Como a alfabetização sofreu na pandemia: 'criança que já deveria saber ler ainda não domina o abc':betfair exchange

Crianças vulneráveisbetfair exchange5 a 10 anosbetfair exchangeidade - e, portanto, as que cursam o final da educação infantil e todo o ensino fundamental 1 - foram um grupo particularmente sensível às dificuldades dos maisbetfair exchange18 mesesbetfair exchangeensino à distância na pandemia. É porque elas estãobetfair exchangeuma fase crucialbetfair exchangeseu desenvolvimento escolar: a da alfabetização e da consolidação da leitura, da escrita e dos fundamentos matemáticos.

E também porque, nessa idade, elas têm pouca autonomia no ensino remoto, e portanto o contato próximo aos professores fez muita falta.

Em abril, uma pesquisa divulgada pela Unicef (braço da ONU para a infância) e a organização Cenpec Educação apontou que a faixa etária correspondente ao ensino fundamental 1 foi a mais afetada pela exclusão escolar durante a pandemia.

Segundo a pesquisa, das maisbetfair exchange5 milhõesbetfair exchangecrianças e adolescentes que estavam sem acesso à educação no Brasilbetfair exchangenovembrobetfair exchange2020, cercabetfair exchange40% tinham entre 6 e 10 anosbetfair exchangeidade.

"Isso engloba desde crianças que não estavam matriculadas nas escolas ou que, no último mês (antes da pesquisa), não tinham tido nenhum tipobetfair exchangecontato combetfair exchangeescola, nem por WhatsApp ou por acesso às aulas online. E o vínculo com a escola é importantíssimo", explica Anna Helena Altenfelder, presidente do Cenpec.

Um ponto crucial é que, até a ruptura causada pela pandemia, essa era uma faixa etáriabetfair exchangeque o ensino estava praticamente universalizado no Brasil, ou seja, quase todas as crianças dessa idade estavam frequentando a escola.

Além disso, o ensino fundamental 1 público vinha melhorando constantemente seus indicadoresbetfair exchangeensino - e embora estivesse aquém do ideal, repetidamente superava as metas oficiaisbetfair exchangedesempenho na grande maioria dos Estados brasileiros. Segundo os dados mais recentes,betfair exchange2019, o Brasil tinhabetfair exchangemédia 57% dos alunos do 5° ano do fundamental 1 com conhecimentos adequadosbetfair exchangelíngua portuguesa, aumentobetfair exchange7 pontos percentuaisbetfair exchangerelação a 2015.

Agora, a pandemia reverteu, pelo menos temporariamente, essa universalização e corre o riscobetfair exchangetrazer retrocessosbetfair exchangeconquistas obtidas ao longobetfair exchangedécadas, aponta o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social e especialistabetfair exchangemensuraçãobetfair exchangedesigualdades.

Neri identificou que a taxabetfair exchangeevasão escolar (ou seja,betfair exchangecrianças fora da escola) nas idadesbetfair exchange5 a 9 anos erabetfair exchangeapenas 1,39%betfair exchange2019, mas subiu para 5,5% no finalbetfair exchange2020 - o maior aumento percentual entre todas as faixas etárias.

"Era a faixa etária onde a gente havia tido grandes avanços não apenas na universalização, a partir dos anos 1990, mas também na aprendizagem", diz Neri à BBC News Brasil.

O economista explica que, para além do fatobetfair exchangemuitas crianças dessa idade estarem na delicada fasebetfair exchangealfabetização, elas também são desproporcionalmente mais afetadas pela desconectividade e pela pobreza no Brasil.

"A criançabetfair exchange5 a 9 anos tem menos intimidade com a internet que um adolescente e ela é,betfair exchangegeral, mais pobre - o ápice da pobreza no Brasil é nessa faixa etária", particularmentebetfair exchangefamílias mais numerosas e sem renda suficiente ou ainda sem aposentadoria, pontua.

Não à toa a evasão observada por Neri foi mais aguda nas regiões mais remotas e carentes do país (principalmente na região Norte), e entre a população negra, também desproporcionalmente afetada pela desigualdade social ebetfair exchangerenda.

Desafio urgente

Agora, uma preocupaçãobetfair exchangeespecialistas e educadores é que as lacunas na alfabetização durante a pandemia, caso não sejam enfrentadas, virem uma bolabetfair exchangeneve que prejudique o desempenho das crianças nas etapas seguintesbetfair exchangeensino.

"A urgência é que essa fase do aprendizado é fundamental: as competênciasbetfair exchangeleitura e escrita que a criança desenvolve ali são cruciais para seguir com a aprendizagem", diz Anna Helena Altenfelder.

"E para aprender a ler e escrever elas precisambetfair exchangeexperiências pedagógicas intencionais ebetfair exchangeinterações (com adultos e entre si) que não aconteceram na quantidade necessária durante a pandemia."

Mas isso não significa que essas crianças estejam "fadadas a arrastar esse fracasso" ao longobetfair exchangesua vida, prossegue a educadora, sobretudo porque elas ainda têm bastante tempobetfair exchangeanos escolares pela frente.

"Um trabalho consistente certamente é capazbetfair exchangeresgatar essas competênciasbetfair exchangeleitura e escrita. (...) É algo possível e que sabemos fazer no Brasil - temos experiência com classesbetfair exchangeaceleraçãobetfair exchangeaprendizagem e correçãobetfair exchangefluxo escolar (ou seja,betfair exchangeadequar a idade da criança à série que ela deve cursar). Mas as escolas não farão isso sozinhas, os professores vão precisarbetfair exchangeapoio."

Falar com cada família

Na turma da professora Ana Carolina Guimarães,betfair exchangeBelo Horizonte, citada no início desta reportagem, a combinaçãobetfair exchangepobreza e desconexão marcou a trajetória escolarbetfair exchangemuitos alunos durante os mesesbetfair exchangeescola fechada.

"Trabalhamos com crianças carentes. Algumas não tinham nem condiçõesbetfair exchangeir buscar na escola a cesta básica que foi oferecida. Imagina então ter internet para fazer aula online", explica.

Agora, ela está avaliando as crianças uma a uma, e "conversandobetfair exchangefamíliabetfair exchangefamília, para identificar quais são as maiores dificuldades. Quando os pais não são alfabetizados, por exemplo, a gente tem que ficar muito mais próximo aos alunos".

Uma vez por mês, Guimarães tem ligado para cada aluno para ouvi-lo ler um texto para ela e, assim, medirbetfair exchangecapacidadebetfair exchangeleitura. "E cada vez que eles evoluem, me mandam um áudio (de WhatsApp), comemorando", conta.

Os alunos também são convidados a fazer um podcast explicando as atividades para os colegas que tenham mais dificuldades, prossegue a professora.

Guimarães e suas colegas professoras da Escola Estadual São Bento transformaram esse desafio pedagógicobetfair exchangeum projetobetfair exchangetrabalho no cursobetfair exchangepós-graduaçãobetfair exchangeAprendizagem Criativa, que cursam na PUC Minasbetfair exchangeparceira com o Instituto iungo e o governo mineiro.

O objetivo é que o projeto, focado na recuperação da alfabetização das crianças, possa ajudar não apenas as turmas individuaisbetfair exchangecada professora envolvida, mas toda a escola.

"Isso porque a demanda não é só minha: se aluno não se alfabetizar até o terceiro ano, isso vai virar um problema para o professor do quarto ano", aponta.

Agora que os alunos começam a voltar a frequentar a escola com mais regularidade, desafios como o enfrentado por Guimarães estão frequentes na pósbetfair exchangeAprendizagem Criativa, explica Paulo Emilio Andrade, diretor do Instituto iungo.

"Mas os professores estão vendo que,betfair exchangevezbetfair exchangeempurrar o problema para a frente, conseguem construir soluções para seus alunos avançarem", diz Andrade. No curso, a ideia é, a partir dos problemas identificadosbetfair exchangesalabetfair exchangeaula, seja possível elaborar atividades e estratégias que ajudem a engajar as famílias e as crianças na recuperação da aprendizagem.

Para Anna Helena Altenfelder, do Cenpec,betfair exchangefato será necessário agirbetfair exchangemodo amplo para evitar que as defasagensbetfair exchangealfabetização escalonembetfair exchangediversas partes do Brasil.

"As redes e secretariasbetfair exchangeensino vão ter que se organizarbetfair exchangeforma diferente. E seria necessário haver a coordenação técnica e financeira do Ministério da Educaçãobetfair exchangeprojetosbetfair exchangeapoio aos municípios (que concentram a maior parte das escolasbetfair exchangefundamental 1 no país)", diz ela - criticando o que vê como inação federal nas açõesbetfair exchangeenfrentamento à pandemia e a ênfase da pastabetfair exchangeprojetos polêmicos ebetfair exchangebaixo alcance, como obetfair exchangeensino domiciliar e obetfair exchangeescolas cívico-militares.

O ministério, porbetfair exchangevez, diz à reportagem que fez destinação emergencialbetfair exchangerecursos por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE); criou uma plataforma para apoiar professores e trabalhadores da educação no planejamento e execuçãobetfair exchangeatividades e planosbetfair exchangeaula para alunos que estão aprendendo a ler e escrever; e tem oferecido, para famílias, um aplicativo gratuito e o programabetfair exchangecontaçãobetfair exchangehistórias Conta pra Mimbetfair exchangeforma a apoiar o letramento dentrobetfair exchangecasa.

E afirmou à reportagem que seus cursos online recém-lançados sobre práticasbetfair exchangealfabetização estão entre os mais frequentados (e bem avaliados) pelos professores.

"Ciente da gravidades dos impactos desse evento (pandemia) sobre a educação, a Secretariabetfair exchangeAlfabetização do MEC estive ativabetfair exchangeelaborar ações e projetos para dirimir (o problema), não apenas voltados às crianças, mas também aos profissionais da educação", diz a pasta, por e-mail.

Acolhimento

Segundo Altenfelder, agora será necessário buscar ativamente os estudantes desvinculados da escola neste período pandêmico, olhar individualmente para a realidadebetfair exchangecada escola e criar uma espéciebetfair exchange"acolhimentobetfair exchangecascata", que responda às dificuldades emocionais ebetfair exchangeaprendizado vividas na pandemia - com a ajuda dos setoresbetfair exchangeassistência social e saúde.

"Os alunos vão precisarbetfair exchangeacolhimento por parte dos professores, que precisarão ser acolhidos por seus diretoresbetfair exchangeescola, e estes, pelos seus secretários e assim por diante", diz.

Esse olhar individualizado, seguidobetfair exchangeintervenções concretas, diz ela, pode ajudar a amenizar os enormes abismos que ficaram latentes durante a pandemia.

Um exemplo desse abismo, explica o economista Marcelo Neri, é exposto na quantidadebetfair exchangehoras-aula que criançasbetfair exchangediferentes extratos sociais tiveram. Ele calcula que,betfair exchangemédia, alunosbetfair exchange6 a 15 anos das classes A e B tiveram, na prática, maisbetfair exchange50%betfair exchangetempo a maisbetfair exchangeaulas onlinebetfair exchangecomparação com os alunos da classe E durante a pandemia.

Esses alunos pobres também tiveram menos acesso a atividades escolares e, quando as receberam, dedicaram menos tempo a elas.

Particularmente na faixa etária das criançasbetfair exchangefasebetfair exchangealfabetização, o risco é o Brasil "regredir duas décadas no acesso e meninos e meninas à educação", na visão do Unicef.

"Criançasbetfair exchange6 a 10 anos sem acesso à educação eram exceção no Brasil, antes da pandemia. Essa mudança observadabetfair exchange2020 pode ter impactosbetfair exchangetoda uma geração", afirmou,betfair exchangeabril, Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil.

"É essencial agir agora para reverter a exclusão, indo atrásbetfair exchangecada criança e cada adolescente que está com seu direito à educação negado, e tomando todas as medidas para que possam estar na escola, aprendendo."

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