'Virei pintor após ficar tetraplégico':greenbet.app

Legenda do vídeo, 'Comparando a vida que eu tinha com agreenbet.apphoje, é até difícilgreenbet.appdizer qual é a melhor' (Edição do vídeo: Ana Terra)

Mas as limitações não trouxeram apenas obstáculos e fizeram o então dentista descobrir uma nova vocação: as artes plásticas.

Foi no Centrogreenbet.appReabilitação Sarah, no Riogreenbet.appJaneiro, que Serafim entendeu que poderia ter uma vida "normal" com uma rotina diferente, porém não menos prazerosa.

"Durante a reabilitação, tem um pessoal que te mostra tudo o que você pode fazer. Lá eu vi que era possível ir para uma academia malhar, conheci o esporte que pratico hoje, o rúgbigreenbet.appcadeiragreenbet.approdas. E descobri que eu poderia pintar", afirmou.

Ronaldo Serafim pintando
Legenda da foto, Serafim moldou adaptador para conseguir segurar pincel e descobriu nova paixão | Foto: Arquivo Pessoal

Sem controle da temperatura corporal

Ronaldo Serafim havia inaugurado seu consultório própriogreenbet.appOdontologia no Riogreenbet.appJaneiro apenas duas semanas antesgreenbet.appsofrer o acidente que o afastaria definitivamente da profissão. No começo, resistiugreenbet.appse desfazer do aparatogreenbet.apptrabalho.

"Na época, ainda no hospital, eu não entendia a gravidade. Achava que se me esforçasse bastante, com muita fisioterapia e forçagreenbet.appvontade, seria possível reverter (o quadrogreenbet.apptetraplegia)", contou.

O primeiro choque na volta para casa veio justamente com as ações mais prosaicas. "Nos três primeiros dias depoisgreenbet.appchegargreenbet.appcasa, fiquei sem banho. Tivemos que adaptar o banheiro para eu poder entrar. Fora o fatogreenbet.appque, como fiquei muitos dias no hospital deitado, quando eu sentava para tomar banho, eu desmaiava. A primeira semana é bem punk, você tem que ter paciência para absorver aquilo."

Ronaldo Serafim na praia
Legenda da foto, "O acidente me fez enxergar que muitas vezes a gente pensa muito no fator dinheiro antes dos nossos sonhos", disse Ronaldo Serafim

Tetraplégicos não conseguem transpirar, por exemplo, e isso exige um cuidado especial com a temperatura ambiente. As necessidades fisiológicas também requerem uma atenção diferente.

"Pelo fato da lesão ser alta, ela atinge uma região da medula que faz uma regulação automáticagreenbet.appuma sériegreenbet.appações da gente. Então, no calor,greenbet.appvezgreenbet.appeu ficar transpirando, eu transpiro zero e a temperatura do corpo começa a subir. Você sente um calor absurdo e não se alivia, é desesperador. Eu já saígreenbet.appum jogogreenbet.apprúgbi com maisgreenbet.app40 graus, por exemplo. O frio também é muito ruim, porque agreenbet.apptemperatura abaixa muito", relata.

Ronaldo Serafim no rúgbigreenbet.appcadeiragreenbet.approdas
Legenda da foto, Após acidente, Serafim passou a jogar rúgbigreenbet.appcadeiragreenbet.approdas e viajou o país todogreenbet.appcompetições (Foto: Thelma Vidales)

"Esse mesmo centro regulador é responsável por contrair a bexiga, então não há a capacidadegreenbet.appurinar sozinho. Preciso esvaziá-lagreenbet.apptemposgreenbet.apptempos, passar a sondagreenbet.app4 a 5 vezes ao dia. E aí é precisogreenbet.appum lugar higiênico para não correr riscosgreenbet.appse contaminar".

Foi principalmente quando começou no rúgbigreenbet.appcadeiragreenbet.approdas,greenbet.app2012, que Serafim teve contato com outras pessoas que tinham a mesma deficiência e aprendeu estratégias para "driblar" as limitações físicas e levar uma vida independente.

"Quando você é cadeirante, parece que fica infantilizado. As pessoas começam a falar com você como se fosse uma criança. E todo mundo quer fazer tudo para você, para te ajudar. Isso acaba até te tolhendogreenbet.appcerta forma."

Ronaldo na academia

"O maior ganho para mim com o rúgbi é poder estar com gente que tem o mesmo problema que eu, isso é um aprendizado constante. Eu via os caras viajandogreenbet.appcarro para os jogos e aí fui atrásgreenbet.appentender como poderia dirigir. Você participagreenbet.apptorneio, viajagreenbet.appavião, vai para lugares que não são adaptados, e isso exige mais criatividade. Vai te dando segurança, autoconfiança."

Pintura

Se voltar a se exercitar e retomar atividades cotidianas trouxe alívio na rotina, a mudança mais profunda na vidagreenbet.appSerafim veio com a redescoberta da pintura. Acostumado a exercer uma profissão que exigia habilidades motoras e fina precisão manual, ele entendeu pouco tempo depois do acidente que o trabalho como dentista era inviável. Mas o talento com as mãos ainda poderia ser explorado.

Adaptador criado por Serafim para poder pintar
Legenda da foto, Com adaptador, Serafim consegue segurar pincel e ter estabilidade no traço
Adaptador criado por Serafim para poder pintar
Legenda da foto, Adaptador criado por Serafim para poder pintar

"A pintura era muito esporádica para mim (antes do acidente), se eu fizesse dois trabalhos por ano era lucro. Depois (como tetraplégico), eu não conseguia ver minha mão segurando um pincel ou um lápis. A gente não sabe nosso potencial e tem que estar com alguém que nos mostre que é possível."

Ainda no Centrogreenbet.appHabilitação,greenbet.app2011, Serafim pode experimentar um primeiro adaptador. A ferramenta não oferecia tanta estabilidade, mas operou maravilhas na auto-estima. "Eu pensei: bom, alguma coisa na vida eu vou conseguir fazer."

Jágreenbet.appcasa, o conhecimento como dentista lhe valeu. Ele usou as resinas que antes aplicava nos dentesgreenbet.apppacientes para moldar seu próprio adaptador. "Peguei a resina, manipulei, fingi a posição da mão segurando uma caneta. Fiz um protótipo que durou cinco anos", contou.

Com ele, Serafim passou a pintar com frequência, melhorougreenbet.apptécnica e viu que seria possível também escrever com um traço perfeito, como fazia antes do acidente. Assim, decidiu voltar a estudar e foi fazer um cursogreenbet.appalemão.

pinturagreenbet.appRonaldo Serafim
Legenda da foto, Ronaldo Serafim gostagreenbet.appse inspirargreenbet.apppaisagens do mundo todo para fazer suas pinturas (Arquivo Pessoal)

"Você cria uma coisa e ela te abre possibilidades que antes você não pensava, porque você estava travado", disse.

Hoje, o adaptador que ele usa é um pouco mais sofisticado e resistente. "Moldei a mão no silicone industrial e, a partir dessa empunhadura, consegui esculpir um novo adaptador com mais refinamento. Para não quebrar quando caísse, eu usei três lâminasgreenbet.appfibragreenbet.appcarbono. Comprei material, estudei. Me acidentar e parargreenbet.apptrabalhar como dentista me fez ver possibilidadesgreenbet.appaprender coisas novas."

Realizações

A rotinagreenbet.appSerafim hoje é bem mais tranquila do que a que levava como dentista. Aposentado na profissão, ele sobrevive com o valor do benefício que recebe do INSS e alguns rendimentos dos investimentos que aprendeu a fazer estudando finanças pela internet após o acidente. Treina rúgbigreenbet.appcadeiragreenbet.approdas duas vezes por semana, vai à academia com a mesma frequência e reserva um tempo quase diário para a pintura. E exercita a paciência a cada vez que saigreenbet.appcasa.

Com carro próprio, ele consegue amenizar um pouco as dificuldades rotineiras pelas quais passa um cadeirante no Brasil, mas reforça que a faltagreenbet.applugares adaptados para pessoas com deficiência ainda é um grande impeditivo que faz com que muitos fiquem "presos".

quadrogreenbet.appRonaldo
Legenda da foto, Quadro que Serafim começou a pintar com a reportagem da BBC Brasil (Arquivo Pessoal)

"Quem para na vagagreenbet.appdeficiente na rua é multado. Mas no shopping ainda não é. Eu já parei num shopping e aquela área grande do lado que é marcada com as linhas, uma moto da prefeitura parou exatamente na minha porta. O cara acha que aquela área rabiscadinha é para moto estacionar...e o carro que está ali do lado que se dane", contou.

Ronaldo Serafim e os obstáculos no caminho para a praia
Legenda da foto, No caminho para a praia, Ronaldo Serafim precisa ir boa parte do trajeto pela rua por causa da faltagreenbet.appespaço nas calçadas

Com 42 anosgreenbet.appidade e quase uma décadagreenbet.apptetraplegia, Ronaldo Serafim já aprendeu alemão, morougreenbet.appHeidelberg (a 600 kmgreenbet.appBerlim) por alguns meses, viajou o Brasil todo e visitou outros vários lugares do mundo jogando rúgbigreenbet.appcadeiragreenbet.approdas. Agora, ele usagreenbet.appmemória visual das paisagens que conheceu para transformá-lasgreenbet.apparte nos quadros que pintagreenbet.appcasa.

"Eu gostavagreenbet.appcorrer e jogar futebol, isso me faz falta. Mas substituindo uma coisa pela outra, eu vejo assim: antes, apesargreenbet.appeu fazer tudo isso, eu tinha uma vida muito mais presa por causa do trabalho", pondera.

"Se existisse uma super cura, eu não voltaria para a Odontologia. Eu me profissionalizariagreenbet.appartes plásticas. O acidente me fez enxergar isso. Que muitas vezes a gente faz opções porque a gente se escraviza com a rotina, se escraviza com a vida financeira. Não é que o dinheiro manda na gente, mas a gente pensa muito no fator dinheiro antes dos nossos sonhos. Comparando a vida que eu tenho hoje com a que eu tinha, é até difícilgreenbet.appdizer qual é melhor. "

*Edição do vídeo: Ana Terra