Como linhabet na veiatransporte virou a obra inacabada mais cara da Copa do Mundo no Brasil:bet na veia

Veículos do VLT

Crédito, Emanoele Daiane/BBC Brasil

Legenda da foto, Vagões do VLT estão paradosbet na veiaestacionamento desde novembrobet na veia2013

Aposta alta

Em 2009, pouco após o anúncio da cidade como uma das sedes da Copa, era dado como certo que a obrabet na veiamobilidade urbana seria o Bus Rapid Transit (BRT) – sistemabet na veiaônibus rápidos. O meiobet na veiatransporte era visto como o mais adequado,bet na veiacustos e benefícios, para a região metropolitanabet na veiaCuiabá.

Em 2011, porém, logo após ser eleito governadorbet na veiaMato Grosso, Silval Barbosa mudou os planos e determinou a construção do VLT. As obras foram orçadasbet na veiaR$ 1,2 bilhão – posteriormente, o valor subiu para R$ 1,4 bilhão –, cercabet na veiaR$ 700 milhões a mais do que o estimado com o BRT.

Tratava-se então da terceira obrabet na veiainfraestrutura para o evento mais cara do país. À frente, estavam apenas a construção do BRT carioca, que custou R$ 1,6 bilhão, e a reforma do Aeroporto Internacionalbet na veiaGuarulhos, avaliadabet na veiaR$ 2,3 bilhões, ambas entregues antes do evento.

Para o engenheiro civil Miguel Miranda, doutorbet na veiatransporte, o Veículo Leve sobre Trilhos tornou-se um problema difícilbet na veiaser solucionado.

"O VLT começou errado e vai dar errado até o fim. É um projetobet na veiamodal incompatível com o custobet na veiamanutenção. Ele tem uma capacidade muito maior que a da cidade. Para a região metropolitanabet na veiaCuiabá, o ideal seria o BRT", afirmou à BBC Brasil.

Segundo o projeto, o modal deveria ter duas linhas – uma delas ligando o aeroporto ao Centro Político Administrativo, onde estão concentrados os Poderes do Estado. A outra levaria do bairro Coxipó ao Porto, região tradicionalbet na veiaCuiabá. Ao todo, seriam 22 quilômetrosbet na veiatrilhos. No trajeto, foram planejadas 33 estaçõesbet na veiaembarque e desembarque, alémbet na veiatrês terminaisbet na veiaintegração.

A estimativa erabet na veiaque o veículo transportasse 160 mil pessoas por dia – segundo estimativa do IBGE, toda a região metropolitana tem cercabet na veia1 milhãobet na veiahabitantes.

Os recursos para as obras vieram do Estado, que obteve empréstimo na Caixa Econômica Federal. Hoje, o governo diz pagar parcelasbet na veiaaproximadamente R$ 13,9 milhões mensais, valor que inclui juros e correção monetária.

Canteirobet na veiaobras do VLT

Crédito, Emanoele Daiane/BBC Brasil

Legenda da foto, Canteiros abandonados ficambet na veiaavenidas importantes da região metropolitanabet na veiaCuiabá

Atrasos sucessivos

Após licitação, as obras ficaram a cargo do Consórcio VLT, formado pelas empresas CR Almeida, Santa Bárbara, CAF Brasil Indústria e Comércio, Magna Engenharia Ltda e Astep Engenharia Ltda.

A construção foi iniciadabet na veiajunhobet na veia2012. Os 280 vagões do veículo, divididosbet na veia40 composições, começaram a chegar à cidadebet na veianovembro do ano seguinte. A expectativa erabet na veiaque as obras fossem concluídasbet na veiamarçobet na veia2014 e que o veículo estivessebet na veiacirculação antes do início da Copa.

Meses antes do megaevento, no entanto, a construção havia avançado pouco. Diante disso, o governo estadual chegou a cobrir os canteirosbet na veiaobras com grama para, segundo a gestão da época, melhorar o aspecto visual das avenidas no períodobet na veiaque a capital sediaria quatro jogos do Mundial.

Silval Barbosa sabia desde meadosbet na veia2013 que o modal não estariabet na veiafuncionamento durante a Copa, mas continuou dizendo que as obras estavam dentro do cronograma. Apenas nos primeiros mesesbet na veia2014 ele confirmaria que o veículo não ficaria pronto antes do Mundial – prometeu, então, que a inauguração ocorreria até o fim daquele ano.

Ex-governador Silval Barbosa (MDB) com vagão do VLT

Crédito, Mayke Toscano/Secom-MT

Legenda da foto, Após ser preso, ex-governador Silval Barbosa confessou que decidiu construir o VLT para conseguir desviar mais dinheiro

Em marçobet na veia2014, o Estado concedeu um aditivobet na veia12 meses para a conclusão da obra e implantação do modal. Masbet na veiameados do mesmo ano, o consórcio passou a enviar ofícios ao governo informando que os repasses estavam atrasados. Mais tarde, notificou a gestãobet na veiaque pararia as obras caso os pagamentos não fossem feitos.

Diante do imbróglio, Silval determinou ele mesmo a paralisação da construção antesbet na veiadeixar o governo. Desde então, elas nunca mais avançaram. Apenas nove quilômetrosbet na veiatrilhos haviam sido implantados, e os vagões permanecem no estacionamento onde foram colocados desde que chegaram a Mato Grosso, sob os cuidados do Consórcio VLT.

Segundo o atual governo, comandado por Pedro Taques (PSDB), os veículos ainda estão novos ebet na veiabom estadobet na veiaconservação. Mas para especialistas, como o engenheiro civil Miguel Miranda, eles representarão mais custos caso o modal sejabet na veiafato concluído. "Em dois anos, pelo menos a parte eletroeletrônica deverá ser quase toda reformada", diz.

Longa negociação

O atual governadorbet na veiaMato Grosso era um ferrenho crítico à implantação do VLT. Mas nas eleiçõesbet na veia2014, que acabaria vencendo, prometeu concluí-lo embet na veiagestão. Em janeiro seguinte, ao assumir o cargo, determinou a aberturabet na veianegociações com o Consórcio VLT para a retomada das obras.

Em abril do mesmo ano, o contrato acabou suspenso pela Justiça por causa da faltabet na veiaentendimento entre as partes. Durante as negociações, o consórcio apresentou quatro propostas diferentesbet na veiareajuste entre abrilbet na veia2015 e dezembrobet na veia2016 – os valores forambet na veiaR$ 993 milhões, R$ 1,04 bilhão, R$ 1,494 bilhão e, por último, R$ 977 milhões.

Estação do VLT, abandonada

Crédito, Emanoele Daiane/BBC Brasil

Legenda da foto, População da cidade convive há anos com marcas do abandono da obra, como essa estação

Em agostobet na veia2015, o governo obteve autorização da Justiça Federal para contratar uma auditoria independente para investigar o contrato e apontar o valor correto para a retomada. Um dos entraves nas negociações eram as cinco ações judiciais movidas pelo Estado contra o consórcio, incluindo processos por improbidade administrativa e pedindo indenização à sociedade.

Em março do ano passado, as duas partes finalmente chegaram a um acordo. Ficou determinado que as obras seriam retomadas três meses depois e concluídasbet na veia24 meses, sob o valorbet na veiaR$ 922 milhões, sendo R$ 327,2 milhões referentes a passivos do contrato original – com isso, o VLT teria um custo finalbet na veiaR$ 1,988 bilhão. Além disso, o Estado deveria extinguir as ações judiciais que envolvessem o Consórcio VLT.

Mas o novo acordo acabaria não indo adiante. Os Ministérios Públicos Estadual e Federal apontaram diversas irregularidades no contrato e determinaram a suspensão do acordo.

A BBC Brasil tentou, por um mês, entrevistar o governadorbet na veiaMato Grosso sobre o VLT. A princípio,bet na veiaassessoria informou que Taques não tinha horário embet na veiaagenda. Posteriormente, a equipe do tucano afirmou que ele não comentaria o assunto neste momento.

Procurado pela BBC Brasil, o Consórcio VLT informou que está à disposição do Estado para chegar a uma conciliação. O grupobet na veiaempresas informou que está impedidobet na veiafalar sobre a questão, pois o caso está na Justiça.

"O Consórcio segue à disposição das autoridades, como sempre o fez, para quaisquer esclarecimentos que vise o objetivo público maior e legítimo: a retomada e conclusão das obras do VLT, para uso da população", disse,bet na veianota.

Pessoa deitadabet na veiaestação abandonada do VLT

Crédito, Emanoele Daiane/BBC Brasil

Legenda da foto, Estações são retrato do abandono da construção do VLT

Ex-governador na prisão

Em agosto passado, a obra do VLT foi alvobet na veiauma operação da Polícia Federal baseadabet na veiainvestigações do Ministério Público Federal.

A ação, denominada Descarrilho, teve como partida depoimentos do ex-governador Silval Barbosa à PF. O político havia sido presobet na veiasetembrobet na veia2015 pela operação Sodoma, que apura a existênciabet na veiauma organização criminosa que cobrava propinabet na veiaempresários para manter contratos com o Estado durantebet na veiagestão.

Barbosa ficou um ano e nove meses na cadeia. Em junho do ano passado, obteve o direito à prisão domiciliar, mediante usobet na veiatornozeleira eletrônica, após confessar diversos crimes que cometeu enquanto era governador. Ele também entregou R$ 46 milhõesbet na veiabens e, mais tarde, deixou o MDB.

Ele é alvobet na veiamaisbet na veiadez ações na Justiça por crimes contra os cofres públicos. Em uma delas,bet na veiadezembro, acabou condenado a 13 anos e 7 mesesbet na veiaprisão por comandar um grupo que desviou maisbet na veiaR$ 2,5 milhões por meiobet na veiafraudesbet na veiaincentivos fiscais. No mês passado, sofreu nova condenação, desta vez a 14 anos e 2 meses, por fraudes na comprabet na veiaum terrenobet na veiaR$ 13 milhões, adquirido por meiobet na veiapropinas.

Nos depoimentos à PF, o ex-governador confessou que a troca do BRT pelo VLT foi uma formabet na veiaconseguir desviar dinheiro. Ele negou que tenha havido direcionamento na licitação referente ao VLT, mas afirmou que "independentementebet na veiaquem vencesse, o grupo político procuraria o consórcio vencedor para negociar um 'retorno'".

Segundo as apurações da Procuradoria, propina foi paga ainda durante as obras. Na fala aos investigadores, Barbosa disse que seu grupo político recebeu cercabet na veiaR$ 18 milhões.

Canteiro abandonado do VLT

Crédito, Emanoele Daiane/BBC Brasil

Legenda da foto, Projeto do VLT prevê um totalbet na veia22 quilômetrosbet na veiatrilhos

A operação Descarrilho não teve nenhum desdobramento até o momento. Procurado pela BBC Brasil, o Ministério Público Federalbet na veiaMato Grosso informou que não poderia dar detalhes porque as investigações seguembet na veiasegredobet na veiaJustiça. O Consórcio VLT, porbet na veiavez, diz que não comenta mais o caso. Na época da ação policial, negoubet na veianota ter participadobet na veiaqualquer esquema criminoso, "mantendo-se à disposição da Justiça e autoridades competentes para quaisquer esclarecimentos".

Em outubro passado, o atual governador anunciou a quebra unilateral do contrato, para "acautelar e resguardar o Estadobet na veiamais prejuízos". Em janeiro, o Tribunalbet na veiaJustiçabet na veiaMato Grosso concedeu liminar ao Consórcio VLT e suspendeu essa rescisão, mas Taques manteve a suspensão. O caso segue na Justiça.

Na Justiça Federal, tramita uma ação proposta pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual com pedidobet na veiaindenizaçãobet na veiaR$ 148 milhões ao Estado por dano moral coletivo causado pela troca do BRT pelo VLT e pela demora para a conclusão da obra. São alvos Barbosa, o ex-secretário estadual da Copa, Maurício Guimarães, o Consórcio VLT e as empresas o compõem.

Em depoimento à Justiça Federal, o ex-governador afirmou que tinha a boa intençãobet na veiaentregar todas as obras da Copa, mas que os procedimentos da gestão pública são muito difíceis e dificultaram a conclusão do VLT.

Procurada pela reportagem, a defesa do político informou que não comentará o caso e disse que as afirmaçõesbet na veiaseu cliente sobre o VLT estão nas declarações dele à Polícia Federal.

Veículos do VLT

Crédito, Emanoele Daiane/BBC Brasil

Legenda da foto, Segundo especialista, vagões ainda não usados precisariambet na veiareformas

Conclusão incerta

Diante do impasse com o Consórcio VLT, não há data para que uma nova licitação seja lançada.

O secretário-adjuntobet na veiaobras do VLT, José Piccolli Neto, prefere não estipular um prazobet na veiaentrega do serviço à população.

"Se começar a construir hoje, o prazo para terminar seria, no máximo,bet na veia24 meses. E depois teria o tempo para entrarbet na veiaoperação. Porém, ainda não sabemos quando será lançada a nova licitação, mas esperamos que seja o mais rápido possível."

A expectativa ébet na veiaque, caso entrebet na veiafuncionamento, o modal seja gerido por meiobet na veiaparceria público-privada (PPP). Cada passagem deve custar o mesmo valor cobrado nos ônibusbet na veiaCuiabá, R$ 3,80.

Segundo Piccolli, o Estado prefere não divulgar quanto deve custar a conclusão da obras. "Como estamosbet na veiaum processobet na veialicitação, isso pode ficar como parâmetro para colocarem esse valor como base", disse.

"Mas é importante destacar que o valor das obras iniciais incluía o fornecimentobet na veiatrem,bet na veiatrilhos,bet na veiacabos,bet na veiapostes ebet na veiasubestações. Esses equipamentos já estão todos no canteirobet na veiaobras. Você não precisa comprar nada. O que precisamos agora ébet na veiamãobet na veiaobra. É montar. Além disso, as estações, os centrosbet na veiacomando, os viadutos já estão prontos."

Canteirobet na veiaobras do VLT

Crédito, Emanoele Daiane/BBC Brasil

Legenda da foto, Atual governo garante que levará a obra adiante, mas há quem duvide

Piccolli garante que a possibilidadebet na veiao Estado desistir do VLT e retomar a ideiabet na veiaconstruir o BRT, como já chegou a ser cogitado por Taques, não faz parte dos planos do governo.

"Nós temos, ali, maisbet na veia300 milhõesbet na veiaeurosbet na veiaequipamentos. Não somos loucosbet na veiadeixá-los parados. Estamos procurando fazer um negócio com seriedade e responsabilidade. Não queremos fazer lambança igual foi feito anteriormente, não. Muito pelo contrário", afirma.

Mas, na avaliação do engenheiro Miguel Miranda, o alto custo poderá levar o Estado a desistir do modal.

"Com correções cambiais, reajustes e itens que ainda faltam ser pagos, como desapropriações, a obra não sai por menosbet na veiaR$ 2,1 bilhões. Ou seja, o preço inicial aumentou, praticamente, 70%. Quem é o governador que vai ter coragembet na veiatirar esse projeto do papel e fazer isso a esse preço?"