Existem mais serial killers homens do que mulheres - ou as criminosas apenas não são descobertas?:vbet brasil

Pistola

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Legenda da foto, É verdadeira a afirmação que existem mais homens que mulheres serial killers?

Segundo a psicanalista Mercês Muribeca, coordenadora da especializaçãovbet brasilCriminologia e Psicologia Investigativa Criminal no Centro Universitáriovbet brasilJoão Pessoa, até o final do século passado, as Ciências Criminais consideravam que somente homens se tornavam assassinos cruéis.

O argumento utilizado eravbet brasilque mulheres não teriam força física para expor suas vítimas a violência extrema, como mutilação, esquartejamento, estupro e até canibalismo, frequentevbet brasilcrimes serializados. Uma avaliaçãovbet brasilcrimes rumorosos ao longo da história, no entanto, revelam atrocidades como as da Condessa Elizabeth Báthoryvbet brasilEcsed, nobre húngara que no século XV que matou pelo menos 60 meninas para se banhar no sangue delas, ouvbet brasilIlse Koch, alemã casada com membro da SS retirava a pelevbet brasilpresos tatuados durante a 2ª Guerra Mundial para decorar abajuresvbet brasilsua casa.

"Existe um estereótipovbet brasilque a mulher, pela própria constituição física e pelo papel que lhe é atribuído na sociedade,vbet brasilfilha, esposa e mãe, está ligada à funçãovbet brasilcuidadora, a comportamentos ternos,vbet brasilpessoa doce", afirma a pesquisadora.

Além disso, por pertencerem a um grupo social vulnerável, mulheres costumam ser as principais vítimasvbet brasilserial killers.

"Torna-se fácil pensar a mulher como vítima da violência e não como agressora. Isso, porém, não significa que não existam mulheres assassinasvbet brasilsérie. Elas existem porque é da natureza humana o sadismo, a perversão, a psicopatia, o narcisismo. Isso não é uma exclusividade anatômica ouvbet brasilsexo, raça, credo ou cultura", afirma Muribeca.

Para Fayet Jr., mulheres assassinas podem não estar sendo descobertas com a mesma frequência que os homens por causa dos padrõesvbet brasilgênero construídos pela sociedade.

Condessa Elizabeth Báthoryvbet brasilEcsed
Legenda da foto, Condessa Elizabeth Báthoryvbet brasilEcsed, nobre húngara que no século XV matou pelo menos 60 meninas para se banhar no sangue delas

"A criminalidade é tão antiga quanto a humanidade. Existem evidências que se tratavbet brasilum fenômeno constantevbet brasiltodos os tempos evbet brasiltodos os tipos e modelosvbet brasilorganizações sociais. Contudo, os registros históricos da criminologia são escassos sobre homicídios praticados por mulheresvbet brasilcomparação aos praticados por homens, reforçando a clara desproporção entre a criminalidade masculina e a feminina", conta o pesquisador.

Preconceitos e mitos, explica Muribeca, sempre rondaram casosvbet brasilassassinatos brutais pela curiosidade que eles despertam, por um lado, e pela faltavbet brasilinformação que a sociedade recebe sobre o tema, por outro. Ao longo da história, crimes chocantes chegaram até mesmo a serem atribuídos a criaturas não-humanas.

"Devido ao fato da cenavbet brasilcrime ser aterradora e suas vítimas serem expostas a um requintevbet brasilcrueldade, sadismo e brutalidade, acreditavam que os assassinos eram lobisomens, vampiros, monstros, homens besta, feras, etc.", conta a psicanalista.

Recentes pesquisas sobre o perfil psicológicovbet brasilassassinasvbet brasilsérie têm mostrado que elas não compartilhamvbet brasilvárias características apresentadasvbet brasilassassinos homens, como violência e impulsividade.

Essas descobertas baseadas na diferençavbet brasilgênero do criminoso levantam uma nova questão para o problema: existem poucas assassinas sádicas ou elas apenas não estão sendo descobertas?

Psicopatia e crueldade feminina

A psicóloga Roberta Salvador-Silva, do Grupovbet brasilPesquisa Neurociência Afetiva e Transgeracionalidade da PUC-RS, explica que um conjuntovbet brasilfatores culturais, biológicos e históricos ajuda a entender por que existe - ou parece existir - muito mais homens que mulheres assassinosvbet brasilsérie.

"Homens são mais agressivos por apresentarem níveis maioresvbet brasiltestosterona, que os predispõem a maior agressividade", explica. "Além disso, meninos e homens são incentivados pela sociedade a terem comportamentos violentos como modovbet brasilafirmação da masculinidade".

Em 2001, um estudo do Departamentovbet brasilPsicologia Clínica da Universidadevbet brasilColumbia, EUA, mostrou a relação entre assassinosvbet brasilsérie e psicopatia: 86,5% dos criminosos entrevistados eram psicopatas e 9% exibiam alguns traços psicopáticos, mas não serem considerados portadores do distúrbio.

De acordo com a literatura psiquiátrica dos anos 2000, há mais psicopatas homens que mulheres: 4% das psicopatias ocorremvbet brasilhomens e 1%vbet brasilmulheres. Mas Salvador-Silva explica que a maioria dos estudos sobre psicopatia quase não aborda mulheres como amostras.

Ilse Koch
Legenda da foto, Ilse Koch, alemã casada com membro da SS retirava a pelevbet brasilpresos tatuados durante a 2ª Guerra para decorar abajuresvbet brasilsua casa

"Como as amostras dos estudos quase sempre são masculinas, se reforça um estereótipovbet brasilque não existem muitas mulheres psicopatas, o que não representa a realidade", afirma a pesquisadora. "Esse conjuntovbet brasilfatores pode levar autoridades a negligenciar casosvbet brasilpsicopatas mulheres, fazendo, consequentemente, com que seus comportamentos e crimes passem despercebidos", conclui.

Para a psicanalista Julia Bárány, autora do livro O Mal Disfarçadovbet brasilBem: Manualvbet brasilSobrevivência para Vítimasvbet brasilPsicopatas, a psicopatia é um fenômeno social. "Trata-sevbet brasilum problemavbet brasilsaúde pública que atinge ambos os sexos, mas no Brasil ainda não se reconhece desse modo o problema".

Nem todo psicopata será um assassino ou um serial killer. "Mesmo assim, o psicopata, homem ou mulher, não tem nenhum impedimento moral para matar, independentevbet brasilquem for a vítima: filho, parceiro, chefe ou um desconhecido", aponta Bárány.

Alémvbet brasilnão ser um problema moral matar, o psicopata não aprende com punição e não sente arrependimento, podendo repetir o ato quantas vezes achar necessário. Daí os crimesvbet brasilsérie serem mais frequentes entre psicopatas.

"Se ele decide não matar, não é porque teve pena do outro ou se arrependeu - psicopatas não possuem esses sentimentos - mas porque não querem encarar as possíveis consequências do crime", explica a psicanalista.

Sutis e perigosas

A psicóloga Cema Cardona Gomes, autora da pesquisavbet brasilmestrado Psicopatia e agressividadevbet brasilmulheres apenadas, realizada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinosvbet brasil2010, aponta que há semelhanças e diferenças importantes entre criminosos psicopatas homens e mulheres.

"A literatura mostra que há maior incidência do transtorno nos homens", explica Gomes. "Mas nem sempre o grauvbet brasilintensidade do transtorno tem uma diferença significativa entre homens e mulheres".

De modo geral, insensibilidade, emoções superficiais e ausênciavbet brasilculpa são características comum a ambos os sexos.

Um estudo da Universidade Penn State Harrisburg, na Pensilvânia, publicadovbet brasil2015, analisou 64 assassinasvbet brasilsérie dos Estados Unidos e concluiu que há diferenças entre homens e mulheres no que se refere a motivações do crime, características das vítimas e métodosvbet brasilexecução.

Richard Speck
Legenda da foto, Serial Killer Richard Speck, famoso nos EUA

De acordo com a pesquisa, enquanto os homens costumam matar por sexo, as mulheres costumam matar por vingança, poder ou dinheiro. Quanto aos métodos, os homens são mais brutais e violentos com o corpo da vítima, se valendovbet brasilfacadas, estrangulamento, mutilação e esquartejamento. Já as mulheres são mais sutis e se utilizamvbet brasilmétodos que simulem uma mortevbet brasilcausa natural.

"O emprego da brutalidade excessiva é menos frequente nos delitos cometidos por mulheres, que se valem, muitas vezes, do envenenamento ou da asfixia", explica Fayet Jr. "Aliás, esses métodos implicam mortes que podem ser avaliadas como resultantesvbet brasilcausas naturais, o que dificultaria, ainda mais, avbet brasildescoberta".

Se a brutalidade é menor nos métodosvbet brasilexecução dessas assassinas, elas tendem a ser mais cruéis que os homens na escolha das vítimas. Normalmente são pessoas do seu círculo social, principalmente aquelas que necessitemvbet brasilseus cuidados ou nos membros da própria família.

"Como um padrão, os homens tendem a atacar pessoas desconhecidas, aleatoriamente, ao passo que as mulheres encontramvbet brasilpessoas próximas ouvbet brasilparentes os seus alvos preferenciais", conta Fayet Jr.

Outro fato chocante sobre a psicopatia feminina apontou que algumas profissões ligadas ao cuidado do outro, como professora, babá, cuidadora e enfermeira, podem atrair mulheres psicopatas por verem nos vulneráveis suas vítimas perfeitas.

Este dado foi encontrado pela pesquisa da Universidade Penn State Harrisburg, que também concluiu ser mais difícil descobrir crimes hediondos cometidos por assassinas: elas geralmente levam oito anos para serem descobertas, enquanto que os homens levam,vbet brasilmédia, quatro.

Relações familiares conturbadas

"O psicopata geralmente tem problemasvbet brasilrelacionamento com família e amigos. Ele também tem sempre uma história triste para contar sobrevbet brasilvida,vbet brasilque ele sempre é o injustiçado", explica a psicanalista.

Difícilvbet brasilser notada na sociedade, uma assassina psicopata pode ser mais facilmente identificadavbet brasilseu ambiente familiar, principalmente se tiver filhos ou pessoas próximas sob seus cuidados, explica Gomes.

"O pobre envolvimento afetivo dos psicopatas pode ocasionar vários prejuízos à mulher, como dificuldadesvbet brasilaprendizagem, dificuldades no casamento, relações violentas com homens e pobre experiência materna", descreve a psicóloga.

Mulher com faca

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Legenda da foto, Especialista explica que uma assassina psicopata pode ser mais facilmente identificadavbet brasilseu ambiente familiar

Salvador-Silva conta que recentes estudos feitos pelo Grupovbet brasilPesquisa Neurociência Afetiva e Transgeracionalidade mostrou que a faltavbet brasilempatia e a frieza emocionalvbet brasilmães psicopatas fazem com que essas mulheres tenham muita dificuldadevbet brasilatender às necessidadesvbet brasilpessoas que demandam maior cuidado, sendo os filhos pequenos os principais prejudicados.

"Realizamos pesquisas com mulheres psicopatas que estavam presas e verificamos um prejuízovbet brasilreconhecer expressão facialvbet brasilchorovbet brasilfotosvbet brasilbebês, nas quais as demais presidiárias não-psicopatas apresentavam extrema facilidade. Esse é um dado extremamente relevante porque o bebê comunica as suas necessidades básicas por meio do choro", relata Salvador-Silva.

Incapazvbet brasilcuidarvbet brasilalguém por não perceber as necessidades do outro, o psicopata, porém, tem uma grande capacidadevbet brasilencenar comportamentos sociais esperados e simular emoções que geram empatia. Mas, se por um lado essas mães são, por natureza, negligentes no cuidado com os filhos, por outro elas costumam enaltecer a maternidade, se apresentando para a sociedade como mães protetoras e amorosas.

"Frequentemente elas usam o discursovbet brasilque os filhos são as coisas mais importantes da vida delas. É muito comum dizerem frases do tipo: 'em meus filhos ninguém encosta um dedo!'. Essa fala está associada a uma questão narcisista evbet brasilposse dos filhos do quevbet brasilproteção, no sentidovbet brasilque ninguém pode afrontá-la fazendo mal ao que é seu", explica Salvador-Silva.

Bárány afirma que, por não experimentarem sentimentos, mães psicopatas não encontram dificuldadevbet brasilabandonar os filhos ou matá-los quando não julgarem mais vantajosa a maternidade.

"O que importa para qualquer psicopata é o jogo, e isso se estende às mães psicopatas: enquanto os filhos servem para provocar, extorquir e manipular ou se vingar do progenitor, ela está presente na vida deles; quando ela descobre algo mais interessante, abandona ou mata como se fosse algo corriqueiro, porque não há conexão e envolvimento emocional dela com qualquer pessoa que seja", explica Bárány. "Essas mães podem expor o filhovbet brasilpropósito a situações que podem levá-lo à morte, como soltar davbet brasilmãovbet brasiluma via movimentada ou ser negligente com doenças ou até com a alimentação da criança".

Quando não mortos, filhos criados por psicopatas podem apresentar problemas por toda a vida.

"Essas vivências vão se dar, muitas vezes, repletasvbet brasilmaus-tratos, humilhações e uma sérievbet brasilabusos que podem levar ao enrijecimento do indivíduo", explica a psicóloga. "A criação pode favorecer a formaçãovbet brasilfuturos psicopatas e criminosos, pois crianças criadas por essas mulheres, que vão crescervbet brasilambientes com pouca afetividade, têm maiores chancesvbet brasilter desviosvbet brasilconduta".

Prevenir

Na legislação brasileira, não existe um termo ou um crime específico para tratar do serial killer. Além disso, para Fayet Jr., o Judiciário enfrenta dificuldadesvbet brasilavaliar e lidar com criminosos psicopatas.

Como parte do problema, Bárány defende que é urgente que a psicopatia seja tratada como problemavbet brasilsaúde pública no Brasil.

"Recebo pedidovbet brasilajudavbet brasilvítimasvbet brasilpsicopatas todos os dias", conta. "É preciso que a saúde pública e o sistema judiciário - no casovbet brasilum processovbet brasilguardavbet brasilfilhos, por exemplo - reconheçam esse perfil antes que os crimes aconteçam. Depois que matou uma primeira vez, não há volta porque o psicopata não aprende com a punição", defende a psicanalista, alertando que esses crimes podem ser previstos e prevenidos com mais informações sobre psicopatia e demais transtornos que estejam relacionados com assassinatosvbet brasilsérie.