'Paracomo funciona a multipla no betanochorar porque o seu marido vai cansar': o estigma da depressão pós-parto, que afeta 1como funciona a multipla no betano4 mães no Brasil:como funciona a multipla no betano

Moradoracomo funciona a multipla no betanoMaricá, município da Região Metropolitana do Riocomo funciona a multipla no betanoJaneiro, ela aos poucos compartilhou o que estava vivendo com amigos próximos e familiares, mas não recebeu o apoio do qual precisava. "Ouvicomo funciona a multipla no betanopessoas que achei que poderia contar coisas do tipo 'olha, fica bem porque você vai perder seu marido. Paracomo funciona a multipla no betanochorar porque o seu marido vai cansar'", relata.

Resistir a procurar atendimento psicológico durante a gravidez ou após o parto não é incomum entre mulheres. Um estudocomo funciona a multipla no betanoandamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) entrevistou 221 gestantes que fazem o pré-natalcomo funciona a multipla no betanouma unidade da Escola Nacionalcomo funciona a multipla no betanoSaúde Públicacomo funciona a multipla no betanoManguinhos, região carente do Rio. Entre as entrevistadas, 32% apresentaram sintomas depressivos. No entanto, menos da metade dessas mulheres aceitou ser avaliada por um profissional especializado - 52% se negaram a receber ajuda.

"A gente tem sempre uma visãocomo funciona a multipla no betanoque o serviçocomo funciona a multipla no betanosaúde não oferece [atendimento voltado para a saúde mentalcomo funciona a multipla no betanogestantes]. E muitas vezes não oferece mesmo. Só que o que nós encontramos é algo que consideramos mais sério ainda: elas não querem", explica a pesquisadora Mariza Theme, responsável pelo estudo.

"O transtorno mental tem associado a ele um estigma muito grande. Esse estigma é uma das principais causas para a pessoa não procurar tratamento", diz.

Saúde mentalcomo funciona a multipla no betanográvidas e mães após o parto

O novo estudo da Fiocruz surgiu como um desdobramento do trabalho feito para a pesquisa Nascer no Brasil, que mostrou que umacomo funciona a multipla no betanocada quatro mulheres que já tiveram filhos no país apresenta sintomascomo funciona a multipla no betanodepressão pós-parto. Para entender melhor o processocomo funciona a multipla no betanomudanças na saúde mental perinatal (da gravidez ao pós-parto)como funciona a multipla no betanomulheres e por que algumas não procuram ajuda, a análise agora prevê que cada mãe incluída na pesquisa seja avaliadacomo funciona a multipla no betanotrês momentos diferentes: no início e no final da gestação, e depois que o bebê tem dois meses ou mais.

Os especialistas ressaltam a importânciacomo funciona a multipla no betanoidentificar qualquer tipocomo funciona a multipla no betanotranstorno mental ainda na gravidez. Em uma pesquisa com 506 mulheres atendidascomo funciona a multipla no betanounidades básicascomo funciona a multipla no betanosaúde da Zona Nortecomo funciona a multipla no betanoSão Paulo, 45% das que estavam grávidas e diagnosticadas com depressão vieram a apresentar sintomas também entre 6 a 9 meses após o parto.

Segundo o ginecologista Alexandre Faisal, pesquisador da Faculdadecomo funciona a multipla no betanoMedicina da Universidadecomo funciona a multipla no betanoSão Paulo (USP) e coordenador do estudo, as mulheres que apresentaram sintomascomo funciona a multipla no betanodepressão pós-parto moderada ou grave tinham menor confiança para cuidar do bebê. A pesquisa, que está para ser publicada e focacomo funciona a multipla no betanomulherescomo funciona a multipla no betanosituação mais vulnerável, indica que mulheres que recebem acompanhamento desde a gestação podem ter menos chancescomo funciona a multipla no betanodesenvolver problemas no pós-parto.

"Historicamente a depressão na gravidez e no pós-parto acabou ficando relegada para um plano secundário, quer pelo fatocomo funciona a multipla no betanoo médico não ser treinado para diagnosticar, quer porque a paciente e a família não pedem socorro num momento tão difícil, por vergonha ou estigma social," explica.

"Agora as evidências todas sugerem que esse é um problema sério desse período [perinatal] e que também merece ser rastreado", diz. "Esse rastreamento permite a adoçãocomo funciona a multipla no betanouma medida psicoterápica e medicamentos que vai prevenir ou diminuir o impacto negativo da doença".

Muitas mães, no entanto, temem as possíveis consequências do usocomo funciona a multipla no betanomedicamentos durante a gravidez ou amamentação, mesmo sob orientação médica. Faisal explica que os efeitos colaterais são menores do que os imaginados. "Esse risco não é zero, variacomo funciona a multipla no betanoacordo com o antidepressivo ecomo funciona a multipla no betanorelação ao trimestre [da gravidez], mas é um risco absoluto muito pequeno. E a contrapartida disso é que, se a pessoa não usa, ela pode ter complicações para ela e para a gravidez".

Baby blues, depressão e psicose: diferenças, sintomas e riscos

A prevalênciacomo funciona a multipla no betanomulheres que sentem um poucocomo funciona a multipla no betanotristeza após o parto pode chegar a 70%, segundo Faisal. O chamado baby blues costuma ser limitado aos primeiros 10 dias e se caracteriza por uma leve tristeza, que se resolve espontaneamente. O estado costuma ser atribuído a uma flutuação hormonal, embora aspectos psicológicos não possam ser descartados.

Já a depressão pós-parto é um cenário diferente, mais longo, e que apresenta entre suas características a perdacomo funciona a multipla no betanointeresse por coisas que antes eram prazerosas, humor deprimido, pensamentos negativos e a sensaçãocomo funciona a multipla no betanoser incapazcomo funciona a multipla no betanocuidar do recém-nascido. "A mulher pode ter o temorcomo funciona a multipla no betanoque não vai conseguir dar o banho ou que vai machucar o bebê", ressalta Faisal.

Há ainda um terceiro transtorno, mais raro e perigoso: a psicose puerperal, que pode atingir 1como funciona a multipla no betanocada mil mulheres, segundo Faisal. Neste caso, o contato com a realidade fica prejudicado e a pessoa passar a ter delírios. Tanto a depressão pós-parto mais intensa como a psicose puerperal, quando não tratadas, podem ter consequências graves como o suicídio e o infanticídio.

Por conta do estado puerperal, o infanticídio é um tipo penal diferente do homicídio no país. De acordo com o artigo 123 do código penal brasileiro, o crimecomo funciona a multipla no betanoinfanticídio se dá quando a mãe mata o próprio filho, durante ou logo após o parto. A pena prevista écomo funciona a multipla no betanodois a seis anoscomo funciona a multipla no betanodetenção - menor que acomo funciona a multipla no betanohomicídio simples, que écomo funciona a multipla no betanoseis a 20 anoscomo funciona a multipla no betanoreclusão.

"Não se tratacomo funciona a multipla no betanouma pessoa que tenha planejado aquilo nos mínimos detalhes. Você está falandocomo funciona a multipla no betanouma pessoa numa situação psicossocial muito específica, e quando os jurados entramcomo funciona a multipla no betanocontato com essa explicação, eles também se sensibilizam", explica Bruna Angotti, advogada e antropóloga, que acompanhou três júriscomo funciona a multipla no betanoinfanticídio nos últimos três anoscomo funciona a multipla no betanoSão Paulo, como partecomo funciona a multipla no betanosua pesquisacomo funciona a multipla no betanodoutorado na USP.

Falar sobre o problema

Para Elenise Costa, o momento mais difícil do pós-parto se deu quando o filho tinha cercacomo funciona a multipla no betano20 diascomo funciona a multipla no betanovida. "Os meus pensamentos ficaram confusos, eu já não conseguia me concentrar, não conseguia ler uma frasecomo funciona a multipla no betanoum livro ou acompanhar um programa na televisão", explica. "Eu continuava cuidando do meu filho, mas os sintomas estavam muito fortes".

Ela relata que a preocupação com o filho chegava a ser excessiva, por medocomo funciona a multipla no betanoque algo acontecesse com o bebê. "Quando meu marido saía para trabalhar, eu ficava muito nervosa e ansiosa, como se eu não soubesse o que fazer. Na verdade, eu não sabia mesmo, mas achava que tinha que saber. Mais um mito [da maternidade], né? Eu achava que tinha que saber tudo".

Elenise e o marido procuraram ajuda médica. Eles passaram por quatro profissionais, entre terapeuta, ginecologista e psiquiatras, até Elenise começar um tratamento. Inicialmente ela não quis tomar medicamentos, pois o psiquiatra havia dito que ela teria que pararcomo funciona a multipla no betanoamamentar. Ela acredita que, se na primeira consulta o médico a tivesse orientadocomo funciona a multipla no betanorelação à possibilidadecomo funciona a multipla no betanoconciliar determinados antidepressivos e amamentação, os sintomas não teriam ficado tão fortes.

"Em geral não temos uma assistência à saúde mental perinatal organizada e estruturada", diz Márcia Baldisserotto, coordenadora do grupocomo funciona a multipla no betanotrabalhocomo funciona a multipla no betanosaúde mental do Fórum Perinatal da Região Metropolitana I do Riocomo funciona a multipla no betanoJaneiro.

"Uma gestante chega para o pré-natal e examina pressão, glicose, várias questões biológicas que são importantes. Mas uma triagem e escuta da saúde mental não está sendo feitacomo funciona a multipla no betanogeral. No pós-parto, ela quase não faz exame. É a nossa filosofiacomo funciona a multipla no betanoolhar só a criança e esquecer a mãe. Isso é histórico no Brasilcomo funciona a multipla no betanotermoscomo funciona a multipla no betanopolítica pública."

O Ministério da Saúde afirma,como funciona a multipla no betanonota, que, desde o pré-natal na Unidade Básicacomo funciona a multipla no betanoSaúde até a atenção hospitalar, os profissionais que acompanham a gravidez e realizam as consultas e atendimentos são capacitados para identificar sinais e fatorescomo funciona a multipla no betanorisco que podem levar a gestante a desenvolver depressão após o nascimento do bebê, e orienta que todas as mulheres recebam visitas domiciliares e realizem consulta puerperal para avaliar, entre outras coisas,como funciona a multipla no betanocondição psicoemocional.

Atualmente, há 19 fóruns perinatais ativos no país, compostos por representantescomo funciona a multipla no betanosecretarias estaduais e municipaiscomo funciona a multipla no betanosaúde, do Ministério da Saúde,como funciona a multipla no betanomaternidades privadas e da sociedade civil. Os fóruns têm como objetivo discutir assuntos relacionados à saúde e qualidadecomo funciona a multipla no betanovida da mulher e do bebê e criar estratégias que possam melhorar o cuidado e reduzir a mortalidade materna e infantil.

No Riocomo funciona a multipla no betanoJaneiro, o fórum começou a atuarcomo funciona a multipla no betano2015. O grupocomo funciona a multipla no betanotrabalho voltado para a saúde mental se reúne uma vez por mês,como funciona a multipla no betanomédia, segundo Márcia. No fimcomo funciona a multipla no betanooutubro, será realizado um primeiro seminário sobre o tema, aberto ao público, que irá discutir a necessidadecomo funciona a multipla no betanoimplementaçãocomo funciona a multipla no betanoum protocolocomo funciona a multipla no betanoatendimento à saúde mental durante o ciclo perinatal.

Para Elenise, que se recuperou da depressão pós-parto, uma redecomo funciona a multipla no betanoapoio às mães também é fundamental. Como o marido teve que voltar a trabalhar após o curto períodocomo funciona a multipla no betanolicença-paternidade, ela diz que não contou com a ajudacomo funciona a multipla no betanoninguém para cuidar do filho. "Você não pode descansar, porque você tem casa para arrumar, comida para fazer, roupinha para lavar e passar. Cuidarcomo funciona a multipla no betanoum recém-nascido é muito desgastante."

Ela ainda se emociona ao falar sobre o que viveu e espera que seu relato ajude a mudar o estigma associado ao transtorno. "Eu tinha muita vergonhacomo funciona a multipla no betanofalar sobre o assunto. Ainda tenho, e muitas pessoas não sabem pelo que passei", diz. "É fundamental pedir ajuda. É preciso falar sobre o período pós-parto, porque nenhuma mulher deve passar por isso sozinha."