para comprar duas bicicletas", lembra Noble à BBC News Brasil.

Cristina Noble, escritora e jornalista argentina

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Cristina Noble conta que aprendeu com os pais a importânciaptc cbet tvguardar dinheiro para temposptc cbet tvcrise, mas que poupar agora é desafio

Por isso, ela disse ainda que o dinheiro argentino, o peso, foi perdendo tanto valor que não vê a possibilidadeptc cbet tvpassar para a neta a culturaptc cbet tvpoupar. "O dinheiro ficou curto, desvalorizado, e ficou impossível ensiná-la a importância da poupança. Não sobra para poupar com inflação nas alturas", disse.

Muitos daqueles que passaram por sucessivas crises guardaram (e ainda guardam, quando podem) o dinheiro também fora do sistema financeiro. Ou dizem pensar muito antesptc cbet tvgastar, por temer novas crises.

Passado e presente

Nos anos 1980, definido pelos especialistas como a "década perdida" na América Latina, a situação, com hiperinflações, era mais grave que agora no país.

Não era incomum, por exemplo, receber o salário e correr para o supermercado para fazer a compra do mês.

A economista Elisabete Bacigalupo, da consultoria Abeceb,ptc cbet tvBuenos Aires, cita quatro motivos possíveis para as dificuldades argentinas: alta do dólar, remarcaçãoptc cbet tvpreços, interferência no Banco Central e deficit público.

"Quando o dólar sobe, os argentinos que podem correm para comprar a moeda americana para poupar. E os comerciantes remarcam preços automaticamente. O dólar funciona como um termômetroptc cbet tvexpectativasptc cbet tvcomo vai a economia aqui", disse.

Ela afirmou ainda que o fatoptc cbet tvo Banco Central não ter sido independente ao longoptc cbet tvanos, com os governantes dando palpites ou interferindo na emissão monetária, contribuiu para gerar inflação e incertezas.

A Argentina, explica, tem ainda uma economia frágil e com deficit (gasta mais do que possui), cenário que também não ajuda a acalmar a inflação.

Imagem mostra frutas à vendaptc cbet tvuma banca na Argentina

Crédito, Marcia Carmo / BBC

Legenda da foto, Faltaptc cbet tvindependência do Banco Central, diz economista, ajudou a gerar inflação

Vitrinistas

No ano passado, quando o dólar registrou uma das primeiras fortes altasptc cbet tv2018, era possível ver vitrinistasptc cbet tvvárias lojas na Avenida Santa Fe,ptc cbet tvBuenos Aires, remarcando os preços das mercadorias exposta nas lojasptc cbet tvroupas, por exemplo. O mesmo ocorreuptc cbet tvoutros setores como alimentos.

De dezembroptc cbet tv2017 a dezembroptc cbet tv2018, o dólar valorizou,ptc cbet tvmédia, 116%ptc cbet tvrelação ao peso, como lembra a economista da Abeceb.

"Foi uma das poucas vezes que não vimos o total da desvalorização sendo repassado integralmente para os preços", disse a economista.

Alguns especialistas observam que a estabilidade econômica na Argentina está fortemente atrelada ao preço do dólar, que está estável, como nos últimos dias, na casa dos 38 pesos. Mas ainda assim, a inflaçãoptc cbet tv2019, que o governo espera que comece a cairptc cbet tvabril ou maio, terminaria o ano na casa dos 29% ou 30%, segundo várias consultorias econômicas.

Macriptc cbet tvBrasília

Crédito, AFP

Legenda da foto, No último dia 7, o presidente Mauricio Macri disse que foi "otimista demais" ao achar que a inflação seria combatida mais rapidamente.

O ano começou com aumentosptc cbet tvvários setores, incluindo os esperados ajustes para os serviços públicos, que tinham sido subsidiados durante os anosptc cbet tvkirchnerismo (2003-2015).

A Argentina já teve diversas tentativasptc cbet tvcontrolar os preços. Na décadaptc cbet tv1990, durante a controversa conversibilidade, quando o peso era atrelado e tinha igual valor que o dólar, o país experimentou a deflação - o que também foi apontado pelos economistas como problemático, recessivo.

Pouco depois daquele período, o país viveu uma retumbante crise política, social e econômica, no finalptc cbet tv2001 e inícioptc cbet tv2002. Nos anos seguintes, a inflação parecia modesta para os padrões locais. Masptc cbet tv2010, o índice já estava no patamarptc cbet tv25%.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, a inflação oficial da Argentina começou a ser adulterada a partirptc cbet tv2007, o que gerou uma forte crise no Instituto Nacionalptc cbet tvEstatísticas e Censos (o Indec) e processos contra autoridades da época.

A inflação oficial na era Cristina Kirchner (2007-2015) foiptc cbet tv140% e as consultorias econômicas que realizavam o índice chamadoptc cbet tv'inflação Congresso' - porque estavam proibidasptc cbet tvdivulgar o dado, que era então apresentado por parlamentares -, a estimaram, porém,ptc cbet tvmaisptc cbet tv400%, como informou o portalptc cbet tvnoticias Infobae,ptc cbet tvBuenos Aires.

Governo Macri

Economistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que a inflação na era Macri foi alimentada principalmente pela desvalorização cambialptc cbet tv2018. A inflação estavaptc cbet tvtorno dos 25%, como nos últimos anos do kircherismo, até queptc cbet tv2018 com a crise internacional no câmbio, o peso argentino foi fortemente desvalorizado.

Esta desvalorização, como explica Elisabete Bacigalupo, da consultoria Abeceb, foi parcialmente repassada para os preços. O governo Macri afirma que recebeu uma economia com problemas como tarifas públicas subsidiadas e fez um programaptc cbet tvconstantes aumentos (os chamados tarifaços) para acabar com os subsídios aos preçosptc cbet tvluz, gás e transporte público, entre outros.

Os tarifaços acabaram também contribuindo para aumentar a inflação, concordam economistas. Macri começou o governo com um programaptc cbet tvcombate à inflação que incluiu, como no Brasil, um sistemaptc cbet tvmetasptc cbet tvinflação.

Pouco tempo depois, o governo desistiu deste sistema ao perceber que as metas não seriam cumpridas. As previsõesptc cbet tvinflação feitas pelo governo não foram cumpridas nos três primeiros anos do governo. No ano passado, com o terceiro presidente do Banco Central na era Macri, os juros foram elevados para cercaptc cbet tv70% (agora, estão na casa dos 50%).

Na semana passada, o presidente Macri admitiu ter se excedidoptc cbet tvseu "otimismo", reconhecendo que reduzir a inflação será mais difícil do que pensava. A crise do câmbio e o deficit comercial, com uma baixa acentuada na safra agrícola causada por uma seca histórica, levaram o governo a pedir empréstimoptc cbet tvUS$ 57 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Para parte dos analistas, o empréstimo recorde foi suficiente para afastar o fantasmaptc cbet tvque a Argentina não poderia pagar seus compromissos financeiros, como ocorreuptc cbet tvdécadas passadas.

A crise atual, com quedaptc cbet tvcercaptc cbet tv2,5% da economiaptc cbet tv2018 e juros atuaisptc cbet tvtorno dos 50%, não é como aptc cbet tv2001 - não houve pânico e corridas ao banco, por exemplo.

Mas os ajustes salariais não acompanham o ritmo da inflação e as centrais sindicais criticam a perdaptc cbet tvpoder aquisitivo.

Estima-se que a perda salarial tenha sidoptc cbet tvcercaptc cbet tv10%ptc cbet tv2018, dependendo da categoria, índice que seria similar ao da criseptc cbet tv2001-2002. Além disso, a possibilidadeptc cbet tvcomprar um imóvel financiado, que era uma das bandeiras do atual governo, tornou-se difícil com os juros e inflação atuais.

E muitos que tinham aderido ao programa oficialptc cbet tvfinanciamentoptc cbet tvcasas próprias agora protestam e declaram arrependimento porque a parcela subiu mais do que seu salário.

O antigo hábito dos argentinosptc cbet tvcomprar imóvel (ladrillo, tijolo, como eles dizem) para se prevenir contra a inflação ficou muito mais difícil.

Academiaptc cbet tvcasa

A decoradoraptc cbet tvmóveis Magdalena Kraft posa para fotoptc cbet tvuma feira livre

Crédito, Marcia Carmo / BBC

Legenda da foto, Magdalena Kraft,ptc cbet tv37 anos, abriu mãoptc cbet tvaulasptc cbet tvginástica na academia e tenta economizar nas compras no supermercado

Para tentar driblar os efeitos da inflação, argentinosptc cbet tvdiferentes idades e classes mudaram seus hábitos para se adaptar aos preços altos. E,ptc cbet tvmuitos casos, confirmaram a famaptc cbet tvque são treinadosptc cbet tveconomia - e câmbio.

No ano passado, a decoradoraptc cbet tvmóveis Magdalena Kraft,ptc cbet tv37 anos, mãeptc cbet tvdois filhos, decidiu suspender as aulasptc cbet tvginástica na academia e passou a malharptc cbet tvcasa.

No supermercado, ela procura os produtos com a etiqueta 'Precios cuidados' (Preços cuidados), que é um acordo entre o governo e empresários para o controleptc cbet tvpreçosptc cbet tvdeterminados produtos, para algumas marcasptc cbet tvtemposptc cbet tvinflação galopante.

"Cortei tudo o que pude. Viver com inflação alta é uma batalha diária", contou Magdalena à BBC News Brasil, enquanto fazia comprasptc cbet tvfrutas e verdurasptc cbet tvuma feira livre do bairro Palermo,ptc cbet tvBuenos Aires.

"A gente acostuma a apertar daqui e dali, a mudar os planos por causa da inflação e vai levando", disse o taxista Marcelo Martínez,ptc cbet tv57 anos.

O taxista Marcelo Martínez posa para foto dentro do carro

Crédito, Marcia Carmo / BBC

Legenda da foto, Marcelo Martínez, taxista argentino: "A gente acostuma a apertar daqui e dali e vai levando"

Férias domésticas

O jeito, para muitos, tem sidoptc cbet tveconomizar até nas férias.

Neste verão, Cristina Noble e o marido tomaram conta da casaptc cbet tvuma sobrinha com piscinaptc cbet tvBuenos Aires e assim evitaram gastosptc cbet tvuma viagem. "Muitas coisas vão mudandoptc cbet tvfunção da inflação e da desvalorização da nossa moeda", disse.

A vendedora Anabella Quintana,ptc cbet tv45 anos, costumava passar as fériasptc cbet tvArraial do Cabo, no Rioptc cbet tvJaneiro, mas neste verão a opção foi Bariloche, no sul do país, por causa dos preços. Enquanto contaptc cbet tvsituação, ela cita cálculos automáticos e o câmbio do dia entre o real e o peso - intimidade com os números adquirida pelos argentinos ao longo das crises.

Ela vende produtosptc cbet tvperfumaria para lojas da cidade e contou que muitos revendedores optam por estocar, prevenindo-se contra possíveis novos aumentos. "Cada um vai se adaptando como pode", disse ela, mãeptc cbet tvdois filhos.

Os empresários, principalmente do varejo, reclamam do que chamam da pior criseptc cbet tvdécadas, com forte queda nas vendas, no ano passado.

A vendedora Anabella Quintana posa para foto próxima a uma bancaptc cbet tvcomércio

Crédito, Marcia Carmo / BBC Brasil

Legenda da foto, Anabella trocou férias no Rioptc cbet tvJaneiro por destino dentro da própria Argentina para economizar

No último dia 7, o presidente argentino, Mauricio Macri, disse que foi "otimista demais" ao achar que a inflação seria combatida mais rapidamente. E ele novamente culpou a herança recebida do kirchnerismo.

Os argentinos irão às urnasptc cbet tvoutubro para votar para presidente, e a inflação deve ser decisiva na hora do voto.

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