Embaixadacasino online seJerusalém: o que o Brasil pode ganhar e perder se aproximandocasino online seIsrael:casino online se

Bolsonaro e Netanyahu

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Legenda da foto, Logo após tomar posse como presidente da República, Jair Bolsonaro confirmou que pretende transferir a embaixada do Brasilcasino online seTel Aviv para Jerusalém, seguindo os passos do presidente americano Donald Trump
Netanyahu e Bolsonaro

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Legenda da foto, A forte guinada diplomática rumo anunciada por Bolsonaro pode ampliar parcerias com o governo israelense, mas também retrocessos nas relações com países árabes, segundo analistas e o setor produtivo brasileiro

Por outro lado, Israel é um polo tecnológico e o Brasil poderia, potencialmente, se beneficiar com parcerias que incluam transferênciacasino online seconhecimento científico. Irrigação para o setor agrícola, dessalinizaçãocasino online seáguacasino online seáreascasino online seseca e segurança cibernética para uso no combate ao crime organizado estão na mira do governo brasileiro.

Mas a guinada diplomática na presidênciacasino online seBolsonaro não tem efeitos apenas na economia. Impacta, também, a forma como o Brasil é visto internacionalmente e, por consequência, as alianças políticas que conseguirá costurarcasino online seorganismos internacionais, como na Organização Mundial do Comércio (OMC) e nas Nações Unidas (ONU). Atualmente, é com países árabes que o Brasil tem contadocasino online sevotações internacionais importantes.

"Em todos os foros multilaterais, sempre que o Brasil precisa formar maioria, seja na OMC ou na ONU, ele negocia essa maioria com países da América Latina, que são 30 votos, com os da África, que são 50 votos e com os países do Oriente Médio, que são dezenas e dezenascasino online sevotos", explica o professorcasino online seRelações Exteriores da Fundação Getúlio Vargas Matias Spektor, que já foi pesquisador do Woodrow Wilson Centre,casino online seWashington (EUA), e da Universidadecasino online seOxford, no Reino Unido.

"A forte aproximação com Israel tem impacto econômico, mas também um custo político-diplomático."

Qual o pesocasino online seIsrael ecasino online sepaíses árabes no comércio brasileiro?

Países árabes e o Irã respondem por quase 6%casino online setodas as exportações brasileiras e cercacasino online se10% das exportações do setor agropecuário do Brasil. E a tendência, até pouco tempo, eracasino online secrescimento.

Em 2018, as trocas entre o Brasil e paísescasino online semaioria islâmica somaram US$ 22,9 bilhões, segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A balança é favorável ao Brasilcasino online seUS$ 8,8 bilhões. Ou seja, exportamos mais do que importamos.

Mas é olhando para setores específicos, principalmente a agropecuária, que o peso das relações comerciais com nações muçulmanas fica mais claro: elas recebem cercacasino online se70%casino online setodas as exportações brasileirascasino online seaçúcar (somados o refinado e o bruto), 46% do milhocasino online segrãos, 37% da carnecasino online sefrango e 27% da carnecasino online seboi, conforme dados levantados pela BBC News Brasil junto ao MDIC.

"O Oriente Médio representava 5% das exportações do setor agropecuário brasileiro e hoje representa 10% das exportações. Ou seja, dobrou desde o ano 2000", ressalta Marcos Jank, presidente da Asia-Brasil Agro Alliance, entidade que reúne alguns dos maiores exportadores agropecuários brasileiros.

Já o comércio com Israel representa bem menoscasino online se1% do comércio exterior brasileiro. E o Brasil compra mais do que vende. A balança comercial com Israelcasino online se2018 fechoucasino online sedéficitcasino online seUS$ 847,8 milhões.

"O mercado árabe é muito mais importante economicamente para o Brasil. Do pontocasino online sevista puramente econômico, estamos beneficiando um país que importa poucocasino online sedetrimentocasino online seum grupocasino online sepaíses que importa muito", disse à BBC News Brasil o presidente da Associaçãocasino online seComércio Exterior do Brasil (AEB), José Augustocasino online seCastro.

O presidente da Câmara Brasil-Israelcasino online seComércio e Indústria, Jayme Blay, discorda. Ele argumenta que, emboracasino online setermoscasino online sevolume o comércio entre os dois países seja inferior ao dos países árabes, tecnologias importadascasino online seIsrael tiveram impacto importantecasino online sesetores da agricultura.

Na visãocasino online seBlay, um incremento da parceria poderá aumentar e diversificar a produção brasileira.

"O Brasil não produzia melão comercialmente até a décadacasino online se60. Com usocasino online setecnologia israelense, passou a produzir a fruta no Vale do São Francisco. Hoje, é o segundo maior exportadorcasino online semelão do mundo", exemplificou.

Retaliações

bois

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Legenda da foto, O mundo árabe responde por 27% das exportações brasileirascasino online secarne bovina. Setor exportador teme retaliações diantecasino online seaproximação com Israel

Desde que Bolsonaro anunciou que seguiria os passoscasino online seTrump e transferiria a Embaixada do Brasilcasino online seTel Aviv para Jerusalém, países árabes passaram a dar sinaiscasino online seque retaliariam o Brasil comercialmente.

Isso porque a ocupaçãocasino online seJerusalém é um dos pontos mais sensíveis no conflito árabe-israelense. O território é considerado sagrado tanto para a religião judaica quanto islâmica.

Israel considera Jerusalémcasino online secapital eterna e indivisível. Mas os palestinos reivindicam parte da cidade (Jerusalém Oriental) como capitalcasino online seseu futuro Estado. A posição da maior parte da comunidade internacional, inclusive da União Europeia e das Nações Unidas, é acasino online seque o statuscasino online seJerusalém deve ser decididocasino online senegociaçõescasino online sepaz. Por isso, os países mantêm suas embaixadascasino online seTel Aviv, a capital comercialcasino online seIsrael.

Marcos Jank, que representa setores exportadorescasino online sefrango e açúcar na Ásia, afirmou à BBC News Brasil que, após o anúnciocasino online seBolsonaro, recebeu "recados"casino online seimportadorescasino online sepaísescasino online semaioria muçulmana, como Malásia e Indonésia, alémcasino online sealertas das embaixadas brasileiras no Oriente Médio sobre possíveis cortes nas importaçõescasino online seprodutos do Brasil.

"Dependemos muito da exportação para paísescasino online sedesenvolvimento. Em 2000, 60% do que o Brasil exportava ia para Europa e Estados Unidos. Hoje, 70% vai para paísescasino online sedesenvolvimento. E as regiões mais dinâmicas têm sido Ásia e Oriente Médio", destaca.

"Por isso, o agronegócio ficou tão preocupado. Eu estoucasino online seCingapura e tenho recebido recados diretos (de potencial retaliação), por e-mail e telefonema, alémcasino online sefeedbackcasino online seembaixadas."

Segundo o presidente da Associaçãocasino online seComércio Exterior do Brasil (AEB), José Augustocasino online seCastro, o setor produtivo que seria mais afetado por uma potencial retaliação seria ocasino online sefrango, seguido pelocasino online secarne e ocasino online seaçúcar.

canacasino online seaçucar

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Legenda da foto, Setores que mais sofreriam com reduçãocasino online seexportações a países árabes são açucar, carne e frango, segundo a Associaçãocasino online seComércio Exterior do Brasil

Mesmo assim, Castro avalia que dificilmente os países árabes conseguiriam, no curto prazo, substituir amplamente as importações brasileiras, já que há poucos países capazescasino online seexportar na mesma quantidade e custo que o Brasil. Além disso, as alternativas existentes para as nações islâmicas também esbarramcasino online seconflitos geopolíticos.

O Brasil é o maior exportadorcasino online secarne halal, que segue as regrascasino online seabate do Islã. Se quisesse substituir a carne brasileira, o mundo árabe precisaria recorrer aos segundo e terceiro maiores exportadores: Estados Unidos e Austrália.

A questão é que os Estados Unidos, sob o governo Trump, foram os primeiros a transferir a embaixada para Jerusalém. E,casino online sedezembro, a Austrália reconheceu oficialmente Jerusalém como capitalcasino online seIsrael, embora não tenha transferidocasino online seembaixada para lá.

No caso do frango, Castro afirma que a União Europeia poderia,casino online semédio prazo, tentar ocupar o vácuo deixado pelo Brasil. Ainda assim, seria custoso para os países árabes, já que o frango brasileiro é mais barato.

Quanto ao açúcar, produtores temem perdas a médio e longo prazo, mas também não acreditam que seja possível uma substituição completa do produto brasileiro.

"Não vejo, no curto prazo, um substituto imediato para o açúcar brasileiro. De uma forma estrutural, o Brasil responde por 50% do comércio mundialcasino online seaçúcar", ressalta Paulo Robertocasino online seSouza, coordenadorcasino online secompetividade internacional da maior associaçãocasino online seusineiros do Brasil, a União da Indústria da Canacasino online seAçucar (Unica).

Ele afirma, porém, que a médio prazo, Tailândia, Índia e União Europeia podem se movimentar para substituir parte do que hoje é exportado pelo Brasil aos países árabes.

"O relacionamento nosso com os países árabes é intenso ecasino online selonga data, então qualquer coisa que venha a criar ruídos ou tensão obviamente que preocupa", diz Souza, que foi presidente da Copersucar, maior cooperativa brasileiracasino online seaçúcar e etanol.

Transferêncoacasino online setecnologia e cooperação com os EUA

Trump

Crédito, SAUL LOEB/AFP

Legenda da foto, Decisãocasino online semudar embaixada brasileira para Jerusalém é vista como gestocasino online seaproximação com Trump. Brasil esperaria,casino online setroca, acesso a mercados americanos e acordos na áreacasino online sesegurança

Analistas afirmam que, apesar do riscocasino online seperdas econômicas, principalmente no setor agropecuário, a aproximação com Israel também pode trazer oportunidades.

Até porque, ao se juntar a Trump no reconhecimentocasino online seJerusalém como capitalcasino online seIsrael, o governo brasileiro dá sinaiscasino online seaproximação com os Estados Unidos, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil. E espera, obviamente, retornos do governo americano.

"O motivo dessa mudança (em relação a Israel) diz respeito à intenção do governo Bolsonarocasino online serealinhar a política externa brasileira no sentidocasino online secriar aproximação com o presidente americano Donald Trump. Sempre que há uma mudança muito fortecasino online serelação ao passado há custos, mas também benefícios", diz Matias Spektor, professorcasino online seRelações Internacionais da FGV.

"A expectativa do governo é que Trump faça concessões ao Brasil que incluem acesso ao mercado americano, investimentos americanos no Brasil, intercâmbio na áreacasino online sesegurança, vendacasino online searmamentos para o Brasil, cooperação na áreacasino online sesegurança cibernética ecasino online secontrolecasino online sefronteiras."

Já a principal expectativa quanto a Israel envolve transferênciacasino online setecnologia. "O Brasil pode importar sistemas educacionais e tecnologia na áreacasino online semedicina, telecomunicações, e tecnologiacasino online seinformação, alémcasino online sefirmar parcerias para pesquisas sobre Parkinson, Alzheimer e câncer, que são áreascasino online sedestaquecasino online seIsrael", defende o presidente da Câmara Brasil-Israelcasino online seComércio e Indústria, Jayme Bray.

Mas o presidente da Associaçãocasino online seComércio Exterior do Brasil (AEB), José Augustocasino online seCastro, lembra que o próprio podercasino online secompracasino online setecnologia, pelo Brasil, depende do setorcasino online seexportação,casino online seespecial do agronegócio, que responde por parcela importante das receitas brasileiras.

"O Brasil tradicionalmente nunca se envolveu politicamente (no conflito árabe-israelense) a pontocasino online seter impacto econômico. O comércio com os árabes na áreacasino online secommodities é muito relevante, e o Brasil não deveria criar bases para que, amanhã, países árabes deixemcasino online secomprar."

Cooperação contra crime x ameaças extremistas

Uma aproximação com Israel que inclua a transferência da embaixada brasileira para Jerusalém também parece ser uma "facacasino online sedois gumes" na áreacasino online sesegurança. Por um lado, há uma expectativa por parte do governocasino online setransferênciacasino online setecnologia israelense na áreacasino online sedefesa e, sobretudo,casino online sesegurança cibernética.

Por outro, há temorcasino online seque o Brasil venha a ser alvocasino online segrupos radicais islâmicos, se tomar o partidocasino online seIsrael no conflito com a Palestina.

"Quando surgiu essa ideiacasino online seque o Brasil poderia dar essa guinada diplomática, um dos alertas veio da missão das Nações Unidas no Líbano, da qual o Brasil faz parte. Integrantes da missão disseram que um dos riscos que o Brasil corre ao fazer isso (transferir a Embaixada para Jerusalém) écasino online seataques a soldados brasileiros oucasino online seembaixadas do Brasil naquela região do mundo", afirma Matias Spektor, da FGV.

Mas a parceria com Israel parece atender às preocupações internas com segurança. O uso, por exemplo,casino online sedados e imagenscasino online sesatélites israelenses poderia ajudar no combate ao crime organizado - uma das prioridades do atual ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Na Olímpiadacasino online se2016 no Riocasino online seJaneiro, o satélite Eros-B,casino online seIsrael, com capacidadecasino online semostrar objetos com menoscasino online se70 centímetros sobre a superfície, foi usado para reforçar a segurança. Além disso, Israel doou tecnologia para a criação do Centro Integradocasino online seComando e Controle, usado para compartilhamentocasino online seinformaçõescasino online seinteligência entre órgãos federais e estaduais durante os Jogos.

Centro Integradocasino online seComando e Controle, no RJ

Crédito, Tomaz Silva/Agência Brasil

Legenda da foto, Israel transferiu tecnologia ao Brasil na áreacasino online sesegurança durante a Olimpíadacasino online se2016, no Riocasino online seJaneiro

"O governo quer ampliar a cooperação com Israel, principalmente na áreacasino online seciência e tecnologia, com ênfase na segurança cibernética. Trata-secasino online sefazer controle por satélites das fronteiras e ter tecnologia para interceptar comunicaçõescasino online seorganizações criminosas", explica Spektor.

Jayme Blay confirma que o setorcasino online sesegurança cibernética deve ter espaço prioritário nas novas relações entre Brasil e Israel. "Segurança foi sempre um item umbilicalmente ligado à vida nacional israelense e a cibernética é chave para a sobrevivênciacasino online seIsrael, por isso houve grande investimentocasino online setecnologia nesse setor".

Apoio políticocasino online seorganismos internacionais

Se o governo Bolsonaro confirmar a forte guinada diplomática nas relações com Israel e o Oriente Médio, possivelmente haverá mudanças no xadrezcasino online seorganismos internacionais, como a ONU e a OMC.

Nos últimos anos, o Brasil vinha se alinhando com países latino-americanos, africanos e árabescasino online sevotações multilaterais. Agora, poderá perder algumas dezenascasino online sevotos, por exemplo,casino online sedisputas comerciais.

soldados

Crédito, Wilson Dias/Agência Brasil

Legenda da foto, Brasil pode perder votos árabescasino online seorganismos internacionais, mas ganhar apoio dos EUA para ser parte da OCDE. Em missões brasileirascasino online sepaíses árabes, há temorcasino online seque soldados brasileiros virem alvo

"Existe um riscocasino online seisolamento do Brasil, já que existe um entendimento hoje, na comunidade internacional,casino online seque a pior maneiracasino online seencaminhar o conflito árabe-Israel é você dar razão absoluta a um ladocasino online sedetrimento do outro", afirma Matias Spektor.

O professorcasino online seRelações Internacionais destaca, no entanto, que o Brasil pode tentar se utilizar da proximidade maior com os Estados Unidos para concluir o processocasino online seentrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo que reúne as maiores economias do mundo.

"Esse é um processo que depende fortemente do apoio cerrado dos norte-americanos", destaca Spektor.

Entre perdas e ganhos, analistas dizem que dois elementos cruciais permitiram que o Brasil mantivesse até hoje boas relações tanto com Israel quanto com países árabes: reputação e confiança. O desafio será alcançar um equilíbrio que não deteriore as parcerias firmadas com ambos os lados.

"A reputaçãocasino online seum país é como a reputação das pessoas. Ela leva muito tempo para ser construída e é muito facilmente destruída", define o professorcasino online seRelações Internacionais da FGV.