Por que o futuro do agronegócio depende da preservação do meio ambiente no Brasil:empress bet

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Eles dizem as notícias sobre o setor ambiental no Brasil não são animadoras: se o ritmoempress betdesmatamento na Amazônia continuar como está, atingiremosempress betpouco tempo um nívelempress betdevastação sem volta. Junho foi o mês com mais desmatamento na Amazônia, 920,4 km², desde o início do monitoramento com sistemaempress betalerta pelo Inpe (Instituto Nacionalempress betPesquisas Espaciais),empress bet2015. Foi um aumentoempress bet88%empress betrelação ao mesmo mês no ano passado.
Ao mesmo tempo, as pressões e cobranças internacionais chamam atenção para a agenda ambiental do governo Bolsonaro, que tem flexibilizado a legislação ambiental e diminuído a fiscalização.

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Crise iminente
Atualmente, o agronegócio é responsável por 21,6% do PIB brasileiro, segundo o Ministério da Agricultura.
Preocupados com questões como logística, estrutura e desafios comerciais como o vaivém das commodities no mercado internacional, a questão da sustentabilidade acaba não sendo prioridade para o setor como um todo.
"A questão da sustentabilidade, no sentido amplo, é uma preocupação. Masempress betprimeiro lugar vêm a estrutura e a logística e as questões comerciais", afirma o agrônomo Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura (2003-2006) e coordenador da áreaempress betagro da Fundação Getúlio Vargas.
No entanto, os riscos gerados pela devastação ambiental na agricultura são uma ameaça muito mais iminente do que se imagina, segundo o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa.
Alguns estudos, como um feito por pesquisadores das Universidades Federaisempress betMinas Gerais e Viçosa, projetam perdasempress betprodutividade causadas por desmatamento e mudanças climáticas para os próximos 30 anos. Outros não trabalham com tempo, mas com nívelempress betdevastação, como o estudo Efeitos do Desmatamento Tropical no Clima e na Agricultura, das cientistas americanas Deborah Lawrence e Karen Vandecar, que afirma que quando o desmatamento na Amazônia atingir 40% do território (atualmente ele estáempress bet20%), a redução das chuvas será sentida a maisempress bet3,2 mil kmempress betdistância, na bacia do Rio da Prata.

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Para Assad, que também é professor da FGV Agro e membro do Painel Brasileiroempress betMudanças Climáticas, os efeitos da destruição do ambiente e das mudanças climáticas já começam a ser sentidos.
Ele cita, por exemplo, o relatório da Associação dos Produtoresempress betSoja (Aprosoja) que mostra a perdaempress betmaisempress bet16 milhõesempress bettoneladas na safraempress betsoja deste ano devido a seca que atingiu as principais regiões produtoras desde dezembro. "Já há evidênciasempress betque as mudanças climáticas aumentaram o númeroempress beteventos extremos, como secas e ondas e calor", afirma Assad.
Há duas ameaças principais, segundo Lawrence e Vandecar. A primeira é o aquecimento global, que aconteceempress betescala global e que é intensificado pelo desmatamento. A outra são os riscos adicionais criados pela devastação das florestas, que geram impactos imediatos na quantidadeempress betchuva e temperatura, tantoempress betnível local quanto continental.
empress bet Deficiência hídrica e temperatura
A maior parte da produção agrícola brasileira depende das chuvas – só 5% da produção total e 10% da produçãoempress betgrãos são irrigados. Isso significa que mudanças na precipitação afetam diretamente nossa produção.
O regimeempress betchuvas é afetado por uma sérieempress betfatores – desde a topografia até as correntes marítimas. Um fator importante é a dinâmicaempress betevaporação e transpiração terrestres, ou seja, a umidade produzida pela respiração das árvores e plantas, explica o agrônomo da USP Gerd Sparovek, professor da Esalq (Escola Superiorempress betAgricultura Luizempress betQueiroz) e presidente da Fundação Florestal do Estadoempress betSão Paulo.
Esse fenômeno, chamadoempress betevapotranspiração, é especialmente altoempress betflorestas tropicais como a amazônica – elas são o ecossistema terrestre que mais movimenta água, transformando a água do soloempress betumidade no ar e diminuindo a temperatura da atmosfera sobre elas.
"Ao cortar a vegetação natural que, durante o ano inteiro joga água na atmosfera, umas das principais consequências é a formaçãoempress betmenos nuvens no período seco", explica Assad, da Embrapa. "Um estudo que acabamosempress betfinalizar mostra um aumento significativoempress betdeficiência hídrica do Nordeste ao Centro-Oeste", diz.

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Isso afeta as chuvas potencialmente até no Sudeste, já que há correntesempress betar que normalmente empurram essas nuvens para sul.
A destruição da vegetação nativa afeta até a duração das temporadasempress betchuvas e estiagem, segundo o estudoempress betLawrence e Vandecar, que faz uma revisão da literatura científica e foi publicadoempress bet2014 na revista Nature.
O corte da vegetação nativa também altera a temperatura e clima local, e potencialmente também oempress betregiões mais distantes, explica Sparovek, da Esalq. "As alterações, nesse caso, são sempre desfavoráveis."
E isso vale não só para a Amazônia: a remoção do Cerrado, onde hoje se encontra a principal expansão da fronteira produtiva, também eleva a temperatura local.
Esse problema é reforçado pelo aquecimento global, que torna o clima mais instável e aumenta a frequênciaempress betextremos, como ondasempress betcalor e estiagens e chuvasempress betexcesso. E o desmatamento só intensifica esse processo.

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O risco para o agronegócio é especialmente grande quando altas temperaturas são concomitantes com períodosempress betdiminuição das chuvas – isso diminui a produtividade das lavouras e pode comprometer safras inteiras, diz o biólogo.
Um efeito adicional do comprometimento da disponibilidadeempress betágua tem a ver com a produçãoempress betenergia elétrica, que também é importante para o agronegócio, aponta Sparovek. Um clima mais seco ou maiores períodosempress betestiagem podem comprometer a vazão dos rios e dos reservatórios, afetando diretamente a produçãoempress betenergia, já que nossa matriz energética é emempress betmaioria dependenteempress bethidroelétricas.
Perdaempress betárea produtiva
A retirada total das florestas também gera outros problemas relativos aos recursos hídricos além da chuva, explica o biólogo Jean Paul Metzger, professor da USP e doutorempress betecologiaempress betpaisagem.
A retirada da vegetação nativa retira a proteção do solo, que não é reposta mesmo se a área virar uma plantação, já que as raízes das plantas cultivadas são muito superficiais. O solo cultivado também tem pouca permeabilidade.
Isso dificulta a infiltração da água no solo, o que gera dois problemas. Um é a faltaempress betreposição da água nos lençóis freáticos. A outra, é um processoempress beterosão e poluição dos rios.
"A chuva vai escoando superficialmente e levando o solo junto, há uma perda da camada mais fértil, vai tudo para o rio" diz Metzger. "E a partirempress betum certo momento você não tem como reverter, há uma perdaempress betárea produtiva via erosão."
Reserva Legal
A melhor formaempress betevitar esse processo é manter a vegetação nativa – inclusive nas propriedades rurais, onde a cobertura florestal pode fazer uma filtragem das enxurradas antesempress betchegarem ao rio. Metzer aponta que as propriedades produtivas devem ter cercaempress bet30%empress betcobertura florestal, na média, para que o ciclo hidrólógico e os chamados serviços ambientais funcionem normalmente.
Serviços ambientais são benefícios trazidos ao cultivo pelo ecossistema, como, por exemplo, a polinização e o controle naturalempress betpragas.

Crédito, Larissa Rodrigues
"Paisagens onde há produção agrícolaempress betdesequilíbrio com o ambiente são poucos favoráveis à produção. Os inimigos naturais das pragas e doençasempress betplantas desaparecem, e a produção passa a depender cada vez maisempress betagrotóxicos", diz Sparovek, da Esalq.
Daí, dizem os pesquisadores, vem a importância da manutenção das reservas legais – áreasempress betmata nativa dentroempress betpropriedades rurais cujo desmatamento é proibido por lei. O índiceempress betproteção exigido éempress bet80% na Amazônia,empress bet35% no Cerrado eempress bet20% nos outros biomas.
O assunto esteveempress betpauta nos últimos meses, graças a um projeto do senador carioca Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, que quer acabar com as reservas legais, citando o "direito à propriedade". Pela Constituição, no entanto, nenhum direito à propriedade é absoluto no Brasil – a construçãoempress betpropriedades urbanas, por exemplo, fica restrita às leisempress betzoneamento municipais.
Agrotóxicos
O uso indiscriminadoempress betagrotóxicos também é um problema ambiental que acaba se voltando contra o próprio agronegócio.
Ele afeta principalmente os cultivos que dependem da polinização, já que os animais polinizadores - abelhas, besouros, borboletas, vespas e até aves e morcegos – são fortemente afetados por alguns tiposempress betinseticidas e até por herbicidas usados contra pragasempress betlavouras, sofrendo desde morte por envenenamento a desorientação durante o voo.
Das 191 culturas agrícolasempress betproduçãoempress betalimentos no país, 114 (60%) dependemempress betpolinizadores, segundo o Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produçãoempress betAlimentos no Brasil, da Fapesp (Fundaçãoempress betAmparo à Pesquisa do Estadoempress betSão Paulo). Em resultadoempress betsafra, cercaempress bet25% da produção nacional é dependenteempress betpolinização, segundo Assad, da Embrapa.

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Além disso, o uso excessivoempress betagrotóxicosempress betespécies resistentes se torna um problema para produtores vizinhosempress betcultivos que não tem a mesma resistência. Produtoresempress betuva do Rio Grande do Sul têm registrado milhõesempress betreaisempress betprejuízo por causa do herbicida 2,4-D, usadoempress betplantaçõesempress betsoja. Ao se espalhar para as propriedades produtorasempress betuva, ele chegou a reduzir a colheitaempress betuvaempress betaté 70%, segundo produtores do Estado.
O Instituto Brasileiro do Vinho chegou a defender a proibição do uso do agrotóxico na região. O noroeste gaúcho é campeão nacional no usoempress betagrotóxicos, segundo um mapa do Laboratórioempress betGeografia Agrária da USP com dados do IBGE (Instituto Brasileiroempress betGeografia e Estatística).
Questão da Produtividade
Até hoje, olhando a série histórica, a produtividade do agronegócio no Brasil só aumentou. A produção do milho, por exemplo, subiuempress bet3,6 ton/haempress bet2009 para 5,6 ton/haempress bet2019 (previsão),empress betacordo com dados da Conab (Companhia Nacionalempress betAbastecimento).
"O aumento da produção muitas vezes é usado como argumento pra dizer que não está acontecendo nada (em termosempress betefeitos da mudança climática). Mas a produtividade aumenta porque antes era muito baixa, porque estamos implementando as diversas tecnologias existentes", afirma Assad, que também é membro do Painel Brasileiroempress betMudanças Climáticas. "O tetoempress betprodutividade do milho, por exemplo, éempress bet10 toneladas por hectare considerando a tecnologia existente."
Isso não quer dizer, diz ele, que os efeitos da devastação não terão um impacto na produtividade.
Segundo cálculos no modelo feito por cientistas das Universidade Federaisempress betMinas Gerais e Viçosa,empress bet30 anos as perdas na produçãoempress betsoja podem irempress bet25% a 60%, dependendo da região, graças ao desmatamento da Amazônia.
Até a pecuária pode ser afetada, com a produtividade do pasto caindoempress bet28% a 33% e alguns lugares deixandoempress betser viáveis para a atividade.
Expansão?
Mas por que ainda há resistênciaempress betaceitar a visãoempress betque a devastação do meio ambiente prejudica o agronegócio?
Segundo Sparovek, da Esalq, narrativas que defendem a necessidadeempress betexpandir a fronteira agrícola não têm embasamento científico. Ele afirma que "quando se analisa a necessidadeempress betexpansão do agronegócio brasileiro prevista pelo próprio setor até 2050, não se vê necessidade algumaempress betdesmatar e expandir a fronteira agrícola."
"Temos áreas abertas o suficiente para produzir a demanda projetada e ainda restaurar a vegetaçãoempress betuma quantidade enormeempress betterras", diz o agrônomo.

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Só na Amazônia, há 17 milhõesempress bethectares cortados, desmatados e abandonados, segundo Assad, da Embrapa.
Além das terras abertas existentes, há uma enorme possibilidadeempress betincremento da produtividade atravésempress betimplementação tecnológica, afirma o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.
Assad, da Embrapa, afirma que soluções boas para a produção e para o ambiente – como técnicasempress betagriculturaempress betbaixa emissãoempress betcarbono e boas práticasempress betmanejoempress betsolo e água – têm se tornado cada vez mais acessíveis, e que uma maior organizaçãoempress betcooperativas agrícolas é necessária para aumentar o acesso dos pequenos produtores a tecnologias e avanços.
Sparovek afirma que a expansão da fronteira, especialmente na Amazônia, não interessa diretamente, não ajuda a produzir – especialmente com o avanço tecnológico que exige um terreno mais plano pelo tamanho e velocidade das máquinas. "Isso é uma agenda muito mais ligada à valorização imobiliária das terras e à grilagem. Quem se beneficia disso é o especulador do mercadoempress betterras, lícito ou criminoso."
Segundo Rodrigues, o Brasil é um país gigantesco que não tem "uma agricultura ou um agricultor", mas diversos grupos com interesses diferentes. A existênciaempress betagricultores que não têm preocupação nenhuma com sustentabilidade ou com o longo prazo é "um pouco uma questãoempress beteducação, cultura e formação técnica adequada."
"Temos 4,4 milhõesempress betprodutores que seguiram o Código Florestal e fizeram o Cadastro Ambiental Rural (mecanismosempress betregulação das práticas agrícolas)", diz Assad. "É 1 milhãoempress betagricultores que fazem essa confusão toda. É só um povo que produz como na idade média (que tem interesse no desmatamento)."

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