Ruth Guimarães: o centenário da escritora pioneira que colocou a identidade negra no centrobaixar blaze apostassua obra:baixar blaze apostas

Ruth Guimarães

Crédito, Flinksampa/Divulgação

Legenda da foto, Escritora publicou 51 livros, entre romances, contos, crônicas, traduções e ensaios folclórico

E prosseguiu enfatizando que era preciso "saber da raiz negrabaixar blaze apostasonde viemos".

Reconhecida como a primeira escritora brasileira mulher negra a ter projeção nacional, deixou claro que o legado é para ser usufruído pelas geração que a sucederam e sucedem. "A história negra está por fazer, a literatura negra está por fazer, a poesia está por fazer", disse.

No anobaixar blaze apostasque é celebrado o centenáriobaixar blaze apostasseu nascimento, a obrabaixar blaze apostasGuimarães — que publicou 51 livros entre romances, contos, crônicas, traduções e ensaios folclóricos — é resgatada.

Nesta quinta (19/11), a FlinkSampa: Festa do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra lançou uma edição comemorativa aos 70 anos do livro Os Filhos do Medo.

A escritora é a grande homenageada na edição deste ano do evento — que será on-line por conta da pandemia. Em 2020 foram publicados ainda dois livros inéditos da autora, Contos Negros e Contos Índios. E outros dois devem chegar às livrarias no ano que vem — Contos da Terra e do Céu e Contosbaixar blaze apostasEncantamento.

Ruth Guimarães

Crédito, Flinksampa/Divulgação

Legenda da foto, Autora, que faleceubaixar blaze apostas2014, teve duas obras inéditas publicadas neste ano

Pioneirismo

Mas a grande obra da lavrabaixar blaze apostasGuimarães, o livro que a catapultou para o reconhecimento nacional, foi publicado quando ela era uma jovembaixar blaze apostas26 anos. Trata-sebaixar blaze apostasÁgua Funda, lançadobaixar blaze apostas1946 e cujo enredo se passabaixar blaze apostasuma fazenda do sulbaixar blaze apostasMinas Gerais entre a abolição da escravatura e o início do século 20.

"A trajetória dela é um exemplo a ser seguido no sentido da segurança e autoconfiança no que escrevia e, tendo essa certeza, mostroubaixar blaze apostasescrita para quem estava receptivo a novas descobertas na literatura, o quê se pretendia na época: uma escrita focada na identidade nacional, no caso, a identidade negra", avalia à BBC News Brasil a escritora Ana dos Santos, pesquisadora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

"Na minha pesquisa sobre escritoras negras observo que a ousadia, que é uma qualidade que nós mulheres negras temos que ter é o primeiro passo na direção dos nossos sonhos e projetos literários."

Água Funda rendeu à autora a admiraçãobaixar blaze apostasliteratos como o crítico Antonio Candido (1918-2017) e os escritores Guimarães Rosa (1908-1967) e Jorge Amado (1912-2001).

Nascidabaixar blaze apostasCachoeira Paulista, no interiorbaixar blaze apostasSão Paulo, ela apaixonou-se pela literatura ainda na infância. Aos 10 anos já publicava poemasbaixar blaze apostasjornaisbaixar blaze apostassua cidade.

Formou-sebaixar blaze apostasFilosofia pela Universidadebaixar blaze apostasSão Paulo (USP) e passou a atuar como jornalista — publicoubaixar blaze apostasgrandes jornais como O Estadobaixar blaze apostasS. Paulo e Folhabaixar blaze apostasS. Paulo. Também foi tradutora. E, embaixar blaze apostascidade natal, trabalhou como professora.

Ruth Guimarães com a artista Ruthbaixar blaze apostasSouza (ao centro)

Crédito, Flinksampa/Divulgação

Legenda da foto, Ruth Guimarães com a artista Ruthbaixar blaze apostasSouza (ao centro)

Casou-se com um primo, com quem teve nove filhos — oito deles com problemasbaixar blaze apostassaúde, sendo que três portadoresbaixar blaze apostassíndromebaixar blaze apostasAlport, uma doença genética degenerativa. Para o curador da FlinkSampa, o escritor e biógrafo Tom Farias, a questão familiar pesou sobre a própria carreirabaixar blaze apostasGuimarães.

"Ela escreveu no seu confinamentobaixar blaze apostasCachoeira Paulista, onde nasceu e morreu, teve nove filhos, ficou viúva… O fatobaixar blaze apostasela ser uma mulher e ter se dedicado muito mais à família do que à vida literária, acreditamos, fez com que ela não fosse tão valorizada pela academia. Já passou da horabaixar blaze apostashomenageá-la. Não podíamos deixar esse centenário sem nenhuma manifestaçãobaixar blaze apostasreconhecimento", diz ele à BBC News Brasil.

Farias explica que Guimarães é um exemplo daquilo que a FlinkSampa luta para recuperar: uma grande escritora brasileira "que foi,baixar blaze apostasalguma maneira invisibilizada pela academia e pelo mundo literário"

"O encantamentobaixar blaze apostasRuth Guimarães estábaixar blaze apostasela ter ocupado espaços restritos para pessoas negras da época, como estudarbaixar blaze apostasuniversidade pública e aprender um novo idioma, a pontobaixar blaze apostastraduzir obras clássicas e, ainda assim, ter mantido um compromisso com a cultura caipira e popularbaixar blaze apostasseus contos e no seu romance Água Funda", diz à BBC News Brasil a tradutora e militante feminista Natália Chaves, recém-eleita covereadorabaixar blaze apostasmandato coletivo pelo PSOL.

Ruth Guimarães com o jornalista Cyro dos Anjos

Crédito, Flinksampa/Divulgação

Legenda da foto, Ruth Guimarães com o jornalista Cyro dos Anjos

"Avalio que a junção desses fatores a levou a um patamar ao qual poucas pessoas negras podem chegar,baixar blaze apostasum país onde o analfabetismo é três vezes maior para pessoas negras do que brancas."

Também militante feminista, a jornalista Viviane Duarte, fundadora do projeto Planobaixar blaze apostasMenina, acredita que o resgate da vida e da obra da escritora servem como estímulos para as novas gerações.

"Ela é uma inspiração para todas nós, mulheres negras. Foi uma mulher que não se intimidou com seu tempo. Ocupou espaços importantes e construiu espaços importantes", comenta.

"Não estamos falandobaixar blaze apostasmeritocracia, mas simbaixar blaze apostascomprometimento com a paixão, com o talento. Em buscar fazer o talento acontecer independentemente das circunstâncias."

Ruth Guimarães

Crédito, Flinksampa/Divulgação

Legenda da foto, 'Dedicaçãobaixar blaze apostasRuth para resgatar o folclore brasileiro pode servirbaixar blaze apostasgrande exemplo pra autoras contemporâneas', diz tradutora Natália Chaves

Questãobaixar blaze apostasgênero, questãobaixar blaze apostaspele

Para especialistas, tanto a cor quanto o gênero podem ter pesado no esquecimentobaixar blaze apostasGuimarães.

"O fatobaixar blaze apostasnão ser tão amplamente conhecida talvez se deva ao fato do recorte gênero e raça, ainda mais se tratando do universobaixar blaze apostasSão Paulo e Minas Gerais. Quantos anos Conceição Evaristo demorou a ser editada? E quanto tempo demorou para Carolina Mariabaixar blaze apostasJesus ter a visibilidade e reconhecimento merecidos? E Maria Firmina dos Reis? Maria Firmina foi a primeira romancista negra brasileira", pontua a mestrabaixar blaze apostasliteratura Nélida Capela, curadorabaixar blaze apostasacervo da Blooks Livraria e fundadora da plataforma NC Curadorias.

"As grandes editoras do mercados só investem parcialmente agorabaixar blaze apostasautoras negras. Mas esse trabalhobaixar blaze apostasdivulgação da escritoras brasileiras vem sendo realizado há algum tempo pelas editoras independentes e as novas editoras, a exemplo da Pallas, que edita Conceição Evaristo, e da editora Malê, que edita inclusive jovens escritoras e intelectuais negras", acrescenta ela.

Diversos outros exemplos mostram que o exemplobaixar blaze apostasGuimarães é seguido. Mas não sem dificuldades.

"Um dos apagamentos do racismo é o da nossa cultura, então a dedicaçãobaixar blaze apostasRuth para resgatar o folclore brasileiro pode servirbaixar blaze apostasgrande exemplo pra autoras contemporâneas", lembra a tradutora Chaves.

"Jarid Arraes é um exemplobaixar blaze apostasescritora negra que traz com força a cultura popular, principalmente a cultura do cordel. Aline Valek também tem um trabalho interessante; o último livro dela, Cidades Afundambaixar blaze apostasdias Normais, se situa no Cerrado, por exemplo, um bioma que é bem esquecido no Brasil."

Ruth Guimarães com o crítico literário Antônio Cândido e o jornalista Joaquim Botelho

Crédito, Flinksampa/Divulgação

Legenda da foto, Ruth Guimarães com o crítico literário Antonio Cândido e o jornalista Joaquim Botelho

Ana dos Santos cita pesquisa realizada pela Universidadebaixar blaze apostasBrasília, publicadabaixar blaze apostas2018, que mostra que há maisbaixar blaze apostasquatro décadas o perfil padrão do escritor brasileiro é o "homem branco, heterossexual, morador do sudeste do Brasil e pertencente às classes média e alta". "O preconceito que ainda existe no mercado editorial brasileiro é um reflexo da sociedade racista, machista e homofóbica", pontua.

"Nossa intelectualidade está correndo atrás da literatura negro-brasileira, correndo atrásbaixar blaze apostas300 anosbaixar blaze apostasescravidão que contribuíram para o apagamento, silenciamento e esquecimentobaixar blaze apostasautoras negras como Ruth Guimarães", diz ela.

Tom Farias frisa que é preciso divulgar o valor da escritora independentementebaixar blaze apostassua negritude. "Não gosto dessa classificaçãobaixar blaze apostas'caixinhas'", explica. "Quem coloca termos é uma classe que quer continuar dominando o mundo da indústria da literatura, que envolve livros, festas literárias. Isso é confinamento. Não acredito que haja uma linguagem própria dos autores e autoras negros."

Autor do blog Arte Fora dos Centros e pesquisadorbaixar blaze apostasliteratura marginalizada na Universidade Livrebaixar blaze apostasBerlim, o jornalista Fred Di Giácomo concorda — e acredita que seja preciso revisar o cânone daqueles livros que são considerados os mais importantes do Brasil. "Existem argumentos técnicos, mas como se forma o cânone? Quem decide quem são os melhores livros geralmente são homens brancos ricos que se identificam e leem homens brancos ricos", comenta ele, à BBC News Brasil. "Estamosbaixar blaze apostasum momento mundialbaixar blaze apostasquestionamento do cânone ebaixar blaze apostasredescobertabaixar blaze apostasvários autores e autoras, negros, indígenas…"

"Ela está no patamarbaixar blaze apostasuma grande escritora e vai sendo, agora, aos poucos redescoberta. É preciso também que ela esteja nas universidades, na academia. Que esteja nas escolas, nas listas dos vestibulares, nos livros didáticos", pontua Farias.

"Ruth Guimarães, como escritora, não está abaixobaixar blaze apostasnenhum outro ou nenhuma outra do período dela. Ela precisa ser olhada com esse respeito."

Com as comemorações do centenário, há oportunidade para refletir. Prestes a ocupar um espaço no legislativo paulistano, Natália Chaves afirma ser "importante pensarmosbaixar blaze apostaspolíticas públicas que possibilitem a mais mulheres explorarem seu potencial assim como Ruth pôde fazer".

"É preciso combater o racismo estrutural, o analfabetismo e a própria ideiabaixar blaze apostasque lugarbaixar blaze apostasmulher ébaixar blaze apostastarefas domésticas, principalmente quando essa mulher é negra", ressalta.

Ruth Guimarães com a escritora Lygia Fagundes Tellesbaixar blaze apostas1950

Crédito, Flinksampa/Divulgação

Legenda da foto, Ruth Guimarães com a escritora Lygia Fagundes Tellesbaixar blaze apostas1950

Nélida Capela conta quebaixar blaze apostasseu trabalhobaixar blaze apostascuradoria procura sempre pensar na representatividade.

"Quando digo representatividade, digo literatura e obrasbaixar blaze apostasconhecimentobaixar blaze apostasautoras negras, autorasbaixar blaze apostaspovos originários e também livros sobre a questãobaixar blaze apostasgênero", afirma. Para ela, a responsabilidade, no entanto, precisa ser compartilhada: por quem edita, por quem organiza os livros na livrar, pelos jornalistas que publicam resenhas e divulgam livros e, claro, pelos leitores que escolhem o que consumir.

A escritora Ruth Guimarães sempre acreditou na persistência, apesar das dificuldades enfrentadas, do povo negro.

No mesmo depoimentobaixar blaze apostas2007 cujo trecho está no início desta reportagem, ela disse que "muita gente já fez esses estudos e até descobriram uma coisa muito bonita, muito gratificante para a gente: que todas aquelas qualidades do povo brasileiro, aquele povo igual, alegre, que aceita, que aguenta os trancos, que passa por tudo quanto é ruindade neste mundo, essa qualidade boa, excelente, que fazbaixar blaze apostasnós um povo único no mundo, nós devemos aos negros".

"Os negros é que são assim, aguentaram e continuam aguentando; não sei se são muito pacientes. Se for medir por mim, porque o homem é a medida do homem, se for medir por mim, essa qualidadebaixar blaze apostaspaciência nós não temos. Eu não tenho paciência. Não sou uma criatura paciente, mas sou uma criatura alegre, graças aos meus ascendentes negros. E agora, depoisbaixar blaze apostasmuito velha, estou fazendo pesquisa e procurando o rastro do negro na nossa literaturabaixar blaze apostaspovo e na nossa alegriabaixar blaze apostascontar histórias", afirmou a escritora.

Línea

baixar blaze apostas Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube baixar blaze apostas ? Inscreva-se no nosso canal!

Pule YouTube post, 1
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosbaixar blaze apostasautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticabaixar blaze apostasusobaixar blaze apostascookies e os termosbaixar blaze apostasprivacidade do Google YouTube antesbaixar blaze apostasconcordar. Para acessar o conteúdo cliquebaixar blaze apostas"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdobaixar blaze apostasterceiros pode conter publicidade

Finalbaixar blaze apostasYouTube post, 1

Pule YouTube post, 2
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosbaixar blaze apostasautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticabaixar blaze apostasusobaixar blaze apostascookies e os termosbaixar blaze apostasprivacidade do Google YouTube antesbaixar blaze apostasconcordar. Para acessar o conteúdo cliquebaixar blaze apostas"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdobaixar blaze apostasterceiros pode conter publicidade

Finalbaixar blaze apostasYouTube post, 2

Pule YouTube post, 3
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosbaixar blaze apostasautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticabaixar blaze apostasusobaixar blaze apostascookies e os termosbaixar blaze apostasprivacidade do Google YouTube antesbaixar blaze apostasconcordar. Para acessar o conteúdo cliquebaixar blaze apostas"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdobaixar blaze apostasterceiros pode conter publicidade

Finalbaixar blaze apostasYouTube post, 3